sábado, 30 de setembro de 2017

Yeats


Não tenho os meus livros de poesia comigo e vejo-me reduzida a apenas aqueles em que consigo recordar-me de algumas linhas. É o caso deste.


Never give all the Heart

BY WILLIAM BUTLER YEATS


Never give all the heart, for love 

Will hardly seem worth thinking of 

To passionate women if it seem 

Certain, and they never dream 

That it fades out from kiss to kiss; 

For everything that’s lovely is 

But a brief, dreamy, kind delight. 

O never give the heart outright, 

For they, for all smooth lips can say, 

Have given their hearts up to the play. 

And who could play it well enough

If deaf and dumb and blind with love? 

He that made this knows all the cost, 

For he gave all his heart and lost.


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O futuro, na Praça de Londres...


Esta fotografia foi obtida ontem, na Praça de Londres.



Reportagem 43

    Logo que conseguiram arrombar a porta, os bombeiros da corporação de s. depararam com um espectáculo macabro que só pode suscitar um relato perturbador. Recomenda-se, pois, aos leitores de constituição mais susceptível e de imaginação mais impressionável que interrompam aqui a leitura desta reportagem, que pode ferir a sua sensibilidade.

sábado, 23 de setembro de 2017

Estranheza


Cheguei a Londres na Quarta-feira de manhã. Ultimamente não me tem apetecido viajar, mas incomoda-me quando fico demasiado confortável, como se entrasse num estado de letargia emocional. Já há algum tempo que sentia que era preciso vir aqui buscar um pedaço de mim e gravar aquilo que sinto. 


Depois de me orientar -- tornar-me confortável... -- a primeira coisa que fiz foi ir à Tate Modern para visitar os murais de Seagram de Mark Rothko, mas antes passei pela galeria onde estavam os John Cage de Gerhard Richter e é qualquer coisa do outro mundo estar ali. É como se nos chamasse à distância e nos enchesse de luminosidade quando entramos. 


A galeria onde estão os murais de Seagram surpreendeu-me por estar tão escura, especialmente em contraste com a capela de Rothko, onde, apesar de os quadros serem variações de negro, o espaço consegue ter grande luminosidade. Mas faz sentido, pois os murais foram criados para despertarem um sentimento de opressão e, ao colocá-los num ambiente escuro, tornam-se num mecanismo de compaixão.


Não sei se foi a sugestão do banco, mas na galeria onde estavam os murais, as pessoas não se aproximavam dos quadros, ficando sentadas no meio, como se estivessem numa ilha. Tive pena que não fosse um barco, onde pudessem partir e me deixassem só, mas isso talvez seja uma desculpa que racionalizei para regressar um dia. 


Londres surpreende-me pela sua familiaridade e estranheza. Numa esquina, senti-me transportada para perto de DuPont Circle, em Washington, D.C.; aliás, encontro bastantes coisas comuns entre as duas cidades -- por exemplo, a primeira galeria permanente com quadros de Rothko pertence à Phillips Collection. 


Depois há as lojas: as lojas onde faço compras normalmente também estão em Londres e este lado da globalização inspira-me uma mistura de tristeza e felicidade. É bom estarmos em casa em qualquer sítio, mas perdemos algo da experiência se todos os sítios têm as mesmas coisas. 


Na montra do Starbucks ao pé da Catederal de St. Paul, um póster informa-nos que ao entrarmos devemos esperar uma boa experiência, mas preferi que fossemos a outro sítio diferente. Depois de comprarmos o café no Eat, mandaram-nos sair porque tinha acabado de fechar às 17 horas. O café era mau, o serviço também, e chovia. Saímos e procurámos o primeiro caixote do lixo. 


Acabámos por ir tomar café ao Nero, em Oxo Tower, onde o interior tinha ar-condicionado, o que para mim é bastante confortável, pois estou tão habituada. Por onde vou, noto outras coisas que são diferentes dos EUA: nos restaurantes, os empregados não nos dão um copo de água imediatamente, nas lojas cumprimentam-nos de forma fria, na rua é raro ouvir alguém rir. 


Não consigo deixar de pensar na fama que os americanos têm de serem insensíveis e de tratarem mal as pessoas. Em algumas coisas é verdade, mas noutras não é -- como em tudo. E estranho em mim o quanto sinto que a minha casa, o sítio onde pertenço, é do outro lado do Atlântico.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

To go for a drink is one thing. To be driven to it is another*

Ir beber um copo com os amigos é ótimo. Ser obrigado a ir beber um copo com gente de que não gostamos é uma grande chatice. Pode ser o mesmo copo, a mesma bebida e o mesmo bar, mas as duas experiências são o mais diferentes possível. Uma faço porque quero, a outra faço porque os outros querem que eu faça. A diferença no sabor da bebida está, portanto, na quantidade de liberdade que lhe juntamos.

Até há poucas semanas, eu estava genuínamente convencido que o direito à auto-determinação era um assunto encerrado no mundo ocidental. Entretanto, tenho visto ensaiados vários argumentos que, explícita ou inplicitamente, questionam o direito da Catalunha à auto-determinação.

Num extremo, o argumento que mais explicitamente nega o direito à auto-determinação é o argumento de que os catalães não têm o direito de referendar a sua independência, porque tal viola a letra da Constituição de Espanha. Ora sujeitar a possibilidade de uma região se tornar independente às regras jurídicas do país de que faz parte é, precisamente, negar à primeira o direito à auto-determinação. A palavra chave em auto-determinação é “auto”. A partir do momento em que há a possibilidade de uma região se tornar independente, mas esta não depende exclusivamente da vontade dos cidadãos dessa região, não existe direito à auto-determinação. Para quem, pois, defende o direito à auto-determinação, o que diz a Constituição de Espanha é, forçosamente, irrelevante – na realidade, no limite, mesmo uma promessa solene de Espanha de que mudaria a Constituição para permitir um referendo devia ser ignorada, porque a fonte do direito à independência não devia residir em Espanha. O direito a unilateralmente referendar a independência é um direito inalienável da própria região, e uma lei que se oponha a este direito é ilegítima.

O segundo argumento que tenho visto acrescenta uma nuance ao primeiro argumento. O argumento continua a ser o de que os catalães não têm o direito de referendar a sua indepedência, mas não é apenas por violar a Constituição de Espanha. É porque a Constituição de Espanha é a constituição de um país democrático. Este argumento já não é totalmente contra o direito à auto-determinação. É apenas contra o direito à auto-determinação de regiões que estão inseridas em países democráticos. Em primeiro lugar, quem usa este argumento teria de se opor ao direito das colónias britânicas e francesas exigirem a independência nos anos 40 e 50 do século passado – já para não falar do direito de Angola, Moçambique e Guiné exigirem a independência de um Portugal democrático, em 1975. Em segundo lugar, a democracia não pode permitir a ditadura da maioria. A democracia é apenas genuína no seio de uma comunidade que não tenha incentivos – ou meios – de punir ou discriminar uma parte da sua comunidade, só porque sim. Ao contrário de diminuir a democracia, o direito de secessão unilateral de uma região é um contra-poder essencial que fortalece o equilíbrio de poderes dentro de uma comunidade de regiões heterogéneas, o que por sua vez é fundadamental para garantir que a democracia não se transforma numa tirania da maioria. É o que os economistas chamam o direito de “votar com os pés”. Em terceiro lugar, não há qualquer sombra de evidência de que a Catalunha independente não adopte um regime demcorático. Por sua vez, um regime democrático numa comunidade homogénea, com língua e cultura comuns, pode aliás ser uma democracia bastante mais autêntica – novamente, por haver menos incentivos para que a maioria discrimine as suas minorias.

O terceiro argumento de que tenho conhecimento diz que os catalães até podem ter o direito de referendar a sua independência, mas que não têm boas razões para o fazer. Alegam que a vontade de auto-determinação de regiões europeias representa o recrudescer do nacionalismo, e que o nacionalismo é, intriscamente, xenófobo. Imagino que haja dois tipos de pessoas que defendam este argumento. O primeiro tipo é inteiramente contra a auto-determinação. Haverá também um segundo tipo que apoia o direito a referendar a independência, mas preferia que a permanência em Espanha ganhasse. Em relação ao primeiro tipo, o argumento parece-me ser uma variante do segundo argumento que apresentei acima. A ideia é de que a auto-determinação só devia ser aceite em determinadas circunstâncias (neste caso, quando é comandada pelas razões com as quais concordamos). Em qualquer caso, o argumento de que o nacionalismo tem de ser xenófobo é inteirante falacioso. O nacionalismo dos pequenos contra os grandes não é idêntico ao nacionalismo dos grandes contra os pequenos. É fácil uma analogia: o orgulho branco ou o orgulho heterosexual não são idênticos ao orgulho gay ou o orgulho negro, porque os primeiros representam o orgulho dos opressores, e o segundos o orgulho de resistência dos oprimidos num sistema que os prejudicou durante séculos. O nacionalismo das regiões pequenas pode ser um acto de resistência, e não um acto de opressão. É difícil imaginar exatamente em que termos é que uma Catalunha independente seria uma ameaça à Espanha – mas é fácil, e amplamente visível, concluir em que termos é que uma Espanha unificada à força é uma ameaça para a vontade da maioria dos catalães. 

* Michael Collins terá dito isto, durante as negociações com Londres para definir os termos da independência da Irlanda

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Criaturas metafísicas 79

Não há respostas. Não faço perguntas. É por isso.

as time goes by


  1. "Deixemo-nos de inconsequentes optimismos: sem a reestruturação da dívida pública não será possível libertar e canalizar recursos minimamente suficientes a favor do crescimento. "            --- Manifesto dos 74, Março de 2014.
  2. "Sem reestruturação da dívida, o Estado continuará enredado e tolhido na vã tentativa de resolver os problemas do défice orçamental e da dívida pública pela única via da austeridade."  --- Manifesto dos 74, Março de 2014.
  3. "Sem reestruturação da dívida (...) Subsistirá o desemprego a níveis inaceitáveis, agravar-se-á a precariedade do trabalho, desvitalizar-se-á o país em consequência da emigração de jovens qualificados, crescerão os elevados custos humanos da crise, multiplicar-se-ão as desigualdades, de tudo resultando considerável reforço dos riscos de instabilidade política e de conflitualidade social , com os inerentes custos para todos os portugueses."                                  --- Manifesto dos 74, Março de 2014.
  4. "os signatários argumentam que não há outras opções. A verdade é que há, a melhor opção é o Estado obter, numa primeira fase, saldos orçamentais primários positivos e, numa segunda fase, saldos orçamentais nulos. Juntando a isto algum crescimento económico e alguma inflação, mesmo que ténues, o nosso rácio de dívida pública entrará em rota descendente e sustentável."  --- Erros Manifestos, Março de 2014.
Para já, o bom senso, não é mais do que isso, prevaleceu. Mas a missa ainda vai no adro.

domingo, 17 de setembro de 2017

Livre 'to move forward’?

Tenho andado a rever na Netflix a série Mad Men e a reler A Mancha Humana de Philip Roth. Don Draper e Coleman Brutus Silk são duas personagens fascinantes. Draper talvez seja a personagem com maior densidade e complexidade de uma série de televisão, e que eu pensava que só era possível alcançar nos melhores romances. Com Silk, Philip Roth conta de forma genial uma história da América, sobre liberdade individual, racismo e muito mais (a mancha também se refere à do vestido de Monica Lewinsky).
    
Ambos queriam ser senhores do seu destino. Ambos representam a liberdade individual de perseguirem os seus sonhos sem ficarem reféns de uma qualquer ordem social ou racial pré-definida por convenções sociais. Ambos entendem que a sua origem social, no caso de Draper, e racial, no caso de Silk, é um obstáculo à realização dos seus sonhos nesta vida. Ambos mudam de identidade. Draper (de facto Dick Whitman) toma a identidade de um colega morto na Guerra da Coreia. Silk, um negro de olhos verdes e tez clara, que passa muitas vezes por branco, renega a família, casa com uma judia e identifica-se também como judeu. Draper e Silk conseguem os seus objectivos e tornam-se homens de sucesso nas suas profissões.

O lema de ambos é ‘move forward’ e muitas questões morais se colocam em relação às suas opções. Draper renega o irmão e este suicida-se. Silk renega a família, onde era muito amado, e parte o coração da mãe. O seu irmão mais velho viria a ser professor e o primeiro director negro de uma escola, e um activista dos direitos civis. Nunca perdoou Silk.

Draper e Silk apaixonam-se por mulheres loiras com ascendência nórdica. Impressiona a importância que os americanos continuam a dar aos seus antecedentes: negros, escandinavos nas diferentes variações, judeus, germânicos… Silk não revela a Steena Palson, de origem islandesa, sem nunca mentir, que é negro – como lhe disse o treinador de boxe, ‘se ninguém te fizer a pergunta, não tens de responder…’. Quando está suficientemente confiante no amor deles decide apresentá-la à família. No regresso a casa ela confessa-lhe que ‘não pode’ – os pais nunca aceitariam. A revelação da sua origem tirou-lhe o seu grande amor. Pouco tempo depois casaria com uma judia, com quem teria quatro filhos brancos (os deuses pareciam apoiar a sua decisão de se tornar branco) e assumiria a sua identidade de judeu até morrer, em 1998. No entanto, suprema ironia, uns anos antes tinha sido expulso da universidade, onde ensinou durante 40 anos e onde foi reitor, em resultado de uma acusação de racismo por duas alunas negras (que alguns atribuíram a antissemitismo…).

Também Draper decide nunca contar a Betty Hofstadt (uma espécie de ‘Grace Kelly’), de origem alemã, a sua verdadeira identidade. Porque sabia que ela nunca o aceitaria: filho de uma prostituta que morreu quando ele nasceu, criado na miséria pelo pai proxeneta e que mudou de identidade. O pai de Betty nunca o aceitou, por ser um homem sem família. Draper está constantemente a relembrar e a ser confrontado com o seu passado. Ele chegou onde não imaginava que pudesse chegar (nem sabia que era possível chegar). Tornou-se numa pessoa muito diferente, mas esse passado muito diferente continua a fazer parte dele. Às vezes só para marcar um caminho muito diferente a seguir. 

O toque de midas dos plagiadores

A primeira versão que eu conheci da "Mãe querida" era um pouco diferente e era cantada pelas ruas pelos estudantes da Universidade de Coimbra, ao ritmo da Orxestra Pitagórica: "Mão querida, mão querida / nunca me dizes que não / não há mulher nesta vida / melhor do que a minha mão."
Soube agora que o autor do original, "mãe querida" era Ricardo Landum. Os estudantes de Coimbra transformaram merda em ouro.
Mão querida, mão querida
Nunca me dizes que não
Não há mulher nesta vida
Melhor do que a minha mão
Feliz de quem não é maneta
Tem duas mãos para tocar corneta
Feliz de quem compreendeu
Que só uma mão é que dá prazer
Graças a Deus que eu tenho ainda
A minha mão para evitar a sida
Cinco dedinhos, pura magia
Que sensação ao acabar o dia
Mão querida, mão querida
Nunca me dizes que não
Não há mulher nesta vida
Melhor que a minha mão
Com a minha mão, posso fazer
Todos os dias se me apetecer
Corno eu não sou, nem vou ficar
Com a minha mão eu vou me casar
Juntos para sempre, até morrer
Levo para a cova para me entreter
Feliz de quem não é maneta
Tem duas mãos para tocar corneta
Mão querida, mão querida
Nunca me dizes que não
Não há mulher nesta vida
Melhor do que a minha mão

Uma condecoração justa

Não estará na altura de a Assembleia da República emitir uma nota de louvor à DBRS por altos serviços prestados à pátria? A nossa vida, hoje, seria muito pior sem a acção da DBRS.
Marcelo Rebelo e Sousa devia encomendar uma medalha para lhes dar.

Quando pessoas ligadas ao BE e à ala irresponsável do PS, como Galamba, Ferro Rodrigues, Francisco Louçã, com a companhia de alguns outros andavam a promover e a assinar manifestos a dizer que a dívida portuguesa não podia ser paga, a DBRS nunca deixou de acreditar em nós e na nossa vontade de pagar as dívidas.

Uma lata musical

Sobre os plágios de Tony Carreira e Ricardo Landum, quem me conhece sabe que não vejo grande drama no assunto. Não consigo perceber muito bem quem é que foi prejudicado, e não havendo vítima custa-me que haja crime. Há a questão moral, mas essa é uma questão diferente da penal. E não entendo por que anda o Ministério Público a gastar recursos com estas coisas.
Dito isto, ao ler a reportagem do Observador sobre o Tony Carreira, fiquei a saber que o Ricardo Landum ganhou contra Gusttavo Lima um processo em tribunal brasileira. Qual a acusação? Uso indevido de uma canção da sua autoria. Enfim... se a lata pagasse imposto, não havia défices.

sábado, 16 de setembro de 2017

Os ideialistas

Ora, bom fim-de-semana!

Decidi inventar uma palavra hoje e a minha palavra é "ideialista", que é um casamento entre "ideia" e "ideal". O que é um ideialista? É uma pessoa idealista que acha que, por ter ideias, todas elas obedecem a um ideal. Isto vem a propósito da proposta do Bloco de Esquerda de integrar o rendimento predial com os outros rendimentos para caçar mais impostos. No meu caso, eu acabaria por pagar menos impostos. Será que sou a única?

Quando alguém com assento no Parlamento decide fazer este tipo de propostas, eu gostaria que a Comunicação Social fizesse o seu dever e perguntasse ou investigasse algumas coisas pertinentes, como o número de pessoas afectadas, a sua situação financeira, quanto se estima que irá ser a receita de impostos da modificação proposta, etc.

Depois, ao mesmo tempo que o Bloco de Esquerda quer aumentar os impostos dos senhorios, o Governo anuncia que quer implementar um programa de arrendamento acessível, o Programa Reabilitar para Arrendar. Como é que isto é compatível exactamente? Parece-me que objectivo das duas coisas juntas é aumentar os impostos aos senhorios para que estes reabilitem prédios (será que os custos das obras são dedutíveis nos impostos?), mas baixem as rendas para pagar menos impostos.

Caros jornalistas, se vocês não têm capacidade para fazer perguntas e enquadrar a notícia no contexto actual, então não é preciso ninguém vos pagar porque não criaram valor nenhum. Afinal, ficaríamos igualmente servidos com um comunicado de imprensa dos "ideialistas" em questão.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

RIP Cassini

Hoje a Cassini disse adeus e autodestruiu-se...


Não percebi nada

"Catarina Martins entende que os ganhos com rendas de casa, ações e juros de contas a prazo também deviam ser tributados em sede de IRS para beneficiar a classe média.

O Bloco de Esquerda quer incluir rendimentos prediais e de capitais na tributação do IRS, abrangendo assim ganhos com rendas de casa, ações e juros de contas a prazo. A proposta está a ser negociada com o Governo, avançou a líder bloquista em entrevista à CMTV."


Fonte: Eco

Eu tenho rendimentos prediais em Portugal, declaro no IRS -- anexo F do Modelo 3 --, e pago imposto a uma taxa de 28% sobre esses rendimentos; já pago desde 2008, se a memória não me falha.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Uma arte

One art

The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

~ Elizabeth Bishop

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Incompetência ou maluqueira?

É estranho que este caso da AutoEuropa se tenha tornado polarizante, mas é em Portugal e aí qualquer coisa serve. Há, no entanto, uma coisa que me diverte bastante, pois quem "defende" a posição dos trabalhadores da AutoEuropa diz uma coisa e faz outra.

Por exemplo, ontem no Prós e Contras discutiu-se o caso. O painel era constituído por pessoas que não trabalham um horário regular normal, aceitam participar em eventos profissionais fora do horário de expediente e sem compensação, ou seja, se fossemos a contar as horas que trabalham excederia as 40 horas por semana. E também trabalham aos fins-de-semana.

E é isto que eu acho engraçado: se trabalhar 40 horas por semana de Segunda a Sexta, durante o horário de expediente normal, é o ideal, porque é que estas pessoas que aparecem na TV, rádio, e escrevem nos jornais se sacrificam? Será que são incompetentes ou malucos?

domingo, 10 de setembro de 2017

O novo ano escolar


Desde o meu último post (Novidades na educação?) tenho acompanhado discretamente a evolução das decisões do Ministério sobre as alterações propostas, sem qualquer informação que não seja a que tem saído na comunicação social, a qual nem sempre prima quer pela objectividade quer pelo conhecimento fundamentado sobre o que analisa.

Ao aproximarmo-nos do inicio do ano escolar de 2017-2018 as notícias tornam-se mais explícitas. No Diário de Notícias de ontem um artigo de página inteira da autoria de Pedro Sousa Tavares tem como título “O ano em que um quinto das escolas reaprendem a ensinar”. No Expresso, também de hoje, Isabel Leiria intitula a sua prosa: “Sumário: Este ano vamos ensinar de forma diferente”.

Como sobreviver a Irma



  • Procurar abrigo num sítio interior da casa, como um armário de roupa -- o mesmo que para um tornado.
  • Afaste-se de janelas.
  • Certifique-se de que tem bons sapatos calçados -- durma com os sapatos calçados.
  • Se tem capacete meta-o na cabeça; faça o mesmo aos seus filhos.
  • Encha a banheira, baldes, tachos com água.
  • Se tiver botijas de gás, meta-as na garagem, mas não as leve para dentro de casa, nem as deixe na rua.
  • Tenha um machado, uma serra, ou um martelo para poder abrir o telhado, caso procure abrigo no sótão se a sua casa inundar -- com Harvey, a população foi desaconselhada a ir para o sótão; era preferível ir directamente para o telhado, mas não havia tanto vento como com Irma.


Uma confusão total

Há dois dias escrevi-vos que a projecção do percurso do furacão Irma tinha mudado mais para oeste. O que notei foi que, consistentemente, a tempestade ia muito mais para oeste do que os modelos previam, ou seja, o erro era consistentemente na mesma direcção, o que voltou a acontecer nos últimos dois dias. Esta tempestade tem várias características que podem levar a este tipo de erro: foi a tempestade mais forte observada na Atlântico e é muito maior do que a maior parte dos furacões, ou seja, não há dados históricos que ilustrem o comportamento de uma tempestade deste tipo. Hoje, o New York Times publicou um artigo que discute o carácter dinâmico das projecções do trajecto de Irma.

Por haver tanta incerteza relativamente a dados e por ser uma tempestade enorme que está em movimento constante, há um risco acrescido para a população que advém das decisões das autoridades. Inicialmente, a população da costa leste da Florida foi aconselhada a evacuar para oeste ou norte, só que essa acabou por ser também a direcção da tempestade, ou seja, com o benefício do que sabemos hoje, muitas das ordens de evacuação acabaram por enviar pessoas exactamente para as piores zonas.

As autoridades aconselharam a evacuação de cerca de 5.6 milhões de pessoas. Houve falta de gasolina, as pessoas estão cansadas de andar de um lado para o outro, muita gente está presa em auto-estradas, e há um sentimento de confusão total. Nas zonas evacuadas, as autoridades informaram que a população não devia contar com uma operação de salvamento durante a passagem da tempestade.

Ao contrário de Harvey, cujas inundações transformaram estradas em autênticos rios e era relativamente fácil ir recolher pessoas com um barco, com Irma, o problema será o vento e a subida temporária de maré: as estradas ficarão obstruídas com detritos, o que as deixará intransitáveis. Terão de se usar meios aéreos ou terá de se limpar as estradas antes de se poder ir ajudar a população que não evacuou para locais seguros; mas com uma tempestade do tamanho de Irma, não se sabe muito bem o que é um local seguro.

Neste momento, projecta-se que o centro de Irma passe entre S. Petersburgo e Tampa, ou seja, vai subir a costa oeste da Florida. Esta costa é menos desenvolvida do que a costa leste, mas com as constantes ordens de evacuação não se sabe se, de um dia para o outro, não terá ficado mais povoada. O Governador da Florida já se rendeu: disse que o mais importante agora era rezar pela Florida...

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Já mudou outra vez

Se estão a acompanhar as previsões do trajecto do Furacão Irma, devem ter notado que nas últimas seis horas mudou para oeste. Por um lado, isto é bom para Miami; mas, se Irma entrar no Golfo do México, onde as águas são mais quentes, poderá ficar mais forte, em vez de enfraquecer, subir a Florida pelo lado ocidental e atingir a chamada Panhandle da Florida (é a faixa mais ocidental do estado). Aguardemos a actualização das 20 horas do fuso horário oriental dos EUA, uma da manhã em Portugal continental.


Revisão do trajecto de Irma

Acordámos hoje com as novas previsões do trajecto de Irma, o furacão que atravessa o Atlântico, que desceu de intensidade para categoria 4 e é do tamanho da França. Há esperança que Cuba não seja tão atingida, concentrando-se os estragos na parte nordeste da ilha. Relativamente aos EUA, presume-se que o centro da tempestade se afaste de Miami para oeste, entrando pelo Everglades National Park, a maior floresta subtropical da Florida, cujos pantânos absorverão parte do choque inicial da tempestade.

O centro da tempestade provavelmente subirá o meio da planície da Florida, atravessando depois o estado da Geórgia, primeiro como furacão de categoria 1 e depois como uma tempestade tropical, que passa ao lado de Atlanta, em direccão a Nashville, Tennessee. O novo trajecto coloca riscos às pessoas que decidiram evacuar, pois muita gente foi para cidades como Gainesville, Florida, que é quase equidistante do Golfo do México e do Atlântico e que agora deverá ser atingida pelo centro de Irma. Mas estando o centro da tempestade sobre terra, pode ser que enfraqueça mais rapidamente e reduza a intensidade da chuva e do vento.

A julgar pelos estragos que Irma já produziu por onde passou -- o centro da tempestade passou por Barbuda, que ficou completamente destruída; estima-se que 95% da Ilha de St. Martin tenha ficado destruída --, receia-se que também haja estragos avultados na Florida; no entanto, depende muito da densidade populacional dos sítios que atingir e há alguns parques naturais pantanosos que absorverão parte do impacto.

Ao contrário de Harvey, Irma representará mais perdas para as seguradoras, pois se os prédios forem danificadas por vento, os seguros normais cobrem esses custos; se forem danificados por inundações, é preciso ter seguro de inundação, o que requer que a zona esteja classificada como sujeita a inundações para se poder comprar esse tipo de seguro (a possibilidade de comprar seguro de inundação nos EUA existe porque é subsidiada pelo governo federal; o mercado privado de seguros não vende seguros de inundação sem intervenção do governo). Quase todas as casas têm seguro contra risco, mas é muito menos comum ter seguro de inundação.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Três tempestades

O furacão Irma deverá virar para norte no Sábado, com o seu centro provavelmente a atingir o continente dos EUA perto de Miami, Florida, na manhã de Domingo; o centro da tempestade deverá viajar ao longo da costa atlântica da Florida até chegar algures perto da fronteira entre a Geórgia e a Carolina do Sul, na Segunda-feira. A Geórgia emitiu uma ordem de evacuação; o Presidente Trump declarou emergência para a Florida, Geórgia, e Carolina do Sul.

Miami/Dade ordenou a evacuacão de mais de 650 mil pessoas, a maior evacuação de sempre. Será bom que estas pessoas não estejam dentro de um carro quando a tempestade passar porque vai passar bastante depressa. Por um lado, com esta tempestade não haverá muita chuva a cair no mesmo sítio; por outro lado, o vento será muito mais forte e destrutivo do que com Harvey. É comum Miami inundar com pouca chuva, logo inundará de certeza se as previsões do percurso do olho do furacão se realizarem, pois, para além da chuva, haverá a subida da maré com a tempestade.

O Governador da Florida, Rick Scott, foi rápido a declarar o estado de emergência para o estado inteiro e a começar a coordenar os esforços a nível local para gerir o impacto da tempestade, tendo também pedido ajuda ao governo federal. A Florida mantém um página permanente de emergência na Internet para informar a população, FloridaDisaster.org e, desde o furacão Andrew (1992), é dos estados mais bem preparados para este tipo de emergências, mas todas as tempestades são diferentes e é difícil prever tudo o que poderá acontecer.

Em Veracruz, no México, irá atingir o Furacão Katia. O Furacão José está no meio do Atlântico, atrás de Irma, mas não deverá ameaçar a costa norte-americana; no entanto, irá afectar algumas das ilhas previamente atingidas por Irma.


Imagem: NBC/NOAA

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Uma tempestade perfeita

Na semana passada, enquanto a cidade de Houston e arredores geriam o efeito das inundações de Harvey, vi na TV a meteorologista anunciar uma nova tempestade: Irma. Ouvi-a dizer para não nos preocuparmos com Irma por enquanto, que iriamos ter semanas para falar desta tempestade, que ainda não sabíamos o que iria ser. Agora sabemos...

Ao amanhecer de Segunda-feira, presume-se que o furacão Irma irá atingir a Florida. Estima-se que o olho da tempestade entrará em terra algures a sul de Miami (ainda é bastante incerto), mas também afectará as Ilhas das Florida Keys, que se ligam ao continente por uma autoestrada, a Overseas Highway, e que, neste momento têm ordem de evacuação obrigatória. Ainda não se sabe se Irma irá virar para norte via Atlântico ou via Golfo do México.

Irma tem a assustadora distinção de ser a pior tempestade jamais medida no Atlântico, pois já é um furacão de categoria 5 e, se calhar, não irá enfraquecer. Até agora, nesta região, só se tinham observado tempestades de categoria 5 dentro do Golfo do México, onde a temperatura da água é mais alta e, por isso, fornece mais energia às tempestades tropicais.

Os estados contíguos dos EUA foram atingidos directamente por furacões de categoria 5 três vezes: em 1935, 1969, e 2005. Irma está a ser considerada uma tempesdate perfeita, pois irá causar inundações quase imediatas e tem o potencial de causar muitas fatalidades.

Atrás de Irma já se formou a tempestade tropical Jose. Este ano parece 2005...


Imagem: Bloomberg

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Bitch, please!

"A tua fama longe soa e mais depressa a má, do que a boa!"

Ando eu aqui há anos a dizer que a Alfandega portuguesa é uma porcaria. Agora aguentem a Madonna e o pacote dela ainda só se atrasou uma semana...


Ossos do Ofício

"In economics it is completely normal to be rude."


~ George Loewenstein, citado por Michael Lewis em "The Undoing Project"

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A ONU e a desigualdade no mundo: Combatê-la ou fomentá-la?

Em Setembro de 2015, foram fixados na cimeira da ONU em Nova Yorque os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.
Estes objectivos alicerçam a agenda de acção dos países membros de 2015 até 2030.
Entre os 17 objectivos a alcançar para a transformação do mundo protegendo os povos e o planeta, encontram-se objectivos como: a erradicação da pobreza do género ou da fome, a igualdade de género ou o ponto central deste artigo: a redução das desigualdades.

Penso que a maioria senão totalidade das pessoas concordará que estes são objectivos nobres, ainda que porventura muito ambiciosos.
Cada objectivo é constituído por uma série de metas mais detalhadas e específicas, que tentam dar aos países membro uma ideia mais concreta de como atingir cada um dos objectivos.

No entanto, parece que no que toca ao Objectivo 10: Reduzir as desigualdades, a ONU omitiu de todos os seus documentos oficiais um instrumento importante pois, aparentemente, a ONU está convencida que uma das melhores maneira de reduzir as igualdades é aumentando-as.
Ou isso, ou está-se a cagar para o Objectivo 10.

A ONU, como quase todas as entidades publico ou privadas de certa dimensão, oferece estágios que podem ir de 2 meses a um ano.
Estes estágios são importantes por uma série de razões, entre as quais por darem a oportunidade a jovens profissionais de experimentar como é o trabalho numa organização internacional.
Muitos destes estagiários acabam depois por conseguir posições nas instituições em que estagiaram ainda que por vezes em condições precárias (material para um post futuro).
Ou seja o estágio em si pode ter vários lados positivos.
Por outro lado, muitos argumentarão que será uma exploração de mão-de-obra barata, sem grandes direitos laborais... mas o problema torna-se muito maior quando a mão-de-obra, em muitos destes casos não é barata, mas sim gratuita!

É verdade, a ONU, e muitas das suas agências, oferecem estágios NÃO REMUNERADOS. Para tornar a situação pior, muitos destes estágios são nalgumas das cidades mais caras do mundo como Genebra ou Nova Yorque.
Algumas das agências pagam os estagiários uma quantia não muito grande, mas mais que suficiente para se ter um nível de vida digno (digamos ao nível de um estudante de classe vindo de uma família de classe média a estudar numa cidade diferente).
Este é o caso da Organização Internacional do Trabalho, o meu empregador.

Mas, e os outros? O que a ONU está na prática a dizer é: venham trabalhar comnosco, se depois dos vossos estudos tiverem no mínimo uns 20.000€ de parte para se sustentarem enquanto trabalham para nós.
Ou seja, se forem pobres, esqueçam lá isso. Em 99% dos países do mundo, se forem de uma família de classe média, também não vale a pena pensarem no assunto.
E na maior parte dos países do mundo, a menos que façam parte do 1%, também não vão conseguir aceder a estes estágios.
Ou seja, a ONU está a oferecer estágios apenas aos mais ricos deste mundo.

Para piorar a situação, é extremamente complicado combater a situação por diversos factores.
Primeiro, é difícil mobilizar uma força de trabalho cujos trabalhadores mudam na melhor das hipóteses de ano a ano.
Em segundo lugar, aqueles que fazem estes estágios, fazem parte dos que podem realmente sustentar-se sem apoio do empregador e como tal tem muito poucos incentivos para combater uma situação na qual são claramente beneficiados.
E para terminar, os estagiários não fazem parte dos sindicatos das respectivas agências da ONU, que como tal, fazem pouco ou quase nada para defender os seus direitos, dado não os representarem oficialmente.

Felizmente, há ainda neste mundo quem não se deixe desanimar perante as injustiças e obstáculos criados.
É o caso dos meus colegas que fundaram a Fair Internship Initiative.
Que lutam para que a ONU abra os olhos, e perceba que trabalho não remunerado não é "uma oportunidade" mas sim escravatura.

Porque a ONU, ao contrário do meu primeiro empregador, ainda não percebeu que a melhor liderança é aquela que lidera por exemplo.

sábado, 2 de setembro de 2017

Requiem do Direitolas

Li a crónica do Henrique Raposo no Expresso (Requiem do Machos, 2/9/2017) e acho que, depois disto, ele passou a ser Esquerdolas. A primeira ideia que o texto me suscitou foi que, se o Henrique tivesse escrito sobre este tema há décadas, teria dito mal das revistas pornográficas e defendido a prostituição. Antigamente, os rapazes faziam-se homens indo ao bordel, depois vieram as fotos pornográficas, as revistas, os vídeos, e a ida ao bordel caiu em desuso. Ora, eu acho bem que os rapazes possam ir ao bordel e, por isso, defenda-se a legalização da prostituição. Só um rapaz assexuado é que andaria a ver revistas e vídeos às escondidas dos pais, quando podia ir ao bordel ver e fazer tudo a cores e ao vivo.


Henrique, corre, corre para teres a masculinidade do Kyle Krieger

Também acho que os machos precisam de correr e saltar. Por um lado, ficam mais elegantes e atraentes -- por exemplo, o Kyle Krieger acima na foto. A falta de atleticismo dos homens devia ser criminalizada. É muito chato ir pela rua e não ver homens fodíveis a torto e a direito; aliás, viva a igualdade, pois se as mulheres têm de se produzir e ser gostosonas, distribuindo externalidades positivas, os homens também porque assim também deixariam de ser assexuados, como diz o Henrique.

A actividade física tem uma outra vantagem, pois melhora a circulação sanguínea, o que permite que os homens aguentem mais tempo a ter relações sexuais. Como é que alguém pode ser contra os homens conseguirem pinar mais vezes e durante mais tempo? Eu não, por isso, corram à vontade. A bem dizer, devíamos incentivar as mulheres a vestir mais lingerie de cabedal e a usar um chicote para ajudar os homens a fazer mais exercício físico. E seria melhor se eles rosnassem um bocadinho para parecerem mais selvagens, mais próximos da masculinidade à brutamontes, que o Henrique acha tão defensável.

Não há grande diferença entre ver mulheres nuas e fodinhas em revistas, cassetes de vídeo, ou na Internet; pelo contrário, o prazer é comparável, mas a Internet é muito mais eficiente a produzir conteúdo. Talvez o Henrique ache que a Internet tenha sido um retrocesso financeiro para a pornografia, pois agora há tantas mulheres e homens que se exibem nus e a ter relações sexuais na Internet, que já nem faz sentido pagar-lhes muito e é muito fácil ser free-rider, o que é uma falha de mercado. Se calhar, o Henrique sentir-se-ia mais à vontade se tivesse de pagar; mas não seja por isso, pois também há conteúdo pago online e ninguém impede que as pessoas partilhem as passwords de acesso umas com as outras às escondidas para aumentar o frisson.

Só discordo num ponto: a juventude actual não é assexuada. Ou o Henrique não sabe usar o Google para procurar pornografia e ver do que a casa gasta actualmente ou tem vergonha que alguém lhe confisque o tablet e vá ver as moradas de IP a que acede e o envergonhe na praça pública. Ora, caro Henrique, porque terás tu vergonha de dizer que és um ávido consumidor de pornografia online, quando consumir pornografia é uma forma de ganhar medalhinhas de masculinidade para meter ao peito?

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Olá!

Ontem não tive oportunidade de vos escrever. Na Quarta-feira, tivemos uma pequena crise no meu grupo de amigas. Uma delas vive perto de uma das barragens que estavam cheias. Apesar de as autoridades darem indicação de que a zona da casa dela não iria inundar, ela não confiou muito pois viu a água subir na propriedade a uma velocidade superior ao que se tinha projectado.

Temos estado em contacto umas com as outras pelo grupo de SMS que criámos, menos as amigas mais idosas (uma não tem telemóvel, mas vive na minha rua, e outra tem telefone fixo, mas perdeu a electricidade e não tinha como carregar o telemóvel, logo tinha de poupar energia). Todas as manhãs durante o período de inundação davamos o relatório da situação de cada uma e mantinhamos conversas durante o dia para ver se havia mudanças. Se alguém não respondia por muito tempo, tentávamos telefonar ou procurávamos por informação através de outros amigos comuns.

Então, na Quarta-feira, quase todas achámos que a nossa amiga devia sair para uma zona mais segura, mas tendo ela uma cadela de porte médio e duas gatas, não queria incomodar. A minha casa está equipada para cão, mas eu sou relativamente recente no grupo de amigas e talvez ela não tivesse muita confiança comigo. Falei em privado com outra amiga para ver se a conseguia convencer -- cheguei a dizer-lhe que até me dava jeito ter alguém com quem falar, pois tenho estado basicamente em casa, e depois joguei o meu trunfo: tenho uma casa tão grande para uma pessoa só, que tenho de justificar tê-la. Acabou por sair, por fim, pela noite avançada de Quarta-feira.

Mesmo que a casa dela esteja bem, se a vizinhança foi afectada, é provável que haja controle no acesso à vizinhança. Há vizinhanças em que, se a pessoa sai, depois não deixam entrar, pois têm medo de que seja alguém que queira roubar as casas. Por outro lado, com os animais é muito mais difícil gerir a vida, especialmente porque a cadela é uma sobrevivente do furacão Katrina e sofre de ansiedade -- quando há tempestades, tem de tomar Valium. Já com as gatas, é difícil de as manter na gaiola durante muito tempo, mas se andam à solta e for preciso sair rapidamente, é difícil apanhá-las porque ficam mais ariscas quando assustadas.

Por sorte, o meu cão está com o pai e a zona onde estão não foi afectada, ou seja, a minha casa estava completamente livre para receber os animais e nem se colocavam problemas de ter de os introduzir ao meu cão, quando ainda estavam sob uma situação de stress. A primeira noite foi mais tensa, mas a noite passada, já estava tudo mais relaxado.

Ontem já tivemos correio e uma amiga minha portuguesa tinha-me enviado uma lembrança de Portugal antes de o furacão atingir, com o intuito de me matar saudades da terra mãe. Foi a minha hóspede que trouxe o correio e mostrei-lhe o conteúdo da encomend; também lhe disse onde vivia a minha amiga portuguesa: no Alentejo. Passados uns minutos, estava a hóspede no tablet com o mapa de Portugal aberto a tentar perceber onde ficava o Alentejo. Dei-lhe uma pequena visita guiada de Portugal pelo tablet.

Ao almoço também lhe servi algo português: cozi batatas com cenouras, nabo, e ovo, e servi com atum em lata Bom Petisco; em vez se temperar os ingredientes cozidos com azeite e vinagre em separado, acho mais saboroso emulsificar os dois e adicionar um pouco de sal e pimenta. Ficou fã, especialmente do atum e disse que ia tentar lembrar-se e cozinhar em casa.

Convidámos uma outra amiga que vive perto de nós para jantar e foi bastante relaxante ter um convívio "normal" durante este período de crise, mas enquanto não soubermos o que aconteceu à casa estamos sempre com aquela inquietação algures na nossa cabeça.