domingo, 17 de setembro de 2023

Mandem para mim!

Se vocês não querem a estátua do Camilo a abraçar a Ana nua, podem enviar para minha casa. A sala de jantar está cheia de mulheres nuas porque faço colecção e é uma ideia bastante divertida ter mulheres nuas onde se come. E para bom entendedor, meia palavra basta...

Notas:
Bem sei que alguma da arte tem vidro que reflecte, mas foi porque as peças foram compradas assim. Os que comprei sem moldura e mandei arranjar estão com vidro anti-reflexo. Só em molduras para as três peças inferiores na parede da La Femme Nue gastei quase $1500 -- bem sei que é mais do que muitos portugueses ganham num mês, mas quem vos manda eleger governos incompetentes?

Ah, a escultura de alabastro comprei na Etsy e veio da Grécia. Encontro muito pouca coisa portuguesa por lá, mas já comprei uns tapetes.

Pois é, ensanduíchado entre os dois livros de fotografia do Richard Avedon estão dois livros do Tito Mouraz, fotógrafo português que eu adoro!

Sim, sim, a escultura por cima dos livros é parecida com uma gata, mas também é uma mulher nua porque cada um vê o que quer.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Por acaso, aconteceu e correu muito bem

A minha cabeleireira habitual cortou um dedo num prato partido, logo não me podia atender este mês. Lá fui ver se a Ulta tinha vaga no salão, apesar de já lá não ir há um ano. Deixei de ter paciência para pintar o cabelo em casa, é o que é. Também está na moda não pintar o cabelo, mas ainda não entrei nessa onda. Quando frequentava a Ulta com mais assiduidade, costumava marcar com uma senhora que até tinha ascendencia portuguesa, pois a família era de Macau. Depois ela mudou-se para a Califórnia porque o filho queria-a mais próximo dele, e deixei de ter alguém regular por aquelas bandas. Dixei de lá ir depois de ter sido atendida por um senhor de cujo serviço não gostei. Para além de ter mau hálito, era um bocado trapalhão e não me lavou bem a cabeça e não tirou a tinta toda, nem foi muito exacto a aplicar o produto em redor da cara, logo fiquei toda manchada.

Não tinha má impressão dos cabeleireiros homens, pois os anteriores que tive foram todos espectaculares, mas deixou-me pausa esta má experiência. Tentei marcar desta vez com uma mulher, mas a primeira que tentei não trabalhava no fim-de-semana; passei ao nome seguinte da lista que era um homem e tinha vaga para Domingo, o que para mim era perfeito, mas fiquei um bocado reticente, a pensar que podia ser mais outra má experiência.

Chegou o dia da minha consulta e à hora marcada fui ao balcão informar que já tinha chegado. O meu cabeleireiro mandava avisar pela recepcionista que ia chegar 10 minutos atrasado, mas na realidade o atraso foi de uns 20 minutos. Deram-me a garrafinha de água de praxe, e eu esperei. Quando chegou fiquei surpreendida que fosse um senhor negro, dado que nunca tinha visto um a trabalhar lá. Ainda por cima, constatei que eu nunca tinha sido atendida por uma pessoa de cor. Nunca me tinha calhado até então.

Perguntou-me qual a receita da minha cor e, realmente, a senhora que eu costumava ver tinha-me enviado a receita, mas não a guardei--também não a apaguei, mas a mensagem foi apagada nas limpezas de rotina para poupar memória ao telefone. Não me preocupou muito porque eu sabia que a receita também estava no sistema informático da Ulta e disse-lhe que estava no computador. Levou algum tempo, mas lá apareceu com ela, só que não a percebeu, não sabia que produtos usar, e havia uma cor que não estava em stock. Telefonou a outra cabeleireira a perguntar o que fazer e ela deu-lhe instruções, mas ele estava bastante ansioso acerca de toda a situação, a modos que eu também fiquei com uma boa dose de paranoia--e se ele me frita o cabelo? E se me deixa metade do cabelo por pintar? Etc.

Finalmente começou a pintar-me o cabelo e ficou muito surpreendido com a minha cabeça por ter tantos brancos -- que na verdade são prateados e brilham ao sol -- dado que eu era tão jovem. Ah, bom, o primeiro apareceu aos 25 anos e eu já não sou muito jovem, já tenho mais de 50. A sério, dizia-me, não me dava mais de uns 30 e poucos. Agradeci-lhe o elogio, apesar de achar que os meus 30 foram uma grande seca. Durante a aplicação foi bastante cuidadoso e muito exacto, a modos que não fiquei com a testa toda suja. Esperei os 45 minutos de praxe, durante os quais li a The Atlantic.

Quando me lavou a cabeça esfregou-me muito bem o couro cabeludo e ensaboou duas vezes. Depois aplicou um creme hidratante e esperou 5 minutos até enxaguar. Não gosto nada quando aplicam o amaciador e depois enxaguam logo a seguir, sem esperar que actue. Achei que a maneira como ele me lavou a cabeça foi das melhores que já tive e senti o couro cabeludo bastante limpo e sem vestigios de tinta.

Passámos à parte de secar o cabelo, mas eu trato o meu cabelo tão mal, devido ao uso de elásticos para fazer totós, que as pontas estavam bastante espigadas. Perguntou-me quem é que me aparava o cabelo e quando é que tinha sido a última vez (ele pensava que era eu, porque estava tão desnivelado). Na verdade, já nem me lembrava da última vez que tinha pedido para me darem um corte de manutenção, mas se ele quisesse e pudesse cortar, eu agradecia. Lá passou ao corte e ficou bastante bem, com um escadeado muito natural.

Conclusão, apesar dos solavancos com a progressão do serviço, o produto final foi excelente. Espero que fique no salão por bastante tempo porque eu gostaria de o ver novamente.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Joaquim Feio (1952-2023)

Mutatis mutandis, faço minhas as palavras do Fernando Alexandre no Facebook:

Foi com o Professor Joaquim Feio que tive algumas das melhores aulas de Economia na FEUC. Nas aulas de História de Pensamento Económico, uma opção a que assistíamos uma meia dúzia de alunos, dizia-nos que as aulas dele eram uma espécie de BBC, canal cultural. A aula sobre fisiocracia foi uma das melhores aulas a que já assisti. Foi com ele que conheci Albert Hirschman ou Peter Drucker - por causa dele li uma fascinante autobiografia de Drucker. Sobre Keynes, que idolatrava, aprendi muito dentro e fora das aulas, dado que o Professor Feio partilhava generosamente o seu enorme conhecimento com os alunos que nele estivessem interessados. Tive também o privilégio de ter longas conversas com ele, com as quais muito aprendi sobre economia e sobre muitos outros assuntos. Uma das pessoas verdadeiramente cultas com que me cruzei na academia e muito importante na minha formação. Foi com muita tristeza que tomei conhecimento da sua morte.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

A americana é do piorio

Dizia um nosso ilustre leitor, há uns posts atrás, que a Rita portuguesa era mesmo bem portuguesa porque se tinha atrasado na submissão do forumulário de IRS. Coitadinha da Rita portuguesa, uma santinha, ou não tivesse ela o nome de duas, que até doente tentou entregar a tempo, mas a página de Internet da AT levou-a pelos maus caminhos. Mesmo assim só entregou com horas de atraso.

Já a Rita americana em vez de tratar dos impostos a tempo e horas, que este ano até era a 17 de Abril, porque o tradicional dia 15 calhava no Sábado, andou a engonhar e, uns pares de dias antes, enviou um email para o seu contabilista a pedir para entregar um pedido de extensão do prazo. Depois levou meses a tratar da coisa. Só tratou no último dia de Julho e foi porque o contabilista lhe disse que era melhor tratar antes de ele ir de férias, senão ela tinha esperado até Outubro, quando terminasse o prazo da extensão, preguiçosa como é, só faz aquilo que lhe agrada. Como hoje.

Hoje, quinta-feira, dia do relatório semanal das exportações agrárias americanas, que sai às 7:30 da manhã, a Rita americana já estava em frente do computador minutos antes, até porque também sai, à mesma hora, o mapa de monitorização da seca. É um dia espectacular, com tanto número e mapas coloridos com que brincar. Então a Rita americana passa o dia inteiro a pastorear números e a enviar emails e mensagens com quê, perguntam? Ora, mais números.

Já passava das 17:30 quando a Rita americana se apercebeu que já ia além da hora de terminar o serviço, mas que felicidade! E ainda estava esperta que nem uma alface salpicada de gotas de orvalho, aliás, pensava ela que ainda nem eram 15:00. Os olhos já estavam cansados e secos, as pernas precisavam de dar um esticão, mas a Rita americana insistia que não: ainda era preciso processar mais outro relatório, o da CFTC que saiu à tarde, e enviar mais um email à equipa a pedir comentários para o relatório que vai ser finalizado no Domingo de manhã -- é ao Domingo para ter a informação meteorológica mais actualizada para a próxima semana. Há quem vá à missa, a Rita americana vai ao Microsoft PowerPoint, o que dá no mesmo.

Por ano, a Rita americana tem direito a duas semanas de baixa médica, mas na semana dos impostos portugueses, quando estava febril e quase a delirar, não tirou sequer uma hora. E férias? Tem direito a 4 semanas de férias por ano (20 dias úteis), mais dois dias por motivos pessoais, e ainda só tirou 4 dias e meio o ano inteiro. E as férias de Setembro, que estava a planear fazer, a Rita americana já as adiou até Outubro, mas ainda nem sequer comprou o bilhete de avião. Ao menos, quando chegar a Outubro, já não terá de entregar os impostos.

É do piorio, a Rita americana. Só faz o que lhe dá na telha e não tem vergonha de andar sempre a adiar coisas.