quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

35 horas, já!

Sou funcionário público. Gosto de o ser e esforço-me por sê-lo, ou seja, por servir o público. Há coisas que faço porque sinto que tenho obrigação de fazer precisamente porque sou pago com os impostos de todos. 

Por exemplo, esta palestra que vou dar no dia 23 de Janeiro sobre matemática eleitoral, teoria dos jogos e eleições, dou-a porque acho que faz parte das minhas funções enquanto professor de uma universidade pública. Acredito ter a obrigação de comunicar para um público mais alargado alguns dos resultados a que cheguei desde que, há 6 ou 7 anos, trabalho no assunto.

Também este blogue é um exemplo disto. Muitas vezes me perguntaram por que motivo eu perdia tanto tempo com o blogue. E a minha resposta foi sempre a mesma. A de que considerava este blogue como fazendo parte da minha actividade profissional. Devo, aliás, ser das poucas pessoas que inclui o blogue no seu curriculum.

Isto para dizer que sou o que sou profissionalmente com orgulho e que me incomoda muito esta reivindicação dos sindicatos da função pública de reduzir a semana de trabalho para as 35 horas semanais.Tudo se resume a uma ideia simples: considerando eu que um funcionário público é um servidor do público, custa-me muito ver os meus sindicatos a reivindicar privilégios que os outros não têm.

10 comentários:

  1. Lamento informar-te que essa atitude de servir o público é muito americana. Em Portugal, serve-se o sindicato.

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    1. Neste blogue tens 11 funcionários públicos (12 se considerares o estado inglês).

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    2. Ainda bem que eu represento o sector privado, mas já fui funcionária pública. Mesmo no sector privado americano, é esperado que as pessoas contribuam para a sociedade.

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  2. Por um lado acho idiota o funcionário publico reivindicar um horário de trabalho diferente dos restantes trabalhadores (embora seja verdade que seja isso que consta do contrato que assinaram). Por outro lado, acho ilegítimo a entidade patronal mudar unilateralmente a remuneração por hora dos trabalhadores (o que foi feito quando se passou de 35 para 40 horas por semana).

    A resolução óbvia para o problema seria ajustar o ordenado pago, para o preço por hora não ser alterado, e permitir aos funcionários acordar com os seus chefes quantas horas realmente iriam trabalhar a esse preço (certos serviços podem precisar efetivamente de funcionários a trabalhar 40 horas, outros bastar-lhes-ão 35). O que é preciso é a chefia ver os funcionários como um recurso finito que tem um determinado custo e uma determinada capacidade de produção (ou seja, exige verdadeira avaliação de desempenho). Claro que essa é uma solução que tem tudo para não agradar a ninguém...

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  3. Muito gostava de ver muitos funcionários públicos a manifestarem-se, publicamente, contra este autêntico privilégio. Temo é que sejam poucos e que esses poucos se vejam apontados a dedo como traidores. Oxalá esteja enganado.

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  4. Mas os sindicatos estão a ameaçar com a greve porque pretendem que a redução para as 35h seja também aplicada no setor privado. A redução no setor público já estava no programa do governo....

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    1. Não, creio a greve é porque querem já em vez de daqui a 6 meses. Acho que há também outra reivindicação, que já se assemlha vagamente ao que o Rui diz - os trabalhadores do estado com contrato individual de trabalho que foram contratados depois de mudança para as 40 horas, foram-no com um horário contratual de 40 horas, e em principio assim ficarão; creio que também se está a reivindicar que esses passem para as 35.

      dito isto, realmente os sindicatos defendem que todos os trabalhadores passem para 35 horas, mas tenho certeza que não é dos motivos apresentados para greve.

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  5. Fui funcionário público quase toda a vida (estive menos de um ano no sector privado), compreendo o que podem sentir a maior parte dos funcionários públicos mas nunca me considerei um deles, o que creio deve ser comum a todos (ou quase todos) os professores. Nós não contabilizamos o tempo dedicado à função porque ela se nos cola de tal modo à vida de todos os dias que seria impossível contar as horas semanais gastas para a cumprir. Não sei como seria se em vez de professor fosse um administrativo a quem se pede um trabalho repetitivo. Talvez nessa altura uma hora diária a mais fosse mais pesada do que as três ou quatro que, como professor, dedicava ao meu trabalho. Em qualquer caso, entendo que deveria haver um paralelismo entre sectores público e privado.

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  6. Nesta questão do horário dos funcionários públicos é por vezes dito uma coisa que não corresponde realmente à verdade (e que relativiza o tal alegado privilégio): que no sector privado trabalha-se 40 horas; não - no sector privado trabalha-se o número de horas que for contratualizado, com o limite máximo de 40 horas (penso que em muitas grandes empresas do sector dos serviços - tenho a ideia que pelo menos na Portugal Telecom é assim - trabalha-se 35 horas; admito que possa ser em parte por herança do tempo em que essas empresas eram públicas).

    E em termos de igualdade de tratamento não será uma maior desigualdade eu, contratado ao abrigo do Código do Trabalho, trabalhar 35 horas por semana, e o meu colega da mesa ao lado, funcionário público, que faz o mesmo que eu, trabalhar 40 (como por vezes o trabalho dele está dependente do meu, até acontecer em certos dias ficar uma hora sozinho no gabinete sem poder fazer nada)?

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