Em 27 de Janeiro de 1945, o Exército Vermelho chegou a
Auschwitz, de longe o maior campo de concentração. Com os seus satélites
nas imediações, combinara um brutal complexo de trabalhos forçados com uma capacidade
de extermínio inaudita. As estimativas apontam para cerca de um milhão e cem
mil vítimas. Um milhão eram judeus.
O funcionamento das câmaras de gás havia sido suspenso em
Novembro de 1944. As instalações do morticínio foram desmanteladas. Houve
tentativas dos nazis para apagar os vestígios das actividades assassinas do
campo de concentração. A inesperada rapidez do avanço do Exército Vermelho
causara o pânico nos guardas de Auschwitz. Foram dadas ordens claras para a
evacuação do campo. O comandante de campo, o SS-Sturmbannfuhrer Richard Baer,
ordenou que se disparasse sobre os atrasados na marcha de evacuação ou sobre
qualquer prisioneiro que tentasse fugir.
Quando os bolcheviques chegaram, restavam apenas sete mil
prisioneiros, reduzidos a meros esqueletos ambulantes. Um deles era Primo Levi
(1919-1987). Judeu, italiano, químico, escritor de génio. Em “Se isto é um
Homem”, lançado em 1947, narra as suas experiências em Auschwitz. A escrita é
clara, seca, objectiva. Levi sempre criticou os que escreviam com falta de
clareza. Mais tarde, diria que o “verdadeiro crime, o crime colectivo geral, de
quase todos os alemães daquela época, foi o da falta de coragem para falar”.
Ter sobrevivido tornou-se um peso demasiado grande para a sua consciência. Suicidou-se
em 1987.
Para quem ainda não teve a oportunidade de ver, recomendo Antony Sher em Primo.
ResponderEliminar"Ter sobrevivido tornou-se um peso demasiado grande para a sua consciência. Suicidou-se em 1987"
ResponderEliminarNa versão biográfica que conheci deste químico é mais verosímil que Primo Levi tenha morrido por acidente ocorrido no consumo de medicamentos.
E comento, porque, aos 17 anos, conversei com um sobrevivente do holocausto - em resposta a uma pergunta que lhe fiz deu-me uma resposta visual - perfilou o seu metro e noventa, como se estivesse a olhar para o infinito, e assim se manteve em silêncio durante algum tempo após o que retomou o que estava a ensinar. Eu senti-me esclarecido.
Entre outros sobreviventes igualmente muito conhecidos existe um que deixou o seu nome numa técnica chamada "Logoterapia" (Viktor E. Frankl, f. 1997), baseada na sua experiência pessoal no campo de concentração.