sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Enganados outra vez...

O actual governo chegou ao poder dizendo que podia fazer a economia crescer com menos austeridade porque ia amortizar menos dívida, mas não seria preciso o país endividar-se mais. Afinal, soubemos esta semana que planeia endividar Portugal em €11 mil milhões até 2019, com a taxa de juro média de 4.7% na dívida ao FMI (€6,6 mil milhões), e a taxa de mercado da dívida portuguesa estando a 2,7% hoje (para os restantes €4,4 milhões). Note-se que a peça de opinião do Pedro Sousa Carvalho, no Público, referia que a taxa de juro de mercado estava a 2,6%, mas hoje já está acima dos 2,7%.

Fonte: MarketWatch.com

Fazendo assim umas contas por alto para ver se isto faz sentido e ignorando o factor tempo, imagine-se uma dívida de €11 mil milhões num ano e nas condições de taxas de juro de cima. Para ela fazer sentido, teremos de ter um retorno de 3,9%, (= 4,7% x 6,6/11 + 2,7% x 4,4/11). No caso de Portugal, a dívida não vai ser toda contraída no mesmo ano, mas há a agravante de as taxas de juro de mercado estarem com tendência ascendente tanto por culpa do actual governo como por culpa da Reserva Federal, que está a implementar uma política monetária contraccionista.

No mínimo, julgo razoável que o PIB tenha de crescer a mais de 3% ao ano para isto fazer sentido, mas nós sabemos que o PIB não irá crescer nessa ordem de magnitude. Ou seja, só um idiota faria este investimento. Pior do que austeridade é queimar dinheiro que o país não tem. O "rigor nas contas" é areia que Mário Centeno atira para os nossos olhos. Aliás, Mário Centeno está reduzido ao fulano que assina o cheque. É surreal...

15 comentários:

  1. Isto está a sair bem pior do que o esperado, Rita - e eu sou um pessimista, já esperava que fosse bastante mau.

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  2. Creio 4,7% é a taxa média do empréstimo do FMI em SDR. Convertido em Euros, se fosse liquidado na totalidade, hoje, esse empréstimo fecharia em condições muito piores do que o mercado português alguma vez registou nos últimos anos. Pode ser que adiar o pagamento até venha a ser um bom negócio.

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    1. Numa altura em que a FED está a parar os estímulos, e o BCE está a meio dum programa de expansão monetária, as condições nos próximos anos vão piorar ou melhorar?

      Além dos €6.6B adiados para 2020+, o governo vai adiar o pagamento de €4.5B de 2016/7 para 2018/9.

      Nessa altura as condições já vão ser mais favoráveis, ou vão ser ainda mais desfavoráveis que agora?

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    2. Caro NG, confesso que não percebo o raciocínio (não percebo mesmo, não o digo com ponta de ironia): se o empréstimo FMI tem uma taxa muito alta (e é possível obter financiamento no mercado mais barato), como é que amortizá-lo pode ser mau? Como é que financiar-me a 2,7% para amortizar empréstimo a 4,7% pode ser mau? O que diz, tanto quanto percebo, só seria verdade num cenário em que o pagamento antecipado ao FMI implicasse a liquidação dos juros vincendos, o que não seria seguramente o caso. O que parece que aqui se passa é exatamente o que a Rita diz: financia-mo-nos a 2,7% mas não amortizamos o empréstimo a 4,7% e assim o Governo fica com mais dinheiro para gastar à custa da decisão irracional do ponto de vista económico de não amortizar uma dívida que têm uma taxa de juro mais elevada do que o nosso nível de crescimento esperado. Mas tem mais dinheiro para gastar, lá isso tem. Até ver. Cumprimentos

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    3. MKrup
      O que NG está a dizer é que como o empréstimo do FMI é feito numa moeda estrangeira, SDR -- Direitos Especiais de Saque -- para determinar o verdadeiro custo do empréstimo tem de se ter em conta não só as taxas de juro como também a desvalorização do €, porque o que nos interessa é o custo em euros e não em SDR.

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    4. Mas o dólar está com tendência a apreciar, o que reforça ainda mais o argumento de que este negócio foi mau. As taxas de juro nos EUA já começaram a subir, não há qualquer dúvida de que o dólar irá ficar mais caro.

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    5. Muito obrigado a ambos, não tinha de facto considerado esse ponto, mas percebo-o bem, até porque negoceio a título pessoal no mercado Fx (sobretudo eur-usd). Em qualquer caso, posso estar enganado, mas não creio que a evolução esperada do eur permita tratar essa possibilidade que o NG avança como a mais provável.
      (acima de tudo e mais importante peço mil desculpas pela gralha acima, que me corrói desde que a detetei - se há coisa que não suporto são erros ortográficos, não sei o que me passou pela cabeça!)
      Abraços

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    6. Não sabemos. Pode agora subir e descer na altura das amortizações. Quando o empréstimo foi feito também não se sabia que o dólar iria apreciar tanto. Se isso fosse sabido, mais valia ter ido ao mercado e, assim, poupado Portugal à carnificina das ortodoxias do FMI. Com uma oposição e uma presidência mais responsáveis e um BCE mais lúcido e expontâneo, era isso que deveria ter acontecido.

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    7. NG, eu disse apenas a mais provável, que é aquela em que nos devemos basear, mas claro que pode não se verificar. Quanto à segunda parte do seu comentário, de acordo. Cumprimentos

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  3. "O actual governo chegou ao poder dizendo que podia fazer a economia crescer com menos austeridade porque ia amortizar menos dívida, mas não seria preciso o país endividar-se mais"

    Disse isso mesmo? Não digo que não possa ter dito, mas levado à letra isso significaria levar o deficit a zero (e custa-me muito a acreditar que o PS tenha prometido tal coisa); a promessa não terá sido reduzir o deficit (não a dívida) mais devagar?

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    1. Claro que não disse isso. Disse que ia descer o défice a um ritmo mais baixo.

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    2. Normalmente medimos a dívida em termos de percentagem de PIB. Pelo que percebi, o plano era não aumentar o rácio; em vez disso diminuí-lo mais suavemente do que a PàF. Ora, o rácio vai aumentar...

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    3. Eu também acho que vai. Mas, para já, isso não é um facto.

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