quarta-feira, 30 de junho de 2021

Falhas

Nos últimos dias, ficámos a saber que a queda do prédio de apartamentos em South Beach era perfeitamente evitável. Os riscos estavam documentados e até havia orçamento das obras, só que as pessoas torceram o nariz porque o custo era alto, na ordem dos milhões de dólares, dado o estado avançado da deterioração do edifício. Agora o dinheiro será gasto na operação de recolha dos corpos, destruição do edifício, perda de vidas, etc. Não sei muito bem até que ponto a seguradora será responsável, dado que a decisão de não fazer obras coube aos condóminos. 

Isto é tudo sector privado e quem acha que o sector privado é, por definição, sempre mais eficiente do que o sector público tem aqui um belo exemplo de uma falha de mercado, como é denotado em economês. Depois deste desastre completo, aposto que pelo menos as autoridades locais irão passar legislação para lidar com problemas deste tipo. É para isso que serve o estado.

O factor sorte também tem muito a ver, claro está. A ponte M de Memphis está encerrada desde há algumas semanas porque encontraram uma viga rachada. Vai-se a ver e há uns anos houve alguém que se passeava de canoa no rio Mississippi e notou que estava alguma coisa partida. A pessoa tirou fotos e enviou para um gabinete que enterrou a coisa e nada mais se soube ou fez. 

Este ano houve uma inspecção e lá se descobriu a coisa oficialmente. O inspector ficou tão assustado que telefonou para o 911 para fecharem a ponte. Coitada da telefonista, que nem sabia para onde enviar o telefonema. Mesmo assim, a ponte foi fechada quase de imediato e já estão a trabalhar nas obras. Tivemos sorte que a ponte não tivesse partido antes, mas quando a falha ficou documentada por canais oficiais, o sector público agiu com celeridade. 

 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Perdas abençoadas

Na minha reunião matinal, que é vespertina para os meus colegas ingleses, calhou falarmos em futebol e no tal do campeonato, logo a perda de Portugal veio à baila. Eu observei que estava muito feliz com a dita perda e o colega inglês perguntou se eu tinha renunciado à pátria. Respondi que não era bem isso, mas tinha havido uma alma que tinha mandado o pessoal para Sevilha por causa do futebol, o que eu achava mal. Efectivamente também em Inglaterra, por causa do futebol, tinham relaxado o número de pessoas que podem ir a um jogo. Vão ser 60 mil, dizia-me ele.

Lamentável, mas cada um sabe de si e Deus sabe de todos, como diz o povo.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Para a calar

Hoje no NYT vem uma peça de opinião de dois virologistas que argumentam que o comportamento das pessoas é mais importante do que novas variantes. Penso o mesmo. Nesta altura do campeonato, todos nós temos informação suficiente para sermos mais cuidadosos e num país livre temos de nos responsabilizar pelas nossas escolhas, se nos foi fornecida informação suficiente para gerir o risco do que escolhemos. 

É mais ou menos como quando éramos miúdos e fazíamos coisas que os amigos também faziam. Depois a nossa mãe ralhava connosco e nós dizíamos que Fulano também tinha feito, ao que nos era dito: se Fulano se atirasse a um poço também te atiravas? "Não", respondíamos, porque senão a nossa mãe nunca mais de calava... 

domingo, 27 de junho de 2021

Golpe final

Este inverno que está a caminho irá ser o golpe final do coronavirus. Neste momento, muitos dos países com mais casos estão no hemisfério sul, onde é inverno, para eles o segundo inverno desde o início da pandemia. Como a pandemia começou já no final do inverno na Europa e estava pouco espalhada, ainda só sentimos o efeito de um inverno. A adoçar a pílula, em Israel, que está batante avançado no processo de vacinas, algumas pessoas vacinadas estão a ser infectadas. A minha percepção é que no próximo inverno ou vai ou racha. Isto é mesmo uma maratona, não é um sprint.

sábado, 26 de junho de 2021

A dormir

Passei um dia muito chato. Ontem à noite tomei o anti-histamínico por causa das minhas picadas, só que o efeito deve durar umas 20 horas porque tive tanto sono durante todo o dia. Foi horroroso não só sentir-me prestes a dormir, mas também as tonturas. Ao fim do dia, quando comecei a sentir comichão na perna é que clareou o cérebro. Se calhar, tenho de cortar a dose dos comprimidos em metade porque eu sou pequenita e tal.

O dia inteiro recebemos notificações acerca das pessoas desaparecidas no colapso do edifício em Miami. Parece que regressámos à normalidade pré-Trump, em que as tragédias demoravam mais do que um tuíte. Também importante foi que a sentença de Derek Chauvin, o polícia que matou o George Floyd, saiu hoje e ele apanhou 22,5 anos. Não me surpreende, pois parece que as coisas estão a mudar; lentamente, mas mudam.



sexta-feira, 25 de junho de 2021

Talvez emocionante

 Quando acordei, tinha a notícia do desmoronamento parcial do edifício em Miami Beach. Na altura ainda só davam seis pessoas desaparecidas, mas o último número que vi indicava 99. Muito triste...

Ao fim da manhã, depois de uma reunião de trabalho, enviei uma mensagem à minha médica por causa das mordidelas nas pernas. Telefonaram minutos depois para me marcarem uma consulta para as duas da tarde. Não sabemos que bichinho foi, mas a médica acha que tomar um anti-histamínico ajuda a não dar comichão, logo talvez eu não infecte a coisa a coçar. E receitou um creme de esteróides com indicações muito precisas de eu não espalhar creme por todo o lado. O certo é que as minhas mordidelas estão mal encaradas.

Ao final da tarde, veio cá um notário a casa para eu assinar o re-financiamento da minha hipoteca. Era um rapaz jovem que disse ter ficado deslumbrado com a vizinhança e que gostou muito da minha casa porque tinha muita arte. Mas parece-me que correu bem. Em Agosto é o primeiro pagamento. Escolhi uma hipoteca de 15 anos e a taxa de juro é de 2,25% porque comprei alguns pontos. Não me parece mau de todo. O que me dei conta é que a pandemia acabou por me beneficiar, pois contribuiu para o aceleramento dos preços e a queda da taxa de juro, o que coloca quem está a comprar casa em melhor posição.     

 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Bichos

Nos últimos dois ou três dias, fui mordida por um ou vários bichos. Normalmente, as mordidelas de insectos não me incomodam muito, mas isto devem ser mordidelas de aranha, o que me assusta um bocado porque tenho muito medo das fiddleback spiders. Algumas das aranhas que existem nos EUA são venenosas e podem causar problemas; é o caso das fiddleback. Não percebo como é que fui mordida, dado que não fui a nenhum sítio especial e as aranhas, se foi isso, costumam estar em sítios com muito sossego, como os sótãos. Para além disso, ando quase sempre de calças, logo como é que a aranha atacou ambas as pernas? Parece-me improvável, mas tem a aparência de ser a mesma mordidela e é ainda mais improvável que duas aranhas diferentes mordessem na mesma altura. Se amanhã ainda doer, vou marcar uma consulta para o médico. Entretanto, tomei dois comprimidos de Benadryl e acho que vou meter uns pacotes de gelo. Que chatinho...

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Nada

Ia para dizer que não se passou nada interessante hoje que eu pudesse contar, mas quando passeava o Julian, encontrei uma cadeira no lixo. Não era uma cadeira qualquer, era a cadeira que estava na marquise do Sr. Alexander e que eu vi muitas vezes e sempre a achei muito interessante. Até cheguei a pensar que, se visse a família do Sr. Alexander, perguntaria se podia comprar a cadeira. Só que ainda não vi ninguém para perguntar nada. Também não foi preciso porque hoje a cadeira estava numa pilha de pertences do Sr. Alexander que vão para o lixo e eu tirei-a de lá e trouxe-a para casa.

Os meus vizinhos, de vez em quando, brincam comigo por eu salvar coisas que vão a caminho do lixo, mas há certas coisas que merecem ser salvas. Por exemplo, no ano passado, os vizinhos do lado estavam a renovar o jardim e iam deitar fora todas as hostas. Como eu gosto muito de hostas, perguntei se mas podiam dar. A intenção era boa, mas a realidade é que eu não tinha sítio para aquelas plantas todas e fiquei de olhinho esbugalhado a olhar para a montanha de plantas a pensar o que fazer.

Tive de enviar uma mensagem à minha outra vizinha a pedir socorro para ver se ela ficava com alguma das plantas. Calhou bem porque ela também estava a renovar o jardim -- eu tinha-a inspirado -- e precisava de plantas. Como aquelas hostas eram plantas já maduras, ficou logo com um jardim que parecia ter anos, quando tinha semanas.

Estou feliz com a cadeira, mas não é só pela cadeira em si. Dá-me um certo consolo saber que pelo menos uma coisa do Sr. Alexander não vai parar no lixo. Também me apetecia salvar as plantas dele, mas isso vai ser muito mais difícil...

terça-feira, 22 de junho de 2021

Homens outra vez

Quando vivi no Texas, cheguei a conhecer o Beto O'Rourke porque fui com uma amiga a um comício dele. Uma evento pequeno, o homem era porreiro, mas nada de extraordinário. Este fim-de-semana, na conversa semanal do Zoom, uma amiga ia a caminho de uma manifestação em Austin, em frente ao Capitólio. Era organizada pelo pessoal do Beto O'Rourke. 

Chateia-me um bocado que mulheres progressivas apoiem homens. Já sei que me vão dizer que o que vale é a competência, só que estou fartinha de ver homens incompetentes e quando esses aparecem ninguém fala no quão incompetentes são. Aliás, até os homens incompetentes têm direito de ser candidatos, avançar na carreira, independentemente da sua competência ou falta dela. E quantas vezes se ouve o pessoal elogiar autênticos trastes masculinos? Quando há mulheres temos de dar primacia à competência. 

Sabem o que vos digo? I want to break free...


segunda-feira, 21 de junho de 2021

Cardinais

São três os ovos de cardinal que estão no ninho do jardim. A mãe cardinal passa muito tempo à espera que a natureza faça o seu serviço e tem sido tudo muito tranquilo. O único problema é que não tenho as sementes preferidas dos cardinais porque já comeram quase tudo ou deitaram para o chão. Achei muita falta de educação que estas criaturas fizessem tanto lixo, só que ninguém me pediu a opinião. Não tenho visto o pai cardinal ultimamente, mas se calhar está a tratar do outro ninho.




domingo, 20 de junho de 2021

Palhaço

 A cidade de Serrana, no Brasil, fez uma experiência com uma das vacinas contra Covid-19, mais concretamente a vacina chinesa. Depois de 95% da população vacinada, conseguiram reduzir o número de mortos e a incidência de casos. Para esta vacina também identificaram a limite de 75% da população vacinada como sendo o suficiente para controlar a pandemia.

Gostaria de ter visto Portugal a fazer um estudo deste tipo. Sendo um país pequeno era mais do que viável desde o início tentar recolher informação acerca de muitos aspectos do vírus e das vacinas. Educavam-se e protegiam-se as pessoas; mas, pronto, é mais importante deixar o pessoal morrer ou confinado porque depois pode-se ir ao banco levantar o dinheiro do PRR. Palhaço...


sábado, 19 de junho de 2021

Contas de envelope

Estive a ver dos dados do PIB de Portugal e parece que desceu 15,7 mil milhões de euros (base 2016, a preços constantes) em 2020 e isso nem tem em consideração a desgraça que foi o início de 2021. Depois também temos de pensar que, mesmo com esta perda, houve endividamento da economia para se chegar onde se chegou (em princípio vão dizer-nos em Julho quanto aumentou a dívida), logo o custo total da pandemia será a perda do PIB, o endividamento adicional, e, claro, o valor da perda de vida humana e sofrimento, que penso ninguém irá quantificar porque em Portugal ninguém liga a essas coisas. 

Sejamos conservadores e ignoremos esta coisa de deflatores na perda do PIB acima, e pensemos no tamanho do tal Plano de Recuperação e Resiliência: 16,6 mil milhões de euros até 2026, parte a fundo perdido e parte como empréstimo a juros baixo. Quer dizer, isto ajuda mas não recupera Portugal de todo. E esqueçam a palavra resiliência, pois isso é uma palavra chique introduzida recentemente para disfarçar a corrupção que é inerente à República.

Eu não sei, mas acho o país completamente à deriva e o Primeiro Ministro nem de aritmética percebe. Convenhamos que, se percebesse, dificilmente chegaria a PM.  

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Um feriado novo

O Presidente Biden assinou hoje a lei que declara 19 de Junho (Juneteenth) feriado federal. Foi a 19 de Junho de 1865 que o Texas acabou com a escravatura e, no ano seguinte, em Galveston, TX, as pessoas começaram a comemorar. Como 19 de Junho calha a um Sábado, o feriado é antecipado para Sexta-feira; se calhasse a Domingo, seria Segunda-feira. Alguém já foi à Wikipédia actualizar a página do Juneteenth. Para mim não faz diferença, dado que nem todos os feriados federais são observados pelo sector privado. Mesmo assim, fiquei contente.

Ah, quase que me esquecia: dei um pulo a Saddle Creek, um centro comercial daqui e encontrei uns produtos portugueses que nunca tinha visto: umas colónias, creme de corpo, e umas saquetas perfumadas para o guarda-roupa. Comprei uma bolsa com os cremes e sabonete e a minha vizinha ficou encantada com o cheiro das saquetas perfumadas e vai oferecer ao marido (era aroma masculino). 

Vocês não imaginam o trabalho que dá manter a economia portuguesa viável quando se está do outro lado do mundo -- bem, tecnicamente só estou 25% separada de Portugal, mas mesmo assim. 


 

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Primeiro dia

Tirando a parte de ter de conduzir meia-hora para cada lado e ir estacionar no sexto andar da garagem, o meu dia foi muito agradável. O escritório novo tem uma vista fabulosa e a minha secretária é mesmo ao pé da janela. É muito relaxante olhar para o rio Mississippi e para as barcas que o navegam. 

Para o almoço, fui com um colega ao restaurante Flying Fish, que acho que nunca tinha visitado. Foi uma experiência diferente. Agora estou super-cansada. Já não estava habituada a estas andanças. 

Enquanto trabalhava, o Jerome Powell anunciou que talvez lá para 2023 haja dois aumentos das taxas de juro. Ora estava mesmo de se ver que esta recuperação pode ser bem rápida, dado que tanto a política monetária como a fiscal são bastante acomodativas. Agora é ver que países recuperam mais rápido.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

WFO

O meu plano para amanhã é ir trabalhar ao escritório. Ainda não visitei o edifício para onde nos mudámos quase há um ano. Agora estamos na Baixa de Memphis, que fica um pouco longe de minha casa, mas antes da pandemia estava entusiasmada com a perspectiva de investigar melhor a zona. Talvez encontrar restaurantes novos escondidos, ruas engraçadas, etc. 

Não é muito grande, a Baixa de Memphis, mas há partes perigosas e há muitos pedintes. Não são pedintes daqueles que estão na esquina à espera que lhes dêem dinheiro; estes vivem perto e, muitas vezes, vêm ter connosco para nos dizer que não devíamos andar por aquela rua, mas que podem fazer o favor de nos acompanhar para estarmos em segurança. Depois, quando se despedem, pedem dinheiro.

Já fiz marcação para levar o Julian ao campo de actividades para cães. Ele vai ficar eufórico de sair de carro logo de manhã: estou a criar um monstrinho mimado, que não tem noção que é cão.

WFO: Working from Office

terça-feira, 15 de junho de 2021

Progresso

Há uns anos, notava-se que, no mundo de negócios, para se meter conversa, tinha de se falar de desporto ou saber jogar golfe. Agora, tudo se tornou mais zen. Fala-se de meditação, yoga, do respeito pela diversidade, globalidade, etc. De temas muito masculinos passou-se para coisas que são bastante associadas ao lado feminino. Acho um progresso interessante, mas decerto que não irá parar aqui. O que poderá vir a seguir a isto?

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Arrependimento

Amanhã é dia da bandeira, que é um feriado menor, logo hoje ao anoitecer decorámos as zonas centrais da vizinhança com bandeiras. Também colocámos algumas em frente da casa do Sr. Alexander. Era frequente, quando passava em frente de casa dele, pensar que devia oferecer-me para ir ao jardim arrancar ervas daninhas, mas nunca o fiz. Agora arrependo-me de não ter tido coragem ou vontade, sei lá. 

O jardim tinha sido plantado pela esposa dele, a Dottie, e decerto que ele teria gostado de ver tudo arranjado como quando ela cuidava dele. Agora já não há nada a fazer. Pensei perguntar ao filho se vai mandar arrancar as plantas.  Eu podia adoptar algumas, em vez de irem para o lixo. Nada é permanente, tudo é efémero, mas gostaria que as plantas não morressem com o Sr. Alexander.

domingo, 13 de junho de 2021

Problemas do primeiro mundo

Regressando à minha vidinha aborrecida, hoje esteve um calor daqueles que mata. Fomos brindados de manhã com um alerta a indicar que já não tínhamos um índice de calor de 105 desde o ano passado. As instruções eram para não sair à rua para fazer tarefas, beber muita água, e fazer bastantes intervalos.  E depois os mosquitos cá do burgo não perdoam; nem costumo ser muito incomodada por picadelas, mas tenho várias.

Apesar de ter chovido recentemente, achei por bem regar o jardim e até comecei a organizar a garagem que não estava com muito bom aspecto. Isto de comprar coisas pela Internet e depois receber montes de caixas não promove a organização. Também tenho a mania de guardar as caixas dos pequenos electródomésticos, o que não abona muito a favor do minimalismo. 

Quando vim para dentro, o Julian tinha tido um acidente (leia-se fez xixi). Ultimamente, se me ausento por uns minutos, ele tem sempre. Durante a pandemia estivemos quase sempre juntos, mesmo quando fui fazer certas compras, se a loja permite cães, ele vai e anda muito sossegado dentro do carrinho. As pessoas que o vêem gabam-lhe o bom comportamento. Acho que esta coisa do xixi é ansiedade, mas até aposto que os cães vadios não sofrem de ansiedade. Calhou-me na rifa um francesinho cheio de delicadezas.

Por exemplo, ontem parámos num parque e ele só fez cocó quando encontrou relvinha verde. No passeio alcatroado não faz, e numa parte que tinha terra molhada também se recusou. A propósito, quando estava na Pousada em Gulf State Park, os meus vizinhos de varanda levaram um cãozito. E não é que o bicharoco fez caca na passagem entre os edifícios, que passa rente à zona da piscina. O meu pequenito pode ser muito ansioso e ter acidentes quando me ausento, mas nunca faria caca num sítio daqueles, nem eu deixaria.  

   

sábado, 12 de junho de 2021

Pior a cura

Fiz um pequeno inquérito aos meus amigos acerca da razão de apenas agora, com seis meses de atraso, o Expresso noticiar a conduta repreensível da CML e o consenso é que isto é um fait-divers para deixarmos de falar do tal de Pedro Adão e Silva que foi nomeado para estar à frente das comemorações dos 50 anos  do 25 de Abril de 74. 

Se tal é o caso, somos governados por imbecis ao quadrado. Agora, em vez de um escândalo nacional caricato, mas nada de transcendental, deparamo-nos com um internacional que até tem potencial de ser discutido no Parlamento Europeu e de ter violado normas europeias. Proponho que Marcelo condecore o tal de Pedro Adão e Silva por nos ter proporcionado tal espectáculo e por ter permitido que a verdade viesse à tona. 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Quanto mais baixo melhor

No dia de Portugal, Camões, e das Comunidades, soubemos que a CML forneceu informações de activistas políticos a regimes autoritários: Rússia, China, Venezuela... Isto de uma Câmara liderada pelo partido que anda tão entusiasmado em comemorar os 50 anos da Revolução de Abril, a tal que derrubou um regime autoritário, e cujo Presidente pode muito bem vir a ser Primeiro Ministro.  

Ultimamente, tenho-me dedicado a ler coisas do final da ditadura portuguesa. Não a história tradicional, mas apontamentos e pensamentos da sociedade: o que é que escreviam as pessoas que viviam aquele regime. Falam muito em podridão, imoralidade,  mediocridade, cobardia do que se sujeitavam àquela governação. Muito do que leio sobre esse tempo também encontro hoje acerca de como é governado o Portugal actual. 

A ditadura terminou um dia; este actual regime também sucumbirá. Para mim, há um certo consolo em ver notícias do quão baixo descem porque quanto mais baixo, mais perto do fim. 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Uma perda

Enquanto fazia sala com a minha vizinha, recebemos a notícia que o Sr. Alexander, um dos nossos vizinhos, tinha sido encontrado morto em casa, tendo falecido já há vários dias. Era um senhor calado e já de idade, que tinha perdido a esposa há anos. Não me recordo de alguma vez lhe ter falado, mas de vez em quando trocávamos acenos, se passava de carro à minha frente.  Houve uma manhã, em que passeava o Julian, que, quando olhei para casa dele, o vi na marquise a tomar o pequeno almoço. Frequentemente o via a essa hora, quando ele estava de saída para o McDonald's para ir buscar comida.

O jardim da casa do Sr. Alexander era pequeno e contornava a casa. Quase sempre estava cheio de ervas daninhas e a relva precisava de ser cortada. Por entre a confusão, há flores espectaculares: peónias, lírios, hortênsias, narcisos, e hibiscus gigantes, que tinham sido plantadas pela esposa.

Bem sei que era inevitável, mas mesmo assim é triste... 





quarta-feira, 9 de junho de 2021

Números

É francamente misterioso que a China tenha tão poucas infecções e nem sequer tenha tido uma segunda vaga. Bem sei que, na primeira vaga, fecharam as pessoas em casa, pregando tábuas em janelas e portas. Mesmo assim, um país tão grande devia ser mais difícil de controlar uma pandemia.

Hoje no trabalho, um colega inglês perguntou o que é que eu achava de os ingleses terem retirado Portugal da "lista verde". Respondi que achava bem. Não sabemos como as coisas se irão desenrolar no Outono, logo é necessário exercer cautela. O que acho mal é a falta de orientação dos governos, que deixaram as pessoas gastar dinheiro e depois tiram-lhes o tapete debaixo dos pés. 

Quem achava que limitar o comércio internacional ia criar emprego e crescimento tem agora um excelente caso para estudar. É desta que a Economia consegue dados para ser uma ciência a sério...

terça-feira, 8 de junho de 2021

Doado e expurgado

A anterior dona desta casa tinha criado um jardim bastante interessante e moderno. A relva era de plástico e tinha sido instalada às três pancadas, no entanto era muito cara, informou-me, e tinha-a ido comprar à Georgia. A segurar a relva havia umas lajes de dois tipos, algumas espalhadas por umas saliências no chão, e, contra a parede do vizinho, tinham sido construídos canteiros, onde flores que requerem muito sol tinham sido plantadas em semi-sombra. Por uns tempos aguentei, mas começou a dar-me urticária e escavaquei o jardim todo. O solo tinha barro em excesso e pedi ao senhor que me corta a relva para tirar e trazer solo novo.

Vários vizinhos informaram-me que o jardim era o "pride and joy" da dona anterior e eu respondia na brincadeira que, se ela visse o que eu andava a fazer, era natural que me desse um tiro ou dois ou três, dado que quando cá vivia tinha mais de 30 armas cá em casa, nem quero pensar onde.

Desde o Outono do ano passado que ando a modificar o jardim, mas um dos problemas que tive foi os materiais extra que não usei: as tais lages, as bermas dos canteiros, etc. Hoje, finalmente, resolvi ver-me livre disso tudo e meti um anúncio num grupo do Facebook que é só para residentes desta zona, onde se colocam coisas que precisam de dono, mas tem de ser tudo grátis. Meti duas fotos com os materiais e, em menos de meia-hora, já me tinham contactado. Uma senhora pediu para ficar com aquela tralha e mandou os filhos vir buscar hoje à tarde. Que descanso não ter de olhar mais para aquelas coisas. 


segunda-feira, 7 de junho de 2021

Na cozinha

Tenho andado mais entretida com os livros de culinária, até comprei um da Georgeanne Brennan, de quem sou fã. Não há dúvida que os livros sobre culinária francesa são muito bem feitos, sempre com histórias e fotografias, cenários deslumbrantes. De vez em quando apetecia-me livros assim sobre culinária portuguesa, mas são difíceis de encontrar. E agora o que é tradicional já não é tão interessante como a culinária de fusão. 

Passei o dia nas lides gastronómicas porque me tinha voluntariado para fazer o jantar para os vizinhos. De manhã andei a folhear e ler livros para decidir o que fazer; depois fui às compras ao Kroger e ao Walmart (já se vêem pessoas sem máscara dentro das mercearias, mas não me incluo no grupo). Tive imensa dificuldade em encontrar carne de porco picada para misturar com a carne de vaca para fazer o molho à bolonhesa e acabei por comprar "italian sausage", que é carne de porco picada com algumas especiarias. Para sobremesa, tinha pensado em fazer tarte de ruibarbo, mas não encontrei, logo fiquei-me por pêssego e alperce.   

Fiquei surpreendida que as coisas tenham saído tão bem e os vizinhos tenham gostado, mas a melhor parte é que fiquei com algumas sobras para amanhã. 

domingo, 6 de junho de 2021

A suposta fúria

O Stephen L. Carter escreveu uma opinião na Bloomberg a dizer que se o vírus Covid-19 foi realmente desenvolvido num laboratório chinês, a comunidade internacional irá ficar furiosa com a China. Acho uma ideia completamente ridícula. 

Em primeiro lugar, se esse foi realmente o caso, a China poderá ter outros vírus que poderá deixar escapar, mas de propósito, logo convém agir com cautela. Em segundo lugar, ninguém quer saber. Os europeus não estão interessados em investigar e essas ideias e descobrir a verdade é coisa da administração Biden, que tem de fazer de conta que é forte, mas que não tem nada a ganhar em continuar a alienar a China. Não funcionou bem para o Trump, logo dificilmente funciona para o Biden. Em terceiro lugar, já andamos nisto da pandemia há mais de um ano, o que desgasta a nossa capacidade para nos chocarmos ou até enfurecermo-nos. Finalmente, se a coisa escapou involuntariamente, então os chineses não fizeram de propósito, logo são um vilão meio fraquinho.

Apesar de tudo isto, é óbvio que a ordem mundial irá ficar mudada depois da pandemia. A Europa está a perder prestígio diplomático a olhos vistos e as pessoas já se esqueceram que a Europa não é um continente pacífico. À medida que empobrece, o espírito quezilento dos europeus irá regressar e seja o que Deus quiser e o Diabo deixar...

 

sábado, 5 de junho de 2021

Constipação

Hoje falei com um amigo que foi ao Connecticut ajudar a mãe a mudar de casa. Fez algumas excursões ao Walmart e sentiu que, como tinha a vacina e as indicações eram que quem estava vacinado podia entrar sem máscara, seria seguro fazer isso mesmo, até porque via algumas pessoas ainda com máscara. Não sabemos se quem tinha máscara estava vacinado ou era do grupo dos não-vacinados, mas o certo é que devia haver por lá alguém menos sádio, pois ele apanhou uma enorme constipação e estava meio-zonzo, quase que nem dava conta do que dizia. Já não se recordava de estar assim tão doente, confidenciou. 

Continuamos a nossa grande experiência e vai ser interessante ver que patologias regressam em força. O que vale é que, no final disto tudo, teremos tantos dados que irá haver um enorme progresso no entendimento de como ficamos doentes. 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

Comédia

Hoje recebi uma notícia muito engraçada que veio no Expresso. Parece que o governo português está interessado nos portugueses que estão nos EUA e quer que eles regressem. Por um lado, a comunidade portuguesa, diz a notícia, está muito bem inserida nos EUA e tem rendimento acima da média; por outro lado, a comunidade portuguesa está a sofrer nos EUA porque muitos estão no país ilegalmente e não têm acesso a cuidados básicos.

Que o cidadão comum tenha esta ideia dos EUA é perfeitamente compreensível; que o governo português a tenha demonstra o quão idiota são as pessoas que governam Portugal. É claro que não havia dúvidas que os governantes portugueses eram idiotas porque manter um país da UE a empobrecer há vinte anos mais do que o demonstra. E se o povo português desejasse algo mais do que idiotas, já teria feito alguma coisa nesse sentido, afinal o governo governa com o consentimento do povo.

Mas vamos por partes, pois não sei muito bem o que pensar de portugueses que vêm para os EUA e não se sabem virar. Reparem que há imensos imigrantes ilegais de países bastante mais pobres do que Portugal, com escolaridade mínima inferior a Portugal, e que se sabem orientar: sabem que há sítios em que se pode obter seguro de saúde independentemente do estatuto de imigração, sabem que se estão em apuros e precisam de ser repatriados, basta entregarem-se às autoridades americanas, etc. 

Se os americanos se interessassem por gente com este nível de cultura geral, não poriam restrições no acesso à imigração e esta gente poderia facilmente vir legal para os EUA. Se Portugal quer esta gente de volta, bem haja a quem os queira. A mim não me convém nada ter conterrâneos ignorantes e sem desenvoltura a trabalhar nos EUA, pois diminui o meu potencial salarial. Repatriem o pessoal, se faz favor.

Finalmente, há algo que não compreendo: isto de Portugal querer repatriar os imigrantes ilegais que estão nos EUA é rapto, não é? Ninguém obrigou esta gente a vir para a América e, se quisessem voltar, podiam fazê-lo voluntariamente, logo como é que se pode justificar a intervenção do governo português?

 

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Tempo

A minha ex-sobrinha mais velha vai casar-se no início de Julho e convidou-me para a cerimónia, em Oklahoma City. Conheci-a em 2000, no funeral do bisavô, durante o qual me disponibilizei a ajudar a tomar conta dela e da prima, mas ela fez uma birra qualquer e disse algo desagradável à mãe. Subiu-me a mostarda ao nariz e disse à criança, que devia ter uns 4 anos, que não se falava assim para a mãe. De repente, toda a gente levantou a cabeça e olhou para mim--bela impressão que dei quando conheci a família do meu futuro marido. 

É difícil imaginar, que houve uma altura em que passei tardes a fio a brincar com a sobrinhada, a ir a jogos de basketball, softball, festas de anos, Natal, fizemos bonecos de neve, pintámos livros de colorir, etc. Numa dessas tardes, a minha ex-sobrinha perguntou-me "Tu és muito boa a colorir livros, onde é que aprendeste?" Respondi-lhe: "Na universidade." Quando terminou o curso deixei-lhe uma mensagem a dizer que agora ela também era era exímia a colorir livros. 

Tudo isto parece uma outra vida tão distante da minha e, no entanto, eu estava lá. No ano passado, a minha ex-sogra disse-me que todos os Natais, tem de fazer scones de canela porque esta ex-sobrinha pede. Lembro-me bem de ir com o meu então-namorado tomar café à Aspen, que tinha uns scones de canela maravilhosos. Eu gostava tanto que, nos primórdios da Internet, numa altura em que os blogues de culinária ainda estavam para acontecer, decidi fazer uma busca e encontrei uma receita catita que dizia ser o segredo para dominar o mundo. Era quase Natal e, por sorte, encontrámos pepitas de canela para fazer doces, o que permitiu fazer os scones de canela para comer no dia de Natal. E assim começou uma tradição que já tem mais de 20 anos. 

   

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Talvez paranóia

Depois do jantar, encontrei-me com um conhecido para ir tomar um chá ao Starbucks. Quer dizer, eu tomei chá, ele tomou uma água com gás aromatizada. Conversámos sobre muita coisa, mas acho que muito da conversa era sobre política e actualidade, que é capaz de ser um dos meus tópicos preferidos. Não faço ideia como é que uma Rita completamente obcecada com música e cinema durante a juventude progride para alguém que se entretém com política, mas assim foi.

A certa altura da conversa, bebi um gole de chá mas entrou para o lado errado, o que me levou a tossir. Passado uns segundos pergunta-me ele o que se passava comigo: eu tinha as vacinas, não tinha? Aquela tosse não indicava doença ou possível contacto com o vírus, pois não? Não, apenas indicava que me tinha engasgado, respondi.

terça-feira, 1 de junho de 2021

Feriado

Quase no final do feriado de hoje, lembrei-me de ir à Williams Sonoma a ver se tinham facas de descascar, mas estava à procura de umas muito específicas, por sinal portuguesas, para oferecer à minha vizinha que ontem descascava um pedaço de gengibre com uma faca de chefe. Dir-me-ão vocês, que a melhor maneira de descascar gengibre é com uma colher, que até foi o que eu demonstrei, mas tal não é incompatível com o facto de ela precisar de facas de descascar. 

O facto de as facas serem portuguesas é muito simples: há um conjunto de três facas de descascar que são feitas em Portugal que fica muito em conta, custa menos de $40 e as facas são de muito boa qualidade e assentam muito bem na mão -- tenho umas que ainda estão em perfeita condição e que me foram oferecidas há mais de 15 anos. Aquilo é imbatível em termos de preço/qualidade. Mas não havia na loja, o que até não me incomoda, dado que a loja daqui é um outlet.

Aproveitei para dar um salto à Pottery Barn, a loja do lado, que também é um outlet, a ver se tinha lençóis de cama de casal em algodão. Estavam cheios de coberturas de duvet, que não é coisa que me agrade, mas encontrei um conjunto em branco feito em algodão, que era mais ou menos o que eu queria. Antigamente, facilmente encontrava lençóis feitos em Portugal, mas estes eram feitos na Índia, o que também é muito bom. Frequentemente, o algodão da Índia é biológico, mas a Índia também importa algum algodão para usar em têxteis, logo pode ter sido o caso.  

Não encontrei muita gente às compras, apesar de ser feriado; nem sequer houve aquela emoção das grandes promoções de feriado que é costume haver. Se calhar, fui a má hora ou então o pessoal ficou em casa e comprou online, que é o que vai acontecer às facas que vou comprar.