quinta-feira, 27 de junho de 2019

Para ouvir e ver

Este fim-de-semana, no dia 30 de Junho, vai decorrer o Desfile do Orgulho, traduzo assim o Pride Parade, em S. Francisco. Vai ser o maior desfile de sempre porque este ano celebram-se os 50 anos dos tumultos de Stonewall (Stonewall Riots), que se passaram em Nova Iorque em que a comunidade LGBTQ entrou em conflito com a polícia, despois desta ter invadido a Stonewall Inn em 28 de Junho de 1969. Este evento foi um marco significativo na luta pelos direitos da comunidade LGBTQ.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Futuro próximo

O futuro próximo vai ser largamente determinado pelo que acontece nos EUA. Se seguem o mercado accionista americano, devem ter percebido que o chamado bull market foi interrompido. Desde que o Presidente Trump começou a dicutir tarifas de comércio internacional que o mercado desce, depois sobe, depois desce, mas não consegue ultrapassar os máximos que atingiu.

Os indicadores económicos da economia americana perderam o fôlego do corte nos impostos e desde o shutdown de 2018/19 que não dá para perceber se as coisas estão tão bem como indicam nuns meses ou tão mal como indicam em outros. Para além disso, quando a taxa e desemprego está a mínimos de décadas é difícil imaginar de onde virá a mão-de-obra necessária para alimentar a expansão, pois se quem está fora do mercado ainda não entrou, é porque deve ter alguma limitação.

A dinâmica do comércio internacional também contribui para a confusão: como as empresas e os consumidores não sabiam quando estariam sujeitos a tarifas, assim que se aperceberam das intenções da administração americana alguns anteciparam compras para tentar evitar ter de pagar tarifas, ou seja, apesar da imposição de tarifas ser uma política desaceleradora da actividade económica, a curto prazo pode ter o efeito contrário e acelerar.

Depois há as eleições presidenciais daqui a menos de 18 meses, que irão criar uma confusão enorme na comunicação social, pois é esse o modus operandi de Donald Trump. Só que desta vez o efeito surpresa não estará do lado dele e se em 2016 ele era o underdog, agora é a pessoa que está no poder e como passou os últimos anos a insultar e a passar políticas que prejudicam os eleitores que votaram nele, é natural que tenha dificuldade em convencê-los.

Nem tudo é negativo, pois a Reserva Federal tem alguma margem para actuar, só que como o Presidente acha que as taxas e juro deveriam ser cortadas para estimular a economia, há alguns problemas que se levantam. O primeiro é que um corte iria levar a que se questionasse a independência do Banco Central. E depois se a economia está com baixo desemprego e a taxa de crescimento anda em torno da média, a única verdadeira razão para actuar seria para tentar criar mais inflação, coisa que a Reserva Federal costuma engonhar.

Se a economia americana ainda está a expandir, então em Julho esta será a expansão mais longa da história dos EUA. Se pelo contrário a recessão já começou, então poderá levar vários meses, talvez mais do que um ano, até que o NBER faça o anúncio, mas se entretanto as taxas de juro forem cortadas, então teremos clara indicação de que estamos em recessão.

Quem acompanha as notícias internacionais, já deve ter reparado que há duas coisas das quais se fala muito: uma é o efeito das alterações climáticas e a outra é a quantidade de resíduos plásticos no oceano. Para além de políticos da ala conservadora americana terem deixado de questionar as alterações climáticas, as companhias petrolíferas mundiais também já tornaram público o seu apoio a políticas para gestão das emissões de carbono.

No lado dos plásticos, formou-se há menos de um ano um consórcio global de empresas que têm o objectivo de melhorar a tecnologia de reciclagem de plásticos e a sua infraestrutura. Claro que tal esforço coincidiu com a China ter deixado de comprar residuos plásticos para reciclar. Para além disso, começam a haver start ups que têm o objectivo de reiventar a cadeia de produção/distribuição de forma a reduzir ou eliminar o consumo de plásticos, como por exemplo a Loop, que está a estudar o uso de embalágens de aço reutilizáveis para embalar shampoo, gelados, cereais de pequeno almoço, etc.

O mundo está a mudar rapidamente e apesar da Administração Trump tentar relaxar a legislação ambiental, são as próprias empresas que resistem e tentam estar um passo à frente dos consumidores. É que na era digital, as empresas que se portam mal correm o risco de serem ostracizadas a nível global. Para além disso, já deu para perceber que é só uma questão de tempo até haver um esforço mundial para lidar com as grandes questões ambientais.

Não sei se Portugal está preparado para as mudanças que por aí vêm, até porque não se ouve ninguém dicutir temas sérios da actualidade. Até é duvidoso que os políticos portugueses saibam o que se passa no resto do mundo.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

As que irritam

“A seriedade intelectual de Natália [Correia] levava-a a não omitir erros (injustiças, desvarios) cometidos pelos que lhes eram próximos. Não hesitou, por isso, em distanciar-se, no ano de 1975, da (sua) esquerda, de demarcar-se do feminismo que, na Primeira República, levou as mulheres a apoiarem Afonso Costa na trágica decisão de atirar Portugal para o matadouro da Primeira Guerra Mundial.

«Incompreensível essa atitude, sobretudo por parte de vultos como Ana de Castro Osório, que criou a Comissão Feminina pela Pátria, ou como Adelaide Cabete que lançou a Cruzada das Mulheres Portuguesas em apoio de tamanha infâmia! E isso depois de Afonso Costa ter impedido as mulheres de votar, uma vergonha! Elas comportaram-se, afinal, de maneira não muito diferente da das senhoras do Movimento Nacional Feminino, que actuaram nas guerras coloniais do fascismo».

A seu lado, o historiador Oliveira Marques sorria. Saltando sobre o tempo, logo Natália investia contra as mulheres que, em cargos de decisão, «se comportam hoje pior do que os homens», ultrapassando-os no que eles «têm de mais brutal».
Em vez de «praticarem a superioridade do feminino, como a afectuosidade, a sensibilidade, não, parecem travestis! Vejam-se, por exemplo, as atitudes implacáveis das que dirigem departamentos de recursos humanos em empresas com processos de despedimentos de trabalhadores. Grotescas!» As «carpideiras do vitimismo feminino» irritavam-na igualmente.”

Excerpt From: Fernando Dacosta. “O Botequim da Liberdade.” Apple Books. https://books.apple.com/us/book/o-botequim-da-liberdade/id703484323

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Mudança

Depois de algumas semanas em que me senti bastante cansada, percebi que a culpa era dos chocolates. Foi assim: no trabalho, nós temos chocolates de graça, mas eu como sou meia-esquisita também tenho os meus quadradinhos de chocolate e menta que comia como snack diário. Normalmente, comia uns dois... ou três... ou quatro porque pares é melhor para não ficar nenhum pedaço sozinho e não eram assim tantas calorias, mas também não tinha valor nutricional. Notei que para além de cansada, as minhas articulações doíam, então decidi parar e não é que melhorei e me sinto com mais energia?

Deu jeito a minha mudança porque entretanto recebi uma mensagem de uma amiga a perguntar se não ia ficar por Memphis durante o Verão porque gostaria de visitar porque estavam a caminho da costa do Alabama e era uma boa oportunidade de eu conhecer o filho dela, que tem quatro anos. Perguntei-lhe para quando era a visita e era em menos de uma semana. Oh diabo, tive de andar a organizar o andar lá de cima onde ficam os quartos de hóspedes.

Por acaso, a última vez que estive em Fayetteville, AR, onde ela vive, foi em 2013, logo nessa altura estava ela grávida e apenas lhe entreguei as coisas do baby shower. Até j;a me tinha esquecido destes detalhes, mas durante a visita ela mencionou ao filhote as coisas que eu tinha dado: fiz um cobertores de flanela, outro de pelúcia e flanela (a sério, costurei eu mesma), bordei uns macacões de algodão, etc. É estranho, mas ultimamente não me apetece fazer estes trabalhos manuais. Por sorte, já não tenho amigos com descendência a caminho.

Mas fiquei orgulhosa de mim própria por ser uma amiga tão dedicada. Aliás, os meus amigos aqui têm uma boa impressão minha e acham que o resto dos portugueses são como eu: inteligentes, trabalhadores, atenciosos. Tenho uma lista de pessoas que querem que eu os leve a Portugal e alguns já me ameaçaram de que não passo de 2020 sem os levar. Felizmente, os meus amigos não leram o blogue do Francisco Seixas da Costa, onde se diz que pessoas como eu que emigraram, ainda por cima para as Américas, e têm opiniões formadas acerca do país e que não se inibem de o criticar nunca fizeram nada pelo país. Parece que bons portugueses são aqueles que não querem a mudança porque mudar Portugal é mau.

Bem sei que o Francisco Seixas da Costa também andou pelo mundo, mas era diplomata, não era emigrante. Mas a diplomacia é uma das formas pelas quais se efectua mudança, logo por que razão não nos explica o Francisco porque dedicou uma vida inteira a tentar mudar as relações de Portugal com o estrangeiro? Não seria melhor ter deixado tudo ficar como estava?

E por falar em ficar como estava, como é que se pode criticar a mudança ao mesmo tempo que se elogia uma revolução? Uma revolução é uma das mudanças mais profundas que pode acontecer a um país com a agravante de que a maior parte das revoluções não são pacíficas. Aliás, há a ideia de que as coisas depois de Abril de 74 foram um mar de cravos em Portugal, mas não foram. Ao contrário do que escreve o Francisco, nem sequer houve liberdade para quem foi preso e torturado sem ter sido acusado de um crime e houve centenas de presos nesta situação.

Como é que alguém com o currículo de Francisco Seixas da Costa escreve coisas que não são factuais, nem observam as regras mais básicas de lógica, e ninguém da comunicação social lhe aparece à frente e lhe pede explicações?

Não pensem que Portugal não muda porque alguém não quer. Tudo muda e a mudança é inerente à vida. A única escolha que temos é decidir se queremos mudar por necessidade ou voluntariamente. Se por necessidade, as mudanças são nos impostas e não controlamos os resultados; se formos pela via da mudança voluntária, podemos eliminar situações indesejáveis e posicionarmo-nos para criar novas oportunidades. De qualquer das formas, na mesma não ficamos de certeza absoluta.