domingo, 31 de janeiro de 2016

Vitaminas em falta...

O Insurgente recorda que quem propôs cortes foi o governo de José Sócrates, logo quem mentiu a Bruxelas foram os senhores do PS. É que João Galamba, Constança Cunha e Sá, et al. andam por aí a dizer que foi o governo PSD/CDS/PP que mentiu a Bruxelas.

Talvez os mais distraídos não se recordem, mas quem meteu cortes no acordo com a Troika foi o PS e a Troika inclui Bruxelas. O governo PSD/CDS/PP implementou um acordo cujo principal negociador do lado de Portugal foi o PS, logo o PS não tem como fugir com o rabo à seringa: tem tanta, ou mais culpa, do que o governo PSD/CDS/PP. E tudo é "temporário" porque normalmente há inflacção e, eventualmente, com o ajustamento à inflação, pode-se argumentar o que se quiser: cortes temporários ou permanentes, é como o copo meio-cheio/meio vazio.

Mas antes disso, como já vos tinha dito em Novembro, o governo de José Sócrates propôs os cortes mesmo antes da intervenção da Troika. Ou seja, era muito provável que estas medidas de grande generosidade socialista, tal como as anteriores, embatessem, mais uma vez, contra a porta da aritmética porque a economia portuguesa ainda está muito frágil e não dá para grandes gastos. Recordam-se certamente do Fernando ALexandre ter feito as contas e ter concluído que a economia portuguesa está estagnada desde 2001. "Não há dinheiro! Qual destas três palavras é que não percebeu?" (Vítor Gaspar, 2011)

Meus caros, estou muito decepcionada com a saúde pública em Portugal: parece que há muitas pessoas que têm falta de vitaminas e as celulazinhas cinzentas andam a mirrar mais depressa do que posso dizer "É a matemática, estúpido!".

Dos mercados

Padeço daquilo que os anglo-saxónicos chamam o professional hazard. Basicamente, a minha linha de negócio é a criação, e diria até, a alimentação, de mercados em ambiente de laboratório. Tipo tamagotchi. E, por isso, dedico mais tempo do que devia a pensar no que são realmente esses mercados: os que precisam de criação, e os espontâneos, nos quais os primeiros se tentam basear. Durante muito tempo, a minha maior surpresa tinha que ver com o generalizado desconhecimento que a maioria das pessoas parece exibir sobre o funcionamento dos mercados, inclusivamente dos mercados onde elas participam como compradoras ou vendedoras. Ultimamente, a minha questão é mais se esse mesmo desconhecimento não tem consequências no próprio funcionamento dos mercados (e não devia, por isso, ter consequências na maneira como os estudamos, para não acabarmos nós por ser aqueles que realmente os desconhecem profundamente). Mas, para economia de tempo, vou-me focar apenas no primeiro ponto.

Um exemplo que me tem sido próximo, em parte por ter uma casa em Lisboa e não saber ainda bem o que lhe fazer, é o do mercado imobiliário. Do que me é permitido observar, é extremamente comum que potenciais compradores façam chegar ao dono da casa não só o valor que propõem, mas também a descrição detalhada do porquê de lhe oferecer esse valor em concreto.  Há várias abordagens para essa descrição. A mais popular é a contabilística, que consiste em dotá-lo da detalhada soma aritmética dos custos que a pessoa em causa teria de incorrer para tornar a casa naquilo que ela quer. Outra, também popular, é da abordagem da salvação, que consiste em dar-lhe conhecimento de tudo aquilo que aquela pessoa, ao ao disponibilizar-se para lhe comprar a casa, o está a livrar de: já reparaste bem que a casa não tem elevador, ou garagem?; e a quantidade de turistas na ruas? Ui, um horror. 

Todos estes fatores, intrinsicamente subjetivos, ou são irrelevantes para o vendedor, ou jogam contra o comprador. Como vendedor, basicamente devia-me preocupar com duas coisas: encontrar a pessoa que está disposta a pagar mais pela minha casa, e saber quanto é que a segunda pessoa que mais quereria pagar pela casa está disposta a dar. Se eu for um bom vendedor, a primeira pessoa ficará com a casa, e pagará pelo menos o valor da segunda (e sim, tão próximo como possível do valor da primeira).

Ora, saber que um potencial comprador terá de incorrer em custos avultados para transformar a casa naquilo que ela quer, ou que acha terríveis certos detalhes da casa, o que me diz? Se eu acreditar nele, diz-me que é improvável que aquela pessoa seja a que tem maior valor para a minha casa, pelo que me tornará menos, e não mais, interessado em vender-lha. Se eu não acreditar nele, e ele for mesmo a pessoa que quer pagar mais, a informação que ele quer passar é-me irrelevante porque a premissa inicial é que eu não acredito nele. Por fim, se eu achar que aquela pessoa é, ou está próxima de ser, a segunda pessoa com maior valor para a casa, a informação pode ser-me útil como vendedor - mas a sua disponibilização é inútil para o potencial comprador. 

No entanto, estas práticas são muito comuns, pelo menos em Portugal. Os potenciais compradores fazem-no abundantemente, e os vendedores são influenciados por isso. O porquê seria então assunto para outro post.  

Putas

A puta preferida de Henry Miller é-nos revelada em Trópico de Caranguejo. Chama-se Germaine e, apesar de não ter uma aparência que a distinga das outras, o seu comportamento no quarto é memorável: ela é puta, sabe que é puta, e tem prazer em mostrar-se ao homem e em cativá-lo.

Há várias palavras em inglês para "puta", mas acho o uso de whore bastante interessante especialmente expressão "attention whore", que denota uma pessoa que faz tudo, bom ou mau, para obter atenção. Quando estamos com amigos de confiança, se há alguém que sai da casca, ouve-se logo o aviso: "You're such an attention whore!"

Donald Trump é uma "attention whore", mas ele não é só puta; ele sabe que é puta e tem prazer em ser puta. Na quinta-feira, realizou-se um debate na Fox News. Trump anunciou que não iria comparecer, mas iria ter um evento só seu no mesmo horário. As pessoas presumiram que isto seria uma competição de audiência de TV: será que mais pessoas iriam ver o debate dos candidatos republicanos ou o evento de Trump?

O Trump perdeu em audiência, mas na sexta-feira ele definiu o jogo para os menos esclarecidos: ele vinha na capa de todos os jornais, não tendo ido ao debate -- foi o vencedor. Efectivamente, nada de significativo saiu do debate e quase nem se falou nos outros candidatos.

Portugal também tem uma puta de atenção; até tem várias, mas a maior é António Costa, o nosso ilustre Primeiro Ministro. Desde que Costa topou que o nome de Alexis Tsipras andava na boca do mundo inteiro, também quis ser famoso. Mas, ao contrário de Trump, Costa não se acha puta de atenção; acha-se mais um acompanhante de alta classe, até tem colegas, como os líderes do PCP e do Bloco de Esquerda.

Arruinar o país é a maneira mais fácil de obter atenção e ser muito famoso: quanto maior a queda, maior será a glória de António Costa, pois como dizem os portugueses "a tua fama longe soa e mais depressa a má do que a boa".

Os (in)competentes

A maneira mais fácil de distinguir o PS do PSD é pensar em competência: o PSD é completamente incompetente, já o PS é incompetente em fazer o bem, mas extremamente competente em fazer o mal. O exemplo que facilmente ilustra esta distinção o aumento de impostos, em particular os impostos sobre os sacos de plástico do PSD e os impostos sobre o tabaco e sobre a gasolina do PS.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Jardinagem portuguesa

Até o meu jardim está cheio de Portugal:

Ontem comprei mais vasos portugueses para o meu jardim. 

Cíclames e alfazema em vasos portugueses, no meu jardim do Texas.

Vasos portugueses à venda numa loja do Texas.

As etiquetas são giras, mas não reconheço Portugal na fotografia da frente da etiqueta. Mistério...



Beleza

“The most beautiful people we have known are those who have known defeat, known suffering, known struggle, known loss, and have found their way out of the depths. These persons have an appreciation, a sensitivity, and an understanding of life that fills them with compassion, gentleness, and a deep loving concern. Beautiful people do not just happen.”

― Elisabeth Kübler-Ross

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O Gato Donald

Estão a ver como o Donald Trump era um gato? Isto exemplifica uma das minhas regras preferidas: gajos bons não prestam.* Envelhecem e depois não há nada de jeito para onde olhar, nem ninguém interessante com quem conversar. O Donald agora nem chega a rato; é apenas um gajo que dá vontade de despedir. You're fired, Gato Donald! Quando é que vais à vida?

* Todas as regras têm uma excepção e, neste caso, ela é Paul Newman, obviamente!

Y'all, é a mais pura verdade...

Um insulto e um elogio

Há quem diga que saberemos que as mulheres estão em par de igualdade com os homens quando mulheres incompetentes estiverem em cargos de chefia. Catarina Martins é incompetente, mas não sinto calorzinho nenhum na barriga por ela ser uma mulher incompetente num cargo de chefia. Mas pior do que ser incompetente é ser desonesta.

De acordo com Catarina Martins, Bruxelas está a "assaltar" Portugal. Obviamente, quem não tem dinheiro não pode ser assaltado. Portugal não tem dinheiro, note-se que uma das primeiras coisas que o governo que Catarina Martins apoia fez foi pedir dinheiro emprestado ao FMI. Mais, este governo só foi viabilizado porque Mário Centeno, antes de ser Ministro das Finanças, se comprometeu a salvaguardar o acordo que Portugal tem com Bruxelas. Bruxelas não está a exigir nada de novo; apenas exige que Portugal honre os seus compromissos. Catarina Martins, ao concordar que o Bloco de Esquerda apoiasse o governo, assumiu também os compromissos com Bruxelas.

Finalmente, foram também apresentadas garantias ao Presidente da República, que representa todos os portugueses, de que esta solução governativa teria durabilidade e daria estabilidade à nação. Se não estava disposta a comprometer-se, Catarina Martins não devia ter mentido aos portugueses.

O Porto no NYT

It’s hard to find anything to dislike about Porto, Portugal.

Posted by The New York Times on Friday, January 29, 2016

Dá pena...

A Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif está interessada em seis questões, como divulga o Jornal de Negócios. Lendo as questões, sabe-se que o objectivo da comissão é entalar o governo PSD/CDS/PP: é uma caça às bruxas. Tenho sérias dúvidas que esta Comissão salvaguarde os interesses dos contribuintes.

Não me surpreende que os senhores deputados não estejam interessados em defender o povo português. O que me surpreende, mais uma vez, é o tamanho da estupidez dos Social-Democratas em viabilizar o Orçamento Rectificativo e deixar que a situação chegasse a este ponto. Não só não sabem atacar o PS e construir uma oposição eficaz, como nem sequer sabem defender a sua própria governação. Recorde-se que Pedro Passos Coelho chegou a dizer que, no lugar de António Costa, teria feito o mesmo no caso do Banif.

Não há grande mérito em criticar um partido que se auto-destrói repetidamente porque dá pena ver gente ser tão estúpida.

Pendurados por uma avaliação



Portugal, neste momento, está pendurado pelo 'rating' da DBRS. Na sua última avaliação, mantiveram a nossa notação, mas fizeram-nos este aviso acima, que o João Caetano Dias teve a amabilidade de postar no twitter.

David Dinis na TSF

Parece que o David Dinis sai hoje do Observador. Haverá gente muito mais bem colocada do que eu para o elogiar profissionalmente, se bem que nem é necessária. O seu percurso profissional fala por si. O novo desafio na TSF não é para qualquer um. Desejo um bom trabalho e que tudo lhe corra bem.
Mas este 'post' não é para isso. Só quero agradecer o convite para escrever no Observador. Tenho gostado imenso desta experiência de escrever semanalmente.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

E não é que nisto o Governo tem razão?

Parece que o Governo quer excluir do cálculo do défice estrutural o recuo nas medidas da austeridade e que isso é uma das fontes de divergência com a Comissão Europeia. Ao contrário que que se possa esperar, confesso que isto não me parece um disparate. Pelo contrário. Pelo menos não em relação a todas as medidas, como, por exemplo, os cortes salariais na função pública. 

Na verdade, esses cortes foram declarados inconstitucionais, pelo que nunca foram cortes estruturais. Portanto, o erro não está agora. Disparate foi considerar que esses cortes eram medidas estruturais. Na verdade, nunca passaram de medidas extraordinárias.

Claro que o que isto quer dizer é que o actual défice estrutural é maior do que o oficial e isso devia tornar-nos mais exigentes e não menos. Mas isso é outra questão.

Português e dos melhores

O seu blogue deu-lhe a honra de ser considerado um dos melhores artistas no Tumblr. Chama-se José Lourenço e vocês podem ver o seu trabalho ao vivo e a cores -- não percam esta oportunidade; começa já este fim-de-semana.

http://jose-lourenco.tumblr.com/post/138050019161/inside-out-josé-lourenço-solo-exhibition

Spoiler alert

Adalberto Campos Fernandes disse ainda, segundo o jornal "Público", que a redução dos horários dos funcionários públicos para 35 horas semanais poderá implicar este ano no SNS "um acréscimo de custos". Uma afirmação que contraria a indicação do Governo socialista de que a redução do horário de trabalho no Estado apenas avançaria se não comportasse mais encargos no Orçamento do Estado.

Fonte: Expresso, 28/1/2016

Aparentemente, há aqui uma pequena contradição: ao mesmo tempo que nos disseram que a produtividade iria aumentar no sector público, logo não seria necessário contratar mais mão-de-obra para compensar a redução do horário de trabalho, eis que o Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, diz que, se calhar, tem de contratar mais pessoal. A Destreza conseguiu apurar que há uma discrepância nos pressupostos do Ministro das Finanças e nos do Ministro da Saúde, mas tudo irá ser esclarecido brevemente.

Mário Centeno já está colaborar num dos próximos episódios de "The X-Files", o episódio chamar-se-á "The Excel File", e lá irá explorar-se a ideia de mudar Portugal para Marte. Em Marte um ano são 1,8809 anos terrestres, logo os parâmetros usados no Excel de Centeno são muito mais realistas lá, até porque Portugal seria uma economia fechada e sem emigração. A produtividade de uma semana que dura 13 dias é muito superior à produtividade de uma semana terrestre, mesmo com fins-de-semana de quatro dias. Todos ganham na economia portuguesa marciana: contribuintes e trabalhadores!

P.S. Post baseado numa ideia do NAJ

Frases famosas 37

37. Ouçam só o que eu ouvi dizer, que a gente não se liberta de um hábito atirando-o da janela, é preciso fazê-lo descer a escada, degrau a degrau.

Acho bom...

Que quando eu for a Lisboa, esta moda ainda esteja em voga!

A mais recente campanha da H&M com David Beckham, para a primavera-verão 2016, foi filmada em Portugal. A marca divulgou esta semana o vídeo gravado em Lisboa com o atleta, que é o rosto da linha masculina Modern Essentials. Viu Beckham pela calçada portuguesa? Conte-nos tudo nos comentários - e partilhe fotos do momento, se tiver!Fonte: http://tinyurl.com/jopo8op

Posted by GQ Portugal on Wednesday, January 27, 2016

Trabalho de equipa

Com 37 anos, a canção da Manuela Bravo muito bem lembrada pela Rita foi-se desactualizando.
O refrão contemporâneo é este:

Sobe, sobe, PIB, sobe,
Vai pedir àquele juro
Que me deixe lá ficar
E sonhar!
Levo multiplicador comigo
Pois eu sei que encontrei
Um lugar ideal para governar.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Um dia em Auschwitz

"The road to Auschwitz winds past farmland, historic churches and small country homes. Our driver, Irek Wis, knows the route well. For nearly two decades, he has taken visitors to the world’s most infamous concentration camp, making the round-trip roughly 250 times each year.

As we drive there, he offers us this advice: “You are on vacation,” he says. ‘Try to relax…I know that for you it will be a very unpleasant visit. No one promises that it will be easy. But try to little bit relax or the bad emotions will burn you.”

My parents and I know that Irek is right. We have twice postponed plans to visit Auschwitz. And there’s a reason. A personal one. Both my late paternal grandparents were imprisoned in Auschwitz during the Holocaust. And as Irek drives and talks about what to expect, it’s hard to reconcile the past with the present."

Fonte: Here and Now, NPR

O Zé Carlos, que está sempre atento a estas coisas, lembrou-nos do significado de hoje. Ontem passou esta história na rádio. Não saí do carro sem a ouvir até ao fim; mas custa a ouvir e não o consegui fazer sem chorar. Se se emocionam muito, talvez precisem de alguma privacidade.

27 de janeiro de 1945 e a falta de coragem para falar

Em 27 de Janeiro de 1945, o Exército Vermelho chegou a Auschwitz, de longe o maior campo de concentração. Com os seus satélites nas imediações, combinara um brutal complexo de trabalhos forçados com uma capacidade de extermínio inaudita. As estimativas apontam para cerca de um milhão e cem mil vítimas. Um milhão eram judeus.
O funcionamento das câmaras de gás havia sido suspenso em Novembro de 1944. As instalações do morticínio foram desmanteladas. Houve tentativas dos nazis para apagar os vestígios das actividades assassinas do campo de concentração. A inesperada rapidez do avanço do Exército Vermelho causara o pânico nos guardas de Auschwitz. Foram dadas ordens claras para a evacuação do campo. O comandante de campo, o SS-Sturmbannfuhrer Richard Baer, ordenou que se disparasse sobre os atrasados na marcha de evacuação ou sobre qualquer prisioneiro que tentasse fugir.
Quando os bolcheviques chegaram, restavam apenas sete mil prisioneiros, reduzidos a meros esqueletos ambulantes. Um deles era Primo Levi (1919-1987). Judeu, italiano, químico, escritor de génio. Em “Se isto é um Homem”, lançado em 1947, narra as suas experiências em Auschwitz. A escrita é clara, seca, objectiva. Levi sempre criticou os que escreviam com falta de clareza. Mais tarde, diria que o “verdadeiro crime, o crime colectivo geral, de quase todos os alemães daquela época, foi o da falta de coragem para falar”. Ter sobrevivido tornou-se um peso demasiado grande para a sua consciência. Suicidou-se em 1987.

Bravo!

Costa: Estou, Mário? Olha, esgotei os multiplicadores 4. Bruxelas quer outros mais poderosos.
Centeno: OK, já estou a trabalhar nisso. Até vai dar jeito: se o crescimento for para aí 3%, como sugere o LA-C, o empréstimo do FMI é justificável, como sugere a Rita. Arruma-se logo os críticos que escrevem n'A Destreza.
Costa: Bravo, Mário, bravo!

A solução é crescer ainda mais

Isto é uma notícia fantástica. Tendo de reduzir ainda mais o défice, a solução é Portugal crescer ainda mais. Com esta nova restrição ao nosso orçamento, Portugal vai levantar voo com tanto crescimento. Em 2016 vamos crescer para aí uns 3%, que isso de 2,1 é para criancinhas pouco ambiciosas.

PM nabo ou CEO excepcional?

Nos últimos cinco dias saíram várias notícias a dizer que foi Bruxelas que ordenou a venda do Banif ao Santander em 19 de Dezembro -- a ordem chegou por email (ver, por exemplo, Expresso e Público). Adoro Bruxelas, adoro tanto que até tive um namorado de lá. Foi bestial, mas acabou... O que não acabou foi esta sensação que eu tenho de que me estão a fazer passar por estúpida.

Querem me dizer que quando a venda do Banif foi anunciada ninguém no governo teve a clarividência de culpar Bruxelas e o email, mas acham que o assunto é importante agora, depois de chumbarem a auditoria externa (21/1/2016) e antes de o Santander anunciar que avaliou o Banif deu lucro de €283 milhões (27/1/2016), um mês depois de o ter comprado por €150 milhões, salvando o contribuinte português porque era um banco muito problemático e colocava risco sistémico para o sistema financeiro português?

Interessa as continhas: um banco problemático, a perder capital, etc., dá um retorno em um mês de €283 milhões num investimento de €150 milhões, ou seja, uma taxa de retorno mensal de 188,7%, que dá um retorno anual composto de mais de 334.000% (o não-composto é fraquinho, apenas 2.514%/ano). Só há uma palavra para isto: Foda-se!

Pensava o Vítor Cunha, no Blasfémias, que António Costa era um investidor fenomenal, com retornos de 400% ao ano, e vem o CEO do Banif e apresenta esta taxa de retorno para o Santander. Ou será que não é o CEO que é um ás, mas o nosso ilustre Primeiro Ministro António Costa que é um nabo e, não vendeu, deu os activos do Banif ao Santander, retendo as perdas para os contribuintes? Dava jeito uma auditoria externa, dava. Entretanto, podemos entreter-nos a ler o João Oliveira Rendeiro -- ele, sim, demonstrou clarividência: fomos roubados!

Adenda: O LA-C, o NG, o Lester chamaram-me à atenção do meu erro, mas eu devo dizer que eu não acreditei a primeira vez que li que os €283 milhões fossem lucro puro, por isso é que fiz os cálculos que fiz e deduzi o preço àquele valor. Eu pensei que estivesse a ler mal. Afinal, ainda é muito mais obsceno do que eu poderia acreditar.

Adenda 2: Parece que não sou só eu que ando confusa, a TSF também presume um lucro de €133 milhões.

Floricultura 50


O meu avô cultiva gladíolos.

35 horas, subvenções e fantasias

Hoje no Observador escrevo sobre a realidade que a legalidade nega.

A última vez

"As pessoas dão demasiada importância à primeira vez. E a última vez? Ninguém pergunta pela última vez. A última. A última de todas. A última das últimas. A última depois da qual não há mais nenhuma."

Pedro Mexia

Ontem telefonei ao nosso veterinário. O Alfred precisava de uma limpeza aos dentes, mas também tinha uma espécie de caroço no peito. A Sharon, que foi a assistente do veterinário que me deu boleia quando precisei de levar a Stella à eutanásia, disse-me para o levar hoje entre as 7:30 e as 8 da manhã. Coloquei a trela e o cinto de segurança no Alfred. O Chopper, que é o meu outro cão, recusou-se a ficar para trás e também quis ir. Os meus cães adoram andar de carro. Quando vou a Memphis, vão ao meu lado, com os cintos de segurança, e é fácil fazer a viagem de 12 horas com eles. Um dos meus colegas no trabalho anterior uma vez disse-me que os meus cães eram mais bem comportados no carro do que a maioria das crianças. E são.

Hoje olhei para o Alfred várias vezes, queria vê-lo bem porque tinha medo que fosse a última vez. O Alfred já tem quase 11 anos; não é muito velho para um pug, mas a idade mediana desta raça é 12 anos e eu já noto que se movimenta com dificuldade. Precisa de ajuda para subir à cama, mesmo com as escadinhas, e, de vez em quando, pede ajuda para saltar para o chão. Há dias em que não quer ir passear. Depois da limpeza, o nosso veterinário telefonou-me para dizer que tinha corrido bem. O caroço não parecia ser maligno, mas ele queria que eu lhe desse autorização para tirar uma amostra para se certificar que não era nada sério. Mandou-me passar pelo gabinete depois das duas da tarde para ir buscar o Alf e, nessa altura, falaria comigo.

Era apenas uma massa de gordura benigna; em princípio, não causará problemas, a não ser que comece a crescer. Quando me entregaram o Alfred, o veterinário disse-me, como me diz sempre que ele lá vai, que era um belo cão e acrescentou "I love this dog". Eu também. Adoro o meu cão. O Alfred já faz parte da minha família desde as nove semanas de idade. Era um cão malandreco quando era bebé. Gostava muito de brincar e recusava-se a dormir à nossa frente. Pensava que, se estava ao pé de nós, tinha de estar a brincar.

A primeira vez que dormiu ao meu colo foi depois de uma viagem a Oklahoma City, onde passou o fim-de-semana inteiro a brincar com os cães dos nossos amigos e ficou exausto; mas em casa, durante meses, tínhamos de o meter numa gaiola para dormir. Depois começou a dormir connosco, enroscava-se ao pé da minha barriga. Eu tinha um animal de pelúcia -- uma rã, o Froggy -- que dormia comigo, foi uma das coisas que meti na lista de prendas do meu casamento, e o Alfred confiscou o meu animal para seu companheiro. Levava-o para todo o lado: para a rua apanhar sol, nos passeios, quando queria dormir... Nas minhas viagens a conferências, eu comprava-lhe mais rãs nos aeroportos, o único sítio onde eu encontrava iguais, porque destruía-as de tanto uso.

Não foi hoje a última vez. E, de acordo com o veterinário, o Alfred tem os dentes mais limpos do Texas.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Proposta

O Nuno e o LA-C corrigiram-me e muito bem: neste momento estamos dependentes da DBRS e não da Fitch, o que me deu ideia para um modelo. Suponho que os ratings das agências exibem algum nível de correlação e possivelmente causalidade; seria interessante perceber como é que o rating de uma agência afecta os ratings das outras. Talvez o Ministério das Finanças queira desenvolver um modelo para ver como é que um choque no rating de uma agência se espalha a outras, ou seja, quanto tempo temos até que todas decidam que Portugal é lixo.

P.S. Note-se que a Fitch apenas ameaçou; ainda não baixou o rating...

Nem de propósito...

"Fitch ameaça descer "rating" de Portugal se Costa falhar redução do défice

A agência de "rating" considera que o Orçamento socialista assenta em pressupostos de crescimento "irrealistas" que elevam o risco de falhar a redução do défice para 2,6%. Diz ainda que há contas que estão por explicar.

O "esboço" do Orçamento do Estado de 2016, apresentado pelo governo socialista, assenta em pressupostos "optimistas" e até "irrealistas" sobre a evolução da economia, o que agrava o risco de não ser alcançada a redução prometida do défice para 2,6% do PIB. Se esse cenário se materializar, a Fitch avisa para a probabilidade de descer o "rating" do país, invertendo a trajectória de subida da nota, que ainda permanece aquém do grau de investimento."

Fonte: Jornal de Negócios, 26/1/2016

Agora percebe-se a lógica de adiar o pagamento ao FMI: Mário Centeno tinha a certeza de que Portugal não conseguiria emitir dívida a juros baixos. Sem o rating da Fitch, o BCE não pode comprar dívida de Portugal no mercado secundário. O BCE teria de arranjar uma maneira de abrir uma excepção para ajudar Portugal, mas isso seria difícil e complicado. Mais uma vez, recorremos a dívida para manter um regime insustentável, e não para gerar crescimento.

Portugal aproxima-se a passos largos de outro desastre, mas desta vez não há qualquer dúvida: os responsáveis são os nossos líderes, não é a conjuntura internacional. Resta saber se haverá alguém com poder disposto a parar esta nova loucura e quem será cúmplice. Está na hora de as pessoas e a comunicação social decidirem de que lado da História irão ficar.

A corrente

Em 1831-1832, numa visita oficial à América, com o propósito de estudar o sistema penal americano, Tocqueville teve uma visão reveladora: a razão estava sozinha no palco. Os filósofos do iluminismo haviam dito aos homens que a razão era a luz que os libertaria da superstição, dos preconceitos de religião, classe, família. Os homens ficariam assim todos nivelados, não só por uma questão de princípio, mas também porque nenhum dos seus representantes teria autoridade intelectual. O direito político postula que bastiões como a igreja e a aristocracia não podem afectar a opinião dos indivíduos. Assim se removeram os impedimentos externos ao livre exercício da razão. A democracia exige que cada um decida por si próprio. E gerou-se um efeito paradoxal. Poucos se adestram no uso da razão, para além do cálculo de interesse pessoal, estimulado pelo próprio regime. Os homens sentem-se perdidos. Perderam as antigas fontes da opinião e não têm tempo, nem capacidade para reflectir sozinhos. Muitas vezes, não conseguem sequer fazer cálculos sobre o seu interesse pessoal. Como náufragos, tentam agarrar-se às bóias da tradição e da autoridade, que antes lhes tinham dado alguma segurança. Mas agora é-lhes dito que, afinal, as bóias não são bóias, são pesos que os arrastam para o fundo. Desesperados, entregues a si próprios, não têm outra solução se não deixar-se levar pela corrente, à qual nenhum indivíduo isolado tem força para resistir. Para Tocqueville, o maior perigo da democracia é a escravização em relação a essa corrente. Essa corrente chama-se opinião pública e corresponde à vontade da maioria.  

Reportagem 4

Diz o povo, essa mítica entidade, que tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia lá deixa a asa.

10 PM, ao telefone

Me: My accent sucks!
Him: Well, apparently that's the only thing that does, at least in my direction. 
Me: Shut up! You're so goddamned sleazy!
Us: (laughing for 15 minutes!)

Amizades de 20 anos são muito malucas e a língua inglesa é muito dada a trocadilhos...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cavaco não tem mais encanto na hora da despedida

Eu passei as últimas semanas a advogar que o Presidente da República não é a Rainha de Inglaterra - falta-lhe aquele glamour que a monarquia sempre tem -, mas quase. Na verdade, assemelha-se mais a um relógio de cozinha: tem uma utilidade, mas no Ikea surge na parte de "decoração". Eu bem sei que a Constituição admite leituras diversas, mas a minha é mais próxima da interpretação minimalista que Cavaco (contrariando aquele resultado da Psicologia segundo o qual as pessoas tendem a repetir os comportamentos de que foram alvo) fez nos últimos dez anos. Por isso, perguntar aos candidatos como encorajariam a natalidade ou como apelariam ao regresso dos jovens que emigraram pareceu-me um despropósito. Do meu entendimento, tais poderes são legislativos e executivos (eventualmente, divinos), mas não presidenciais.

Hoje, Cavaco fez-me rever o meu pensamento sobre a matéria e achar que, se um Presidente promulga ou veta leis em função das opiniões que tem delas e não da sua conformidade com a Lei Fundamental do país, então é bom que saibamos o que pensa sobre a grande maioria dos assuntos. (E, nesse aspecto, Marcelo não foi muito esclarecedor durante a campanha.) Parece que, afinal, a Psicologia sempre tem razão...

O "Excel de Centeno"

Na semana passada, houve um post n'O Insurgente e uma peça de opinião no Económico acerca do "Excel de Mário Centeno". O modelo que Mário Centeno usa, que espero que não seja apenas uma folha de cálculo de Excel, já me intriga desde Outubro de 2015. Entretanto, já tive oportunidade de concluir algumas coisas acerca do mesmo. (Tentei não usar uma linguagem muito técnica, talvez assim mais pessoas compreendam a natureza das minhas dúvidas.) Julgo que seria muito valioso se os jornalistas questionassem o Ministério das Finanças acerca da validade do modelo usado.

Terá o meu voto

"Washington (CNN) Former New York City Mayor Michael Bloomberg is seriously considering a possible independent presidential run and is looking at making a decision sometime in March, two sources familiar with Bloomberg's thinking told CNN on Saturday."

Fonte: CNN

Se Michael Bloomberg concorrer às Presidenciais americanas, votarei nele. Está decidido!

Vou ser cobra...

Quer dizer, vou armar-me em Oráculo de Delfos, que é bastante apropriado, dado que a passos largos caminhamos para um futuro em que nos veremos gregos, e inspirar-me na cobra para prognosticar que a presidencia de Marcelo Rebelo de Sousa vai ser um desastre para Portugal. Irá ser cheia de vingançazinhas políticas, que preservarão o mau governo do país.

O Presidente da República Portuguesa deveria salvaguardar os interesses dos cidadãos e o futuro da nação. Deveria! Mas há quem não saiba conjugar os verbos adequados, nem assumir a responsabilidade do cargo que ocupa. Não tenho nenhuma fé em Marcelo Rebelo de Sousa. Já nem espero estar errada; a minha esperança foi sufocada pela realidade.

sábado, 23 de janeiro de 2016

O óbvio

Lembro-me de um dia, quando estava a fazer o doutoramento, estar prestes a sair do gabinete do meu orientador quando ele me disse uma coisa que me fez sentir muito estúpida. Não me insultou, apenas constatou algo óbvio em que eu ainda não tinha pensado. Muitas vezes, são as coisas mais óbvias que são as mais elusivas. Eu e ele falávamos da optimização em que eu estava a trabalhar, quando ele me disse: se uma restrição é relevante para o problema, o valor óptimo da função objectivo tem de ser pior com a restrição do que sem ela. É óbvio.

É tão óbvio que eu ando há década e meia a perguntar-me como é que isto não estava claramente presente na minha cabeça antes, como é que este teste de lógica não era uma das primeiras coisas que eu efectuava quando analisava os meus resultados. Bastaria comparar os resultados e saberia logo se tinha cometido um erro ou se a restrição era relevante. Se sabia que a restrição era relevante e o resultado não era o esperado, tinha cometido um erro com certeza absoluta e o modelo não prestava.

Não é preciso grande análise para saber que o Orçamento de Estado está cheio de erros. Basta pensar que cada vez que é imposta uma nova restrição, os resultados da economia portuguesa não pioram, tudo continua muito agradável. Não há modelo nenhum que faça isto a não ser que as novas restrições impostas sejam irrelevantes. Como nós sabemos que as restrições são relevantes, o problema tem de ser o modelo estar errado e, obviamente, as conclusões também serem erradas.

Contos zen para crianças boas 171



A visita residente parece uma contradição e, logo, uma impossibilidade, mas há mais a dizer acerca das impossibilidades do que assinalar o facto de serem contradições. A visita residente pode ser uma contradição e, logo, uma impossibilidade, mas não deixa de ter efeitos sobre nós, tal como outras impossibilidades. Um círculo quadrado ou um solteiro casado ou um triângulo com sete lados ou um erro deliberado ou um partido comunista ou uma rosa azul ou um morto vivo ou um pequeno milagre ou um novo clássico ou uma cópia original ou uma vítima de suicídio ou uma desordem sistemática ou um caos controlado ou um humano normal aparecem por todo o lado e mantêm-nos ocupados ou tornam-nos reflexivos. Há contradições existencialistas e muita gente diz ter experimentado a solidão no meio de uma multidão. Há contradições filosóficas e muita gente tem pensado na guerra justa e na igualdade de oportunidades. Há contradições dramáticas como a leveza pesada, a vaidade séria, a pena de chumbo, o fumo brilhante, o fogo frio e a saúde doente de Romeu, de que têm falado os poetas. Da visita residente podemos dizer que, não sabendo quando chega e quando parte, melhora em muito o nosso sentido da hospitalidade.

Plano Centeno em acção

No Jornal de Negócios vem uma tabela sumário da evolução das variáveis macroecónomicas do novo plano Centeno. Parece ser tudo muito optimista, mas temos de confiar no "rigor dos pressupostos e das contas".

Pelo sim, pelo não, já comecei a implementar o plano Centeno cá em casa. Fui à loja de vinhos e comprei 8 garrafas de vinho português, normalmente costumo comprar 6 de cada vez. Agora estou à espera de crescer mais um bocado para as poder consumir mais depressa. É que sendo eu baixinha não posso beber muito. Mas se eu presumir que, de hoje para amanhã, passo a medir 1,70m, em vez de 1,53m, a matemática do aumento do meu consumo de álcool tornar-se-á sustentável, exactamente como a matemática do crescimento da economia portuguesa.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Os castiços do GOP

O GOP -- Grand Old Party, mas também já foi Gallant Old Party --, que é o Partido Republicano americano, é um partido muito castiço, com pessoas muito castiças. O último castiço a aparecer, na MSNBC, é um estrategista do GOP que diz que os apoiantes de Donald Trump são "homens solteiros, sem filhos, que se masturbam a ver anime" (ver minuto 1:00). E ainda diz que estes apoiantes são insignificantes para o percurso da humanidade. Bravo!

"Novoado"

Caros leitores,

Há algumas horas publiquei um post com este título. Depois de uma investigação mais exaustiva, concluí que havia factos que poderiam estar errados, mas não consegui averiguar toda a verdade, logo decidi retrair o post.

Obrigada,
Rita

Depois de pousar a poeira...


Calculei, e bem, que na sequência das decisões do Ministério da Educação sobre a avaliação dos alunos do ensino básico se iriam seguir numerosas críticas nos diferentes meios de comunicação, e algumas (poucas) dando-lhes apoio. Decidi, por isso, não elaborar o meu próprio comentário enquanto não esfriasse o ímpeto contestatário, ou seja, enquanto a poeira não pousasse e o ambiente ficasse mais sadio.

Caro Pedro Passos Coelho...

Caro Pedro Passos Coelho,

Obrigada pela bela merda que saiu hoje do Parlamento português. Com que então a auditoria externa ao Banif foi chumbada? Era preciso uma auditoria externa e isenta, e não outra Comissão de Inquérito.

Pergunto-me por que razão o PSD não chumbou o Orçamento Rectificativo, como devia ter feito, se fosse um partido responsável. Não, a culpa não é da Esquerda; a culpa é sua e da sua fraca liderança. Tenha vergonha na cara porque você foi cúmplice neste roubo dos contribuintes portugueses!

Se quer voltar a ser Primeiro-Ministro, acho bom que se emende e depressa. Não precisamos de governantes fracos. Esteja à altura da situação ou dedique-se à jardinagem. Pense nisso -- terei todo o gosto em enviar-lhe uma cópia do guia Rodale da jardinagem biológica.

Assinado,
Rita, uma contribuinte portuguesa enojada

The Cardigan(s)

"Sarah Palin returned to center stage of a presidential campaign yesterday — a few years older but still wearing her signature rimless eyeglasses. Her auburn hair is bouncier. And her keen ability to capture the spotlight is not at all diminished. The former Alaska governor was in Ames, Iowa, to endorse GOP front-runner Donald Trump. She did so wearing a black pencil skirt topped off with a mini-black cardigan studded with what resembled needle-thin, glistening stalactites. On television, as all that black blurred together, she looked a bit like she was wearing a bedazzled choir robe. She even shouted out for a “Hallelujah!”

As Palin stood behind the lectern firing up the crowd, she happily told them to “look back there in the press box. Heads are spinning, media heads are spinning. This is going to be so much fun.” She expressed great delight in hearing the audience roar its approval. During it all, the cardigan shimmered glamorously under the lights. In her lengthy address, she showered extra love on Iowa farm families, cops, cooks, Teamsters, as well as “you rockin’ rollers. And holy rollers!”"

Fonte: The Washington Post, 20/1/2016

Depois das botas do Marco Rubio, que nem foram feitas nos EUA, mas sim na Índia, vem o cardigan da Sarah Palin. A Sra. Palin apareceu num evento ao lado de Donald Trump e parece que a estrela da noite foi o casaquinho que ela vestiu, de acordo com o WashPost. Suponho que o objectivo é seduzir o Sr. Trump a ver se, quando chegar a altura de ele ganhar a nomeação Republicana, ela ser escolhida como Vice-Presidente.

Daqui até Novembro, muita água há-de correr na campanha das presidenciais americanas. A melhor parte é que há tempo mais do que suficiente para este pessoal mostrar exactamente o que (não) vale. Entretanto, isto pede uma musiquinha dos The Cardigans, claro. Y'all get your booties ready, ya hear?!?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Maravilha!

"A Comissão Europeia queria uma redução maior no défice e o Governo acabou por ceder, mudando a meta que tinha prevista no programa de Governo, que era de 2,8%, para 2,6% do PIB, anunciou esta quinta-feira o ministro das Finanças, Mário Centeno. A previsão para o crescimento da economia foi revista em uma décima, de 2,2% para 2,1% do PIB."

Fonte: Observador

Afinal já não é de 2,8% o défice; vai ser 2,6%. A economia portuguesa deve ser a mais flexível do mundo. Basta querer, que a coisa ajusta-se instantaneamente. Concluo, então, que toda a culpa dos problemas de Portugal é de Bruxelas -- se Bruxelas tivesse exigido orçamentos equilibrados, o governo teria produzido e a economia teria obedecido imediatamente. Adoro Economia Criativa, o ramo da Economia seguido em Portugal...

Angela, cala-te!

Será que isto é para calar a Sra. Merkel da próxima vez que tivermos uma intervenção da Troika? Se não a calar a ela, dá para eu calar outra pessoa. Da próxima vez que algum tuguinha me chamar "emigrante" com desdém, vou ter de lhe recordar que eu, ao contrário dos saloios do MNE, compro facas portuguesas para oferecer aos meus patrões porque são boas, são feitas em Portugal, e o preço é bom. Mas continuo a não perceber o porquê de tanto faqueiro...

"O porta-voz das empresas nacionais do sector metalúrgico e metalomecânico considera que "a indústria portuguesa foi desconsiderada e o dinheiro público desbaratado" no contrato de compra de um faqueiro fabricado na Alemanha. O negócio feito por ajuste directo, assinado a 11 de Dezembro de 2015, foi publicado no sítio Base de Contratos Públicos Online.

Rafael Campos Pereira sustenta que "não faz sentido que o Estado português compre produto estrangeiro quando a oferta portuguesa tem qualidade comprovada". "Mas faz ainda menos sentido que a opção pelo produto estrangeiro implique pagar um preço entre cinco e vinte vezes superior ao que se pagaria se a compra fosse feita a um fabricante português", acrescenta Rafael Campos Pereira.

[...]

Apesar do desabafo do responsável do sector sobre esta última decisão da tutela de Augusto Santos Silva, a verdade é que noutros contratos recentes a escolha até tinha recaído sobre peças feitas em solo nacional. Em Julho, ainda na vigência do anterior Executivo, a mesma Secretaria-geral adquiriu 15 faqueiros à Topázio pelo valor de 67.034 euros, acrescidos de IVA, para "a satisfação de necessidades de várias entidades".

Esta empresa, com sede e fábrica em Gondomar, onde trabalham "cerca de 60 artesãos", foi precisamente uma das sugestões deixadas por Rafael Campos Pereira para o fornecimento de faqueiros – e até tem um "com o mesmo nome e bastante semelhante" ao que foi agora comprado, disse ao Negócios a assessora de imprensa da Topázio. No seu sítio na internet, a marca detida pela centenária Ferreira Marques & Irmão orgulha-se de ser "a marca de eleição do MNE, estando presente em todas as embaixadas de Portugal" e de integrar também "o protocolo de Estado em todas as recepções oficiais"."

Fonte: Jornal de Negócios

A seriedade

"Entre a espada e a parede, ou entre Bruxelas e a esquerda: assim está o Governo, que em altura de entregar à Comissão Europeia o esboço do Orçamento do Estado se vê obrigado a equilibrar as medidas acordadas com BE e PCP e as metas europeias. O documento, que será aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministros, deve seguir para Bruxelas ainda esta semana, mas continua a prever uma meta do défice de 2,8%."

Fonte: Expresso, 21/1/2016

As contas criativas pré-Troika estão de volta, desta vez pela mão de Mário Centeno. Não há seriedade; há mentiras em série. Vão enviar para Bruxelas um esboço de orçamento onde se prevê o iminente crescimento brutal da economia portuguesa para reduzir o défice orçamental. Isto quando o IGCP ainda recentemente apresentou umas contas que dão um défice completamente diferente.

Como dizia o meu professor de Métodos Econométricos: com dados adequados, podemos concluir tudo o que quisermos. Se não gostamos da conclusão, mudamos os pressupostos e ela fica diferente. Esperemos que a malta de Bruxelas não se deixe enrolar desta vez.

Hipocrisia?

Anda por aí muita gente a dizer que quem antes defendeu o Tribunal Constitucional é hipócrita ao atacá-lo agora. Parece que quem defende os seus acórdãos quando concorda com eles se deve abster de os atacar quando discorda deles. Confesso que tudo isto me parece um disparate pegado. Se não se concorda com o TC, nada mais natural do que atacá-lo. Se se concorda, nada mais natural do que defendê-lo de quem o ataca.

PS Devo, apesar de tudo, reconhecer que de uma candidata à presidência não se espera ataques a órgãos de soberania. Se vai jurar cumprir e fazer cumprir a CRP, não tem grande volta a dar que não respeitar as interpretações que o interpretador supremo da CRP faz.

Frases famosas 43

43. Já que insiste.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Bancarrota intelectual

Sarah Palin endorses Donald Trump: America files for intellectual bankruptcy

Posted by The Daily Edge on Tuesday, January 19, 2016

“Contra os canhões, marchar, marchar!”

“Contra os canhões, marchar, marchar!”. Há quem diga que devíamos rever a letra do hino nacional, adoptado em 19 de junho de 1911 - a última versão da letra data de 16 de Julho de 1957, aprovada em Conselho de Ministros. É uma velha questão. “A portuguesa”, composta em 1890 por Henrique Lopes de Mendonça (letra) e Alfredo Keil (música), como reacção à humilhação imposta pelos ingleses aos portugueses com o ultimato, estaria desactualizada. Que povo marcharia contra os canhões? Só um povo louco e suicida, argumentam alguns. Não concordo com a tese. "A portuguesa" é bastante actual.
Os avisos de tempestade acumulam-se. Na semana passada, foi o relatório do Royal Bank of Scotland a anunciar um cataclismo económico para breve. Agora é William White, presidente do Comité de Avaliação da OCDE, a dizer mais ou menos o mesmo. Estamos pior do que em 2007. Já foram gastas todas as munições na anterior crise e as dívidas não pararam de aumentar. Entretanto, economias emergentes como a China e o Brasil passaram também a fazer parte do problema. O LA-C pede mais prudência ao governo. A Rita não se cansa de acenar do outro lado do Atlântico, a chamar a atenção para as loucuras e vergonhas que nos assolam todos os dias. Numa palavra, desta vez não deixámos o Medina Carreira sozinho no deserto a gritar que vinham aí as sete pragas do Egipto. Perante isto, o que faz o nosso sábio governo? “Contra os canhões, marchar, marchar!”

princípio da desconfiança

As subvenções vitalícias dos políticos não foram uma obrigação assumida pelo Estado em abstracto. Os subvenções vitalícias dos políticos foram decididas pelos próprios políticos. É caso típico de captura do interesse público por interesses privados (e de falta de vergonha na cara).
Falar em abstracto como se a violação do princípio da confiança fosse similar à de outras situações anteriores decretadas pelo Tribunal Constitucional é uma tontice.

Floricultura 2

2

Está albergada numa estufa de ferro e vidro elegante como a gaiola de um pássaro.
Miss Snowe visita-a todos os dias, e todos os dias espana o pó que se acumula nas folhas quadrangulares. Assim, as suas miríficas cores nunca se embaciam. O púrpura bizantino. O azul de Albion. A cor que ainda não sabemos como se chama porque é a cor dos nevoeiros sobre os pântanos. A cor da fuga do jaguar, outra cor de que não temos nome ainda. Todos os dias surge uma folha nova, com a mesma forma quadrangular e sempre com uma cor diferente, algumas já conhecidas, outras não. O branco-cinzento-lilás da pérola na concha e a cor do toque dos sinos, que é o negro mas pode ser o amarelo claro que têm as rendas guardadas em arcas cheirando a sândalo e naftalina. A cor do sândalo é o ocre escuro. A cor da naftalina é o verde-lima, porque o cheiro intenso que quase magoa o nariz é intenso como o cheiro da lima mas não igual, só o facto de ser intenso os aproxima e lhes torna iguais as cores. Miss Snowe não sabe quanto irá crescer a planta e quando irá florir. Receia que o tecto da estufa não seja suficientemente alto, que as paredes não estejam suficientemente afastadas umas das outras, e que acorde uma manhã com o ruído do estilhaçar dos vidros e do retorcer dos ferros. Quando os vidros se estilhaçam passam de transparentes a azul aço claro. E o ferro retorcido é cinza ardósia. Quando se espalham pela erva verde, os vidros assumem a sua cor esmeralda, que é também a cor dos feiticeiros. E das miragens. E de Xanadu, por onde o sagrado Alph corre em cavernas que os homens não são capazes de medir. De todas as cidades longínquas onde se quer chegar e que estão sempre no horizonte, que é violeta porque o contraste aguça o engenho que nos fará atingi-las em breve, ou assim pensamos, e criamos a cor da expectativa, que em rigor é a água-marinha e não o verde. Pensar tem tantas cores quantas as que existem e quantas vierem a existir e quantas existiram já sem que tenhamos tomado conhecimento delas. De que cor é a origem. Ou dos primeiros anfíbios. A cor dos gritos adâmicos na expulsão do paraíso, ou seja, a cor de uma coisa que nunca existiu nem poderia ter existido. A cor de ter encontrado as Galápagos. A cor das interjeições, de eureka. O k é cor de chumbo e o b caramelo. Todo o abecedário é um festival de cores. A é marrom, e, branco, i, vermelho, o, azul, u, verde. Miss Snowe tem muito tempo livre, mas não demasiado porque nunca há demasiado tempo livre.

Decrete-se!

Artigo 1.º
República Portuguesa
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Constituição da República Portuguesa
Expliquem-me como é que há justiça e solidariedade na República Portuguesa quando os deputados que passam as leis que arruinam o país têm direito a subvenções vitalícias pagas por um povo que eles condenaram à pobreza? Acho que precisamos de um decreto a decretar que os deputados deviam ter vergonha na cara.
Cara Catarina Martins, trate lá disso -- olhe que faria muitos adultos de Portugal felizes. E como se preocupa com a felicidade das crianças, talvez lhe fique bem preocupar-se com a felicidade dos adultos; é que todos os adultos já foram crianças.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O meu herói!

Agora fiquei tão feliz ao ler o Ricardo Reis no Dinheiro Vivo: ele também usa pronomes pessoais redundantes! O inglês é muito chato, estraga-nos a todos... Mas não deixem de ler a peça de opinião do Ricardo porque é muito boa; só é pena ser acerca de uma oportunidade que Portugal desperdiçou -- o pão nosso de cada dia.

"Quase todos os colunistas acabam por abraçar causas. No último ano e meio, eu tenho insistido que o Estado português devia emitir mais, muito mais, dívida de longo prazo. Eu percebo que esta causa não tem o apelo de “soltem os prisioneiros” ou “salvem os pinguins”, mas com a nossa história de finanças públicas, esta causa provavelmente faz toda a diferença sobre se vamos ter outro resgate nos próximos anos." - Veja mais em: Dinheiro Vivo

Partir os pratos...

Num universo paralelo, os governantes entretêem-se a comprar faqueiros de €75.000. Não, este não é o primeiro, nem sequer é uma coisa que acontece apenas com este governo. Afinal, quantos faqueiros, quantos serviços de jantar são realmente precisos? É que Portugal não começou a receber dignatários quando começou a crise. Já recebia antes, nós até fomos dos primeiros países a usar talheres, muito antes dos franceses, logo exactamente o que é que fizeram aos pratos e aos talheres que se usavam antes? Não me digam que é prática comum partir os pratos no final dos jantares.

À mulher de César não é suficiente ser honesta; ela tem de realmente parecer honesta. E vocês, caros governantes, não parecem, nem são honestos. Um serviço de talheres que custa 150 meses de salário mínimo, quando Portugal ainda está em crise, é um insulto aos portugueses. Tenham vergonha na cara!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A pobreza de espírito...

Estou no Museu de Belas Artes em Houston (MFAH) -- é feriado, fofos. Aqui encontro coisas que adoro e coisas que detesto. Hoje vou falar de uma coisa que detesto, que é para não dizerem que eu acho que os EUA são sempre os melhores em tudo. Detesto pobreza de espírito e no MFAH ela é patente, basta ir ao restaurante. 

Este museu tem dinheiro a rodos, é obsceno. Vai fazer um campus que irá custar milhões de dólares e eles nem vão parar o projecto por causa da crise com as petrolíferas, que constituem parte dos patrocinadores do sítio. Mas entra-se no restaurante e a mobília é, no mínimo, patética. Não é só por ser de qualidade duvidosa e parecer barata, é esteticamente um insulto aos patronos deste sítio. Alguns dos prédios do campus foram obra de Mies van der Rohe. A estética do restaurante não é compatível. E, ainda pior, o restaurante foi renovado recentemente e outra companhia ganhou o concurso para o explorar. Até os pósteres usados para decorar o espaço já estão empenados e isto nem um ano tem. O pátio, meus queridos, causa-me urticária!

Uma vez comentei com a minha chefe a minha má opinião do restaurante -- para além do aspecto estético, também acho o menu muito deprimente. No meu comentário até mencionei que vou ao Centro Cultural de Belém ou à Gulbenkian, em Lisboa, e qualquer dos bares e restaurantes me satisfaz mais do que isto. Como é que um país sem dinheiro dá um bailinho a outro país que tem muito mais recursos? Ela disse-me para eu escrever uma carta ao director. Efectivamente, tenho de o fazer, senão ainda me dá uma úlcera...

O candeeiro é uma obra de arte; o expositor e as obras contidas são giros, a mobília é um insulto. 

Outra mobília, por favor! (Notem os motivos náuticos do expositor; isto até parece digno dos Lusíadas.)

Credo!

O pátio aqui há uns meses atrás: viva o mau gosto. Quando eu vi isto, hiper-ventilei -- já sei, sou uma gaja superficial. Qual superficial, qual carapuça?!? Isto é uma real merda!!!

O pátio agora. Sinceramente, quem acha que o dinheiro é tudo está muito bem enganado...



MLK

O Manuel

O Manuel, no Instagram, enche-me de felicidade tantas vezes. Eu não o conheço, mas penso nele, desejo-lhe bem, tenho carinho pela pessoa. Quando penso em tudo o que ele me oferece com as suas imagens, sinto-me em grande falta para com tamanha generosidade. 


Helena Araújo, ainda na Alemanha


De certo modo foi uma sorte os atacantes serem árabes ou do norte de África: ao estilizar-se na cabeça de todos a imagem de mãos pretas em corpos femininos brancos, o crime em si desenhou-se com clareza, sem se deixar turvar pelo reflexo de tolerar os nossos hábitos culturais e de proteger os nossos homens. Neste caso, a xenofobia jogou a favor da causa das mulheres, porque ao ser cometido pelo "outro", pelo bárbaro indesejado, deu ao crime concreto uma visibilidade imune a qualquer máscara ou desculpa.

Também os gritos que da rua se ergueram para expulsar esses criminosos jogam a favor das mulheres. Para serem expulsos, têm de ser acusados de um crime grave. Pelo que o assédio de rua passará a ser considerado crime grave, seja cometido por "um desses energúmenos" ou por um dos "nossos". Se temos motivo para ficar muito incomodados por um refugiado árabe/muçulmano ter consigo um papel onde escreveu a tradução para a nossa língua de frases como "mamas grandes" e "quero-te foder", temos de ficar igualmente incomodados quando essas frases brotam da boquinha de um compatriota nosso. Não há como penalizar duramente no caso de uns, e tolerar no caso dos outros.

A polícia aprendeu depressa. Na semana passada, prenderam dois paquistaneses que andavam a abraçar mulheres junto à Porta de Brandeburgo, em Berlim.

Frases famosas 35

35. Eles é que sabem. A frase mais não democrática que existe, e a mais popular. 

Os exportados

Hoje fui almoçar com uma exportação portuguesa: um investigador. Neste caso um Pedro, pós-doc, que faz investigação em Oncologia e que está em Houston há três anos. Não sei o que aconteceu em Portugal, mas de repente farto-me de conhecer Pedros e Nunos. Às vezes fico com a cabeça em água, só a tentar destrinçar os meus P&Ns. Continuando com o meu Pedro du jour, perguntei-lhe se conhecia muitos portugueses aqui e ele disse que conhecia vários, até trabalhava com um, mas que nenhum tinha feito o curso nos EUA. Aí senti-me triunfante porque os americanos é que pagaram quase todo o meu mestrado e todo o meu doutoramento. 

Uma parte da cidade de Houston é o Centro Médico, que até tem a sua própria skyline, como se fosse uma cidade dentro da cidade. Vêm pessoas de todo o país para ser tratadas aqui. No outro dia descobri que algumas das "cobaias" humanas usadas para investigar certos tratamentos são imigrantes ilegais. É uma troca interessante, mas não estou a fazer nenhuma avaliação moral, apenas acho curioso que se tenha desenvolvido. Os imigrantes nunca teriam acesso a este tipo de tratamento nos seus países de origem. 

À distância, a skyline do Centro Médico de Houston

Prudência

Adam Smith, o pai da economia, exaltava a prudência, considerando-a a maior das virtudes. Até aparecer a palavra risco (talvez no século XVII, associada aos navegadores portugueses ou ao surgimento da banca) os antigos falavam na fortuna. Maquiavel comparava-a a um rio em fúria que arrasa tudo o que lhe aparece pela frente. Os homens não podem controlar a fortuna, mas podem fazer diques e canais para escoar a fúria do rio. Estes são os homens prudentes, dizia Maquiavel. Não vale a pena ignorar ou omitir que o rio se pode enfurecer vezes sem conta, com o argumento que isso pode assustar e fazer as pessoas entrar em pânico. Se for essa a estratégia, as pessoas vão refazer as suas antigas casas com os mesmos materiais, em vez de fazerem os tais canais e diques, como aconselhavam os mestres. O resultado não é difícil de adivinhar.

domingo, 17 de janeiro de 2016

A destreza no governo

Muito boa entrevista do Manuel Caldeira Cabral. Posso discordar de alguns pontos específicos mas concordo largamente com o que diz. Se eu considerasse que esta visão é maioritária dentro daquele governo, estaria bem mais optimista do que estou.

O que confirmámos com estas Presidenciais

Um dos alegados motivos para o apoio de Helena Roseta a Marisa Matias é o facto de esta não fazer cálculos. Em Caminha, Sampaio da Nóvoa foi recordado como um bom aluno, mas para quem a tabuada era difícil. Parece confirmar-se a ideia de que a Esquerda não se dá bem com contas...

O que aprendemos com estas Presidenciais

Que todos os candidatos são independentes. E que o nome do Tino de Rans é Vitorino Silva.

Procura-se...

Jornalista inquisitiv@, com bons conhecimentos de mercados financeiros, especialmente FOREX e activos derivados, para escrever história acerca dos instrumentos de FOREX hedging usados para gerir o risco cambial da extensão do empréstimo do FMI. Aprecia-se, em particular, saber qual o pior cenário considerado no pagamento deste empréstimo, se é que houve alguma gestão de risco cambial. Agradece-se publicação num periódico nacional importante. 

sábado, 16 de janeiro de 2016

Revisão

Em Novembro de 2015, poucas semanas antes do PS formar governo, Mário Centeno reviu o plano do custo do programa do PS com as condições dos partidos que apoiam o governo. O Observador tem uma boa peça acerca dessas estimativas, de onte tirei estas duas tabelas que comparam a revisão com uma versão anterior:

O valor da reputação

Relativamente à redução do horário de trabalho da função pública, foi usado o argumento de que a oitava hora do dia não contribuía nada para o serviço. As pessoas já estavam tão cansadas que não faziam nada a não ser receber o seu salário. Os sindicatos acenaram com a cabeça que sim, realmente assim era. E muitos funcionários públicos também.

Tenho sérias reservas acerca disto, até porque, por experiência própria, muitas vezes sou mais produtiva ao fim do dia do que ao princípio. Para além disso, é frequente a hora a seguir ao almoço, especialmente nos dias de calor, ser a mais chata de todas. Mas isto não é acerca de mim porque eu até nem tenho horário de trabalho. Desde que o meu serviço apareça feito a tempo e horas -- porque eu presto contas do meu serviço -- e que esteja presente para as reuniões, a minha chefe não quer saber como é que eu trabalho, onde, e quando. Isto é acerca de vocês.

Meus caros funcionários públicos, vocês foram insultados. Foram chamados de preguiçosos e ladrões com a benção do vosso sindicato. Em troca receberam uma hora de folga por dia ou irão aumentar as vossas horas extraordinárias, o que reforça a ideia de que realmente são ladrões. A vossa reputação vale muito pouco. Quem não se respeita não é respeitado pelos outros.

Collide

"Portugal has collided head-on with international investors over a controversial decision to restructure one of the country’s biggest banks as the new Socialist government tries to balance a business-friendly environment with a pledge to end years of punishing austerity.

Some of the world’s biggest bond investors have threatened legal action after the Bank of Portugal imposed losses on almost €2bn of senior debt at Novo Banco. Moves to alter or annul deals in the transport sector, including privatising the national airline, have sparked similar protests from angered foreign companies.

The threats from investors have highlighted the narrow path António Costa, the new centre-left prime minister, has to tread between keeping Portugal open for business and retaining the support of the far left parties on which his minority government depends.

“[Mr Costa] faces the impossible task of reconciling competing demands between his leftwing partners and the international investment community,” said Mujtaba Rahman of the Eurasia Group risk consultancy. This was likely “to have a negative impact on Portugal’s business environment for several years”."

Fonte: FT.com, 15/1/2016

Como eu tinha dito na minha apreciação das alternativas de governação de Portugal, em termos de risco, o nosso ilustre Primeiro Ministro é uma panela de pressão com o lume no máximo. Vamos lá a uma música para relaxar...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Frases famosas 49

49. Antes de desaparecer

Enganados outra vez...

O actual governo chegou ao poder dizendo que podia fazer a economia crescer com menos austeridade porque ia amortizar menos dívida, mas não seria preciso o país endividar-se mais. Afinal, soubemos esta semana que planeia endividar Portugal em €11 mil milhões até 2019, com a taxa de juro média de 4.7% na dívida ao FMI (€6,6 mil milhões), e a taxa de mercado da dívida portuguesa estando a 2,7% hoje (para os restantes €4,4 milhões). Note-se que a peça de opinião do Pedro Sousa Carvalho, no Público, referia que a taxa de juro de mercado estava a 2,6%, mas hoje já está acima dos 2,7%.

Fonte: MarketWatch.com

Fazendo assim umas contas por alto para ver se isto faz sentido e ignorando o factor tempo, imagine-se uma dívida de €11 mil milhões num ano e nas condições de taxas de juro de cima. Para ela fazer sentido, teremos de ter um retorno de 3,9%, (= 4,7% x 6,6/11 + 2,7% x 4,4/11). No caso de Portugal, a dívida não vai ser toda contraída no mesmo ano, mas há a agravante de as taxas de juro de mercado estarem com tendência ascendente tanto por culpa do actual governo como por culpa da Reserva Federal, que está a implementar uma política monetária contraccionista.

No mínimo, julgo razoável que o PIB tenha de crescer a mais de 3% ao ano para isto fazer sentido, mas nós sabemos que o PIB não irá crescer nessa ordem de magnitude. Ou seja, só um idiota faria este investimento. Pior do que austeridade é queimar dinheiro que o país não tem. O "rigor nas contas" é areia que Mário Centeno atira para os nossos olhos. Aliás, Mário Centeno está reduzido ao fulano que assina o cheque. É surreal...

Então S. Valentim?

Será que vais ser melhor do que o Pai Natal? Tens menos de um mês, pá...

This was brought to my attention on Twitter...I have to admit I appreciate it for both sarcasm and perspective purposes.

Posted by Jodi Beggs - Economists Do It With Models on Thursday, December 17, 2015

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Believer

"O ministro das Finanças, Mário Centeno, insistiu no final da primeira reunião com as estruturas sindicais da função pública, esta quarta-feira, que a medida das 35 horas na Função Pública "não irá implicar o aumento global dos custos com pessoal".

Centeno sublinhou a necessidade de manter o rigor orçamental e disse que esta questão está agora em sede parlamentar e o que está a ser negociado com os sindicatos são "questões de metodologia da negociação"."

Fonte: Económico

Para não dizerem que não acredito, até vos deixo uma canção sobre crentes. Acredito em tudo: política, amor, Pai Natal, Deus, etc. Até acredito que o meu gosto musical é muito bom e esta mistura do Joris Voorn é tão boa, tão boa, que às vezes eu ouço isto durante horas a fio no iPhone. Como dizia o meu marido, que já não é: "It is pure gold!"

Os Princípios SHIT e MERDA

Como já devem ter reparado, a classe política portuguesa pela forma como trata os eleitores e contribuintes segue o princípio SHIT (Só Há Idiotas e Totós). Isto é evidente não só nos candidatos a Presidente da República, como nos governantes actuais e passados.

Nota-se, na sociedade portuguesa, uma certa anestesia social, que me tem intrigado bastante. Depois pensei que Portugal é politicamente uma das nações mais antigas do mundo. Suponho que o povo português, durante estes séculos todos, aprendeu a aplicar o princípio MERDA (Mediocridade: Enquanto Reina Duplicamos o Analgésico).

Contrafactual histórico

"1. “A política é a arte do possível” diz-se com frequência. É claro que esta frase é irrefutável. Nós nunca temos um contrafactual histórico, e por isso só podemos conjeturar o que teria acontecido se as políticas tivessem sido diferentes."

Paulo Trigo Pereira, Observador

Estigma

“Um homem jovem, casado, pai de família, branco, urbano, do Norte, heterossexual, protestante, de educação universitária, bem empregado, de bom aspecto, bom peso, boa altura e com um sucesso recente nos desportos.” Segundo Erving Goffman (1922-1982), este era o único tipo de homem na América dos anos 60 que não tinha nada que o pudesse envergonhar.
Partindo do pressuposto que são poucos os que pertencem àquele tipo de homem, Goffmann conclui que todos nós carregamos um estigma. Estigma é uma palavra inventada pelos gregos, para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava sinalizar alguma coisa de extraordinário ou de mau sobre o status moral de quem os carregava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou um traidor. Mais tarde, foram acrescentados mais níveis de metáfora ao termo original. Goffman considera três tipos de estigma: (1) as deformações físicas; (2) as culpas de carácter individual (vontade fraca, paixões tirânicas, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo estas inferidas a partir de comportamentos de distúrbio mental, prisão, alcoolismo, homossexualidade, desemprego, tentativas de suicídio, comportamentos políticos radicais); (3) estigmas de raça, nação e religião.
Em todos estes três tipos de estigma – incluindo os que os gregos tinham em mente – verifica-se o mesmo problema: um indivíduo que poderia ter sido facilmente integrado e recebido nas relações sociais quotidianas possui um traço que pode impor-se à atenção dos outros e afastá-los, destruindo as possibilidades de atenção para outros atributos do “estigmatizado”.
Como resultado, quando o estigma não é notório e há a possibilidade (mesmo que remota) de o esconder, os estigmatizados esforçam-se por esconde-lo e encobri-lo sempre que estão na presença dos “normais”. Os normais podem ser estranhos ou pessoas próximas, como no caso do homossexual que esconde as suas preferências sexuais da família e amigos.
O surdo, o cego, o ex-doente mental, o ex-presidiário, o judeu, etc. fazem muitas vezes esforços descomunais para parecer “normais” e serem reconhecidos como tal e, assim, evitarem o isolamento ou o desprezo dos normais. Isto, como é evidente, leva a que vivam num clima de permanente tensão, com o medo de a qualquer momento serem apanhados em falso. E quase todos, repito, temos algures um estigma qualquer que nos persegue – curiosamente, diz Goffman, muitas vezes os que se sentem estigmatizados numa coisa são ainda mais implacáveis com os estigmas dos outros.
A relação entre os estigmatizados e os “normais” nunca é fácil. Ninguém está à vontade nas situações de contacto. A experiência mostra, todavia, uma coisa positiva. Esse embaraço recíproco tende a diminuir. Com o tempo, ambos, estigmatizados e normais, acabam por se acostumar com a situação e deixam de se sentir tão incomodados com a presença e as diferenças do outro.

O servidor do público

Diz o LA-C , num post anterior, que "... considerando eu que um funcionário público é um servidor do público...". Ora, segundo o Priberam, servidor vem do latim latim servitor-orisservoservidor, podendo assumir os seguintes significados:

Como adjectivo e substantivo masculino
1. Que ou quem serve, presta serviços. = SERVENTE

2. Que ou quem é rigoroso no cumprimento das suas funções.

3. Que ou quem está disponível para ajudar. = OBSEQUIADOR, PRESTÁVEL

4. [Informática]  Diz-se de ou sistema informático que permite o acesso a informação por parte de outros sistemas ou computadores dispostos em rede (ex.: instalação de programa servidor; não se consegue aceder ao servidor).

5. [Informática]  Diz-se de ou computador que, numa rede de computadores, aloja esse tipo de sistema informático (ex.: quem desligou o servidor?).

Como substantivo masculino
6. [Regionalismo]  Penico.

Da minha parte, dispenso bem estes adjectivos e substantivos.

Fama

“Quando comecei a adquirir uma certa notoriedade e tinha dias em que me sentia deprimido, dizia a mim mesmo: ‘Bem, acho que vou dar uma volta e ser reconhecido.”
Anthony Perkins, The New Yorker, 4 de novembro de 1961

Esta declaração do actor Anthony Perkins talvez explique, em parte, a ânsia de fama que consome milhões de pessoas. Mas também sugere por que motivo, uma vez obtida, a fama é escondida. Não se trata apenas do aborrecimento e do incómodo de ser perseguido por repórteres, paparazzis, fãs e caçadores de autógrafos. Com o tempo, são cada vez mais numerosos os actos considerados dignos de atenção. O famoso deixa de poder controlar a sua “biografia”. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Dr. Strange

No domingo de manhã, não sei o que fiz, mas apanhei um torcicolo. Só sei que num momento estava a ler os supostos rendimentos dos candidatos presidenciais no iPad na cama e sentia-me bem; levantei-me, a pensar na matemática da coisa, que não fazia grande sentido, e, de repente, doeu-me o pescoço. Passei dois dias inteiros com ataques de riso, pois quando me dói alguma coisa, dá-me para rir. Agora que penso nisso, poder-se-ia dizer que os candidatos presidenciais são uma grande "pain in the neck", como dizem os americanos.

Segunda-feira trabalhei em casa, pois queria terminar um projecto antes que saísse um relatório muito importante da USDA ontem, e não queria perder tempo a conduzir. Ah, sim, também trabalhei durante o fim-de-semana -- eu trabalho sempre que é preciso, dado que não há nenhum sindicato de empregados de fundos de investimento. Ontem, para além da dor de pescoço, comecei a ficar doente. Senti-me febril, cansada, a minha garganta começou a doer. Não estive em contacto com ninguém doente, mas como tenho alergias a certos bolores e pólenes, por vezes fico assim.

A primeira vez que me disseram que eu tinha alergias foi há 20 anos, quando eu vim para os EUA. Fiquei muito doente e fui ao centro médico da universidade, que os estudantes carinhosamente chamam de Voodoo Village. O Dr. Strange, quem me viu, disse-me que eu tinha alergias e precisava de tomar um anti-histamínico. Disse-lhe que não tinha alergias a nada; nunca em Portugal me tinham diagnosticado alergias. Ele insistiu. Pegou na minha mão e acariciou-me com o seu dedo usando toques leves durante alguns segundos. Depois perguntou-me se eu achava que ele me estava a magoar. Respondi que não e ele retorquiu com "Imagina que eu te fazia isto consistentemente durante várias semanas, achas que te magoaria?" Percebi o que ele me dizia: uma coisa que durante uns segundos não tem efeito nenhum, pode magoar-nos se for prolongada durante longos períodos, como é o caso da exposição a alérgenos.

Como já sabia do que a casa gasta, ontem comecei a beber doses copiosas de chá Earl Grey, pois tem bergamota que tem efeitos desinfectantes e ajuda-me muito, especialmente quando uso mel local como adoçante. Normalmente, bebo pelo menos uma chávena por dia como preventivo, mas ultimamente tenho bebido mais café, o que não tem o mesmo efeito. Para o jantar, telefonei a um restaurante asiático e encomendei phở, uma sopa vietnamita, que é picante e as coisas picantes ajudam o sistema respiratório. Dormi bem, umas 11 horas. Apenas me sinto cansada hoje e ainda tenho algumas dores de garganta. Para mim os anti-histamínicos não compensam porque eu tenho tendência para ter os olhos secos, pois trabalho muito tempo no computador. Depois de algum estudo e observação, encontrei outras coisas que me ajudam a recuperar mais depressa.