terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Nem de propósito...

"Fitch ameaça descer "rating" de Portugal se Costa falhar redução do défice

A agência de "rating" considera que o Orçamento socialista assenta em pressupostos de crescimento "irrealistas" que elevam o risco de falhar a redução do défice para 2,6%. Diz ainda que há contas que estão por explicar.

O "esboço" do Orçamento do Estado de 2016, apresentado pelo governo socialista, assenta em pressupostos "optimistas" e até "irrealistas" sobre a evolução da economia, o que agrava o risco de não ser alcançada a redução prometida do défice para 2,6% do PIB. Se esse cenário se materializar, a Fitch avisa para a probabilidade de descer o "rating" do país, invertendo a trajectória de subida da nota, que ainda permanece aquém do grau de investimento."

Fonte: Jornal de Negócios, 26/1/2016

Agora percebe-se a lógica de adiar o pagamento ao FMI: Mário Centeno tinha a certeza de que Portugal não conseguiria emitir dívida a juros baixos. Sem o rating da Fitch, o BCE não pode comprar dívida de Portugal no mercado secundário. O BCE teria de arranjar uma maneira de abrir uma excepção para ajudar Portugal, mas isso seria difícil e complicado. Mais uma vez, recorremos a dívida para manter um regime insustentável, e não para gerar crescimento.

Portugal aproxima-se a passos largos de outro desastre, mas desta vez não há qualquer dúvida: os responsáveis são os nossos líderes, não é a conjuntura internacional. Resta saber se haverá alguém com poder disposto a parar esta nova loucura e quem será cúmplice. Está na hora de as pessoas e a comunicação social decidirem de que lado da História irão ficar.

31 comentários:

  1. O rating da Fitch já estava em BB+ (speculative grade), se bem que com outlook positivo.

    A única agência usada pelo BCE que considera a dívida portuguesa como "investment grade" é a DBRS (BBB, estável).

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  2. "Sem o rating da Fitch, o BCE não pode comprar dívida de Portugal no mercado secundário."

    Rita, Rita. Se lesses o meu facebook com a regularidade necessária saberias que o que interessa é a DBRS! VIVA O CANADÁ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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    1. O que é que eles ganham com isso? Ou antes, quanto?

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    2. Não sei. Mas o governante português que decidiu contratá-los merecia uma medalha de mérito. E não estou a ser irónico.

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    3. Ah, pois é. Esqueci-me desses gajos... Mas olha que não se sabe o que eles andarão a fazer. Aliás, um dia destes, se estiver em questão a reputação da DBRS vs. a reputação de Portugal, adivinha de que lado a DBRS irá ficar?..

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    4. Era muito interessante saber qual o governante que contratou a DBRS!

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    5. Ai são contratadas pelos países? Eu pensei que as 4 fizessem parte duma short list qualquer. Mas, duma maneira ou doutra, a posição da quarta é mesmo muito interessante...

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  3. Acabo de ver em rodapé na SIC-Notícias: Os juros da dívida portuguesa baixaram, apesar das ameaças da Fitch. Este tipos da SIC-Notícias estão mesmo feitos com o Costa. Como pode ser? Ou será que os nossos juros, para além das notações das agências, resultam de muito mais factores do que não os estritamente externos e estas notações?

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    1. "Ou será que os nossos juros, para além das notações das agências, resultam de muito mais factores do que não os estritamente externos e estas notações?"

      Enquanto o programa de compra de dívida pública do BCE se aplicar a Portugal, então a taxa de juro da dívida é essencialmente determinada por este e não pelo mercado. Enquanto for assim, tudo isto é treta e por isso a importância do que a Rita escreveu. Felizmente, ela enganou-se na agência. Neste momento dependemos da DBRS e não da Fitch, como já expliquei acima (e o Nuno Cruces também).

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    2. De facto, enquanto esta situação se mantiver, o "poder" das agências que já tem a divida portuguesa como "speculative grade" é muito baixo (directamente). Em parte será por isso os "avisos à navegação" que eles tem feito (o único poder que tem neste momento é assustar os outros agentes no mercado). Claro que em parte é para isso que são pagos...

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  4. Fitch? Esse nome não me é estranho...

    http://www.reuters.com/article/usa-subprime-fitch-idUSN1831999120070718

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    1. Nessa altura eles subestimaram o risco. Está a alertar-nos para a possibilidade de estarem a cometer o mesmo erro?

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  5. Erraram calma. Erraram feio. Escangalharam o sistema financeiro global e continuaram a facturar biliões por adivinhações. Acho muito menos perigoso agir ciente da própria ignorância do que convencido que sabe. As agências de rating são meros instrumentos de promoção do comportamento de manada dos mercados. Indicam o caminho da erva fresca para os touros da frente encherem a barriga e deixar bosta e raízes ao restante gadéu. Quando esse caminho leva a um precipício, sacodem as mãos ainda enquanto escutam o barulho dos corpos a cair lá no fundo. O BCE não pode ficar preso a uma corda dessas.

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  6. "Erraram calma. Erraram feio. Escangalharam o sistema financeiro global (...)"

    Sim, erraram feio e escangalharam o sistema financeiro global. E fizeram-no subestimando o risco. Está a alertar-nos para a possibilidade de se passar o mesmo agora?

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    1. Subestimar o risco pode ser tão pernicioso como sobrestimar o risco. Especialmente neste nível macro.

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  7. Estou a dizer que não vejo razões para atribuir mais credibilidade às sua predições actuais do que àquelas produzidas em 2008. Você vê algumas?

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    1. Não são predições, são avaliações de risco, o que é bastante diferente.
      Mas sim, vejo:
      - primeiro, o erro sistemático que fizeram foi no sentido de subestimaçao do risco e não o contrário;
      - segundo. A dívida portuguesa corresponde a 130% do PIB, para aí a 3ª mais alta do mundo, é muita gente inteligente acha que é insustentável e que será necessário reestruturá-la;
      - terceiro, a avaliação que fazem do risco, coincide com a minha;
      - quarto, dois dos partidos que apoiam o governo defendem reestruturação depa dívida;
      - etc.

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    2. Aumentar o denominador dos 130% pode ser uma estratégia melhor para reduzir o peso da dívida do a austeridade que fez centenas de milhares em idade produtiva emigrar e deixou cá os reformados e pensionistas...

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    3. Estimar a probabilidade de cumprir uma dívida é uma predição. Tanto faz que seja uma indicação no sentido do calote como no de ser paga.
      Todas as dívidas estão em processo de reestruturação contínua, enquanto rolam. Nenhuma dívida no mundo, dos Estados ou das Empresas, será esgotada nas actuais maturidades. A dívida portuguesa tem sido discretamente reestruturada nos mercados e, como bem dizia Ricardo Reis, há poucas semanas, no Dinheiro Vivo, deveria ser com mais intensidade ainda; todos sabemos que a janela do BCE não dura para sempre. Está bom de ver que, se o BCE tem aberto essa janela mais cedo, nem a dívida actual valeria 130% do PIB nem o sangue económico e financeiro deste país teria sido rifado em quermesse de especuladores ou falido. Decisões dessas têm que ser tomadas por políticos com rasgo e intuição, não podem andar atreladas a agências que safam a pele do jogo a chamar liberdade de expressão aos seus palpites.

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  8. Na verdade, surpreende-me que qualquer agência de rating dê uma nota acima de lixo à dívida portuguesa. É das coisas que menos entendo em alguma esquerda. Acha que a dívida é insustentável e tem de haver um perdão parcial, e ao mesmo tempo acha inaceitável que as agências atribuam um rating baixo a Portugal.

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    1. Luís Gaspar, penso que os motivos que levam "alguma" esquerda a considerar que não faz muito sentido considerar a dívida portuguesa como lixo, é o facto de outras dívidas nacionais de outros países mais "poderosos" terem ratings de nível de investimento. É o facto de considerarem que existe uma grande discrepância entre os critérios utilizados para analisar a dívida portuguesa face aos critérios utilizados para analisar a dívida de países como a Espanha, a França e até mesmo os EUA. Penso que também existem pessoas bem informadas, que não são de esquerda e que partilham desta opinião.

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    2. Rui, a dívida de Espanha e de França são menos de 100% dos respetivos PIBs e a dos EUA é 103%. A de Portugal é 136% and counting.

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    3. Isso. A dívida de Espanha e de França está ao nível da dívida de Portugal, em 2011-12, quando o mercado não a quis comprar a menos de 17%. Os mercados são profundamente racionais.

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    4. é verdade. Mas se tivermos de nos sujeitar a taxas de juro mais elevadas o counting ainda será mais rápido. E neste momento essas taxas são determinadas quase que diretamente pela "política" do BCE. (o que está relacionado com as agências pois é a política do BCE dar relevância à notação das agências)

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    5. Sinceramente, acho que mais importante do que o valor absoluto da dívida, é a capacidade / disponibilidade para pagar. Temos casos "investment grade" com percentagens do PIB maiores (em certos casos bastante: Itália, Japão). O que as distingue em termos de risco será o facto de serem detidas localmente em grande parte e os países serem mais ricos em termos absolutos (ou seja, não só é mais difícil ao governo reestruturar unilateralmente sem correr grandes riscos políticos como haverá mais "colateral" se for necessário).

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  9. Algumas coisas que eu gostava de saber.
    - quais são as agências de rating que o BCE admite para classificar os ativos como investment grade além das 3 tradicionais e da DBRS?
    - os custos de mantermos ratings de S&P, Moody e Fitch. Se nos dão rating lixo fará sentido estar a pagar as 3?

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    1. - São apenas as quatro referidas:
      https://www.ecb.europa.eu/paym/coll/risk/ecaf/html/index.en.html

      - Não conheço os preços.

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  10. Tendo em conta que das 4 agências que o BCE usa, apenas a DBRS considera a nossa dívida "investment grade", no nível mais baixo e com "outlook" estável (mas pelos avisos que tem feito, a tender para o negativo), devemos ficar dependentes apenas da DBRS?

    As outras 3 agências têm Portugal no topo dos seus "speculative grade". A S&P e a Moody's com "outlook" estável. A Fitch, até agora, até tinha um "outlook" positivo.

    Se calhar devíamos ouvir o que a Fitch (e a DBRS) dizem.

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  11. As agências de rating, entre outras coisas, são uma ferramenta de manipulação política. Cavaco Silva deu bom exemplo da sua utilidade. Invocou-as quando isso foi conveniente aos seus objectivos e atacou-as quando não lhe convinha.
    http://www.rtp.pt/noticias/economia/cavaco-diz-que-nao-vale-a-pena-recriminar-agencias-de-rating_n359776
    http://www.dn.pt/economia/interior/cavaco-diz-que-corte-de-rating-e-exagero-muito-grande-1820903.html
    http://www.dn.pt/economia/interior/cavaco-silva-volta-a-atacar-agencias-de-rating-1902753.html
    As decisões de um Banco Central não podem estar dependentes de empresas ou videntes. As considerações das agências de rating devem ser levadas em conta tal como as de qualquer outra análise económica, o reflexo da orientação ideológica do seu autor e dos seus interesses.

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