terça-feira, 16 de novembro de 2021

Lusocentrismo

Não aprecio a cobertura de Portugal que aparece no NYT porque resume-se a propaganda. Não sei se a culpa é do governo português ou da equipa editorial do NYT. Um dos artigos mais recentes é sobre a lei que impede os patrões de contactar os empregados fora de horas, ou seja, uma lei que introduz mais rigidez no mercado de trabalho.

Desde há quase dois anos que andamos nisto do trabalho remoto e algumas das coisas que ouço dos meus colegas é que apreciam a flexibilidade, gostam de poder passar mais tempo com os filhos, e as poupanças de tempo de gasolina também ajudam. Já aconteceu em conferências por telefone alguns (homens!) estarem a lavar a louça ou a preparar uma refeição, também têm a possibilidade de ir levar e buscar os filhos à escola, etc. Ou seja, em vez de se trabalhar as oito horas quase seguidas com intervalo de almoço, a gestão de tempo é mais fluída e os empregados ganharam alguma independencia de como organizar o seu dia. Desde que apresentem o serviço a tempo e horas, não parece que seja um problema ter um horário mais felixível.

Em empresas multinacionais, há também um outro aspecto a considerar, dado que parte da equipa pode estar espalhada por outros países. Recordo-me de uma vez ter uma reunião às 6 da manhã porque um colega estava na China, mas o mais frequente é os colegas dos outros países terem horários não-convencionais para poderem contactar com quem está nos EUA. Por exemplo, há um colega que está na Índia de quem nós dizemos, a brincar, não dormir porque está sempre a responder aos nossos emails. É no que dá ter pessoas na Índia, China, Europa, EUA, Brasil, Àfrica ocidental na mesma equipa.

Tudo isto para perguntar quem é que na sua supra-sapiência acha que vai atrair trabalhadores estrangeiros, como sugere o artigo, para ir trabalhar para Portugal, quando é proibido contactar a pessoa fora das horas de trabalho portuguesas? Uma empresa americana, que está pelo menos 5 horas atrasada relativamente a Portugal vai incentivar alguém a trabalhar de Portugal dada esta legislação?

E como é que a legislação vai ser aplicada? Quem vai fiscalizar? Como é que vão cobrar as multas? Suponhamos que havia realmente empresas estrangeiras que deixassem os empregados trabalhar de Portugal, que jurisdição teria Portugal sobre estas empresas para lhes aplicar multas?

Percebe-se esta tendência populista para ganhar votos perto das eleições, mas uma pessoa fica envergonhada com esta mania que o mundo gira em torno de Portugal.

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