sábado, 23 de janeiro de 2016

O óbvio

Lembro-me de um dia, quando estava a fazer o doutoramento, estar prestes a sair do gabinete do meu orientador quando ele me disse uma coisa que me fez sentir muito estúpida. Não me insultou, apenas constatou algo óbvio em que eu ainda não tinha pensado. Muitas vezes, são as coisas mais óbvias que são as mais elusivas. Eu e ele falávamos da optimização em que eu estava a trabalhar, quando ele me disse: se uma restrição é relevante para o problema, o valor óptimo da função objectivo tem de ser pior com a restrição do que sem ela. É óbvio.

É tão óbvio que eu ando há década e meia a perguntar-me como é que isto não estava claramente presente na minha cabeça antes, como é que este teste de lógica não era uma das primeiras coisas que eu efectuava quando analisava os meus resultados. Bastaria comparar os resultados e saberia logo se tinha cometido um erro ou se a restrição era relevante. Se sabia que a restrição era relevante e o resultado não era o esperado, tinha cometido um erro com certeza absoluta e o modelo não prestava.

Não é preciso grande análise para saber que o Orçamento de Estado está cheio de erros. Basta pensar que cada vez que é imposta uma nova restrição, os resultados da economia portuguesa não pioram, tudo continua muito agradável. Não há modelo nenhum que faça isto a não ser que as novas restrições impostas sejam irrelevantes. Como nós sabemos que as restrições são relevantes, o problema tem de ser o modelo estar errado e, obviamente, as conclusões também serem erradas.

5 comentários:

  1. Não se preocupe que Maria Luís Albuquerque já fez saber que o Centeno é incompetente http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=593908

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  2. Se foram acrescentadas apenas novas restrições, tem todo a razão. Porém, se as medidas propostas alteram a configuração das restrições atuais (como propõe o governo) isso já não é verdade.

    Ou seja, mais uma vez isto depende da fé (porque no fundo é mesmo disso que se trata) nos efeitos das medidas sobre a economia. Neste ponto, não estou muito crente...

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    1. Quando eles incluem novas restrições modificam o comportamento do modelo, isto é, ajustam os parâmetros para os resultados com a nova restrição serem melhores do que seriam com os parâmetros antigos. Isso é óbvio porque é impossível o mesmo modelo dar resultados desta natureza.

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  3. No corpo teórico-prático invocado pela Rita, neste postal, o número de restrições tem de ser superior ao número de variáveis e um dos equilíbrios é conseguido por via da introdução de novas variáveis sempre que, por alguma razão, são impostas mais restrições. Não é uma brincadeira. É Microeconomia Portuguesa de Costa&Centeno.

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