sexta-feira, 26 de julho de 2024

Ballet de um lado, breakdance do outro

Na Quarta-feira, o Netanyahu foi ao Congresso americano dar um discurso surreal no qual tentou justificar a morte dos civis palestinianos às mãos das manobras militares de Israel. A CNN fez a verificação dos factos apresentados e claro que dizer que houve muito embelezamento é eufemismo que indica que ele mentiu com todos os dentes que tinha.

Noticia o NYT que foi aplaudido por Republicanos. No lado dos Democratas, houve um boicote parcial, com Nancy Pelosi e Kamala Harris ausentes (Harris indicou ter conflito na sua agenda), juntamente com "duzias de Democratas. Até assessores de Esquerda meteram baixa médica para não terem de assistir ao discurso ou saíram em protesto com óculos de sol e máscaras a encobrir a sua identidade. Nancy Pelosi designou o discurso como "by far the worst presentation of any foreign dignitary invited and honored with the privilege of addressing the Congress of the United States." Na rua, protestos contra a guerra em Gaza.

Hoje, Quinta-feira, Kamala Harris reuniu-se com Netanyahu e defendeu que Israel institua um cessar fogo o mais depressa possível e negoceie a libertação dos reféns. Também disse que a dimensão da violência contra crianças e outros civis não é aceitável e que ela não se iria calar: “The images of dead children and desperate, hungry people fleeing for safety, sometimes displaced for the second, third or fourth time — we cannot look away in the face of these tragedies, we cannot allow ourselves to become numb to the suffering, and I will not be silent.”

Ou seja, nota-se que há um nível incrível de coordenação entre o partido e a candidata, e a política de Biden, bastante deferencial para com Israel, está a ser abandonada. É impossível não pensar que a médio/longo prazo os americanos irão ser alvo de ataques terroristas justificados pelo apoio que deram a este conflito de Israel--é isso que a história nos indica e, a julgar pelo sentimento anti-americano que se observa nas redes sociais, este conflito é uma ferramenta para recrutar futuros terroristas.

O anúncio do candidato a VP de Kamala Harris deverá ocorrer a 7 de Agosto; até lá vamos andar na expectativa, ou seja, toda a máquina mediática estará a cobrir o lado dos Democratas e Trump, se só tem as birras do costume, terá pouco apelo. No entanto, é esperado que Trump meta um processo em tribunal por causa da substituição de Biden e de Kamala estar a usar o dinheiro dessa campanha, o que lhe confere maior vantagem do que se tivesse de começar a angariar fundos do nada.

Quanto à escolha de VP, da lista que está a ser apresentada, eu acho que Mark Kelly do Arizona e Roy Cooper da Carolina do Norte são os mais prováveis. Dos dois, Roy Cooper tem aspecto físico mais convencional, é grisalho e parece um avôzinho como o Biden, características que foram benéficas para Obama.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Eu feminista lusitana

Surpreendentemente, quase todas as minhas amigas feministas de Houston preferem Biden a Harris, o que não consigo compreender de todo. É que não faz sentido, nem sequer se alinha com os valores que professam e não estou a falar apenas da questão de ela ser mulher e ele ser homem. Há também que notar que fisicamente ele não é capaz de exercer a função de Presidente. Eu acho cruel esperar que um octagenário tenha de se sujeitar a uma coisa tão árdua só porque nos dá um quentinho na barriga saber que um velhinho simpático vela por nós. (Esta preferência deve ser influência daquela ideia antropomorfizada de Deus, que muita gente acha ser um idoso de barbas muito carinhoso.)

Só ainda não falei com a minha amiga que tem 99 anos, mas aposto que ela ficou muito feliz porque, a última vez que a vi, no mês passado, ela disse-me muito desanimada que se calhar ele não ia ganhar. Eu não respondi que ele estava demasiado velho porque ela é mais velha do que ele, mas ela está lúcida e tem clara noção do que não é capaz. Biden já passou desse ponto.

A modos que nas últimas semanas tenho passado parte do meu tempo a argumentar que Biden não era bom candidato com algumas das minhas amigas de Esquerda, pessoas que frequentemente entram em diatribes contra o patriarcado e se identificam como feministas ferrenhas. E desde que Kamala foi elevada a candidata, as minhas amigas têm estado num silêncio que mais parece um luto, enquanto que eu irradio felicidade. Espero que acordem para o mundo um dia destes e me voltem a dar lições do feminismo americano. Não que eu precise porque o meu feminismo foi cunhado no pós-Revolução dos Cravos e é forte na minha pessoa.

terça-feira, 23 de julho de 2024

A diferença de um dia

Parece que nem foi há pouco mais de 24 horas que Kamala Harris se tornou a candidata. Hoje, jornais e revistas, que até há poucos dias se enchiam de notícias a ilustrar os defeitos de Harris, estão cheios de artigos a seu favor. E até ficámos a saber que Trump doou dinheiro duas vezes quando ela era candidata a District Attorney General na California e ela teve o discernimento de devolver os cheques, cujas imagens já rodam convenientemente nas redes sociais.

As doações estão a entrar em massa para o ActBlue, que conseguiu angariar $47 milhões nas primeiras 7 horas a seguir ao anúncio de que Harris era a candata e nas 24 horas atingiu $81 milhões. Eu fiz uma doação simbólica de $50, mas estou a contar dar mais. Quando Biden foi candidato em 2020 não dei nada, só dou a mulheres porque há que discriminar homens para manter o universo em equilíbrio.

Mas nem todos estão felizes, o Michael Bloomberg não está entusiasmado com Harris, diz que a decisão tem de ser democrática, mas pode-se argumentar que foi democrática, dado que ela estava incluída nas primárias com Biden e o entendimento era que se ele saisse, entrava ela. É lógico que podia haver outros candidatos, mas por enquanto ainda ninguém se chegou à frente, talvez sinal de que há coordenação dentro do Partido Democrata para não dividir ainda mais as opiniões e manter a unidade, unidade esta que tem sido a nota dominante desde ontem à tarde, quando foi feito a anúncio. A competição parece que vai ser em termos de quem ela escolherá para ser o número dois e o mais provável é que seja alguém mais convencional, tal como Obama escolheu Biden.

Com esta mudança, quase que nos esquecemos do atentado a Donald Trump e de que este escolheu J.D. Vance. Ou seja, talvez a crise dos Democratas tenha dado jeito porque retirou mediatismo às cenas do Trump, que estavam a começar a aquecer. Agora todos estarão focados em quem será o número dois de Harris e depois na Convenção Nacional dos Democratas que se realizará de 19 a 22 de Agosto, em Chicago.

domingo, 21 de julho de 2024

Habemus candidatum

E porque eu estou no Tennessee, tinha de ser:
The 77 Democratic National Committee delegates from Tennessee unanimously voted to endorse Kamala Harris for president during a conference call on Sunday afternoon, according to William Owen, a Democratic National Committee member who participated in the call. Owen said the vote made Tennessee the first state delegation in the country to formally back Harris for president.

Fonte: The New York Times

Um problema sanado

Soubemos há escassas horas que Biden desistiu da corrida à Casa Branca. Inicialmente não recomendou nenhum candidato, mas em menos de uma hora disse que apoiava Kamala Harris, a sua Vice-Presidente. Esta acabou de anunciar há momentos que tencionava candidatar-se e "obter e ganhar" a nomeação do Partido Democrata. Não se sabe o que decorreu nos bastidores de toda esta acção, que culminou num bailado bem coreografado e completamente desfazado do caos dos últimos meses, mas tem havido uma incessante pressão de Senadores e outras figuras importantes do Partido Democrata para que Biden desistisse.

Parece-me -- e isto é inteiramente especulação da minha parte -- que o cenário mais provável é que Biden tivesse sido encurralado: ou desistia ou era destituído porque a Amenda 25 da Constituição dos EUA, secção 4, permite que o Presidente seja removido se estiver incapacitado. É difícil de argumentar que alguém que pareça mentalmente incapacitado para ser candidato tenha perfeita capacidade de estar à frente do país durante os próximos seis meses, logo é provável que a sua destituição fosse o Plano B, caso ele não retirasse a sua candidatura voluntariamente.

Depois de uma presidência de Trump caracterizada pela sua omnipresença mediática e nas redes sociais, o país e o resto do mundo respiraram de alívio por Biden ter sido mais discreto; mesmo as gafes inicialmente tinham um teor de divertimento, o mesmo que se tinha desenvolvido durante a Presidência de Obama a respeito do seu Vice-Presidente, que se concluia ser um bonacheirão. No entanto, todo este resguardo não permitiu que o público, o partido, e o Congresso tivessem conhecimento directo da deterioração cognitiva de Biden, ou seja, pouca justificação haveria para o retirar. Se ele tivesse decidido não concorrer, tudo teria acabado pelo bem, sem que ninguém se apercebesse que nos últimos meses já não estava bem. Mas com a decisão de se candidatar outra vez, tal desenlace tornou-se improvável, quiçá impossível.

Ou seja, não parece que o Partido Democrata tenha cometido fraude ao permitir que Biden fosse candidato porque quando Biden se tornou Presidente, deixou de ter um papel de líder partidário, logo não tem um contacto directo com a máquina partidária, nem com o Congresso, pois esse contacto é feito através das pessoas em seu redor. De vez em quando podem haver reuniões ocasionais em que se procura uma sintonia política, mas não costuma ser uma coisa que o Presidente faça pessoalmente. Por exemplo, durante a Administração de Obama, quem liderou as reuniões com o Congresso para negociar o Affordable Care Act (Obamacare) foi o Vice-Presidente Biden, não foi o Obama, logo há bastante margem para a equipa da Presidência proteger a imagem do Presidente. O mesmo já tinha sido feito durante o segundo termo de Ronald Reagan.

Até com a Vice-Presidente, Biden parece ter tido pouco contacto, o que foi racionalizado nos media como sendo mais ilustrativo das falhas da Vice-Presidente Kamala Harris do que das limitações de Biden. Depois também poderia ser uma decisão política que era justificável a partir do momento em que ele se recandidou à Presidência. E como era uma recandidatura e, no essencial, parecia ter tido um primeiro termo de sucesso, concorreu às primárias sem grande esforço e sem necessidade de participar em debates ou fazer algo mais do que ler discursos porque não havia outro candidato concorrente.

Finalmente, Biden teve um desempenho excepcional no discurso do Estado da União, a 7 de Março, logo mesmo que houvesse rumores ou dúvidas, ele conseguiu dissuadir muitos descrentes. Mas sendo uma campanha um exercício de mediatismo acima de tudo e com a cobertura da comunicação social 24/7, é muito difícil esconder a verdadeira situação de Biden durante muito tempo, até porque o próprio esforço físico necessário para ser um candidato eficaz contribui para o problema, que agora parece ter sido sanado para efeitos da eleição.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Sem piedade 2

Ao final da tarde, os telefones celulares inundaram-se de notificacoes a anunciar o cancelamento de um discurso de Biden devido a este ter testado positivo a Covid. Os jornais ainda estao cheios da imagem de Trump de orelha baleada a levantar-se e a erguer o braço tal fénix renascida das cinzas, e eis que Biden, o homem mais poderoso do mundo e supostamente quem nos irá salvar do caos de Trump, nem um discurso pode dar em pleno seculo XXI, estando tantos de nós equipados para trabalhar remotamente.

Se dúvida existia antes, agora a podemos dissipar: os Deuses gastaram toda a sua piedade.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Sem piedade

Trump anunciou hoje que o seu candidato a Vice-Presidente é J.D. Vance, o autor da Elegia aos Saloios do Monte, que traduziram para português como "Lamento de uma América em Ruínas." Quando Trump foi eleito, este livro ficou famoso por "explicar" o efeito Trump e nessa altura o autor distanciava-se do novo presidente. Agora a cantiga é outra e Vance vai ser o número dois, o que agrada a um montão de gente, para além de agradar ao lobby do Business.

Vance nasceu no Ohio, na região da Apaláchia, que é uma cordeira montanhosa que atravessa três países (EUA, Canadá, e território da França). Nos EUA, estas montanhas vão do Alabama até ao Maine, e atravessam um total de 20 estados mais D.C.

Biden está mais do que lixado. A única hipótese que os Democratas têm é de o despachar e arranjarem um candidato de um estado mais conservador e forte, penso que o ideal seria alguém do Texas e para VP uma pessoa de outro estado púrpura, talvez o Michigan ou, se forem mais agressivos, Ohio.

Se Trump ganhar, não me admiraria nada que os Republicanos o despachassem e metessem o Vance na Casa Branca. Decerto que ele conseguiria governar um termo e depois ganhar um segundo, ou seja, teremos pelo menos dois termos Republicanos.

Agora vamos ver o que os Democratas vão fazer. O facto de Trump ter anunciado o candidato a VP antes pode dar-lhe apenas uma vantagem temporária, mas se os Democratas não jogarem à altura, não há piedade que os salve.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Lord, have mercy!

No Sábado ao fim da tarde, estava quase a sair para jantar com uns amigos quando saiu a notícia de se ter ouvido uns estalos durante um comício de Trump. Alguns minutos depois, recebo uma mensagem no meu grupo de amigas de Houston que indicava que ele tinha sido atingido e que tinha sido retirado do palco pelos serviços secretos com uma orelha em sangue. Não me afectou muito, apenas pensei que era karma: "it couldn't have happened to a better person" ou quem com o ferro fere com o ferro é ferido.

Fui para o jantar na baixa de Collierville, TN, uma cidadezinha nos suburbíos de Memphis, que tem uma Downtown muito engraçada, uma praça quadrada com um jardim e um gazebo no meio. Em redor, lojas e restaurantes locais. Eu e um casal amigo íamos jantar ao Raven and Lilly, um restaurante nessa praça que tem um frango frito confeccionado sem glúten que supostamente é muito bom, mas eu achei por bem pedir o prato especial do dia e que era um linguado com batatas assadas e umas hortaliças caramelizadas.

Quando nos sentámos à mesa e começámos a conversar, depressa animámos e a empregada teve de vir várias vezes ver o que queríamos comer porque nos distraíamos e não líamos o menu. O motivo da boa-disposição foram as piadas. A certa altura, ele com um brilhinho nos olhos diz-me "Have you heard? Trump got shot in the ear. You think he heard it coming?" Comecei a rir (quer dizer, ainda não parei, mais de 24 horas depois), enquanto a esposa revirava os olhos e dizia "Lord have mercy!" Os meus amigos são americanos e ambos republicanos, mas pelo menos o marido não tem grande apreço por Donald Trump; não faço ideia em quem ele vai votar, mas ela disse que entre Biden e Trump votava Trump.

Volta o marido à carga: "I guess Biden's eyesight must not be that bad..." Eu e ele desmanchava-nos a rir e ela "Lord, have mercy! Lord, have mercy!"

quarta-feira, 10 de julho de 2024

À segunda…

Em menos de dois meses, Houston está outra vez paralizada, desta vez por causa do furacão Beryl; antes foi por causa de tornados que passaram pelo centro da cidade, que é a quarta maior metrópole dos EUA e extremamente importante para o mercado energético. Se na primeira vez, em meados de Maio, alguns dos meus amigos ficaram sem electricidade, mas vários estavam bem, esta semana quase todos ficaram às escuras. Eles e mais de três milhões de pessoas na área metropolitana de Houston ficaram sem eletricidade e, 48 horas depois da tempestade, mais de um milhão ainda estão sem.

Num ano de eleições, é, no mínimo, mau sinal e a mensagem de Biden de que tudo está óptimo não corresponde à vivência das pessoas, ainda por cima porque ele não tem um plano de infraestrutura para lidar com desastres naturais. Passou legislação para agilizar a transição para energias alternativas, mas parece que isso foi mais uma forma de debilitar a China economicamente do que uma preocupação com o ambiente.

Quando vim estudar para os EUA, em várias cadeiras de economia e negócios, parte da matéria era sobre "case studies" industriais e uma das indústrias focadas era a automóvel, para tentar perceber como a política proteccionista seguida pelos americanos nos anos 70 e 80 não só não ajudou as empresas americanas, como acabou por criar oportunidades para as empresas japonesas. A politica industrial americana actual tem uma filosofia idêntica à anterior e não se pode dizer que seja da autoria de um só partido porque tanto Trump como Biden seguem políticas proteccionistas.

À primeira não aprenderam a licão, talvez à segunda.

segunda-feira, 8 de julho de 2024

A culpa é do Senhor

Na entrevista de Biden com George Stephanopoulos, a tal que ele deu para tentar convencer a malta que ainda esta mentalmente competente, Biden indicou que só sai da presidência quando Deus Nosso Senhor lhe disser para sair, como se o cargo lhe pertencesse por direito divino. Trump também acha que tem direito à Presidência independentemente da vontade do eleitorado. E quando Trump avança ideias deste tipo, invoca-se que os EUA são uma república e não uma monarquia, que o presidente serve pela vontade do eleitorado, que os resultados das eleições devem ser respeitados, etc. Ainda não vi ninguém invocar estas razões para refutar o que Biden disse. Talvez a culpa seja do Senhor, que ainda não enviou o memorando nem a Biden, nem aos jornalistas.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

Menos mal

A ideia de Biden como candidato viável está quase a zero, o que me apraz bastante por várias razões. Por uma questão de humanidade, ele deve reformar-se porque já não está em condições físicas, nem mentais. Não é que seja o primeiro PR a estar assim, mas quando Reagan já estava fora do prazo não havia notícias 24/7 e dava para o esconder a verdadeira realidade. Agora não dá. Votei nele, mas achei-o sempre um candidato medíocre e como Presidente não o acho grande coisa. Quanto à economia estar bem, está bem apesar dele, não por causa dele. O mundo que Biden vai deixar é mais perigoso do que o que Trump deixou.

Há duas semanas fui a Houston e tive oportunidade de falar com as minhas amigas. Já não acham o Biden uma boa ideia e nem acham que ele consiga vencer Trump. No ano passado, discordavam de mim tão ferozmente que deixei de participar nas reuniões de Zoom semanais. Que tenham mudado de ideias diz-me que há pessoas que poderão votar nele, apesar de não o acharem capaz.

Depois de Houston, dei um pulo ao sul do Texas, estive em Corpus Christi e andei por lá de carro, cheguei a passar por Harlingen, que é bastante próximo da fronteira com o México. Aliás quem me lê deve estar prestes a ficar ao corrente desta região porque o furacão Beryl está a caminho de onde estive. Na minha viagem vi apenas um poster pró-Trump e pró-MAGA, o que achei bastante engraçado e também surprendente.

Engraçado porque era um poster ao pé de uma empresa que processa o algodão depois da colheita (separa o caroço da pluma) e quando Trump foi presidente o preço do algodão caiu bastante depois de ele iniciar a disputa comercial com a China. Apesar de não achar lógico que se vote em Trump, acho surpreendente que se veja tão pouco apoio, ou talvez ainda seja cedo. Talvez as coisas comecem a ficar mais interessantes daqui a uns dois meses--sim, já estão, mas isto tem potencial para muito mais.

Com a reviravolta do apoio a Biden, é natural que se vá prestar mais atenção à bota que os Democratas terão de descalçar, pois isto é uma oportunidade de demonstrarem que são moralmente superiores aos Republicanos. Pessoalmente, nem acho que seja uma questão de apenas arranjar outro candidato, pois o Biden deveria ser afastado da Presidência o quanto antes porque demonstrou publicamente que está incapacitado para o cargo. Mas se Kamala Harris chegasse a Presidente, isso seria quase que nomeá-la candidata e não me parece que o queiram fazer. E isso vale por duas razões pelas quais acho Biden um mau Presidente, pois não preparou ao sua Vice-Presidente para uma sucessão, nem sequer mentalizou o país que é necessário haver uma mulher presidente.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

Direito por linhas tortas

A última decisão do SCOTUS (Tribunal Supremo) a gerar polémica é a de Segunda-feira que afirmou que, em princípio, um presidente está imune de ser processado por actos oficiais, mas pode ser processado por actos que caem dentro da esfera privada enquanto cidadão. A decisão da maioria foi escrita por John Roberts, o Presidente do SCOTUS, que, apesar de ter sido nomeado por um Presidente Republicano, nem sempre se alinha com a ala conservadora do tribunal. A opinião discordante e os jornalistas vêem isto como uma ampliação dos poderes do Presidente, o que, caso Trump seja reeleito, acham prejudicial para o país.

Concordo com o Roberts e discordo bastante da reação quase histérica que assolou o país. Durante a primeira Presidência de Trump, ele referiu várias vezes que tinha imunidade plena, dado que era Presidente. Ou seja, do ponto de vista do comportamento dele não irá haver qualquer mudança, dado que ele não fazia distinção entre assuntos oficiais e privados antes--era tudo oficial.

Mas com esta decisão, Roberts abriu a porta para que o Presidente seja processado não só quando um acto é do foro privado (ou seja, nem tudo o que o presidente faz é oficial, uma contradição direta da filosofia de Trump), mas também quando há dúvida que um acto possa não ser oficial; esta área cinzenta antes era quase uma de imunidade presumptiva e agora já não é.

Se tivermos de gramar com Trump outra vez, é certo que o irão arrastar pelos tribunais ainda mais do que antes.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Um progresso estranho

Não gosto da Inteligência Artificial. Não tenho mada contra o progresso, mas da maneira como as coisas estão, parece que estamos a regredir. Há dias, tive de colocar o meu telefone em modo "pessoal" para não receber telefonemas de pessoas que não constassem da minha lista de contactos, isto porque tenho estado a receber à volta de 20 chamadas por dia. São quase todas de telemarketers, em que me dizem que eu tenho direito a subsídios para me ajudar com as despesas de mercearia, casa, etc. No início, ainda tentei explicar ao fulano que me estava a telefonar da India que não tinha direito a nada. Ele insistia e dizia que trabalhava para o governo federal e sabia que eu tinha direito. Eu perguntava se ele era americano e ele dizia que não e eu respondia que então não podia trabalhar para o governo federal. E andávamos nestes rodopios verbais até eu desligar o telefone.


Entretanto, vi noticias que umas das tendências do uso da Inteligência Artificial é a criação de vozes idênticas às das pessoas. O Instagram está cheio de vídeos com audio que oarece ser as "vozes" do Anthony Hopkins, Morgan Friedman, etc., mas nenhum deles leu o texto; foi tudo gerado por um computador. Fui às preferencias para tentar optar não ter posts com Inteligência Artificial, mas não há essa opção em lado nenhum. Depois pensei que se calhar alguns destes telefonemas dos telemarketers estavam a gravar a minha voz para depois usar para roubar a minha identidade. É que a minha informacao está toda na Dark Web devido a roubos de informação de bancos com os quais tenho conta, a minha e a de toda a gente por estas bandas. É só uma questão de tempo até os pontos se unirem.


Tenho saudades da Internet do início do século; nessa altura, podíamos confiar na opinião dos internautas; aliás, nem se comprava nada sem ir ver o que diziam as opiniões postadas no epinions.com, uma página que agora já não existe. Quando leio as avaliações dos consumidores agora não sei o que é real nem o que é manipulado. Mesmo o marketing online, já nem dá para saber que vendedores são legítimos, nem quais são os desonestos que tentam roubar o nosso número do cartão de crédito, ou que vendem porcaria, etc.

Durante a maior parte da minha vida, progresso significava algo melhor, mas agora já não. Imagine-se o que irá acontecer à Internet quando qualquer totó puder usar a inteligência artificial para implementar qualquer maluqueira que lhe passe pela cabeça. Nem estamos muito longe de descobrir: até às proximas eleições presidenciais a tecnologia evoluirá o suficiente para tornar as eleições num caos maior do que o costume.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

Eficiência!

quinta-feira, 30 de maio de 2024

The Good, the Bad, and the Ugly

Há uns dias, calhou ir ao Portal das Finanças e eis a minha surpresa quando encontro um lembrete a dizer que está para pagamento o IMI e eu podia consultar os documentos que me permitiriam pagar a prestação. Desta vez não era preciso porque o meu procurador já tinha enviado, mas fiquei feliz de ver o Portal das Finanças mais organizado do que o costume. E hoje recebi correspondência electrónica do lar onde o meu pai vive com uma carta do Ministério da Saúde a indicar que estava em falta o pagamento de taxas moderadoras dos cuidados de saúde que o meu pai recebeu desde 2020. Devia quase 126 euros. Não percebo a razão de terem demorado tanto tempo para pedir o pagamento, mas talvez tenha a ver com a mudança de governo. Dá-me a impressão, bastante alicerçada por estes dois eventos, que as coisas estão mais fluídas, o que acho realmente bom.

No entanto, há um aspecto mau na história das taxas moderadoras. Para mim, o pagamento de 126 euros é trivial, mas imagino que tal não seja para muitas famílias e idosos, logo não é razoável que o estado deixe acumular os pagamentos referentes a quatro anos. Há, também, um outro aspecto estranho. Que aconteceria a esta dívida se o meu pai já não estivesse vivo? O Ministério da Saúde deveria ser mais diligente em manter todas estas contas em dia.

Por fim, uma coisa extremamente feia que a Nicky Haley fez: escreveu "Finish them!" em bombas que vão ser usadas pelo exército israelita. Dado o histórico deste exército, que é um dos mais sofisticados do mundo, em encontrar alvos civis e humanitários, em vez de alvos terroristas, é completamente incompreensível o que ela fez. E chateia-me ainda mais porque eu votei nela nas primárias presidênciais. Como é que uma mulher, ainda por cima que foi Embaixadora junto das Nações Unidas, faz uma coisa destas? Não tem desculpa. Acho que vou ter de lhe escrever a reclamar.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Inclusividade

"Estes resultados foram resultado do esforço dos portugueses e de uma visão muito firme e determinada do anterior Governo em prossegui-los. Lamento a atitude de vários, que vejo hoje, que não hesitam em pôr em causa a credibilidade do país para obter ganhos políticos simplesmente para atacar o anterior Governo e socorrem-se de tudo", declarou Fernando Medina.

Fonte: Notícias ao Minuto, 14 de Maio de 2024

"Resultados que foram resultado" são sempre bem-vindos e claro que é de louvar haver governos que "prosseguem" resultados. Também gostei "da perperplexidade com que alguns dos meus ex-colegas assistiram ao que assistiram". É bom ter pessoas que falam assim chegar a ministros: dá um ar de inclusividade aos governos portugueses. Finalmentente, a sentença de incompetência dos técnicos da UTAO é-me particularmente cara porque demonstra que para ele a UTAO deve ser uma entidade que avaliza as decisões do governo, em vez de fazer uma apreciação independente, o que também contribuiria para a tal inclusividade.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Montanha russa à vista

Na semana passada saíram as intenções de plantio das colheitas para 2024 nos EUA. De acordo com os resultados do inquérito da USDA, os agricultores americanos planeiam plantar uma área menor. Pode ser que os preços dos futuros do milho e da soja os tenham desencorajado, mas a minha opinião pessoal é que com as eleições à porta e a possibilidade de Trump voltar à presidência é arriscado plantar. O maior parceiro comercial dos EUA na agicultura é a China e quando Trump esteve na presidência desencadeou uma disputa comercial que deprimiu os preços das commodities. Concluo então que, ou os agricultores acham que Trump vai ganhar, ou têm a certeza que ganha pois para ganhar basta as zonas rurais votarem nele.

Apesar da economia americana estar bastante sã, o que beneficia outros países, a guerra contra a inflação ainda não está ganha e uma presidência Trump irá criar um ambiente inflácionário, dada a história da última presidência dele antes da pandemia. Sendo assim, dificilmente se criará condições para as taxas de juro baixarem, a não ser que haja um choque imprevisto.

Para Portugal, as maluqueiras de Trump até poderão ser benéficas porque o número de americanos que irá dar à sola aumentará de certeza, e muito provavelmente alguns irão para aí. Sim, irá ser inflacionista e os locais irão perder poder de compra, mas o lado bom é que a dívida pública irá baixar mais depressa. Só que também implica que será mais oneroso emitir nova dívida pública.

Os recentes bons resultados do excedente orçamental já geram discussões sobre políticas redistributivas. O que a história recente de Portugal nos ensina é que tais políticas acabam sempre por criar dívida pública, pois políticas redistributivas têm efeitos estruturais, apesar da decisão de as implementar ser baseada em resultados que se revelam conjunturais.

quinta-feira, 21 de março de 2024

Género indeterminado

Hoje, quando estava à espera que me trouxessem o meu cão da creche no PetSmart, apareceu uma das empregadas que vinha apresentar a "filha" à empregada que me estava a ajudar. Quando apresentou a filha, disse "This is my daughter, well, I dont know what to call her because she's binary." E cumprimentaram-se todas ou talvez todes ou tod@s e depois despediram-se. Achei muito gira a forma muito natural como a mãe apresentou a cria binária e pensei logo que tinha de vos contar. Depois lembrei-me que não sabia como seria este diálogo em português: será que a cria seria binária ou binário?

domingo, 17 de março de 2024

O bom e o mau

No resultado das eleições de Portugal, dava jeito que os votos dos emigrantes fossem contados mais rapidamente. Mas pronto, talvez assim percebam o quão dificil é contar os votos dos americanos que até demoram menos tempo a ser contados do que os votos do emigrantes portugueses. Outra coisa a considerar é que não é muito democrático Portugal ter uma política oficial de captação de investimento dos emigrantes, ao mesmo tempo que o número de deputados que os emigrantes podem eleger para o Parlamento é insignificante. Isto devia ser corrigido numa revisão constitucional.

Independentemente da contagem final, a Direita conquistou mais votos do que a Esquerda, o que é um resultado bastante saudável em Democracia, dado que o PS já governa há oito anos e corria-se o risco de Portugal se tornar numa pseudo-ditadura de Esquerda, dado que desde 1991, só dois governos de Direita (1991 e 2011) conseguiram terminar um mandato completo vs. quatro da Esquerda. É natural que, à medida que um partido governa, se crie algum desgaste, que leve os eleitores a mudar de opinião, só que em Portugal isto raramente tem acontecido, pois, curiosamente, as maiorias tendem a acontecer em mandatos que não o primeiro.

O facto de o Chega ter acumulado tantos votos com uma plataforma eleitoral considerada anti-democrática é visto por muitos como uma mancha negra no projecto democrático português, mas não é assim tão mau. O aumento de popularidade de valores da extrema Direita está em ascendência em vários países, logo o Chega não é um fenómeno original e nem sequer é muito expressivo, pois em percentagem de votos tem menos popularidade do que noutros países--em França, a Marine Le Pen teve 23,2% de votos na primeira ronda e na segunda aumentou para 41,5%. Por outro lado, a atitude de muitas pessoas de Esquerda em Portugal, que não conseguem conceputalizar um país governado legitimamente por partidos tanto de Esquerda como de Direita está ao mesmo nível democrático de muita retórica dos extremistas da Direita.

Há também a considerar outro aspecto menos positivo para a Democracia portuguesa: com o envelhecimento da população e com o aumento da emigração, muitas pessoas deixam de votar porque não há um esforço oficial para facilitar o acesso ao voto através do correio ou de outra forma. Até recentemente, esta censura da participação eleitoral favorecia o PS, mas os ventos parecem estar a mudar--sei de pelo menos alguém num lar de terceira idade em Portugal que votaria PS, mas não tinha como votar. Pessoalmente, não teria votado no Chega, mas ainda não fui a Washington, D.C., regularizar os meus documentos, logo para efeitos de eleições para o Parlamento não existo.

Apesar das dificuldades de algumas pessoas em votar, houve uma redução da abstenção nestas eleições e tal é mérito do Chega, que conseguiu mobilizar eleitores, o que demonstra que os outros partidos também têm esse potencial. Dado que o Chega é agora o terceiro maior partido no Parlamento não pode ser tratado como uma pedra no sapato, por mais inconveniente que seja. Antes das eleições, Luís Montenegro comprometeu-se que não faria coligações com o Chega, mas não há nenhum impedimento que o faça depois das eleições. Pode perfeitamente negociar os pontos que lhe interessam estar em acordo com o Chega e repudiar os que não estão sujeitos a negociação e assim o programa do Chega que entra para um acordo com o PSD não seria o mesmo que Montenegro tinha enjeitado pré-eleições.

É algo semelhante ao que aconteceu em 2015, quando António Costa entrou em "acordo" com o BE e o PCP apenas nas áreas que lhe interessavam na altura, ou seja, ele não avalizou todo o programa desses partidos que foi sujeito a eleições.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Super-Terça-Feira

Hoje fui votar na Nikki Haley, obviamente. Quando cheguei à igreja onde voto, só havia duas pessoas à minha frente. O senhor da mesa perguntou-me se eu queria votar no lado Democrata ou Republicano e eu pedi o boletim republicano e foi tudo a eito a favor da Nikki: ela, mais 14 delegados sem distrito que a apoiavam e mais três do distrito 9 também a favor dela.

Em Shelby County (Memphis), os resultados preliminares indicam que Nikki Haley teve quase 27% dos votos, enquanto que Donald Trump está nos 70%. Do lado dos Democratas, pouca gente votou e só havia Biden no boletim, mais a possibilidade de se escrever o nome de um candidato, logo ele está quase nos 97%. Haley parece que conseguiu quase 38% dos votos na área de Nashville -- e eu que tinha má impressão daquele pessoal.

Tenho pena que Haley não tenha tido melhores resultados, mas fiquei feliz que ela não tivesse desistido e me tivesse dado a oportunidade de poder votar em alguém que não Trump nem Biden.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Probabilidades condicionais

Tanto nos EUA como em Portugal devia-se falar mais de probabilidades condicionais em vez de probabilidades simples no que diz respeito às eleições.

Se, nos EUA, o objectivo é eliminar Trump, a estratégia que tem maior probabilidade de o eliminar é votar em Nikki Haley porque é mais fácil eliminá-lo nas primárias, quando menos gente vota, do que nas eleições de Novembro. Que haja pessoas que desperdicem o seu voto em Biden quando ele já tem vitória garantida é irracional e contra-produtivo.

Em Portugal, se o objectivo é minimizar o risco do Chega ir para o governo, então faria sentido a malta de Esquerda votar na AD porque é o partido que, segundo as sondagens, tem mais facilidade em chegar a uma maioria. Só que há pessoal de Esquerda que acha que fica com a consciência tranquila votando nos partidos minoritários da Esquerda, o que não adianta absolutamente nada para criar uma maioria de Esquerda e não reduz o risco do Chega.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Geringonça 2.0

O governador do Illinois, J.S. Pritzker, discursou na cerimónia de final de curso da Northwestern University no ano passado. Foi uma participação bastante bem humorada, em que alertou os recém-graduados para a necessidade de aprender a navegar um mundo em que pessoas idiotas podem ser bastante espertas, tão espertas que chegam a patrões e presidentes. Como é que ele identifica idiotas? Procurando as pessoas que agem sem empatia e compaixão, dado que ambas essas qualidades necessitam que se desligue os instintos pré-históricos, os que nos fazem desconfiar de pessoas que não pertencem à nossa tribo. Por esta métrica, as sociedades mais evoluídas são aquelas em que as pessoas têm confiança suficiente para não verem os outros como uma ameaça.

Tenho andado a pensar nisto no contexto do Chega. Não me identifico de todo com o discurso, aliás até acho que têm um discurso anti-Rita; no entanto, não os vejo como uma ameaça. Devo estar na minoria, pois no debate público tem-se dedicado bastante atenção à questão de o Chega poder chegar a governo e se os partidos deveriam assumir previamente que não fariam uma coligação com o Chega. Acho essa expectativa anti-democrática por várias razões.

Em Democracia, a solução votada não agradará a todos, logo não é nenhuma avaria que haja idiotas que cheguem ao governo, parafraseando o Pritzker. Depois, o problema não é tanto que as pessoas votem em idiotas, mas que haja pessoas que votam sempre nos mesmos, ou seja, deixam o caminho aberto para um número baixo de pessoas decidirem o resultado--quem muda o voto acaba por ter mais poder do que quem vota sempre nos mesmos. Há ainda a considerar que, em Portugal, o risco da extrema Direita está controlado porque a Esquerda é bastante eficaz como oposição; curiosamente, a Direita portuguesa não sabe fazer oposição. Finalmente, dado o alto nível de abstenção e a ineficácia da República Portuguesa em facilitar o voto, o que em si é anti-democrático, é-o ainda mais ignorar parte da vontade do eleitorado.

Ou seja, se o Chega tiver votos suficientes para ajudar a formar Governo, quero acreditar que a sociedade portuguesa saiba lidar com estes idiotas democraticamente. E até nem me admiraria que o Chega chegasse ao Governo via PS e o os idiotas do PS dissessem que a Geringonça 2.0 era necessária para controlar a Extrema Direita.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Proposta 351

Hoje enviaram-me umas das propostas do Chega para as eleições, a 351 que diz "Combater a zoofilia e fazer um diagnóstico desta prática em Portugal". Não percebi o que poderia haver de errado com a zoofilia, logo fiz uma procura no Google. De repente, só vejo páginas de pornografia dedicada à bestialidade--ah, essa zoofilia! Será mesmo que o Chega está interessado em regular a bestialidade, parece-me tão aleatório, tipo, "então como é que vamos gerar crescimento em Portugal? Obviamente, limitando o sexo com animais."

Não devo ter compreendido bem, pensei para comigo, logo decidi ir ao dicionário da Priberam para ver exactamente o que me escapava na língua portuguesa. Pois, como eu suspeitava, as definições 1 e 2 não me pareceram nada de mal, dizem que se refere ao amor aos animais, ser amigo dos animais, coisa de franciscanos, portanto. Se calhar, é isso, o Chega quer expulsar os devotos de S. Francisco.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

É mesmo querida!

Com uns mesinhos de atraso, finalmente tive o meu check-up médico anual hoje. Dado que já estou acima do meio século, achei por bem levar uma lista de tópicos a discutir como mudanças hormonais, deficiências ou absorção inadequada de nutrientes, vacina de Covid, colonoscopia, ecografia em vez de mamografia por causa do despiste de cancro da mama, teste de diabetes tipo II, etc. No entanto, nada se passa comigo, sinto-me bem, mas as análises estão feitas e os exames encomendados.

Quanto à vacina de Covid, que não tomei no ano passado, ela deixou ao meu critério, mas não acha essencial. A gripe este ano foi mais severa em termos de sintomas do que o Covid, informou-me. Falámos do meu peso, mas a nurse practicioner (gosto muito dela) acha que estou óptima e que o resto de Memphis é que está um horror. Acredito. Quanto às hormonas, sinto mesmo que algo está a mudar porque estou a ficar mais paciente e importo-me menos com as coisas, o que dá jeito.

A última vez que me exaltei, ou talvez tenha perdido a paciência, foi a propósito de um role de queixinhas acerca de Portugal por causa de haver tantos imigrantes. Apetecia-me dar uma estalada ao Ventura porque é uma das fontes das queixinhas. Eu sou emigrante relativamente a Portugal, mas nos EUA sou imigrante, logo não me é difícil imaginar que estão a dizer mal de pessoas como eu -- chama-se empatia. Há também uma enorme hipocrisia, ou chamar-lhe pura estupidez seja mais adequado, porque os portugueses, que são autenticas ervas daninhas migratórias há mais de cinco séculos, não têm autoridade moral para criticar imigrantes ao mesmo tempo que se auto-elogiam como conquistadores e disseminadores da civilização! Pronto, já desci do caixote do sabão...

Daqui a um mês, eu, imigrante e cidadã naturalizada vou votar no meu país de acolhimento, mas como ainda não fui a Washington, D.C., regularizar os documentos portugueses não posso votar nas eleições de Portugal. Agora que Portugal está em eleições e, sabendo-se que a participação no processo democrático está em declínio, pensei que a questão de facilitar o acesso a documentos e o voto emigrante fosse uma das questões mais importantes da plataforma eleitoral de algum partido, mas enganei-me. Ninguém quer saber; nem o MRS, suposto génio, se interessa. Parece-me que o papel de MRS na democracia portuguesa é mais higiénico do que genial: desintegra-se facilmente -- basta juntar água e meter água é o que não falta.

Não sei se é por estarmos a viver a história em vez de a aprendermos de livros, mas há quase um consenso de que a democracia americana já não é o que era e eu até acrescento que se aportuguesou. Quem diria que tanta gente ainda fosse fã Trumpeta e nem vergonha tenha de o assumir? E os fãs de Biden também são censuráveis -- declaração de interesses: eu votei Biden porque na altura era o mais sensato pois ele assumiu-se como um presidente de transição. Biden e Trump já são conhecidos como presidente, o que torna bastante curioso que sejam tão populares, pois se há coisa que os americanos gostam é de mudança. E eu, portuguesa degenerada, mas americana bem formada, vou votar Nikki Haley nas primárias. Mesmo que fosse pró-Biden, votar Biden nas primárias é um desperdício do voto.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

DALL-E e a curva da procura

Pedi uma curva da procura e recebi a imagem abaixo, com a mensagem "The image has been created with a standard economic demand curve that slopes downward from the top left to the bottom right." A imagem, infelizmente, não corresponde à descrição. Não sei se nas categorias de Zvi Mowshowitz estaria em  "Fun With Image Generation", "The Lighter Side" ou "Language Models Don't Offer Mundane Utility". De qualquer modo, as capacidades destes modelos são impressionantes. Possivelmente o problema é eu não dominar "the art of the prompt".

 


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Eleições hilariantes

Sem dúvida que 2024 nos irá regalar com uma fartura de anedotas eleitorais, tanto aqui como aí. Esta semana que passou é prova disso. No Iowa, o Trump foi o candidato mais votado no caucaso do Partido Republicano, que se realizou na Segunda-feira, feriado federal em que se celebra Martin Luther King, Jr. Terça de manhã, a bolsa no vermelho, e o indice do dólar a apreciar.

Entretanto, também esta semana, calhou apanhar um vídeo do André Ventura que alguém postou no Facebook, no qual ele apontava para uns papeis colados a uma parede e dizia que se o Chega for eleito para governar, iriam terminar os apoios de causas da Esquerda, como o dinheiro gasto em promover a identidade de género, etc. É a mesma campanha que o PS usou em 2015: ia poupar dinheiro cortando gorduras e isso ia gerar crescimento. Para o Chega, as causas da Esquerda são as gorduras da Direita mais à direita, logo merecem ser cativadas. Resta a dúvida se já não o foram pelo PS.

Como não há duas sem três, ontem vi que Pedro Nuno Santos decidiu adoptar o lema do Trump para a sua campanha eleitoral. Votem PS para fazer Portugal "grande outra vez". Se havia alguma dúvida que PNS é outro líder idiota socialista, esta ficou completamente dissipada. Mas vocês sabem que me dá imenso prazer ver o pessoal socialista, que gozava tanto com o Trump e os americanos, adoptar o lema do Trump. Também é engraçado pensar no que considera PNS o período grande de Portugal porque parece que não é o período do governo de António Costa. Talvez seja o de Passos.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Falta de noção

Finalmente, chegou a moda de se designar os empregados das empresas como talento. Agora em vez de se falar em fuga de cérebros fala-se em fuga de talento. E para se encontrar talento devia-se contactar uma empresa de recrutamento, como na América, que é o país que inventa este tipo de coisas. A solução para a fuga de talento é, na opinião de Soledade Carvalho Duarte, que se modifiquem as políticas fiscais e salariais.

Apesar da alta carga fiscal, a decisão de praticar salários baixos é essencialmente das empresas e não me parece que possa ser alterada por decreto. Aliás, o salário mínimo que é alterado por decreto, é relativamente alto quando comparado com o salário médio e não parece ter tido grande efeito no desaceleramento da fuga de talento. Faria sentido haver uma reforma fiscal que simplificasse o sistema, mas é das tais coisas em que o cão ladra mas não morde, pois os portugueses já sabem como manipular a situação e falam, falam, mas não querem mudança. Afinal o PS governa desde 2015 e mesmo que nas próximas eleições ganhe outro partido, é quase certo que só dura um mandato, se isso.

De qualquer das formas, o poder político reage às modas e, antes do PM Costa se demitir, o PS falou em devolver um ano de propinas, que representa 697 euros por ano, por cada ano que um licenciado trabalhasse em Portugal. Em princípio esta política não devia ter efeito prático porque facilmente se consegue um salário mais alto no estrangeiro que cubra este valor, que afinal representa 58 euros por mês. E quem não consegue um salário melhor no estrangeiro não ia emigrar de qualquer forma, logo não faz sentido o estado pagar a quem não ia emigrar. E se vai pagar a alguém, não é socialmente justo pagar aos licenciados a quem já pagou a maior parte da licenciatura--é que as propinas não representam o custo total da educação recebida.

No essencial, não há qualquer noção de como tirar o país do percurso não sustentável em que segue; mas retornando à questão de recrutar talento, há uns largos anos calhou um "head hunter" recrutar-me para um emprego. Como ele estava em início de actividade foi bastante transparente comigo e disse-me que a empresa lhe tinha pagado $40 mil por me ter encontrado. Duvido que haja uma única empresa em Portugal que consiga pagar este tipo de dinheiro só para encontrar um empregado, ou seja, Portugal não oferece qualquer competição na retenção de talento face ao estrangeiro.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O castigado

No dia de Ano Novo, uma amiga minha convidou-me para ir a casa dela fazer-lhe sopa e ajudá-la com um puzzle muito difícil que ela tinha recebido do marido. Não me estava a apetecer sair de casa, mas lá fui e passei pela loja para comprar os ingredientes. Enquanto descascava a batata doce, ela recebe um telefonema e lá explica a quem estava do outro lado da linha que eu era de Portugal e lhe estava a fazer sopa.

A parte que suscita mais espanto é a utilização da varinha mágica--ela tem uma varinha mágica porque há mais de 10 anos quando estava doente, fui lá a casa e fiz-lhe sopa, mas levei a minha panela, a varinha mágica, e as minhas facas porque não sabia como a casa dela estava equipada. Depois disso ela comprou uma varinha mágica, que só eu uso porque ela tem medo de a usar.

Quando desligou o telefone, exlicou-me que estava a falar com um rapaz que estava na prisão. Quando ela me disse que ele era CFO, presumi que o crime tivesse a ver com dinheiro, mas não. Ele concordou ser condenado a 5 anos de prisão, sem possibilidade de sair antes do termo, por ter enviado pornografia que encontrou na Internet a um jovem de 17 anos. É considerado agora um predador sexual; antes de ser libertado, tem de dar a sua identificação à polícia da zona onde vai residir, não pode votar para o resto da vida, nem pode viver perto de escolas ou de sítios onde haja crianças, como parques e jardins infantis. Ou seja, estragou completamente a sua vida.

Sugeri que ela lhe dissesse para ele emigrar para a Europa depois de sair da prisão. E se for para Portugal, decerto que algum representante da Igreja Católica lhe dará a benção.