quinta-feira, 21 de abril de 2022

Pandemia quê?

Com as notícias focadas 24/7 na Guerra Rússia-Ucrânia e na inflação, a pandemia está cada vez mais marginalizada. Onde estou, ainda há pessoas que usam máscara quando em recintos fechados, mas cada vez se vê menos. Os restaurantes têm ainda menos ou quase nenhuns mascarados, mas nota-se que alguns estabelecimentos têm muito menos movimento do que tinham pré-pandemia. Ainda há muitas pessoas que preferem encomendar e ir buscar ou pedem entrega ao domicílio. 

Esta semana, um tribunal federal repeliu o uso obrigatório de máscara em aviões e outros transportes públicos, mas a Administração Biden já iniciou o processo de apelo da decisão. Há também algum receio que não se consiga monitorizar o desenvolvimento da pandemia, agora que as pessoas têm acesso a testes em casa, logo os resultados dos testes não são reportados. 

Ou seja, entrámos numa de preso por ter cão e preso por não ter, dado que a própria Administração facilitou o acesso a testes no domicílio. Já estamos no terceiro ano de pandemia, as pessoas já deviam saber como se comportar e como gerir o risco do vírus. É um bocado paternalista e redutor achar que somos todos uns incapazes.  


sexta-feira, 8 de abril de 2022

Uma biologia horrorosa

Nunca uma guerra decorreu tão perto de nós, estando nós tão distantes. O tio de uma amiga minha não consegue parar de ver as imagens destes horrores. Tem 87 anos e nasceu na Polónia. Quando era criança teve de andar de país em país por causa da guerra, até que chegou às mãos dos americanos e veio para os EUA. Imaginamos que as imagens que lhe chegam agora têm algo de familiar, mas ele nunca disse a ninguém o que viu quando era jovem. Se calhar pensava que pertencia a um passado longínquo que jamais se repetiria.

Um dos meus amigos mais próximos desde há 25 anos é da ex-USSR. No Facebook, recorda que, quando tinha 17 anos, viu um tanque soviético atropelar uma ambulância soviética. Pediu explicações ao pai para o que viu, mas o pai não lhe disse nada. O que poderia ele dizer, se o acto falava por si? Este meu amigo evoca este episódio a propósito de uma menina de 9 anos que foi violada na Ucrânia por 11 soldados. russos. Como é que 11 jovens diferentes cometem um acto destes, pergunta-se ele? 

Há uma parte da nossa biologia que é completamente horrorosa. 

terça-feira, 5 de abril de 2022

Catch-22 histórico

Uma amiga minha russa, que conheci há quatro anos, fala-me sempre do alto nível de educação dos russos, do apreço pela cultura, pela beleza, o estudo da literatura, da arte... É tudo elevado na Rússia e como é que um povo desta suposta sensibilidade se reduz a esta brutalidade passa-me completamente ao lado. 

Há cinco anos, passei a passagem de ano no meio de pessoas da ex-USSR. As senhoras de idade soviéticas, em particular, gostam sempre muito da minha cara e naquela festa não foi diferente; claro, que também são grande defensoras do regime soviético, logo as suas preferências não abonam muito a meu favor, mas adiante. Para além de mim, estavam umas 20 pessoas de três gerações diferentes e de vários países: Rússia, Ucrânia, Bielo-Rússia, Geórgia... Toda a gente se entendia em russo, menos eu, que me limito a reconhecer palavras como privyet, spaciba, e pajalsta. Pelo menos, sou uma pessoa educada.

Foi uma noite muito pacífica apesar do copioso consumo de vodka: comeram, cantaram, jogaram jogos--eu também consegui jogar porque algumas coisas tinham a ver com reconhecer músicas e, em anos 80 e 90, sou craque. Eles todos olhavam para mim com admiração por eu me conseguir orientar nos jogos e até cantei uma canção em português e, se me lembro correctamente, foi o "O amor" dos Heróis do Mar, porque o tópico era amor. 

Achei que tinha representado bem Portugal junto dos cidadãos da Europa de Leste, mas confesso que de vez em quando olhava para eles e tentava perceber se algum era um espião de Putin. Podia ser uma pequena paranóia minha, depois de crescer a ver filmes como o No Way Out, com o Kevin Costner, mas talvez não fosse exagero meu porque depois viemos a saber que os russos tinham andado a fazer "campanha" pró-Trump. 

Nessa viagem, a amiga com quem eu estava tinha-me levado uma semana antes ao monumento da fome-genocídio da Ucrânia, em Washington, D.C., que marca um evento que eu desconhecia até então, mas ela educou-me: desde então os ucranianos têm uma pequena horta onde cultivam comida, como se se preparassem para um evento semelhante ao que aconteceu há quase 90 anos. E eis que chegámos à inevitabilidade histórica, mas desta vez ter uma pequena horta de pouco ou nada serve. 

Também não servirá daqui a uns anos, quando a Rússia atacar outra vez. Sim, porque a maior parte dos russos, aquele povo tão educado e sensível, não tem ideia do que se passa e estarão prontos para seguir o próximo lunático quando o seu nível de vida piorar com as sanções a que estão a ser sujeitos. Claro que, se não forem castigados, o resultado é o mesmo porque haverá sempre um lunático que achará por bem tentar a sorte de novo porque não aconteceu nada ao primeiro. Se isto não é um Catch-22 histórico...  

sábado, 2 de abril de 2022

A propósito da liberdade

 E também dos tempos que vivemos:

“Yes, that rebirth is in all our hands. It is up to us if the West is to inspire resisters to the new Alexander the Greats who must once more secure the Gordian knot of civilization that has been torn apart by the power of the sword. To accomplish this, we must all run every risk and work to create freedom. It is not a question of knowing whether, while seeking justice, we will manage to preserve freedom. It is a question of knowing that without freedom, we will accomplish nothing, but will lose, simultaneously, future justice and the beauty of the past. Freedom alone can save humankind from isolation, and isolation in its many forms encourages servitude. But art, because of the inherent freedom that is its very essence, as I have tried to explain, unites, wherever tyranny divides. So how could it be surprising that art is the chosen enemy of every kind of oppression?”


Excerpt From

Create Dangerously

Albert Camus & Sandra Smith

https://books.apple.com/us/book/create-dangerously/id1458259955

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