2
Está albergada numa estufa de ferro e vidro elegante como a gaiola de um pássaro.
Miss Snowe visita-a todos os dias, e todos os dias espana o pó que se acumula nas folhas quadrangulares. Assim, as suas miríficas cores nunca se embaciam. O púrpura bizantino. O azul de Albion. A cor que ainda não sabemos como se chama porque é a cor dos nevoeiros sobre os pântanos. A cor da fuga do jaguar, outra cor de que não temos nome ainda. Todos os dias surge uma folha nova, com a mesma forma quadrangular e sempre com uma cor diferente, algumas já conhecidas, outras não. O branco-cinzento-lilás da pérola na concha e a cor do toque dos sinos, que é o negro mas pode ser o amarelo claro que têm as rendas guardadas em arcas cheirando a sândalo e naftalina. A cor do sândalo é o ocre escuro. A cor da naftalina é o verde-lima, porque o cheiro intenso que quase magoa o nariz é intenso como o cheiro da lima mas não igual, só o facto de ser intenso os aproxima e lhes torna iguais as cores. Miss Snowe não sabe quanto irá crescer a planta e quando irá florir. Receia que o tecto da estufa não seja suficientemente alto, que as paredes não estejam suficientemente afastadas umas das outras, e que acorde uma manhã com o ruído do estilhaçar dos vidros e do retorcer dos ferros. Quando os vidros se estilhaçam passam de transparentes a azul aço claro. E o ferro retorcido é cinza ardósia. Quando se espalham pela erva verde, os vidros assumem a sua cor esmeralda, que é também a cor dos feiticeiros. E das miragens. E de Xanadu, por onde o sagrado Alph corre em cavernas que os homens não são capazes de medir. De todas as cidades longínquas onde se quer chegar e que estão sempre no horizonte, que é violeta porque o contraste aguça o engenho que nos fará atingi-las em breve, ou assim pensamos, e criamos a cor da expectativa, que em rigor é a água-marinha e não o verde. Pensar tem tantas cores quantas as que existem e quantas vierem a existir e quantas existiram já sem que tenhamos tomado conhecimento delas. De que cor é a origem. Ou dos primeiros anfíbios. A cor dos gritos adâmicos na expulsão do paraíso, ou seja, a cor de uma coisa que nunca existiu nem poderia ter existido. A cor de ter encontrado as Galápagos. A cor das interjeições, de eureka. O k é cor de chumbo e o b caramelo. Todo o abecedário é um festival de cores. A é marrom, e, branco, i, vermelho, o, azul, u, verde. Miss Snowe tem muito tempo livre, mas não demasiado porque nunca há demasiado tempo livre.
Está albergada numa estufa de ferro e vidro elegante como a gaiola de um pássaro.
Miss Snowe visita-a todos os dias, e todos os dias espana o pó que se acumula nas folhas quadrangulares. Assim, as suas miríficas cores nunca se embaciam. O púrpura bizantino. O azul de Albion. A cor que ainda não sabemos como se chama porque é a cor dos nevoeiros sobre os pântanos. A cor da fuga do jaguar, outra cor de que não temos nome ainda. Todos os dias surge uma folha nova, com a mesma forma quadrangular e sempre com uma cor diferente, algumas já conhecidas, outras não. O branco-cinzento-lilás da pérola na concha e a cor do toque dos sinos, que é o negro mas pode ser o amarelo claro que têm as rendas guardadas em arcas cheirando a sândalo e naftalina. A cor do sândalo é o ocre escuro. A cor da naftalina é o verde-lima, porque o cheiro intenso que quase magoa o nariz é intenso como o cheiro da lima mas não igual, só o facto de ser intenso os aproxima e lhes torna iguais as cores. Miss Snowe não sabe quanto irá crescer a planta e quando irá florir. Receia que o tecto da estufa não seja suficientemente alto, que as paredes não estejam suficientemente afastadas umas das outras, e que acorde uma manhã com o ruído do estilhaçar dos vidros e do retorcer dos ferros. Quando os vidros se estilhaçam passam de transparentes a azul aço claro. E o ferro retorcido é cinza ardósia. Quando se espalham pela erva verde, os vidros assumem a sua cor esmeralda, que é também a cor dos feiticeiros. E das miragens. E de Xanadu, por onde o sagrado Alph corre em cavernas que os homens não são capazes de medir. De todas as cidades longínquas onde se quer chegar e que estão sempre no horizonte, que é violeta porque o contraste aguça o engenho que nos fará atingi-las em breve, ou assim pensamos, e criamos a cor da expectativa, que em rigor é a água-marinha e não o verde. Pensar tem tantas cores quantas as que existem e quantas vierem a existir e quantas existiram já sem que tenhamos tomado conhecimento delas. De que cor é a origem. Ou dos primeiros anfíbios. A cor dos gritos adâmicos na expulsão do paraíso, ou seja, a cor de uma coisa que nunca existiu nem poderia ter existido. A cor de ter encontrado as Galápagos. A cor das interjeições, de eureka. O k é cor de chumbo e o b caramelo. Todo o abecedário é um festival de cores. A é marrom, e, branco, i, vermelho, o, azul, u, verde. Miss Snowe tem muito tempo livre, mas não demasiado porque nunca há demasiado tempo livre.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.