domingo, 28 de novembro de 2021

Talvez amanhã ou depois

Morrer faz tão parte da vida como nascer, mas enquanto o nascimento é uma coisa feliz, a morte é uma fonte de infelicidade. A última pessoa fisicamente próxima que me morreu foi o meu avô em 1983. Morreu à mesa, durante o almoço. Naquela altura, eu vomitava por tudo e por nada: se havia um cheiro intenso, se via algo com mau aspecto, etc. Por ser assim, o meu avô comia na sala de jantar e o resto da família na cozinha. Foi por isso que não vimos o meu avô morrer, apenas ouvimos um barulho e quando fomos ver, ele já não estava em si. Ainda me recordo de ouvir o meu pai a dizer "Ó pai!" quando o encontrámos e de ele o carregar ao colo para o carro. Quando chegou ao hospital, uns 10 minutos mais tarde, nem foi admitido porque já não havia nada a fazer.

Depois disso senti culpa de não estarmos com o meu avô. Talvez se estivessemos todos juntos ele não tivesse morrido. E vergonha, senti muita vergonha. Deixei de conseguir tocar nas coisas do meu avô, mas só nas dele. A minha avó tinha morrido no ano anterior, mas os seus objectos nunca me inspiraram medo. Quando a minha mãe morreu, há 15 anos, tiveram de esperar que eu chegasse a Portugal para fazer o enterro. Quando estávamos na morgue, perguntaram-me se a queria ver, mas recusei.

Viver longe da família é um bocado refugiar-nos da morte. Há pessoas que conheci aqui que morreram, mas foi sempre longe de mim. Até agora. Há menos de dois anos, a mãe da minha vizinha "adoptou-me". Uma vez, na cozinha lá de casa, ela dizia-me que não a deixavam partir -- morrer -- e eu respondi-lhe que não podia morrer. Se morresse, eu ficaria sozinha no país, não teria ninguém para cuidar de mim. E ela, apesar do início da sua demência, respodeu que isso não, ela ia cuidar de mim.

No último ano, tenho ajudado a cuidar dela. Estranhamente, ela fica calma ao pé de mim; sente-se bem disposta, tenta fazer piadas quando conversamos. Só que todos os momentos que passa comigo são ligeiros: não lhe peço para comer, nem lhe dou banho, medicamentos, etc. Nestes últimos dias nota-se que há um desajuste maior entre a cabeça e o corpo. O coração já está muito fraco, tão fraco que, há duas semanas, teve uma pneumonia da qual conseguiu recuperar. No entanto, cada dia está a ficar menos flexível, como se a cabeça estivesse a ficar aprisionada no corpo. Tem dificuldade em falar, não consegue mover-se, o sangue acumula-se nas mãos, doi-lhe tudo.

Quase todos os dias a vou visitar. No raro dia em que tinha as mãos frias e as minhas estavam quentes, tentei aquecer as dela. Tento reparar nestes detalhes para ver se adivinho o fim. Quando me despeço, passo a minha a mão pela testa dela e digo-lhe para se portar bem que a amo. Ela responde "I love you, too." Talvez amanhã ou depois seja a última vez.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Happy Thanksgiving!

Mais um dia do perú, acho que foi o meu vigésimo-sexto que passei nos EUA. O meu primeiro foi em 1995 e passei-o em Dallas, TX; o segundo, dois anos depois foi em Ponca City, OK, que é uma cidadezinha bastante pobre na altura. É engraçado pensar no contraste dos dois locais agora, mas quando visitei era tudo novo e interessante, logo ambas as experiências foram igualmente boas. A comida é sempre o tradicional perú com o recheio, mais uma combinação de outros pratos da época: doce de arandos, puré de batata, batatas doces assadas, feijão verde com sopa de cogumelos, pudim de milho, salada, pãezinhos, pão de milho. Depois há variações, por exemplo, hoje no meu jantar o feijão verde era fresco (o tradicional é de lata) e tinha sido cozido e depois aromatizado com especiarias.

O Dia de Acção de Graças e toda a sua tradição é capaz de ser uma das minhas coisas preferidas de viver aqui. É uma altura do ano em que toda a gente está preocupada com os outros. Todas as pessoas que nos encontram perguntam que planos temos para o Dia de Acção de Graças e os americanos não gostam de ver ninguém a passar este dia sozinho. Mesmo quem escapa à pesca do convite acaba por frequentemente receber um prato de comida.

É paradoxal que um povo que tem a reputação de comer mal passe vários feriados em redor de comida e a organizar eventos para comer em comunhão com os outros. O dia da Independência dos EUA é piqueniques e cachorros quentes, a final do campeonato de futebol americano é uma tarde de petiscos, o 17 de Março -- dia da S. Patrício na Irlanda -- é comida irlandesa, o 5 de Maio, que nem é importante no México, é comida mexicana. E depois há os tradicionais potlucks nos escritórios, nas igrejas, nas universidades, etc. só para promover a camaradagem. Portugal devia pensar em criar uma coisa tipo o dia do pastel de nata; era capaz de ter sucesso na terra do Tio Sam.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Dois em três

Soubemos hoje que os três homens que perseguiram Amauhd Arbery e o mataram, em 23 de Fevereiro de 2020, foram todos condenados. É justa a sentença, mas isso não invalida o sabor amargo que sentimos por estes crimes acontecerem. A vítima tinha 25 anos e saiu à rua para correr, quando os três acusados decidiram que, se ele estava a correr, era porque tinha feito algo de mal e daí decidiram persegui-lo até que o mataram a tiro.

Os meus vizinhos a norte, na terceira casa depois da minha, têm uma placa à frente de casa a pedir justiça para as vítimas de crimes raciais. As placas foram uma iniciativa de duas famílias de Memphis. O nome do Amauhd está na lista, assim como o de George Floyd e o de Breonna Taylor. Em Abril, o polícia que matou George Floyd foi condenado a 22,5 anos de prisão. Dos três, apenas Breonna Taylor não verá justiça, pois ninguém foi acusado da sua morte.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A democracia vibrante

É meu costume, ou talvez interesse, ler textos sobre Portugal escritos antes da Revolução de Abril. Acho que tenho alguma curiosidade em saber se as pessoas tinham alguma noção do regime em que viviam; mas parece que não porque era tudo muito respeitável. Como hoje, em que a democracia portuguesa também é muito respetável.

Uma das características que os portugueses associam a respeitabilidade é o consenso: toda a gente tem de pensar da mesma forma, não faz sentido haver discórdia porque verdade há só uma, ou não fosse a vida todo um destino fatídico pré-definido por forças divinas. Isso é que é uma democracia vibrante: uma sociedade em que todos puxam para o mesmo lado.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Wisconsin

Depois de termos passado umas semanitas a ouvir falar do Wisonsin por causa do julgamento do Kyle Rittenhouse, que foi absolvido há dias, eis que hoje alguém atropelou uma multidão no cortejo que celebrava os 125 anos da cidade de Waukesha, precisamente no Wisconsin. Ainda não foi publicitado nada acerca do motivo por detrás do incidente de hoje, mas é estranha a coincidência.

Nunca me cruzo muito com este estado, a não ser quando vou comprar queijo, dado que tem uma indústria de lacticínios bastante grande; isto para dizer que, a maior parte do tempo, nem me lembro que existe, e nem me recordo de conhecer alguém de lá, apesar do meu portefólio de amigos ser bastante variado e alargado. Também há aquela cena do Love Actually, em que o Colin visita o Wisconsin, que é um filme que costumo ver uma vez por ano.

Aguardo com curiosidade o que dirão as autoridades acerca de hoje.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Os pessimistas

Estava a falar com um amigo meu e calhou mencionarmos o refinanciamento de hipotecas. Quase toda a gente que conheço e que tem uma hipoteca já refinanciou. O meu vizinho do lado que comprou a casa quase um ano depois de mim refinanciou primeiro do que eu e até me disse que tinha aumentado o valor financiado porque um contabilista amigo dele lhe tinha dito que era a estratégia ideal.

Acho uma estratégia arriscada, mas como consigo poupar bastante dinheiro, não faz sentido para mim tirar dinheiro da casa para estar parado numa conta à ordem ou para usar em consumo. Quanto a investir o dinheiro na bolsa, também não acho que faça sentido no meu caso, dado que as minhas contas poupança-reforma estão bastante investidas na bolsa (80% de exposição à bolsa, 20% a bonds), logo preciso de diversificação e ter capital amortizado na hipoteca mais dinheiro em caixa complementa bem as minhas contas de poupança-reforma. O meu objectivo era acelerar o pagamento da hipoteca refinanciando a 15 anos e até comprei alguns pontos para baixar a taxa de juro, que ficou em 2.25%. Tive bastante dificuldade em explicar ao senhor que tratou do refinanciamento que não queria que me dessem dinheiro em troca de uma hipoteca mais alta. Enfim, parece que leram todos o Rich Dad, Poor Dad, mas eu não sou pai de ninguém.

Dadas as taxas de juro mais baixas, os preços das casas a apreciar, e a política fiscal expansionista, o certo é que os americanos estão bem de poupanças e acesso a capital--o governo é que ficou um bocado mais endividado. Não é de admirar que, em Agosto, muita malta tenha desistido do emprego e também há os que se reformam antecipadamente. Todo este dinheiro permite a muita gente viver sem trabalhar durante alguns meses. Depois temos também as inovações em termos de trabalho, em que é muito fácil arranjar um emprego part-time em que as pessoas decidem quando querem trabalhar ou até monetizar a casa através do Airbnb, logo os trabalhadores têm muito mais opções do que o normal.

Veremos quanto tempo irá durar esta folia. Isto tem tudo para ser um castelo de cartas, mas também pode correr bem. Nós imigrantes (o meu amigo e eu) é que ficamos um bocado assustados com tanto optimismo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Quase, quase

O número de casos e mortes por causa de Covid-19 está a aumentar nos EUA e na Europa, apesar das vacinas. Mesmo Portugal com a sua alta taxa de vacinação não escapa à tendência. O pior é que há bastantes vacinados a ir parar ao hospital, o que não é surpreendente--é a lei dos grandes números. No entanto, estou animada acerca disto. Este inverno deve ser ou vai ou racha e depois disto já haverá comprimidos anti-virais que parece serem bastante eficazes. Estamos quase a ver-nos livres disto.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

Lusocentrismo

Não aprecio a cobertura de Portugal que aparece no NYT porque resume-se a propaganda. Não sei se a culpa é do governo português ou da equipa editorial do NYT. Um dos artigos mais recentes é sobre a lei que impede os patrões de contactar os empregados fora de horas, ou seja, uma lei que introduz mais rigidez no mercado de trabalho.

Desde há quase dois anos que andamos nisto do trabalho remoto e algumas das coisas que ouço dos meus colegas é que apreciam a flexibilidade, gostam de poder passar mais tempo com os filhos, e as poupanças de tempo de gasolina também ajudam. Já aconteceu em conferências por telefone alguns (homens!) estarem a lavar a louça ou a preparar uma refeição, também têm a possibilidade de ir levar e buscar os filhos à escola, etc. Ou seja, em vez de se trabalhar as oito horas quase seguidas com intervalo de almoço, a gestão de tempo é mais fluída e os empregados ganharam alguma independencia de como organizar o seu dia. Desde que apresentem o serviço a tempo e horas, não parece que seja um problema ter um horário mais felixível.

Em empresas multinacionais, há também um outro aspecto a considerar, dado que parte da equipa pode estar espalhada por outros países. Recordo-me de uma vez ter uma reunião às 6 da manhã porque um colega estava na China, mas o mais frequente é os colegas dos outros países terem horários não-convencionais para poderem contactar com quem está nos EUA. Por exemplo, há um colega que está na Índia de quem nós dizemos, a brincar, não dormir porque está sempre a responder aos nossos emails. É no que dá ter pessoas na Índia, China, Europa, EUA, Brasil, Àfrica ocidental na mesma equipa.

Tudo isto para perguntar quem é que na sua supra-sapiência acha que vai atrair trabalhadores estrangeiros, como sugere o artigo, para ir trabalhar para Portugal, quando é proibido contactar a pessoa fora das horas de trabalho portuguesas? Uma empresa americana, que está pelo menos 5 horas atrasada relativamente a Portugal vai incentivar alguém a trabalhar de Portugal dada esta legislação?

E como é que a legislação vai ser aplicada? Quem vai fiscalizar? Como é que vão cobrar as multas? Suponhamos que havia realmente empresas estrangeiras que deixassem os empregados trabalhar de Portugal, que jurisdição teria Portugal sobre estas empresas para lhes aplicar multas?

Percebe-se esta tendência populista para ganhar votos perto das eleições, mas uma pessoa fica envergonhada com esta mania que o mundo gira em torno de Portugal.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Interrupção

Um dos meus Instagrams preferido -- talvez mesmo o meu preferido -- é o Paleio da Ana Rodrigues. Não tenho dúvida que é um dos melhores de Portugal. Já o acompanho há bastantes anos, tantos que numa das minhas visitas a Portugal até cheguei a passar uma tarde com a Ana no Porto. Acho-a uma mulher incrível e das pessoas mais criativas que conheço. Todos os anos, faz um ou vários projectos artísticos, um deles costuma ser enviar um postal por semana a uma pessoa. Recolhe a morada de pessoas que estejam interessadas, pessoas que ela não conhece, mas que pelo milagre da Internet seguem o seu trabalho e querem participar. Os postais são em si obras de arte, que ela dispersa pelo mundo, como se fossem sementes.

Também implementa projectos anuais publicados no Instagram, em que todos os dias há uma publicação. Já houve fotos a preto e branco, outro projecto era em filme fotográfico, há uns anos as fotos foram tiradas com a Fuji Instamax Mini, etc. O deste ano é fazer 10 segundos de filme por dia e é simplesmente magnífico, vale mesmo a pena ir espreitar. Só que tudo está em suspenso porque a Ana anunciou que vai fazer uma interrumpção para poder lidar com alguns problemas de saúde. Estou triste, mas também feliz por ela ter decidido cuidar de si. As melhoras a ela.

domingo, 14 de novembro de 2021

Segunda lição

Na Quinta-feira, foi a segunda lição do Julian, leia-se minha. A professora chegou e eu disse logo que ainda não tinha tido oportunidade de aplicar muitos dos conselhos, mas tínhamos andado a praticar o nosso sit-stay-come. Ele estava mais calmo, mas ainda com necessidades afectivas: de vez em quando, o Julian olha para as nossas mãos e acha que deviam estar a dar-lhe uma massagem, então enfia a cabeça mesmo a jeito. Não é muito humilde, o rapaz. Acha que o mundo se deve subjugar à sua vontade. Mostrei o nosso sit-stay-come e estava mais ou menos. Também pratiquei meter-lhe a coleira de sair e a trela e sentarmo-nos no sofá para ele calibrar o seu nível de entusiasmo associado à coleira e trela.

Para o final, praticámos eu passeá-lo com a professora atrás de mim. Normalmente, o Julian fica muito agitado quando alguém nos acompanha, mas desta vez estava relativamente mais calmo, apesar das muitas distrações como a presença da professora, o jardineiro do vizinho a fazer barulho com o aparador de relva, carros a passar, etc. Achei engraçado que, durante a aula, sempre que o Julian se porta bem, a professora olha para ele com bastante admiração e afecto. Acho que nuna tinha visto ninguém olhar para os meus animais assim, mas nota-se que ela gosta mesmo do meu pirralho.

Um dos nossos trabalhos de casa tem sido o praticar as minhas saídas e, por sorte, as portas que dão para o jardim são de vidro, logo ele pode ver-me afastar-me da casa. Peço para ele se sentar e ficar, saio pela porta, escondo-me por uns segundos, e depois apareço, abro a porta, e dou-lhe um biscoito. Ele fica sempre à minha espera muito atento, quase que com a respiração em suspenso e não tem ficado ansioso, o que é mesmo o objectivo. Mas, de vez em quando, faz uma coisa engraçada porque sai de casa para ir ver se a porta da garagem da minha vizinha está aberta. Ele adora ir a casa da vizinha. É mesmo um pateta...

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Sobre o consolo

Estava na cama, a ler uma crítica sobre o livro "On Consolation", quando a minha vizinha me telefonou a ver se eu podia ir consolar a mãe dela. Está com pneumonia e doi-lhe o corpo todo. Ontem, quando decorávamos a vizinhança com bandeiras para o Veteran's Day, eu tinha falado com o marido acerca de um livro que li há bastantes anos chamado "How we die" e onde se falava de como, à medida que envelhecemos, o nosso coração fica mais fraco e não esvazia tão eficazmente o sangue dos pulmões e acabamos por ter pneumonias. Quando falei disto, ainda não sabíamos que a sogra estava com uma.

Procurei uns sapatos, enfiei o robe, e lá fui. Não sei o que tenho, mas a minha presença acalma-a e ficou bastante mais serena depois de eu chegar. Por vezes, olhava para mim longamente, meia-distante, mas também como se quisesse dizer algo, só que quando lhe perguntava o que era, respondia que não era nada. Eu acho que era tudo, é o tudo. Ela parece pressentir que não vai viver muito mais tempo e está à espera de se ir.

Na televisão passava um filme com a Doris Day e o Rock Hudson, que terminámos de ver. Para a relaxar e ver se adormecia, apagámos a luz alguns minutos antes do filme terminar. Assim foi e eu vim-me embora.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Passado engraçado

Amanhã é Dia dos Veteranos e, como tal, eu e três vizinhos decorámos parte da vizinhança com bandeirinhas dos EUA. Calhou o meu vizinho do lado estar à porta de casa e perguntámos-lhe acerca do outro vizinho a sul que vendeu a casa recentemente. A esposa desse senhor teve um cancro do cérebro e foi umas das primeiras pessoas com quem me cruzei na vizinhança quando me mudei para aqui há quase três anos. Ele arranjou um emprego e decidiram mudar-se para Olive Branch, no Mississippi, que fica a 6 milhas de Collierville, TN, onde ele arranjou emprego. Apesar de ser camionista, o senhor foi também padre, mas não sei de que denominação. E é também um músico de bastante talento, pois foi o líder da banda do Willie Nelson. Olha que engraçado.

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Estranha Língua

Terminei hoje de ver uma série norueguesa, produção da Netflix, e acho a língua deles muito estranha. No final, consigo dizer obrigada e Feliz Natal em norueguês, logo não se perdeu tudo. Espalhadas pelos diálogos havia muitas expressões inglesas o que me surpreendeu bastante.

Quanto à série em si, a premissa da história é bastante interessante. A parte mais curiosa é que a protagonista, que tem 30 anos, apaixona-se por um rapaz de 19 e a relação entre os dois é bastante boa, tão boa que na primeira noite que estão juntos, ela tem cinco orgasmos. Não sei se isto faz parte de uma campanha de normalização das relações entre mulheres mais velhas e homens mais novos, mas é interessante revisitar Mrs. Robinson, apesar da diferença de idades não ser tão grande na série como no filme.

Eu, se fosse um homem norueguês, estaria um bocado chateado porque o tal rapaz de 19 anos é sueco e deduz-se que o jovem sueco percebe mais de satisfazer uma mulher norueguesa do que um montão de homens noruegueses. Talvez a série sirva para incentivar os homens noruegueses a ter melhor desempenho. Se a moda pega, as mulheres portuguesas começam a caçar jovens espanhóis. Bem, pode ser que dê para dinamizar o turismo.

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O benefício de ter eleições agora

Talvez a idade já me pese, mas nem acho que valha a pena falar do caso dos alunos que foram reprovados pelo Ministério da Educação. É surreal. Se calhar, por causa das eleições o governo tem um incentivo para fazer alguma coisa para encerrar o assunto de forma justa.

Outra coisa que pode beneficiar das eleições agora é a pandemia. Já há vários sinais de que temos de continuar a ser vigilantes. Nos EUA, a nação Navajo é a comunidade com taxa de vacinação mais alta e, mesmo assim, estão a ter um número crescente de casos por terem contacto com áreas que não estão tão vacinadas. Que corra tudo pelo mlhor.

domingo, 7 de novembro de 2021

Vida de cão

Na Quinta-feira, o meu cão deu uma bela exibição do que não se deve fazer. A treinadora chegou com alguns minutos de atraso e sugeri que passeássemos todos porque o Julian não gosta de andar acompanhado por terceiros. Desatou aos pulos e quase que partia uma perna ou a cabeça, tal era a forma violenta com que aterrava. Depois apareceu um outro cão a passear e ele continuou a portar-se mal, puxava a trela, tentava roer, etc. A coitada da treinadora ficou muito assustada e já falava em eu ir com ele ao vet para o meter a calmantes. Cheguei a pensar que ela me dissesse que não tinha conserto.

Quando regressámos a casa e nos sentámos no jardim, ficou super-calmo, como se fosse um cão completamente diferente: veio para o meu colo e ficou sossegado enquanto eu conversava com a senhora. De vez em quando, ela olhavs para ele, meio-incrédula e sorria porque ele é bastante engraçado. Já lhe tinha explicado que o cão foi achado na rua e não sabemos a sua proveniência, mas não estava muito bem cuidado. Como ela tem experiência com cães abandonados, sugeriu que talvez este cão pertencesse a alguma rapariga que arranjou namorado e o cão não se deu bem com o namorado, logo ela abandonou o cão. E não é que é completamente plausível? Sempre que vem cá a casa um homem que parece estar interessado em mim, o Julian chega à perna dele e começa a montá-lo. Podia dizer que fico um bocado envergonhada, mas acho extremamente engraçado, só que não me posso rir à frente dos cavalheiros.

Perante a versão soft do Imperador Julian, a treinadora ficou mais animada e acha que vamos conseguir melhorar o seu comportamento. O meu trabalho de casa é treiná-lo a andar bem de trela dentro de casa, tem de andar ao pé dos meus pés, aprender a sentar-se em comando (ele já sabe sentar-se, mas não é muito consistente). Vou também comprar um spray de foromonas e vestir-lhe mais a camisola de trovoada. Para o ajudar a ficar sozinho sem ter acidentes (ele fica muito ansioso quando não está comigo), tenho de controlar o seu acesso a comida e água, que só deixo disponível por períodos de duas horas durante a manhã, o almoço, e o jantar. Esta é uma coisa que nunca tive problemas com os meu cães carlinos (pugs), pois esses comiam assim que a comida aterrava na taça, eu só tinha de a medir e dar a horas. O Julian gosta de comer quando lhe apetece, mas vai ter de mudar. Tudo isto vai ser conseguido à custa de muitas guloseimas. Que vida de cão, esta...

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Vida de rico

Contratei uma treinadora de cães para ajudar o Julian (o meu cão) a lidar com a sua ansiedade. Quem vai lidar sou eu porque isto é mais treinar-me a mim para eu o treinar, mas não sejamos puristas. A senhora veio recomendada por umas pessoas no NextDoor, que já a usaram e parece que é boa profissional. Contactei-a pela página do negócio dela no Facebook e demorou alguns dias a responder. Quando respondeu informou-me do preço: $90 por hora se ela vier a minha casa, mas se comprar quatro sessões pagas antecipadamente só custa $325, que pode ser pago por dinheiro, cheque ou Venmo.

Depois de mais um par de dias, escreveu a informar-me da sua disponibilidade. As únicas vagas que tinha mais para o final do dia eram Quinta-feira (o meu amanhã) e no dia 22 e tinha de confirmar antes das 18 horas porque senão ela dava-as a outra pessoa. Ena! O negócio está muito bom... Pois claro que sei que isto de se pagar $325 para treinar o cão menos de um mês depois de pagar mais de $500 pelo hotel para ele quando eu fui a Houston é vida de rico em Portugal. E eu bem digo que este cão é rico e eu esfolo-me a trabalhar para sustentar todo este conforto porque ele é muito exigente.

Feitas as contas, é bem mais do que o salário mínimo portugês de um mês, mas agora com eleições à porta pode ser que os amigos portugueses se decidam a não eleger partidos que, à boa maneira Salazarista, fazem voto de pobreza para o povo. Ser pobre não é virtude. Até o meu cão percebe isso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Influências

Parece que os unicórnios não existem ou, se existem, são muito difíceis de encontrar e se andássemos à procura deles eramos capazes de ver todos os tipos de cavalos, zebras, burros, mulas, etc. antes de encontrarmos um unicórnio. Isto para dizer que para haver uma empresa que se torne em unicórnio, é preciso haver milhares de outras que não o são e muitas das que não são falham pelo caminho, o que é problemático em Portugal. Por um lado, para falhar é preciso começar e o acesso a recursos é difícil; por outro, muitos dos que começam falham e falhar é visto como uma sentença de que a pessoa não é capaz de ter sucesso.

Apesar disto, nota-se que há bastante empreendorismo em Portugal e vê-se muitas mulheres que têm pequenos negócios online que conseguem captar audiências internacionais. A tendência dos pequenos negócios via Internet parece ser generalizada -- eu até sigo influenciadoras iranianas -- e acho-a bastante curiosa, pois contraria a ideia da competição entre empresas. Por exemplo, é comum ver-se influenciadoras que se apoiam umas às outras e através do trabalho de uma acabamos por conhecer outras parecidas (e complementares, até): em vez de competição, assiste-se a cooperação e talvez essa seja uma forma de se ganhar economias de escala para atingir uma audiência maior.

Nesta nova economia digital, muitas mulheres são as líderes e os namorados e maridos acabam a trabalhar para elas, e não é incomum que eles desistam das suas carreiras para as apoiarem. É como se estivessemos a assitir a uma inversão do modelo tradicional passado em que os homens tinham um negócio e as mulheres eram as secretárias. Como se costuma dizer, a história repete-se -- mas não exactamente da mesma maneira.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Mudança ou não?

Com o Carlos Moedas a "ganhar" a CML e mais recentemente o chumbo do OE no Parlamento, uma pessoa fica tentada a pensar que o país quer mudar de vida, mas não me parece. Não se procura mudança, mas sim continuação do mesmo, um sistema que entretanto se tinha deteriorado bastante. Mudar de liderança serve para ver se quem vem a seguir consegue fazer as coisas voltar para trás. É uma fantasia, quanto mais esforço dedicam a prolongar o passado, mais atrasado o país fica e mais incapaz é de cumprir as promessas feitas numa altura em que as coisas eram muito melhores do que agora.

Depois, todas as ideias que têm estão ultrapassadas. Após anos a fio de Websummit, ainda não há nada de concreto e positivo para o país; há apenas o custo do evento e a ocasional vergonha quando alguém mete o pé na poça. Mesmo assim, o Carlos Moedas sonha com unicórnios, o que só indica que o homem está atrasado uns 20 anos. O único unicórnio minimamente interessante para o país seria algo que combatesse a corrupção porque, enquanto não tratarem disso, o país continuará a ter bastantes recursos desviados para as mãos de quem não os merece.

Obviamente, que o mundo está em forte mudança e é muito difícil tentar adivinhar o que por aí vem, dado que o processe é inerentemente um de tentativa e erro. Se estivessem mesmo interessados em melhorar o país, duas coisas podem ser feitas: a energia tem de ser mais barata e as condições de vida do imobiliário têm de ser melhoradas, no sentido de os edifícios serem mais confortáveis em termos de temperatura e humidade. Com essas duas coisas, os portugueses seriam mais saudáveis e não precisariam de ir tanto ao médico.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Trick or treat!

Vi que o Presidente da Republica parece estar inclinado para agendar as eleições para depois do Natal. Acho bem e melhor seria se entretanto fizessem uma campanha para dinamizar o eleitorado, emigrantes incluídos, a votar. Marcelo tinha falado nisso quando andava a fazer campanha, mas ainda não vi medidas concretas. É uma vergonha que os portugueses não participem mais activamente nas eleições, quando todos os anos estão sempre prontos a celebrar o 25 de Abril; mas tenho de confessar o mea culpa porque, neste momento, tanto o meu passaporte, como o cartão de cidadão estão ambos fora de prazo--talvez o meu estado natural. Se não tivessemos a pandemia, já teria ido a Washington D.C. regularizar. Vou enviar um email ao consulado para ver se dá para tratar do assunto pelo correio.

Hoje é Halloween, a véspera do Dia de Todos os Santos, ou All Hallows Eve, e o fim-de-semana foi animado. Para a festa de ontem e as doçuras e travessuras de hoje, vesti-me de espanhola porque foi a única coisa que me veio à cabeça assim de repente e tinha quase tudo no meu roupeiro. Só faltava uma flor para o cabelo, mas depois de ir ao Walmart e ao Target e não ter encontrado o que queria, tive a sorte de passar por uma loja especializada em coisas para o cabelo das mulheres negras e vi uma mola com flores vermelhas e pintas brancas, o que combinava bem com o meu vestido. Como passei na loja mesmo na altura de fechar, o rapaz ofereceu-me a mola para o cabelo porque não se quis estar a chatear com o pagamento. Um dos meus vizinhos vestiu-se com um fato branco e uma peruca aos caracóis, penso que com a intenção de ser o John Travolta, mas quem ele parecia mesmo era o Marco Paulo e mostrei-lhe fotos e expliquei-lhe quem era. Achei super-engraçado. Durante a festa fiquei a saber do outro vizinho, que é gerente de uma loja, que estão a haver muitos roubos de mercadoria à luz do dia. Há pessoas que vão "às compras", enchem o carrinho e saem porta fora, sem que nada lhes aconteça. Mesmo quando o gerente lhes pergunta se vão pagar, os ladrões são honestos e dizem que não. As lojas têm medo que possa haver violência que leve a má publicidade ou a processos em tribunal, logo os gerentes não fazem nada por indicação da sede central. É uma situação que é transversal ao tipo de público das lojas: tanto acontece em lojas de luxo, como nas mais económicas. Lentamente, muitos estabelecimentos, inclusive mercearias e supermercados, estão a fechar nas zonas mais pobres, onde o problema é mais agudo. Os americanos ajustam o inventário com base na situação socio-económica da área geográfica da loja, logo as zonas menos afluentes têm produtos com menor margem de lucro, o que não permite absorver os custos dos roubos, por isso a estratégia preferida é a de fechar a loja. Mas não é a única razão, pois o mercado de trabalho nos EUA está muito apertado e é muito difícil encontrar empregados para trabalhar durante os turnos de dia. Apesar da pressão para os salários aumentarem, ainda há muita gente que prefere não trabalhar no comércio a retalho. A normalização pós-pandemia é um termo impróprio. Tanto a economia, como as pessoas mudaram bastante e é impossível regressar ao que se era. O melhor a fazer é identificar as inovações que aconteceram e ajustarmo-nos.