terça-feira, 31 de agosto de 2021

Segunda semana

Estamos na segunda pior semana da Administração Biden, que está a demonstrar ter o mesmo nível de incompetência da do Trump. Há apenas a diferença de que não há tuítes, mas há comunicações do Presidente ao povo quase todas as semanas, o que já irrita as almas. Os portugueses, especialmente os lisboetas, irão divertir-se com esta: diz o Político que o governo americano entregou uma lista de nomes de cidadãos americanos e aliados afegãos que precisavam de ser evacuados ao Talibã, com a desculpa de que era para os salvar. É completamente inacreditável que sejam tão negligentes. Espero bem que alguém processe o governo americano e, se precisarem de dinheiro para pagar advogados, eu ajudo.

Parte da Louisiana, inclusive Nova Orleães, está sem electricidade por causa do furacão Ida. Há hospitais com pacientes em ventiladores que não têm electricidade para os ligar, mas a FEMA (agencia do governo federal) está no campo e o apoio parece estar a decorrer como deve ser, mas ainda é cedo para deitar foguetes. (Nos EUA, o governo federal só pode intervir depois de o governo local pedir ajuda ao estado e o estado pedir ajuda ao governo federal.) Há sítios na Louisiana que estarão sem electricidade durante semanas e as indicações é que quem evacuou não deve regressar antes que tenha ordem das autoridades.

Em Memphis, estamos sob alerta devido a possíveis inundações e rajadas de vento que podem chegar a 64 Km por hora. A electricidade tem falhado e neste momento, 2:15 da manhã, estou sem e mesmo o telefone não está a ligar à Internet, mas dá para enviar SMS. Não é costume estar acordada a esta hora, mas a modos que adormeci antes de conseguir publicar.

Adenda: Temos electricidade. Demorou quase hora a meia a ligarem.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Um monstrinho

Estamos todos a acompanhar o furacão Ida, que aterrou hoje na Louisiana, no décimo-sexto aniversário do furacão Katrina. Eu que estou em Memphis, a seis horas de Nova Orleães, já vi a força deste monstrinho. Algumas das bandas exteriores chegaram aqui por volta das quatro da tarde. Primeiro chovia enquanto fazia sol, uma hora depois era um ventania misturada com chuva, e o ar muito húmido e quente.

Amanhã, para além da chuva, também esperamos muito vento, e uma descida da temperatura. A zona de West Memphis, que fica no Arkansas, no outro lado do rio Mississippi, está sob aviso de inundações. Uma das minhas amigas vive em Baton Rouge, LA, e estava bem humorada, dizia que tinha comprado uma casa à prova de furacão, mas que só iria ter a certeza por volta das duas da manhã. Esperemos que corra bem e que não haja muitas fatalidades.

domingo, 29 de agosto de 2021

Incompreensão

O serão de sexta-feira cá em casa foi absolutamente maravilhoso, pois os meus amigos portugueses de Memphis (só conheço uma família aqui) vieram jantar cá a casa. É sempre muito especial falar em português europeu porque gosto muito da sua sonoridade, mas poder falar de arte, livros, história é mesmo um privilégio e, nesse aspecto, sou mesmo priviligiada pois tenho bastantes amigos por todo o lado e acho-os bastante interessantes, apesar de também serem muito diferentes.

Depois aconteceu o dilúvio do ar condicionado e tive de chamar o canalizador outra vez. Obviamente que estou imensamente grata por ter vindo ajudar-me nesta altura, mas ele e a esposa também estavam muito agradecidos de poder ganhar algum dinheiro extra. Disseram-me que eu era uma pessoa muito fácil para quem trabalhar: tratava-os bem, a casa era arrumada e limpa e não tinha baratas, nem outras pestes, pagava a tempo e horas e bem, e eles já pensavam em mim mais como uma amiga do que como uma cliente.

Esta foi a segunda vez que pessoas que trabalham em reparações ficaram surpreendidas que eu os tratasse bem. Quando me mudei cá para casa e contratei um senhor para me ajudar com a reparação das paredes e lhe ofereci almoço e nos sentámos juntos à mesa, ele achou estranho. Nunca ninguém lhe tinha feito isso. Ontem, a este casal, como eu ia buscar jantar fora, perguntei se queriam alguma coisa e também tiveram a mesma reacção.

Não percebo.

Cómico

Enquanto terminava de ler o romance "Cómicos", de Antero de Figueiredo, ouvi um barulho de água que parecia o meu cão a beber, mas durava tanto que também pensei que o cão estivesse roto. Qual quê, era a válvula de escape da água da condensação do ar condicionado que timha entupido e começou a inundar o sótão, logo o teto estava a pingar no chão de madeira. Por sorte, o cunhado da minha vizinha é engenheiro e veio em meu auxílio. Juntos descobrimos a causa do problema e conseguimos desentupir parte do mecanismo. O resto precisava de um canalizador, logo lá telefonei ao senhor que esteve cá há dois dias. Quer dizer, a novela continuou e isto dava para um romance que talvez fique para depois de eu dormir porque já são quanse 2:30 da manhã. Até já...

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Alguns milagres

O New York Times noticiou que, nos últimos dias, uma média de 20 mil pessoas estavam a ser evacuadas diariamente de Cabul, mas hoje o número tinha baixado para 13400 (o total de evacuados até 24 de Agosto rondava os 58,7 mil). Nos últimos dias, mediante informação de que a zona em redor do aeroporto não era segura, foram dadas indicações para as pessoas saírem da zona de risco. Entretanto, houve pelo menos duas explosões que mataram pelo menos 13 americanos e feriram 15; o número de afegãos que pereceram excede os 30 e mais de 140 ficaram feridos. Foi precisamente isto que dominou todo o serviço noticioso e que levou o Presidente Biden a discursar esta tarde, prometendo caçar os culpados, o que não é congruente com o facto de ele querer que as forças militares saiam até de 31 de Agosto. (O que me apetecia era um Presidente dos EUA mudo, que não desse nem um piu porque uma pessoa fica farta de tanta idiotice.)

Mas vamos às boas notícias. De acordo com a World Central Kitchen, uma organizão de fins não-lucrativos fundada pelo chefe espanhol Jose Andres, que fornece refeições a pessoas carentes, já chegaram pelo menos sete aviões com refugiados ao aeroporto de Dulles, na Virgínia. Esta era a contagem à meia-noite, hora local, de ontem. A campanha do Instagram de Quentin Quarantino indicou que, até às 20 horas de ontem, a operação Flyaway também recolheu 350 pessoas em 24 horas, mas não indicaram o país para onde foram. A equipa de Hillary Clinton também teve pelo menos um voo que saiu de Cabul e já aterrou algures, de acordo com informação do New York Times de há uns dias.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Telenovela da torneira

Ontem o canalizador e a sua esposa regressaram para substituir o fundo do armário debaixo do lava-loiça. Por causa da fuga da torneira antiga, a madeira estava cheia de caruncho e tinha arqueado. Um mau aspecto horroroso, que me deprimia tanto que esvaziei o armário e coloquei quase todas as coisas que lá estavam na garagem: out of sight, out of mind. Eu não sabia, mas a torneira nova é muito zen. Tem linhas muito simples e quando olho para ela sinto uma paz enorme.

Por volta das 14 horas de ontem, a esposa do canalizador enviou mensagem a dizer que iam chegar brevemente, mas quando apareceram não ficaram muito tempo porque apenas mediram o armário e depois foram comprar materiais. Ah e também foram a casa buscar prendas para o meu cão porque ela gosta muito de cães, achava o meu muito giro, e tinha um dinheiro extra. Regressaram quase às cinco da tarde, não faço ideia como gastaram tanto tempo. Há umas quatro lojas de ferramentas e construção a menos de 10 minutos de minha casa.

Esta família é muito conversadora e, para além de se entreterem um ao outro, também me arrastam para o debate. A senhora falava de tudo. A certa altura, falou da sua medida de crédito (credit score), que é um número que sumariza a nossa história de crédito e que determina muitas coisas: as taxas de juro que pagamos, a nossa capacidade de obter crédito, o custo de seguros, a possibilidade de arrendar uma casa, etc. A escala vai até 850, mas um número acima de 700 é bom. As variáveis que contam para o cálculo são a longevidade da história de crédito da pessoa, se paga as contas a tempo e horas, se tem muitas contas abertas recentemente, qual a percentagem de crédito que usa, etc.

Ora neste casal, ela com 38 e ele com 53 anos, ela tinha um número nos 500 e ele tinha um número ainda pior porque pagava tudo a dinheiro e não usava crédito, logo não havia dados a substanciar que ele pagava as coisas a tempo e horas. Mas ela dizia que pagavam sempre as contas, só que há uns meses tinha ficado doente com pneumonia dupla e esteve internada, até perdeu 20 Kg. E, exacto, não tinha seguro de saúde e não tinha dinheiro para pagar a conta, logo teve de ir a aconselhamento para organizar o pagamento da dívida. A conselheira tinha dito que a credit score ia aumentar, mas ainda não tinha aumentado. Também havia outro pormenor: tinha uma conta à ordem, mas estava com saldo negativo de mais de $200.

Até às 23h30m da noite, contaram-me muitos detalhes sobre toda a sua vida e escolhas que faziam e já me tinham dito outras tantas no dia anterior. Não são pessoas más, nem burras, são apenas desorientadas, o que pode sair caro. Não se pense que é uma coisa única dos americanos porque eu conheço pessoas desorientadas de outras nacionalidades, inclusive portugueses. O que é único nos americanos é a singeleza com que nos contam estas coisas, como se nos conhecessem e confiassem em nós, e até nos pedem a opinião.

No final, por reparar o armário, que lhes demorou em excesso de cinco horas, pediram-me uns $760, que incluia mais de $400 em materiais porque achavam muito dinheiro e deram-me descontos. Eu disse que não queria desconto, que não me importava de pagar tudo. Então ia ser $1060, mas pedi que me dissessem quanto custavam as coisas e fiz os cálculos eu própria. Ele diz que cobrava $100 por hora, logo paguei-lhe $1200, o que dava mais de 7 horas de mão de obra e os tais $400 e pouco de materiais, mas achei o valor justo. No ano passado veio um canalizador arranjar uma fuga na parede de um quarto de banho, custou $2300, e fiquei com o quarto de banho todo destruído, sem a sanita montada, nem o chão arranjado, porque a reconstrução era à parte. Esse canalizador trabalhava para uma empresa em vez de trabalhar por conta própria, logo daí o preço mais alto.

Ia pagar com cheque, mas já passava das 23 horas e não sabiam se dava para ir trocar por dinheiro. Sugeri que depositassem pela app do banco, mas não queriam depositar porque depois o banco ficava com parte do dinheiro para cobrir o saldo negativo. Precisavam do dinheiro para pagar o aparelho de dentes de uma das filhas, que custava $750, o que era uma fortuna. Quando eu usei aparelho, o tratamento custou mais de $6 mil e era 2006, logo não achei caro. Acabei por pagar via Venmo e espero que vivamos felizes para sempre.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Sobrevivência

Veio cá o canalizador trocar a torneira da cozinha. Encontrei-o pelo NextDoor, mas demorou algum tempo até acertar as agulhas. Quem trata da publicidade e do contacto com os clientes é a esposa, como é um bocado desorganizada demorou a responder-me. Ele parece que trabalha mais de 90 horas por semana e ela anda com ele porque senão não o via. Costuma-se dizer que quem corre por gosto não cansa e talvez seja este o caso. Por duas horas de serviço paguei $300, o que incluiu algumas peças mais a mão-de-obra, e que era o preço de tarifário. Não me parece que ganhe pouco e precise de trabalhar tanto.

Antes de eles chegarem, fui ao Lowe's comprar uma torneira nova, o que custou $200 mais imposto, ou seja uns $220. Ainda se considerou reparar a outra, mas podiam ser precisas peças e ia ser um pesadelo encome encontrar as coisas e quem pagava o tempo de andar à caça de peças era eu. A nova funciona bastante bem, o único defeito que acho que tem é ser um bocado grande para aquele lava-loiças. A culpa é de toda a gente agora querer cozinhas enormes com lava-louças do tamenho dos que se vêem em casas campestres, logo a selecção de torneiras é limitada. Outro factor limitante é o lava-louças ter quatro buracos e muitas torneiras agora são para um ou dois.

Durante a visita ninguém usou máscara. Ainda pensei nisso, mas tenho a certeza que esta malta já apanhou o vírus, logo, mesmo que não estejam vacinados, já estão imunes. Mantive a distância e acho que correu bem, mas digo-vos daqui a cinco dias.

A esposa era muito conversadora e contou que recentemente tinham visitado as Smoky Mountains para trabalhar nuns apartamentos muito caros. As pessoas eram estranhas e ninguém usava máscara, dizia ela. Depois, quase que não havia gente de cor e os três que encontrou eram muito diferentes das pessoas que ela via em Memphis. Aliás, as de Memphis são muito únicas, não fazia ideia de onde vêm.

Contei-lhe que dois terços da população de Memphis era negra por causa dos surtos de febre amarela do seculo XIX, em que muitos brancos morreram e outros saíram da cidade e não regressaram. Ela perguntou-me porque é que os negros não morreram e eu respondi que a febre amarela veio de África, os negros estavam expostos à infecção,logo tinham mais imunidade porque muitos que não eram resistentes tinham morrido em África. Era o mesmo que se passava com a pandemia agora: chegamos à imunidade quando os menos resistentes morrerem. A vacina serve para nos tornarmos mais resistentes e sobrevivermos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Os surpreendidos

A eleição de Barack Obama inaugurou um novo paradigma na política internacional americana, mas talvez a mudança até tenha ocorrido durante a presidência de George W. Bush. Depois do falhanço das intervenções no Iraque e no Afeganistão, os americanos perderam o apetite por intervenções via conflitos bélicos, mas continuaram a apoiar intervenções humanitárias, que já vinham da presidência de Clinton. Por exemplo, o governo Bush teve algum sucesso na luta contra o virus do SIDA, que fez parte de um investimento crescente até 2010 em África (saúde, desenvolvimento, e segurança), e as tranferências para a América Latina continuaram uma trajectória ascendente de 1996 até aos cortes orçamentais da Grande Recessão.

Em termos de intervenções militares é que houve uma clara retracção: não houve intervenção na Síria depois do uso de armas químicas em 2013, contrariando a linha vermelha que Obama traçou em 2012; ficaram de lado quando o avião da Malásia foi abatido sobre solo ucraniano (2014); no mesmo ano, depois da Crimeia ser anexada à Rússia, também abdicaram de interferir. No seguimento da eleição de Donald Trump, a política não mudou em nada. O assassinato de Jamal Khashoggi, em 2018, veio à luz do dia por via do governo da Turquia, uma situação deveras confrangedora tanto para os países europeus, como para os EUA, que não demonstraram interesse em que se soubesse a verdade. A única missão mais arriscada ainda foi a caça a bin Laden, cujo assassinato foi bastante cirúrgico e não causou um novo conflito.

Ou seja, a saída do Afeganistão é congruente com a política international americana dos últimos 10 anos. Que os países europeus tenham saído antes e não tenham evacuado os seus cidadãos mais os trabalhadores locais que os auxiliavam é um falhanço dos europeus, não é um falhanço dos americanos; os americanos ficaram para trás a tratar da segurança tanto de americanos, como dos outros. Obviamente que o planeamente e execução da saída americana tresanda a incompetência e não é aceitável o que os americanos fizeram. Só que também não é aceitável que os europeus venham dizer que foram apanhados de surpresa por uma América que já anda em modo "não me meto mais nisto" há uns 10 anos.

domingo, 22 de agosto de 2021

Regresso da máscara

Desde as 7 da manhã de Sexta-feira que o condado de Shelby, onde fica Memphis, mandatou o uso de máscaras em recintos públicos fechados. Há excepções, como por exemplo quando se está sentado num restaurante ou num bar; mas para circular dentro do recinto é preciso a máscara. Há duas semanas, os hospitais e as unidades de cuidados intensivos estavam com ocupação acima de 60%, mas o hospital em Bartlett, que é a 10 minutos de minha casa, estava lotado. Os de East Memphis também andava perto disso. Os dados ainda não foram acutualizados para o público esta semana, mas a imposição do uso de máscara foi indicada como uma tentativa de achatar a curva -- onde é que já ouvimos isso?

Os aficionados da liberdade lá continuam a protestar contra máscaras e vacinas, mas hoje perdemos um. O locutor de rádio conservador Phil Valentine, em Nashville, morreu de pneumonia devido a Covid-19 aos 61 anos. Tinha dito que, se apanhasse o virus, a probabilidade de morrer era de menos de 1% -- pois, mas o problema é quando nós somos o quase 1%. É que alguém tem de ser. Antes de morrer, ainda se desdisse e apelou a que os seus ouvintes se vacinassem. Já é tarde. Mesmo que se vacinem agora, se precisarem de duas doses, vai levar pelo menos cinco semanas a ganharem imunidade, ou seja, vai ser já Outubro e isto piora à medida que o tempo arrefece. Mas mais vale tarde do que nunca.

Também temos de nos lembrar que temos todos de morrer, logo se alguns escolhem ser mais relaxados porque acham que vale a pena correr o risco, apenas estão a apressar uma coisa que é certa. O Phil achou a experiência de ficar doente interessante, logo tirou alguma utilidade da coisa, como se diz em economês, e a sua família recebeu condolências dos políticos mais importantes do Tennessee.

sábado, 21 de agosto de 2021

Já nem beijos, nem abraços

Desejava eu, já há largos anos, que houvesse uma livraria online que servisse a comunidade lusófona e agora há. Chama-se Buobooks e vende livros em português para todo o mundo através do uso de impressoras locais para assim baixar os custos de portes. Notem que esta malta não me paga para eu lhes fazer publicidade, nem comprei nenhum livro ainda, mas achei curioso dado que já tinha pensado em algo parecido. Bem sei, bem sei: as minhas preferências literárias são tão específicas que dificilmente lá encontrarei algo. Não faz mal porque eu tenho uma alfarrabista muito boa no Porto que me atura com aparente agrado, mesmo quando peço para me enviarem as coisas por DHL em vez de correio normal, apesar do preço.

Nunca tinha investigado o tópico, mas a página da Buobooks diz que a diáspora brasileira é de 4 milhões, a portuguesa de 11 milhões, e a africana de 50 milhões. Eu sabia que havia muitos portugueses fora de Portugal, mas não pensava que fossem mais do que a população do país. Vocês sabem se o Parlamento já actualizou as leis eleitorais para permitir aos portugueses exercer plenamente os seus direitos? E o MRS devia andar a certificar-se que a CRP era observada. Afinal de que serve ter um professor de Direito Constitucional como Presidente? Não me digam beijos e abraços porque até disso ele desistiu.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Que fiasco

Há um dia, o Ian Bremmer, Presidente do Eurasia Group e um dos cientistas políticos mais pragmáticos e informados do mundo, dizia que ainda não estava tudo perdido para o Biden, que esta situação podia ser o equivalente à linha vermelha do Obama no uso de armas químicas na Síria -- má, mas ultrapassável. Para o Biden, as coisas só piorariam se houvesse algo parecido com a crise de reféns no Irão que aconteceu ao Jimmy Carter em 1979-81, diz Bremmer.

Acho que dificilmente isto cai no esquecimento, dado o envolvimento da sociedade civil em tentar retirar refugiados do Afeganistão. Diz o New York Times que a equipa da Hillary Clinton orgaizou um vôo charter para tirar mulheres em risco. O Tommy Marcus já tem $6,2 milhões em menos de dois dias para vôos e apoio a refugiados e suspeito que, nos próximos dias, vamos descobrir muitas mais iniciativas privadas. Não me surpreenderia que mais inovações da sociedade civil estivessem a caminho, dado que quatro anos de Donald Trump treinaram bem o pessoal.

Entretanto, depois de evacuar cerca de 3500 militares, os EUA estão a enviar 6 mil para tentar estabilizar a situação. É uma completa humilhação, daquelas a que nos tínhamos habituado durante a presidência do Trump e convenhamos que muita gente que votou Biden argumentava veementemente que, ao menos com ele, não teríamos situações destas.

O que vale é que há sempre alguns americanos que não perdoam e são excelentes a criticar-se a si próprios: completo falhanço de planeamento, execução, e comunicação. Um fiasco completo. Vale a pena ver o Bremmer.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

O aparente silêncio

O dia começou com várias notícias acerca da decisão da Administração Biden de autorizar doses suplementares da vacina de Covid-19. Suspeito que a medida teve mais a ver com querer abafar notícias sobre o Afeganistão, do que com a preocupação com a saúde dos americanos, mas é sinal que alguém sabe que meteram o pé na poça. Os meus amigos americanos pouco ou nada falam dos eventos do Afeganistão, mas é daqueles silêncios que dá para cortar com uma faca. Uma das minhas amigas nonagenárias escreveu-me ontem um email em que mencionou que as notícias são demasiado deprimentes, mas não disse quais notícias exactamente. Quando enviei um link a algumas amigas para uma campanha de angariação de fundos para retirar pessoas do Afeganistão, agradeceram-me, mas não disseram mais nada. Sinal de desconforto da malta.

Há que ler entre as linhas. Ao longo do dia, as notícias começaram a reaparecer. Nas redes sociais, as pessoas partilhavam informação de como ajudar. O Instagram Quentin.Quarantino, que frequentemente faz campanhas de angariação de fundos para causas liberais, conseguiu reunir quase $5,5 milhões em apenas um dia para transportar refugiados para fora do Afeganistão--o objectivo inicial era $550 mil para levar dois aviões a Cabul e evacuar 300 pessoas. O criador da página é Tommy Marcus, um jovem de 25 anos, de ascendência italiana.

Segundo a descrição do GoFundMe e do Instagram, o Tommy está a coordenar com várias organizações humanitárias, governos, veteranos militares, activistas, etc. Já foi reunida uma lista inicial de pessoas que precisam de sair do país porque são potenciais alvos mortais, o objectivo é reirar as unidades familiares destas pessoas. Como conseguiram muito mais dinheiro do que contavam, estão a tentar encontrar mais pessoas que precisem de ser evacuadas. Os aviões vão sair da Europa, logo é provável que estes refugiados sejam evacuados temporariamente para algures na Europa. Será curioso ver que países os irão acolher.

Para alguns afegãos, a saída dos americanos do Afeganistão é capaz de ser o melhor que poderia acontecer. Quando os americanos saíram do Vietname, os refugiados vietnamitas acabaram por construir uma comunidade vibrante nos EUA, logo espera-se que o mesmo suceda com estes refugiados. Obviamente, que a Administração Biden vai ter de criar um programa de imigração especial para estas pessoas; nem há alternativa, dado o péssimo aspecto que tudo isto tem.

Depois há os que ficam. Durante estes quase 20 anos de ocupação, o que começou como uma vingança pelo ataque de 11 de Setembro de 2001, tornou-se num programa de educação de muita gente, logo o povo que o Talibã irá tentar governar não é o mesmo de há 20 anos. Talvez não faça diferença nenhuma ou talvez faça toda a diferença para aqueles que não vão sair.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Acabou a lua de mel

Nas redes sociais e na imprensa, multiplicam-se as vozes contra o que se passa com a retirada das forças americanas do Afeganistão. Há especial preocupação com a situação das mulheres e crianças e várias influenciadoras americanas apelaram para que se façam doações a causas que apoiem os refugiados, as mulheres, etc. É tudo muito previsível e demasiado triste, mas esta precipitação marca o final da lua de mel do Biden. A partir de agora, não julgo que ele conte com grande apreciaço dos americanos, mesmo dos que votaram nele.

Talvez seja defeito da idade, mas já não acredito em boas intenções e cooperação entre os povos. Não é possível impôr valores chamados ocidentais em países como o Afeganistão. É uma sociedade completamente diferente: os valores são diferentes, não há poder central, pelo contrário, é muito difuso. Não dá para mudar o país, se os cidadãos não querem mudar. Isso é uma lição que os portugueses sabem de cor. Os americanos são demaisado optimistas e acham que o modo de vida americano é superior ao de outras culturas. O certo é que muita gente quer vir para a América, mas esquecem-se que há outros tantos que não querem que a América vá para a terra deles. Excesso de "hubris", diagnosticam alguns americanos.

Mesmo assim, com o benefício de se poder olhar pelo retrovisor, uma intervenção no Afeganistão poderia ter tido sucesso se tivesse sido alicerçada em relações comerciais, em vez de poder militar. Foi assim que se desenvolveu a China que, apesar de não ser perfeita, podia ter sido pior. As intervenções na Alemanha e no Japão tiveram sucesso porque os americanos intervieram depois de os alemães e os japoneses serem humilhados por derrotas. O Talibã nunca foi humilhado; pelo contrário, a intervenção americana foi uma reação à humilhação dos EUA nos ataques de 11 de Setembero de 2001.

Correndo o risco de me iludir, talvez não esteja tudo perdido. A sociedade americana não aprova este desenlace e muitos cidadãos afegãos parecem não estar dispostos a abdicar do que tiveram, logo talvez haja alguma possibilidade de compromomisso. Não será nada perfeito, mas nesta altura do campeonato, a perfeição é inimiga da acção: preccisamos de algo melhor, não do melhor.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

A gratidão

Hoje aconteceu uma coisa que me incomodou bastante. Face à tragédia que está a decorrer no Afeganistão, vi várias mulheres portuguesas nas redes sociais a mostrarem gratidão por terem nascido em Portugal. Para mim, gratidão existe quando alguém escolhe fazer algo por nós, logo não concebo estar grata por não me violarem, baterem, mutilarem, etc., porque isso seria admitir que a pessoa que podia cometer esses actos fez uma escolha e eu não acho que isto seja uma questão de escolha. É uma questão de direito: ninguém tem o direito de agredir outra pessoa, logo não há escolha possível. O que há é crime.

Incomoda-me também a mensagem que estamos a dar às mulheres portuguesas que são vítimas de crimes. Que pensarão estas criaturas? Que devem estar gratas porque se estivessem em sítios como o Afeganistão era pior? E as futuras vítimas mortais de violência doméstica em Portugal também devem sentir gratidão?

Na semana passada, o New York Times publicou uma peça de investigação sobre uma jovem de 23 anos que morreu em Inglaterra em Abril de 2020. O caso foi denunciado ao jornal depois da morte da jovem ter tido pouca tracção na imprensa e com as autoridades britânicas. É um caso curioso porque, ao fim de um ano a tentar pedir ajuda à polícia inglesa para a proteger do namorado, ela morreu ao telefone: o coração parou enquanto esperava que a chamada fosse transferida para o atendimento não-urgente. Tinha telefonado com medo do namorado, que tinha saído da prisão e a tinha contactado, apesar de ele estar proibido. Ela foi encontrada morta, com o braço em redor do filho de sete meses que chorava ao colo dela.

O nome dela era Daniela Espírito Santo e nasceu em Portugal, a mãe tinha emigrado para Inglaterra em 1999. O nome do namorado é Julio Jesus, mas o NYT não disse a nacionalidade. Se calhar, veio do Afeganistão.

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Cancelada

Hoje cancelámos o nosso rendez-vous em Houston, que estava agendado para o final do mês. A situação da pandemia está demasiado séria para prosseguir com os planos. Em princípio, a viagem será adiada para Outubro. É difícil pensar em viagens e férias com tudo o que se passa no mundo. A situação no Afeganistão está um caos e a equipa do Biden diz que foi apanhada de surpresa. Surpresa estou eu de serem tão idiotas. Até parece que as coisas têm o hábito de correr bem por aquelas bandas. Depois, no Haiti, mais de 700 mortos e centenas de desaparecidos. Ainda não se tinham refeito do terramoto anterior e são atingidos outra vez. Senti algum alívio ao ver que a World Central Kitchen já despoletou uma intervenção de apoio. É uma das causas para as quais contribuo mensalmente e talvez deva aumentar a minha contribuição. Durante a tarde fui ao Dixon, mas penso que terei de ir novamente para voltar a apreciar alguns dos quadros e ler com mais atenção as descrições. Aproveitei para renovar a minha assinatura e passei de $125 para $250. A rapariga que estava à porta ficou muito entusiasmada, ms até nem é muito dinheiro. Para além disso, por causa da pandemia e até ao fim do ano, a entrada no Dixon é grátis.

sábado, 14 de agosto de 2021

Desconfiança

A Universidade do Michigan publicou os resultados preliminares do índice de confiança do consumidor para o mês de Agosto e as coisas não parecem muito boas. A indicação é que houve uma queda brusca que afundou o índice para níveis de há 10 anos, quando atravessávamos a Grande Recessão, ou seja, está mais baixo agora do que quando começou a pandemia. A queda coincide com a realização de que o vírus não vai desaparecer e quando agora falamos em normal, este não será o normal pré-pandemia.

Em vários estados dos EUA, o número de casos e internados está bastante alto, mas agora que temos acesso a vacinas, andar à chuva sem chapéu reduz-se a uma decisão pessoal, logo não faz sentido ter as mesmas medidas agora que se tinha no início da pandemia, em que as pessoas ficaram fechadas em casa. A pouco e pouco, o novo normal vai tormando forma, sem que se sacrifique a mobilidade. Mas também convenhamos, vamos todos apanhar o vírus, isso já é uma certeza. A única coisa que não sabemos é quando chegaremos aos 100% de infectados.

Um dos meus amigos que é casado e tem três filhos é o único na família que ainda não apanhou. Eu também ainda não apanhei, logo ele e eu conversávamos acerca da melhor altura para apanhar. Eu penso que é durante o verão, pois os picos de inverno são bastante mais severos. Só que há sempre o efeito lotaria: quem nos garante que nós não vamos ser aqueles que ficam seriamente doentes ou até mortos? É uma grande merda...

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

O caminho do inferno

Na Segunda-feira, tentei salvar um pássaro, mas não consegui. Agora sei que cometi erros, tantos, que me envergonho de não os ter identificado na altura. À noite, a minha vizinha telefonou-me a dizer que havia um pássaro ferido quase à frente de minha casa, estava quase morto. Levei um cobertor e apanhei-o, apesar de o marido dela dizer que o melhor seria deixá-lo lá e a natureza que tratasse do resto.

Foi tão fácil apanhá-lo e estava tão calmo, que me surpreendeu imenso que confiasse em mim. Trouxe-o para casa, mas disse à minha vizinha que não sabia onde o meter porque não tinha uma gaiola. Ela emprestou-me uma gaiola antiga, só que o pássaro enfiava a cabeça pelas grades, que eram largas. Tive medo, mas deixei-o lá.

Agora quando penso nisso, sinto-me estúpida. Devia tê-lo embrulhado numa toalha e posto numa caixa de cartão. Dormia assim durante a noite e ao outro dia soltava-o, se estivesse melhor. Foi isso que uma vez fiz com um pombo quando vivia em Houston e correu bem. Voou logo quando o levei para a rua na manhã seguinte.

Mas deixei esta criatura na gaiola, que estupidez. Cobri a gaiola com um cobertor e tinha o pássaro embrulhado numa toalha. Estava a correr bem quando regressei alguns minutos depois e ainda estava calmo. Voltei a ir vê-lo antes de me ir deitar e encontrei-o num alvoroço a enfiar a cabeça pelas grades da gaiola a tentar sair. Liguei a luz, outra estupidez, e fui à garagem buscar a caixa, mas quando regressei estava morto, penso que partiu o pescoço.

Não percebo como é que a minha reacção não foi a de o ter tirado da gaiola e o ter acalmado, dado o seu pânico. Não faz sentido agora pensar no animal e deixá-lo como o deixei, mas foi como se duvidasse de mim própria e achasse que ele estava mais seguro se não lhe mexesse. Que estupidez...

The road to hell is paved with good intentions.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Um bicho do mato

A meio da minha manhã, recebi uma mensagem muito simpática, de uma colega que conheci quando visitei a sede da companhia onde trabalho, há três anos. Não comunicamos muitas vezes, nem o nosso caminho se cruza, mas ela, que agora está prestes a reformar-se após uma carreira de 44 anos na nossa empresa, escreveu-me para me dizer que tinha gostado muito de me conhecer e de me contar as histórias da companhia e da cidade. Enviou-me também a morada de email pessoal para que pudessemos manter o contacto. Emocionou-me bastante que me tenha escrito e que ainda se lembrasse de mim. Convidei-a para vir a Memphis, que tem onde ficar.

Dizia ela que, da empresa, guardava as pessoas que tinha conhecido ao longo dos anos: são as pessoas que fazem a empresa memorável. É verdade e aplica-se a tudo, pois a nossa vida reduz-me a pessoas. Foram as pessoas que vieram antes de nós que ajudaram a construir a sociedade onde vivemos e algumas delas até ajudaram a construir a pessoa que somos. Depois são as pessoas que ficam após nós já não sermos, algumas delas nós até teremos a oportunidade de influenciar ou talvez a nossa presença nas suas vidas faça a diferença para melhor.

Muitas vezes, quando conheço portugueses que vivem nos EUA, contam-me que os americanos são muito superficiais, que é muito difícil entrar na sociedade. Nunca tive essa experiência. Tenho bastantes amigos, talvez mais do que o normal. Não faço ideia porque é que comigo as coisas são diferentes, eu até sou meia bicho do mato.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Foi ao charco

O Andrew Cuomo demitiu-se hoje e, como consequência, Nova Iorque vai ter uma governadora, a primeira. Tradicionalmente, o governador de Nova Iorque não tem grande importância, dado que quem domina as notícias é o Mayor da cidade de Nova Iorque, mas o Cuomo conseguiu associar ao posto uma certa grandiosidade, que talvez não lhe tenha calhado bem.

Agora começa o processo público de expiação de pecados, tão caro aos americanos. É estranho ver o tamanho da fúria contra o Cuomo, ele que passou anos a lutar para que Nova Iorque fosse um estado "pro-choice", apesar de pessoalmente e como católico ser contra o aborto. No good deed ever goes unpunished, indeed.

A estranheza não terminará aí, decerto. Chamem-me cínica, mas não me parece que a governadora vá ser muito popular e até corre o risco de lhe acontecer o mesmo que à Vice-Presidente Harris: quase que não aparece nas notícas, a não ser quando querem falar mal dela. Aguardemos...

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Na porta ao lado

No NextDoor anda muita gente assanhada porque houve uma reavaliação das casas e, como o preço apreciou, muita gente tem de pagar mais impostos. O Tennessee não tem impostos sob o rendimento, logo a maior parte da receita fiscal para o estado e para a cidade vem de impostos de propriedade e de vendas. Diz uma vizinha que aumentam os impostos e não mantêm o serviço. Ora, tal não é verdade.

A receita de impostos diminuiu bastante porque com os episódios de confinamento, o distanciamento social, e o desemprego alto, as pessoas gastaram menos dinheiro em compras e em restaurantes e bares, logo a receita fiscal do imposto de vendas diminuiu. Mas o mercado imobiliário está muito mais caro agora. Por exemplo, comprei a minha casa em Dezembro de 2018 por $285 mil e agora está avaliada em $360 mil para efeitos de hipoteca, apenas porque as casas na minha vizinhança são tão cobiçadas que, quando colocadas à venda, no espaço de um dia ficam sob promessa de compra. No meu caso, a condado até está a ser simpático porque avaliaram a minha propriedade apenas em $335,5 mil, logo vou pagar quase $2900 de imposto ao condado, mais $2275 à cidade.

Mesmo assim, as casas são muito baratas em Memphis. Por exemplo, a casa que eu arrendei em Bellaire, uma cidade dentro de Houston, que não era nada de especial, está avaliada em $496 mil, em que $86 mil é o edifício e $410 mil o terreno--é um edifício construído nos anos 50, mas naquela zona é comum as casas antigas serem compradas e deitadas abaixo para se construir um palacete. No ano passado os impostos foram quase $11600.

A primeira casa que comprei em Memphis foi muito barata porque estávamos no auge da Grande Recessão. Foi comprada em 2011 por $122 mil e mandámos instalar uma garagem que custou $7 mil. (Nessa altura, cerca de um terço das casas em Memphis estavam à venda.) Como o preço estava abaixo da avaliação, fizemos uma petição ao condado para diminuir o valor da avaliação e foi deferida. Foi vendida em Janeiro de 2018 por $167,4 mil e agora a Zillow diz que vale mais de $250 mil, o que acho um bocado puxado, mas talvez seja, pois a zona de East Memphis é muito boa para viver, está perto de tudo.

Disse à vizinha no NextDoor que Memphis não era assim tão cara e a qualidade de vida é muito boa. A cidade presta bons serviços para o que pagamos em impostos. (Há dois anos, a minha casa começou a cheirar a queimado e chamei os bombeiros, que chegaram cá em menos de 5 minutos e foram ao sótão ver o que se passava--era o aquecedor de água avariado). Ela responde-me que estamos numa das zonas mais caras do condado e eu sugeri que ela se mudasse para uma zona do condado mais barata; estamos num país livre, ninguém a obrigou a comprar casa aqui. Logo veio outro vizinho dizer que como estamos num país livre, ela pode-se queixar de pagar muito em impostos.

Não tenho simpatia por estas pessoas. Querem ter a qualidade de vida de Memphis, mas a custo de uma zona rural. Nesse caso iam para a zona rural, pagavam menos, e ficavam felizes junto de outros vizinhos que também gostam de pagar pouco em impostos. A vida é muito curta para não aprendermos a orientar-nos.

domingo, 8 de agosto de 2021

O alfabeto grego

Ainda nos estamos a habituar à variante delta e já foram encontradas as variantes epsilon (encontrada na Califórnia e a espalhar-se no Paquistão) e lameda (encontrada no Perú e a espalhar-se na América do Sul). Enquanto que a delta ataca pessoas mais jovens, as epsilon e lameda parecem ser resistentes às vacinas, logo mesmo vacinados corremos risco. Esta salgalhada do alfabeto grego nunca mais acaba: é caso para dizer que vemo-nos gregos com tanta variante. 

Bem, mas continuemos em modo gestão de risco: com o regresso à escola, no NYT, uma especialista em virologia aconselhou os pais a fazerem as seguintes perguntas antes de enviar os filhos para a escola:

A Virus Expert’s Advice for Safe Schools
Tara Parker-Pope
Reporting on the coronavirus

Q: What questions should parents be asking the school?
A: Are masks required?
What have you done to improve ventilation? (Keep windows and doors open when possible.)
Have you added a portable HEPA air filtration unit to each classroom?
Are the staff members vaccinated?
How are you handling lunch? (An outdoor option is best.)

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Novo protocolo

Hoje no trabalho recebemos um novo protocolo de segurança por causa do Covid-19: é obrigatório o uso de máscara no escritório independentemente da pessoa estar vacinada ou não. Até aqui, a máscara era opcional para os vacinados, mas obrigatória para os não-vacinados; no entanto, ninguém nos pedia o certificado de vacinação, apenas confiavam na nossa palavra. O limite de pessoas que pode trabalhar no escritório é de 20 e temos de nos manter afastados uns dos outros.

Como tive a minha pequena cirurgia há umas semanas, ainda trabalho de casa. Aliás, desde que começámos a trabalhar de casa em Março de 2020, ainda só fui ao gabinete duas vezes. A primeira foi para empacotar as coisas porque íamos mudar de edifício; a segunda foi para ir cuprimentar um antigo colega meu que nos visitou e para ir ver o gabinete novo. De resto, sempre em casa.

Por acaso, gosto bastante de trabalhar de casa, apesar de no início ter sido um bocado estranho fazer a separação. Ajudou mudar o local de trabalho para um quarto no primeiro andar da minha casa e mesmo o meu cão já está habituado à rotina. De manhã, sobe comigo e vai-se deitar numas almofadas. Por volta das das 16-17 horas começa a pedir festas porque é quando eu paro. O engraçado é que como começámos em Março, ele habituou-se a eu parar às 17 horas; depois mudou a hora e ele continuou a esperar que eu parasse à mesma altura do dia, só que o relógio marcava 16.

Isto recorda-me do meu carlino Alfred (pug). Desde pequenino que todos os Sábados de manhã o levava ao Farmer's Market, logo ele presumia que, se eu saísse ao Sábado de manhã, ele também tinha de ir e metia-se entre mim e a porta para a garagem. Era uma aventura tentar sair de casa sem ele. O Julian está tão habituado a estarmos em casa que, se eu saio, ele acha que também tem de sair comigo. Tive de lhe comprar uma camisola para ajudar com a ansiedade e uns biscoitos relaxantes. Até os animais são afectados pela pandemia.   


quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Vai ao charco

Acho que foi ontem que o Biden "aconselhou" o Andrew Cuomo a demitir-se, dada a conclusão de uma investigação que saiu esta semana que ele assediou mulheres. Eu vi a notícia da conclusão, mas não ouvi coisas concretas que eu qualificasse de assédio. Por exemplo, recordo-me de uma notícia em que uma jovem disse que ele a tinha assediado num casamento de uns amigos comuns porque lhe perguntou se a podia beijar. Pelo que compreendi aquele beijo era tipo um cumprimento, não era um ósculo no sentido romântico da coisa e ele fez a pergunta à frente de muita a gente. Claro que, quando é realmente assédio, também não é romântico. Pode ser que nos dias de hoje este comportamento seja repreensível, o que nos leva a temer por Marcelo Rebelo de Sousa. Assim que a pandemia terminar, MRS não conseguirá resistir a uns beijitos. Até porque da forma como o país está, ele vai ter de beijar muita gente e, se calhar, até sapos antes de os engolir.

Regressando ao nosso tópico, o Governador Cuomo vai ao charco de certeza, é só uma questão de tempo, e vamos ver se não leva o irmão com ele. Isto de misturar jornalismo com irmãos no poder é uma coisa normal em Portugal. Nos EUA é um bocadito mais arriscado. O problema do Cuomo não é tanto o assédio; afinal, o Biden foi acusado de assédio sexual e está onde está.  É mais o facto de ele ser homem e ser um forte candidato à Casa Branca. Só que os democratas não precisam de mais um candidato homem, especialmente se o candidato é branco. Esta reputação de cometer assédio sexual até dá jeito para o eliminar. 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

A cura da água salgada

Tive hoje a consulta de três semanas pós-operação. Tudo parece bem fisicamente, mas desde há a ultima Quarta-feira, que tenho tido bastantes dores. Penso que o problema foi eu ter comido algumas coisas geladas. No início, coloquei uma toalha húmida quente, mas como não passou a dor toda, tive a brilhante ideia de mudar para gelo, o que causou que doesse ainda mais. As indicações do pós-cirurgia diziam para mudar de gelo para quente a partir do terceiro dia, mas pensei que depois de passar o inchaço dava para meter gelo. Pensei mal...

Na Sexta-feira passada enviei um SMS para o médico, que me disse que meter gelo só piorava. Tinha de meter algo quente e também podia bochechar com água morna com sal, para além de tomar analgésicos. Ora tenho cá em casa sal português (Vatel, claro) e foi o que usei. Ajudou imenso. Por cima da minha cama, tenho um poster com uma citação da Isak Dinesen (Karen Blixen): "The cure for anything is salt water: sweat, tears or the sea." Confere...

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Experiências em economia

O Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado, diz que chegaram a um acordo relativamente ao pacote de infraestrutura que supostamente irá estimular a economia. Não tenho qualquer dúvida que os EUA precisam de gastar dinheiro em infraestrutura porque muita está velha e, no mínimo precisa de obras de manutenção. Os americanos nesse aspecto são um bocado forretas e muita vezes deixam as coisas chegar até às últimas. 

No entanto, não sei se vai ajudar a economia ou criar mais problemas. Depois do estímulo fiscal que foi feito tanto pela Administração Trump, como pela Administração Biden, a pobreza diminuiu para 9.2%; em 2018, quando houve uma taxa de desemprego bastante baixa, tinha sido estimada em 11,2%. Actualmente, em vez de haver falta de empregos, há falta de empregados. 

A construção civil está cara e o inventário de casas bastante baixo porque não houve grande investimento depois da crise subprime. Desde o início da pandemia que há dificuldade em encontrar materiais de construção porque a procura aumentou com toda a gente a fazer renovações em casa e também porque muitos países estão com problemas com o vírus e instituem períodos de confinamento. 

Junte-se a isso o fenómeno da Airbnb e do Vrbo e depois o êxodo urbano por causa da pandemia, em que muitas famílias de posses compraram segunda casa. Também há mais investidores a comprar casas para arrendar, mas a preços mais altos. Gastar dinheiro agora em infraestrutura vai acabar por competir com o sector privado em tudo: trabalhadores, matérias primas, e obviamente financiamento. 

Ainda por cima, terminou a moratória no pagamento das rendas de casa este fim-se-semana, logo os mais pobres enfrentam o risco de serem postos na rua numa altura em que não há casas suficientes para arrendar a preços acessíveis. 

Entre gerar crescimento pelo sector privado ou público, é melhor por via do sector privado. Toda a teoria Keynesiana tem como premissa que o estado cria procura e emprego quando o sector privado não consegue dar conta do recado. Ou seja, não sei se este pacote de medidas não irá criar mais problemas, em vez de os resolver. Mas digamos que, do ponto de vista da disciplina de Economia, vai ser uma bela experiência.

domingo, 1 de agosto de 2021

Pobre falhada

Este fim-de-semana, não se pagam impostos em algumas compras por causa do regresso às aulas. É para ajudar os pais com as despesas com os filhos. Apesar de não ligar muito, acabei por sair e ir às compras porque precisava de comprar umas sandálias. Fui ao centro comercial aqui perto de casa e havia bastante gente; diria que apenas 20% das pessoas estava com máscara, mas os empregados estavam quase todos. 

Pode ser birra minha, mas acho uma grande inconsciência ir ao local de trabalho destas pessoas e não usar máscara. E ainda por cima, os empregados usam máscara durante horas a fio para poderem ganhar a vida, logo que desculpa temos nós de não usarmos durante os pouco minutos que lá vamos estar? Obviamente, também nos estamos a proteger a nós próprios, logo faz mais sentido ainda usar.

Acabei por comprar bastante mais do que planeava: três pares de sandálias, dois pares de calças de ganga, um conjunto calça-blusa de andar por casa, uma túnica, uns óculos de sol, e um conjunto saleiro-pimenteiro feito em Portugal em forma de repolho (acho que é da Bordallo Pinheiro, mas sob a marca da revista Southern Living). 

De manhã, fui ao cabeleireiro pintar o cabelo e, depois das compras, passei pela Barnes & Noble e comprei um livro de culinária chamado Ruffage. Durante as minhas compras, deixei o Julian no hotel para brincar com os outros cães e aproveitei para comprar um cartão de 10 sessões.

No total, gastei mais de $1500, o que até nem é mau de todo, pois temos de ajudar a economia. Para além disso, dizia eu a um colega meu de trabalho que nunca tive tanto dinheiro nas poupanças como agora. É no que dá passar 15 meses a trabalhar de casa e a sair pouquíssimas vezes. Bem sei que é muito dinheiro para Portugal, mas não vivo em Portugal não é verdade? E se tivesse talento para ser pobre, não tinha saído. Digamos que sou uma pobre falhada...