sábado, 31 de outubro de 2015

Re: Peter Boone, o manipulador

Notas: Primeiro, eu não sou advogada, logo o que escrevo abaixo representa a minha melhor interpretação da situação. Segundo, como trabalho na indústria financeira americana, já recebi treino em ética e conflito de interesses na área de mercado de futuros de commodities (passei o exame da National Commodity Futures Examination e estou inscrita na National Futures Association). Finalmente, eu não lido com dívida soberana.

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Ao contrário do Luís, eu acho que o Ministério Público não está assim tão desamparado como se pensa. A primeira razão é que a sequência de eventos está correcta. A segunda razão é que isto tudo é medível: há dados sobre as taxas de juro, o número de leitores do blogue, a audiência do blogue, o número de posts que ligam a esse post, etc. É perfeitamente possível analisar os dados e ver se o post do NYT teve influência suficiente para mover o mercado. E é apenas isso que o Ministério Público tem de provar: que o post influenciou o mercado; é isso o que se chama manipular o mercado. Espero bem que o Ministério Público tenha feito o trabalho de casa antes de se lançar nesta aventura, mas isso é outra história.

A outra questão é a de intenção. É difícil provar malícia, mas pode-se mostrar que o Peter não agiu de forma imparcial. Acontece que o Peter não disse que tinha um interesse directo numa posição que beneficiaria se o mercado reagisse à informação que o Peter estava a dar ao mercado. Aqui entra a questão da ética por duas vias: a via do jornal e a via da indústria onde ele opera.

Qual é o papel do Peter quando escreve no The New York Times O que é que ele representa: os bons interesses do público, os interesses do jornal, os interesses da sua companhia, os interesses dos seus clientes na companhia? A não divulgação da posição que ele tinha dá a ideia de que não há qualquer conflito de interesse entre todas estas partes interessadas.

O público espera que quem escreva no The New York Times tenha bons níveis de reputação e de ética, a não divulgação da posição viola o princípio de confiança que os leitores põem no The New York Times. Podem dizer que há centenas de blogues que disseram o mesmo, mas um blogue que pertence a um orgão da imprensa deste calibre não é o blogue da esquina.

Para além disso, o jornal garante aos leitores um código de ética--eles até dizem que a integridade do jornal tem sido guardada durante mais de um século e os leitores devem esperar imparcialidade daquilo que lêem, a não ser que o jornal lhes dê informação em contrário. Ver ainda este documento do Times, de 2005, onde Bill Keller diz:

In addition to being a daily newspaper, we are a collection of magazines — actual magazines, and weekly sections that are magazine-like in their formats, their tone, their license to comment, not to mention their heavy reliance on freelance writers. My own view which I know is shared by the editors of the Magazine and the magazine-like sections — is that the standards of accuracy and fairness must be equally exacting across the contents of the paper.

Fonte: The New York Times, "Assuring Our Credibility"

Como o Peter não é jornalista, pode invocar desconhecimento destas questões, mas ele devia, no mínimo, ter informado o seu editor no NYT que ele era parte interessada, pois é essa a expectativa que o jornal cria nos leitores. Acho difícil de acreditar que alguém do calibre profissional dele não soubesse isto. Até porque, de certeza, que houve um acordo assinado onde este aspecto é focado.

Uma outra violação de ética a considerar é a do código de conduta de profissionais que agem na indústria financeira. Nos EUA, uma pessoa na posição do Peter é obrigado a ser certificado em ética, logo ele sabe bem que conflitos de interesse devem ser divulgados. Segundo o que li no Wall Street Journal, a empresa onde Boone trabalhava (Salute Capital Management, que tem sede nos EUA) fornecia informação acerca de oportunidades de investimento a Moore Capital, um outro hedge fund. Mais uma vez, é crítico o papel de Peter: será que ele pode ser visto como um analista de dívida?

No Código da FINRA (Financial Industry Regulatory Authority), a propósito de quem faz análise de instrumentos de dívida, lê-se o seguinte:

(4) A member must disclose in any debt research report at the time of publication or distribution of the report:

(A) if the debt research analyst or a member of the debt research analyst's household has a financial interest in the debt or equity securities of the subject company (including, without limitation, any option, right, warrant, future, long or short position), and the nature of such interest;

[...]

(d) Disclosure in Public Appearances

(1) A debt research analyst must disclose in public appearances:

(A) if the debt research analyst or a member of the debt research analyst's household has a financial interest in the debt or equity securities of the subject company (including, without limitation, whether it consists of any option, right, warrant, future, long or short position), and the nature of such interest;

Fonte: FINRA Rules

No que diz respeito a divulgação de conflito de interesse, a indicação que a FINRA dá é que se deve sempre errar no sentido de divulgar essa informação. Isto até serveria os próprios interesses do Peter porque, mais tarde, ele poderia defender-se se alguém o acusasse de omitir informação de propósito. Mas ele não o fez e, não só escreveu aquele artigo no NYT, como escreveu outros noutros sítios como a Bloomberg. Isto não é o blogue da esquina...

Finalmente, a questão de Portugal ir ao ar independentemente do que Boone disse. Portugal tem hoje mais dívida do que tinha na altura e ainda não foi ao ar porque os prazos e as taxas de juro são suficientemente moderados (graças ao BCE) para o país conseguir gerir a sua dívida. Ou seja, o nível das taxas de juro é muito relevante--há um nível acima do qual Portugal não é viável. Mas se o mercado decidir que o país não é viável, a profecia auto-concretiza-se, ou seja, a direcção de causalidade é invertida.

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P.S. Em resposta à questão de inside trading do Carlos no post do Luís, há uma escola de pensamento que acha que o inside trading cria mercados mais eficientes (ver aqui, por exemplo), mas eu acho isso discutível.

Um buraco negro

Corre por aí uma teoria que os meus pobres miolos não conseguem alcançar. Supostamente, tudo começou com o deslocamento do PSD para a direita. Esta “radicalização” ou deriva neoliberal (não me perguntem o que é tal coisa, mas parece que em Portugal é equivalente a qualquer corte na despesa pública) devia ter deixado o centro político todo escancarado para o PS. Mas não é assim que as coisas funcionam, garantem-nos alguns teóricos. O PSD, enquanto se deslocava para a direita e afastava do centro, empurrava, ao mesmo tempo, o PS para os braços da esquerda da radical. Entretanto, o centro político deve ter caído nalgum buraco negro. Não sei se há alguma lei da física que explique este tipo de movimento: afastar-se e empurrar simultaneamente. De qualquer maneira, a política rege-se por leis diferentes, leis que muitas vezes desafiam a lógica e o bom senso. Deve ser o caso.

Peter Boone, o manipulador

Pelos vistos, Peter Boone fez vendas a descoberto da dívida portuguesa. O que quer isto dizer? É difícil de explicar sem ser demasiado técnico, mas na prática quer dizer que ele ganharia dinheiro caso a dívida portuguesa desvalorizasse. Se ela valorizasse, ele perderia dinheiro. Entretanto, escreveu uns artigos nuns blogues a dizer que Portugal estava a ir pelo caminho da Grécia, que, entretanto, já tinha gramado com o primeiro resgate.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sardónica

sar·dó·ni·co
adjectivo
1. Irónico e requintadamente mau. = SARCÁSTICO
2. Relativo à sardónica.

Fonte: "sardónica", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013 [consultado em 29-10-2015].

Sou eu! Os políticos portugueses inspiram o pior que há em mim. Eu, às vezes, até sinto medo de mim própria, quando eu leio o que eu escrevo, mas como também me faz rir, tenho de partilhar convosco.

Hoje apareceu-me o adjectivo "sardónico" na cabeça e eu pensei "Acho que o meu humor anda assim, mas eu nem sei se me lembro bem do significado desta palavra". Fui ao dicionário e, pimba!, lá estava a definição, que assentava que nem um luva. Foi assim que eu aprendi inglês: as palavras apareciam na minha cabeça, como que vindas do nada, e eu sabia o seu significado sem qualquer esforço. Nunca me acontecia dessas coisas em português.

Em 2008, o meu português já estava mais para lá do que para cá. Aconteceu porque eu não consumia quase nada em português. Como me zanguei com a minha mãe, que achava que eu era demasiado ambiciosa por ter decidido fazer um doutoramento, entre 2001 e 2006 não pus aí os pés. A bem dizer, eu não fui completamente verdadeira para com ela. Nunca lhe disse que eu tinha decidido fazer uma especialização em estatística que implicou mais ano e meio de cadeiras. Finalmente, acabei o curso em 2004, mas só aí fui em 2006 porque já tinha um bom emprego e vida estável, logo o discurso de "Rita és tão ambiciosa, queres ser melhor do que quem?" já não pegava. Ela faleceu nesse ano e era com ela com quem eu falava ao telefone todas as semanas. Ela era a minha ligação ao português. A minha mãe gostava muito de português, especialmente daquelas palavras mais engraçadas, que pouca gente usa.

Muitas vezes, quando eu aí vivia, ela olhava para mim e sorria quando me dizia "Isto está muito mal enjorcado!"--a sonoridade de "enjorcado" agradava-lhe. E depois houve aquela vez em que ela estava a conversar comigo no quarto dela e eu, com vinte-e-tal anos, estava a contorcer-me na cama, estilo a posição de ioga do arado. Ela parou de falar, ficou especada (outra palavra da qual ela gostava) a olhar para mim por uns segundos, e depois disse: "Deixa-te de andar aos pinotes na cama." Nesse momento, a palavra "pinotes" causou-me tanto riso, que eu chorei. E eu ri-me tanto que ela também se começou a rir. Agora essa é, talvez, a minha palavra preferida. É por isso que eu, de vez em quando, tento usar palavras e frases engraçadas quando vos escrevo: é uma homenagem à minha mãe.

Entre 2008 e 2012 também não fui a Portugal--dessa vez fui eu que me zanguei com Portugal. Tentei esquecer-me que Portugal existia, mas acabei quase maluca porque tinha saudades do mar português. Já falava português com pausas e interjeições à americana, dizia um amigo meu; no entanto, o meu vocabulário tinha melhorado porque eu comecei a fazer um grande esforço por estudar português. No início do meu estudo, até fui ao Project Gutenberg buscar "A Cidade e as Serras" de Eça de Queiroz para ler no meu Palm Pilot e requisitei "O Mandarim" na biblioteca da universidade. Mas as minhas ferramentas mais úteis foram os blogues e mais tarde o Facebook, especialmente este último porque me obrigava a compor em português.

Às vezes, quando leio o que algumas pessoas escrevem em português, sinto uma tristeza imensa porque o meu vocabulário nunca irá ser assim tão rico, nem as minhas construções gramaticais serão assim tão sofisticadas. Mesmo assim, vou continuar a estudar português.


Ranunculus sceleratus, também conhecida por sardónia

Hora de ponta


Vista do meu gabinete às 18h

[Ah, enganei-vos! Pensavam que era mais uma metáfora sexual. Olhem que há vida para além das "metáfodas", como lhes chama um amigo meu...]

Assustador!

Se não andam muito assustados com a política portuguesa, talvez isto surta efeito: de repente, pelas minhas bandas, apareceram cemitérios em tudo quanto era relvado...

Bebé a caminho

Ontem, a Guarda Nacional do Novo México começou a transportar os fósseis de um bebé dinossauro, o primeiro bebé da espécie Pentaceratops cujo esqueleto foi encontrado quase completo. Foi também transportado o crânio de outro dinossauro adulto.

Como o governo não permite a entrada de veículos na reserva natural (Bisti Wilderness) onde os restos dos animais foram encontrados, todo o trabalho de escavação foi feito manualmente durante quatro anos e os fósseis, que terão cerca de 70 milhões de anos, estão a ser transportados por helicóptero e camião até ao Museu de História Natural e Ciência do Novo México.

Aqui está uma reportagem televisiva:

Ver texto aqui.

Podem ver fotografias e acompanhar o progresso no Facebook.

Os Pentaceratops viviam na América do Norte, eram herbívoros, pesavam cerca de 4 toneladas, mediam em média 8 metros, e supõe-se que a sua aparência era assim:

Os liberais estatais e a farsa da ironia

Há dois fenómenos que acho particularmente fascinantes na sociedade portuguesa e que não me parecem suficientemente aprofundados, O primeiro é que os portugueses têm uma dificuldade embaraçante em reconhecer a ironia. Mesmo quando a farsa é muito óbvia, há sempre que ache que é a sério. Há uns anos, o Bruno Nogueira teve um programa na RTP que caricaturava os reality shows. A certa altura teve de mudar o guião e tornar a coisa cada vez mais óbvia - cortar cenas a meio, mostrar erros na produção -, para convencer as pessoas de que aquilo era a gozar. Somos, digamos assim, um povo que à farsa responde com farsa, que ironicamente não percebe a ironia, que caricatura a sua própria caricatura. 

O segundo fenómeno é que praticamente todos os liberais portugueses que eu conheço trabalham no Estado - na academia, nos gabinetes dos secretários de estado ou ministros, ou em empresas públicas. Admito que a minha amostra esteja enviesada. Mas não estou a mentir quando digo que eu, pessoalmente, não estou familiarizado com praticamente nenhum exemplo contrário. De entre os liberais que conheço, são muito raros os que tiveram experiências minimamente duradouras a trabalhar por conta de outrém em empresas privadas, ou que tenham sido self-made men ou women. Ao contrário, a maioria das pessoas de esquerda que eu conheço trabalham por conta de outrém em empresas privadas, e, em alguns casos - mais do que os liberais que conheço - são empresários e criaram o seu próprio negócio. 

Não sei bem que conclusão tirar destes dois fenómenos - que certamente não têm ligação. Mas encontrei um exemplo que reúne os dois. Um perfil no facebook com o título "Jovem Conservador de Direita", com o motto "Nuno Melo Obrigado Mentor: "quando encontras pedras no caminho, privatiza", e com posts tão geniais como este: "Se eu não fosse assessor do Secretário de Estado, acham que ia ficar parado? Ia meter mãos à obra e criar um computador novo, um diferente tipo de post it ou uma empresa de formação. Por isso não me venham com conversas. Trabalhem, lutem que a felicidade vai aparecer", e ao qual respondem várias pessoas repreendendo o autor por ser um hipócrita

É genial. 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Figuras sem estilo

Inversão é uma anástrofe
Vi isso no Lindley Cintra.
Quis ser rico, sou pelintra,
Inversão é uma catástrofe.

Bom na cama, é que era...

“Ninguém chega virgem à liderança dos grandes partidos”

O jornalista Vítor Matos, nascido em Grândola um ano antes da revolução de 74, passou 10 meses a investigar os podres nas eleições internas dos dois partidos que têm alternado na governação do país - PS e PSD - mas há mais de uma década que vem denunciando casos que fazem perigar a democracia em Portugal. O retrato traçado em "Os Predadores", que explica "tudo o que os políticos fazem para conquistar o poder", é desanimador para quem acredita na política: há histórias de eleições falseadas, troca de votos por cargos e favores, de políticos que se perpetuam no poder com muitas manhas. Neste jogo, não há inocentes, só culpados que "estão a matar a democracia em Portugal". Leia, se tiver estômago.

Fonte: Expresso, 25/9/2015

Eu acho que investir muito esforço em encontrar pessoas para um governo que está chumbado à partida é errado; mas apresentar um governo que tenha pessoas com o rabo entalado também é errado. E, como dizem os americanos, "two wrongs, don't make a right". Ora a PàF apresentou um governo onde o Ministro Calvão da Silva não era recomendável. Depois de nos terem servido Miguel Relvas há quatro anos e do PSD ter esturricado no churrasco e ter perdido credibilidade, voltam a cometer o mesmo erro. Sabem o que é isso? É uma completa estupidez.

Há algum progresso, no entanto, porque a má escolha já anda na Comunicação Social (por exemplo, aqui e aqui), o que demorou muito mais tempo a acontecer com Miguel Relvas.

Ao contrário do que diz o artigo do Expresso que cito acima, eu não acho razoável que se espere que esta gente seja virgem quando chega ao poder. Eu espero que seja boa na cama: que conversem uns com os outros, e com o país, e que todos saíamos da coisa minimamente satisfeitos. É natural que não tenhamos orgasmos todos ao mesmo tempo e sempre; mas irmos alternando e não haver ninguém completamente insatisfeito seria óptimo.

Mas a nossa realidade é que não há quem seja bom na cama; o que há é uns gajos que se masturbam e uns outros voyeurs que lhes passam os brinquedos. E nunca mais saímos desta vida...

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Fado Presente

Como andamos meio-tristinhos e preocupados, vou partilhar convosco um fado da Beatriz. A Beatriz, de quem eu já vos falei, é uma jovem que nem 20 anos tem, gosta do nosso passado musical, e cresceu a ouvir os discos de fado dos pais dela. Os nossos jovens representam o nosso futuro--é este o nosso legado à humanidade. E na intersecção do nosso futuro com o nosso passado, deixo-vos como presente "A Bia da Mouraria".

Conhecem a Mouraria, não é? É aquele sítio de Lisboa onde moravam os Mouros do nosso passado...

Correio da Manhã exagera...

O Correio da Manhã diz que está a ser vítima de censura porque há uma providência cautelar que impede o CM e a CMTV de cobrirem o caso Sócrates. O Facebook está cheio de pessoas indignadas. Eu acho um profundo exagero tudo isto porque desde a eleição de Ferro Rodrigues para Presidente da Assembleia da República, todos nós nos estamos "cagando para o segredo de justiça".

O que vale para um, vale para todos--bem vindos ao novo Portugal!

A importância da vírgula de Oxford

Homens

"If you want to know what a man’s like, take a good look at how he treats his inferiors, not his equals."

~ J.K. Rowling

Portugal sem governo de Direita

A 19 de Outubro passado, o aeroporto de Lisboa passou um filme ligeiramente pornográfico nos écrans junto aos tapetes onde se recolhe a bagagem. Ninguém pareceu escandalizado com o sucedido, mas como eram três da manhã, se calhar estava tudo a pensar no mesmo: emitir pornografia em espaços públicos pode ser estimulante para a economia.

Menos de uma semana depois, o Correio da Manhã informa que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social pediu à HotTV para apresentar mais "programas em língua portuguesa" e mais "produção europeia e independente". Ora a HotTV passa filmes pornográficos.

Portugal sem governo de Direita é um país que quer suceder (é SUCEDER; mas "foder" também dá) à força e até já tem um plano de crescimento: aumentar a iniciativa privada em sentidos literal e figurado (é um país muito "overachiever", o nosso), estimular a produtividade sexual (pode ter repercussões demográficas), e divulgar a língua portuguesa, especialmente as interjeições.

Um outro benefício é que a indústria pornográfica trata muito bem as mulheres: elas não só têm mais poder de negociação nos contratos (escolhem os homens e mulheres com quem querem trabalhar, o tipo de trabalho que querem fazer, etc.), como também ganham mais do que os homens. Estão a ver? Não é verdadeiramente uma questão de tamanho, é mais de qualidade, e as mulheres são "melhores" do que os homens. Lamentamos, meus caros...

Antevê-se que as indústrias de têxtil e calçado também tenham bons resultados devido ao aumento da produção de lingerie e sapatos de plataforma. A produção de rosários e crucifixos também deverá aumentar porque Portugal ainda é maioritariamente católico--o ideal será investir na produção destes produtos usando madeira nacional, em vez de plástico, pois é mais amigo do ambiente (estão a ver como eu sou de Esquerda?) e não pressiona as importações de matérias primas. O turismo irá aumentar, pois as visitas mais frequentes do Papa irão atrair os turistas espanhóis. Enfim, irá ser a estimulação total!

Bem me parecia que era estranho o PS apresentar no seu programa eleitoral apenas 67 medidas para a economia--é um número tão triste. Com estas duas, seriam 69, um número muito mais interessante e sexy. Agora compreendo a ansiedade da Esquerda em querer chegar ao poder: já começaram a implementar o plano e estão com medo que a Direita lhes roube os louros.

Portugal é verdadeiramente um país bestial. Ah! E não é de admirar que Angela Merkel tenha apoiado o seu "amigo Pedro Passos Coelho". É que ela confunde "bestial" com "bestialidade" e bestialidade é um interesse muito alemão...

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Costa nem nu convenceria!

O PS e António Costa disseram-nos há cinco dias atrás que iam chumbar o governo. Hoje Costa disse-nos o seguinte no Facebook:
Achei a ideia de "continuidade sem evolução" muito curiosa porque um governo que está chumbado à partida não oferece continuidade nenhuma. Isto é mais um exemplo que demonstra que o dicionário que o PS usa é um bocado estrambólico e palavras como "estável", "duradouro", "credível", "continuidade", etc., não têm os mesmos significados que noutros dicionários que nós consultamos.

Parece que Costa quer fazer-nos crer que vai chumbar o governo porque não gosta da sua formação. O que é que esta formação tem a ver com o chumbo? Já não anunciaram que estava chumbado antes? Isto é um bocado como as referências circulares de Microsoft Excel: um completo desprezo pela sequência temporal dos eventos que é necessária para haver causalidade.

Há aqui um problema muito grande com a lógica de António Costa. Se Costa afirma que chumba o governo antes de este ser anunciado, é óbvio que o governo não tem futuro. E se um governo não-anunciado é declarado sem futuro, então o seu futuro não tem nada a ver com a sua formação, dado que António Costa já tinha decidido que não tinha futuro antes de qualquer formação ser apresentada.

O chumbo deste governo é completamente independente da sua formação. Quando se fala em independência de eventos, é isto. A única inferência que Costa pode fazer é que Pedro Passos Coelho ouve o que diz a Oposição e pensa que, se é para o governo ser chumbado, para quê estar a investir muito tempo a arranjar novas pessoas com currículos invejáveis? Seria sub-óptimo fazê-lo.

Ou António Costa não entende princípios básicos de lógica, ou pensa que nós somos estúpidos. Já sabem, então, um problema que eu tenho com António Costa: se é para me fazer passar por estúpida, é preciso muito mais do que isto.

E, depois, há um problema ainda mais grave: às vezes, algumas mulheres tiram a roupa para ver se convencem a malta mais facilmente. Eu ando a fazer campanha para os homens fazerem o mesmo. Mas, infelizmente, parece-me que António Costa é incapaz de me convencer com ou sem roupa.

Portugal visto de fora: nem foi tão bom, nem é tão mau (por agora…)

As notícias que correram lá fora sobre o golpe de Estado em Portugal talvez ajudem a perceber um dos maiores enigmas da economia portuguesa: tendo a economia estagnado a partir do ano 2000, os mercados continuaram a emprestar-nos dinheiro alegremente. É verdade que isso também aconteceu nos outros países que acabaram resgatados. Mas estes, até a crise rebentar, tinham boas taxas de crescimento para mostrar. Ou seja, lá fora não faziam a mínima ideia do que se passava por cá – verdade seja dita que muitos de nós também não. Pelos vistos agora também não fazem – fora e dentro. Em relação aos de fora, talvez não seja pior.

Almost Famous...

O Pedro Magalhães postou no Facebook um tweet de agradecimento a Portugal de uma professora de Ciência Política, Sona Golder, na The Pennsylvania State University, que, graças à suposta crise constitucional portuguesa, arranjou motivo e um bom exemplo para explicar aos seus alunos a importância da forma como os governos são formados. Isto vindo da América, onde toda a gente ficou surpreendida com o papel do Electoral College na eleição de Bush vs. Gore, é, no mínimo, caricato.

A acompanhar esse tweet, está um outro do Pedro que refere um texto de Julien Mercille, um Lecturer na University College Dublin, na Irlanda:

Gostei muito de ler o que Julien Mercille escreveu pelo ponto de vista não-histérico (se têm acompanhado a cobertura do The Daily Telegraph acerca de Portugal, espero que tenham os sais de fruta à mão, porque aquilo causa azia) e porque minimiza o papel de António Costa.

Pensando bem, isso até é capaz de ser más notícias para nós. Toda a gente sabe quem é o Primeiro-Ministro grego, um tal de Tsipras, considerado um doido-varrrido e que até mereceu elogios rasgados de António Costa. Talvez Costa queira ser tão famoso como Tsipras, daí o seu comportamento completamente errático, à la Tsipras. Por enquanto, Costa ainda é almost famous... Mas a banda sonora, que podem consultar em baixo, é muito boa!

A cadeia do ressentimento

Infelizmente, não consigo ser totalmente isento em relação a muitas coisas. Eu bem me esforço, posso andar perto, mas há sempre uma falha. Querem um exemplo? Recente? Pois bem, admito que o Sporting ganhou bem ao Benfica, que não há discussão sobre isso. Mas não deixo de pensar que se o árbitro, antes do primeiro golo do Sporting, tem assinalado aquela grande penalidade sobre o Luisão, quem sabe se o jogo não teria sido outro? O Benfica até estava a jogar bem, nessa altura…

Se não sou isento em relação ao futebol, posso sê-lo em relação à política? Ora eu penso que nem eu nem praticamente ninguém (ou alguém?). O que tenho visto, lido e ouvido sobre a actual situação pós eleitoral demonstra à saciedade a falta de isenção na análise. E eu creio que isso deriva do que eu chamo a cadeia dos ressentimentos. A tendência para argumentar com base no passado origina uma catadupa de memórias nas quais é sempre possível encontrar um presumível culpado de uma situação que, embora apenas remotamente tenha ligação com o que se passa hoje, gera o contraditório de uma outra situação semelhante invocada pela parte oposta. Ontem, ao ver o “Prós e Contras”, confirmei essa cadeia de ressentimentos. É evidente para mim que Cavaco Silva foi o principal responsável pela “crispação” na Assembleia (já agora, penso que é uma opinião maioritária). Por outro lado, concordo que Ferro Rodrigues poderia ter feito um outro discurso de posse. Mas compreendo que, ressentido com a posição do presidente em relação a deputados da Assembleia, ele não resistisse a uma resposta.

Um pouco marginalmente, devo declarar que não sou mesmo isento em relação a Cavaco Silva. Há mais ou menos dez anos, não posso precisar quando, mas em tempos próximos da eleição presidencial de 2006, num almoço no Restaurante Panorâmico de Gualtar com o Luís e o Fernando Alexandre, fui tão impressivamente contra a candidatura de Cavaco Silva que o Fernando teve o seguinte comentário: “Caramba (não estou certo que tenha mesmo dito “caramba”) você não gosta mesmo do homem!” E lembro-me de ter redarguido que isso acontecia desde aquela sua célebre afirmação, quando primeiro-ministro, de que raramente tinha dúvidas e nunca se enganava. Na altura, veio-me de imediato à memória o que outro iluminado dissera: “Sei muito bem o que quero e para onde vou”. Escuso de recordar quem era.

Eu não estou contente com o rumo que as coisas estão a tomar. Vejo difícil, com os actuais protagonistas, que exista sensatez para aceitar sem guerrilha mudanças – e elas terão de existir, e, penso, muito rapidamente. Primeiro, teriam de se eliminar ressentimentos: e é tão difícil…

Como não sou mais do que um cidadão interessado na “res publica” e não um político, fico-me por aqui. Até porque tenho na forja uma entrada mais sobre educação, que é onde me sinto mais à vontade…

O valor do sexo

Hoje, no Público, escrevo sobre o sexo ideal.

Notícias gloriosas!

No Domingo, o Benfica perdeu contra o Sporting; no entanto, segundo o que li no Facebook, os três pontos não irão para o Sporting. O Benfica está em negociações paralelas com o Vitória de Setúbal e o Paços de Ferreira e, a qualquer momento, a coligação irá dar uma vitória de 4-3 ao Benfica e o Glorioso arrecadará os pontos. Finalmente, algo encarnado ganha qualquer coisa!

É a vida, caros Sportinguistas. Esta contabilidade à Costa tinha de começar a dar frutos eventualmente...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Acção assustadora à distância

Na semana passada foi publicado um estudo que contradiz a asserção de Einstein de que não era possível que duas partículas em dois sítios diferentes no universo e sem qualquer ligação pudessem ter comportamentos relacionados, i.e., o comportamento de uma partícula era influenciado pela outra, apesar de estarem separadas e de não comunicarem. Dizia Einstein que, se tal acontecesse, seria um caso de "acção assustadora à distância" ("spooky action at a distance"). Einstein duvidava que tal efeito existisse porque achava que "Deus não joga aos dados com o universo".

The New York Times descreve assim a experiência:

The new experiment, conducted by a group led by Ronald Hanson, a physicist at the Dutch university’s Kavli Institute of Nanoscience, and joined by scientists from Spain and England, is the strongest evidence yet to support the most fundamental claims of the theory of quantum mechanics about the existence of an odd world formed by a fabric of subatomic particles, where matter does not take form until it is observed and time runs backward as well as forward.

O estudo saiu na revista Nature, na Quarta-feira passada, no mesmo dia que o Presidente da República indigitou Pedro Passos Coelho Primeiro-Ministro, em Portugal. Eu já suspeitava que existia um mundo estranho em que coligações políticas não existiam até se provar que elas não existiam mesmo, que é mais ou menos a altura em que passavam a existir porque algures no futuro existiriam. É como se a sequência temporal da coisa não tivesse nenhuma orientação pré-definida.

O conceito de "acção assustadora à distância" parece que se aplica a muito mais coisas do que partículas sub-atómicas. Eu, que estou a 7.690 Km de Lisboa, assusto-me sempre que António Costa faz qualquer coisa. E mais assustada fiquei quando soube que António José Seguro teve de ser operado de urgência na sexta-feira. O coitado até estava nas Caldas da Rainha, nem era em Lisboa, mas lá teve de ir parar. Lisboa não é um bom sítio para Seguro: foi lá que foi humilhado e agora foi operado. Aposto que nem sequer um Segurista o irá visitar. Se houvesse floristas nos hospitais portugueses, como há nos EUA, eu mandar-lhe-ia um ramo de flores para ver se o animava e criava uma "acção simpática à distância".

Há, no entanto, uma nuvem nisto tudo: para fazer a experiência, foi usado um sistema electrónico para introduzir a componente aleatória das medidas. E sempre que humanos geram coisas aleatórias, elas podem não ser mesmo aleatórias, mas, sim, pré-determinadas. É um bocado como nós, portugueses, descrevemos o "nosso fado".

domingo, 25 de outubro de 2015

Ponto da situação: chamem o Batman...

Deitada na cama, prestes a adormecer ontem à noite, veio-me à ideia aquela cena de um dos filmes do Batman do Christopher Nolan, em que Gotham City está entregue aos vilões e toda a gente está à espera que o Batman apareça. Pareceu-me ser a situação de Portugal.

Como referiu o Zé Carlos no post anterior, não há acordo de coligação a três nenhum, nem nunca houve. Ao contrário do que nos foi dito, nem sequer se colocou na mesa uma coligação PS/BE/PCP porque o BE e o PCP não estão em negociações directas, como referiu Jerónimo de Sousa.

O que está a ser negociado são dois acordos distintos, o que, logicamente, irá dar origem a duas coligações distintas. Isto se der, porque até agora toda a gente fala que há progresso e acordos a torto e a direito, mas ninguém nos mostrou nada. Parece que o povo português é burro, ou é demasiado qualquer-coisa, para ser maçado com os detalhes de como iria ser governado por esta gente tão séria e ilustre, que mente com todos os dentes que tem. Talvez eu me engane e seja essa a vantagem deles: não têm dentes, têm todos dentaduras e, como tal, é-lhes permitido mentir a seu bel-prazer.

Pelo caminho, temos de ouvir um sermão de moralidade de Ferro Rodrigues que diz que "não há coligações aceitáveis e outras baníveis". Logo no discurso de início de mandato como Presidente da Assembleia da República, ele engana-nos: há coligações baníveis, pois. São aquelas que não existem quando se toma uma decisão. Se não existem, não podem ser consideradas, logo podem banir-se da nossa atenção.

Ferro Rodrigues é aquele indivíduo, que tem um entendimento especial da lei portuguesa, nomeadamente, acha-se acima dela. Gostaria que o PS me explicasse exactamente o mérito de tal criatura para ser nomeado pelo partido como candidato para liderar a Assembleia da República. De todas as pessoas possíveis, porquê esta pessoa de moral tão duvidosa? É para o Batman vir mais depressa?

A culpa será dos irmãos Metralha, esses grandes bandidos

Jerónimo de Sousa disse ontem não fazer ideia daquilo que o PS anda a negociar com o Bloco. As linhas principais do acordo do PCP com o PS não podem ser reveladas ao bom do povo, que eles tanto amam e que, por isso mesmo, não querem maçar com pormenores. Seria uma deselegância, diz Jerónimo. Os acordos são secretos e bilaterais. Garantem os comunistas um governo para quatro anos? Aprovam ao menos o orçamento para 2016? Tudo dependerá do PS, que basicamente terá de aplicar o programa do PCP para que tudo corra no melhor dos mundos. E são estas as garantias de estabilidade. Quando a coisa começar a dar para o torto, vamos assistir a um filme noir, cheio de vilões e traidores, nacionais e internacionais, com o objectivo diabólico de sabotar os “amanhãs que cantam”. A culpa será da Europa, da Merkel (é o diabo em pessoa), da NATO, do Estado islâmico, dos EUA, da ganância dos especuladores, dos bancos, dos comentadores, dos media em geral, dos ricos, da classe média reacionária, do PSD e CDS, do presidente da república, do pato Donald e, claro, dos irmãos Metralha, esses grandes bandidos.

sábado, 24 de outubro de 2015

Cogumelos, piroseira, etc.

Por causa do furacão Patrícia, que irá causar chuvas fortes, trovoada, e potenciais tornados (estou neste momento sob um alerta de tornado), fomos aconselhados, em Houston, a não sair de casa este fim-de-semana e a fazermos todas as nossas compras até sexta-feira. Neste momento está apenas a chover e já há estradas submersas. Se houver uma tempestade gira que dê para eu fazer um vídeo, depois mostro-vos.

Bem, fui às compras ontem, depois do trabalho. Eu não precisava de nada importante, mas estava a apetecer-me dióspiros, pois vi, num panfleto publicitário na semana passada, que o Central Market tinha-os à venda. O Central Market é um supermercado gourmet, que existe em Houston e que era muito famoso sobretudo pelo seu talho. Foi comprado, há uns anos, pela cadeia da HEB, uma cadeia de supermercados com sede no TX, da qual já vos falei anteriormente. Há vários Central Markets em cidades importantes do Texas. O Central Market fica na intersecção das ruas Weslayan e Westheimer, que é dentro da zona de River Oaks--a parte mais rica de Houston. A loja da Apple fica do outro lado da rua, na Westheimer.

Mas se isso não vos dá uma noção do elitismo desta loja, talvez vos interesse saber que havia à venda cogumelos por $59.99/lb, o equivalente a $132.26/Kg, ou €120/Kg. Realmente, os cogumelos tinham muito bom aspecto e eu até faço um excelente arroz de bacon e cogumelos. Quando eu os vi, apareceram duas vozes na minha cabeça que conversavam assim:

Voz 1: Olha que cogumelos tão giros, fariam um arroz tão bom. Tenho tantas saudades do arroz de míscaros da minha avó. Isto podia fazer de conta...
Voz 2: Estás maluca? Os cogumelos custam $59.99/lb!
Voz 1: Bem, os cogumelos até são leves, se calhar 1/4 lb já dava para fazer um bom arroz.
Voz 2: Afasta-te dos cogumelos, Rita! Tu até andas a cortar no consumo de carne, logo não há bacon para ninguém!

E, com muito custo e quase um torcicolo no pescoço, afastei-me dos cogumelos.

Apesar de eu gostar muito de lojas que vendem mercearia, não costumo ir a este supermercado muitas vezes porque não fica a caminho de casa. Há até um HEB gourmet na rua Buffalo Speedway, que fica perto de onde eu trabalho, e que tem muitas das coisas que o Central Market vende, mesmo os produtos de marca branca, só que a loja é mais pequena e não há tantos produtos gourmet. Já o HEB de Bellaire, onde eu vivo, não é gourmet, é mesmo pobrezinho.

Durante as minhas compras, faço sempre questão de estar atenta para ver se há produtos portugueses que me interessem comprar. Quando eu fui ao Central Market a primeira vez, há ano e meio, encontrei vinhos e enlatados portugueses, o que é relativamente fácil de encontrar noutras lojas também. Ontem fui agradavelmente surpreendida, pois encontrei também quatro qualidades de queijos portugueses e duas compotas portuguesas (figo e tomate)--nunca tinha encontrado este tipo de produtos aqui.

Fiquei ainda mais feliz por a loja estar a vender esses produtos a preços altos. Já sabem que a minha opinião é que Portugal tem muitos produtos de qualidade suficientemente alta para competir nos mercados internacionais mais exigentes. Infelizmente, não encontrei nenhum azeite português à venda nesta loja.

Acabei por comprar três garrafas de vinho tinto ($7.98, $8.99, e $9.99), dois nacos de queijo ($7.22 e $7.42), e um frasco de compota de tomate ($9.99), ver primeira foto. Nestas coisas gastei $51.59, e só os vinhos é que pagaram imposto (ver segunda foto). Em Houston, a comida não paga imposto de venda, que é cerca de 8.5%.

Gostei muito da etiqueta que acompanhava o doce de tomate (foto 3) e quando cheguei a casa experimentei-o logo. Doce de tomate não é uma coisa favorita minha, mas até gostei deste. Acho que com a idade devo ter adquirido gosto para a coisa. Lembro-me de a minha mãe fazer doce de tomate e vir chamar-me para eu ir provar. Ela estava completamente entusiasmada com aquilo e eu pensava que ela não batia muito bem da bola porque não me sabia assim tão bem. Até cheguei a dizer-lhe que eu não gostava muito para ver se ela parava de me chatear com os testes de degustação, mas ela não desistia por nada. Era mais fácil e rápido eu provar o doce e concordar que sim, estava bom. Já sabem o porquê de eu ser teimosa e maluca: é o doce de tomate! Agora com dose reforçada, ficam desde já avisados...


Foto 1: As minhas compras de ontem. De notar a piroseira da foto, a Raquel Varela que se cuide. Ele há decoração de outono e, ainda por cima, naperons de crochet feitos pela minha mãe. Infelizmente, eu nunca consegui fazer crochet com a perfeição e a paciência da minha mãe.

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Foto 2: A minha conta da mercearia. Os marmelos (quince) custaram $2.49 cada um, e os dióspiros (persimmon) $1.99 cada um. Pelo menos, gastei 47% do dinheiro em produtos portugueses. Viva eu...

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Foto 3: A etiqueta que acompanhava o doce de tomate.

Há dois dias, desdramatizei a possibilidade de um governo de gestão. Hoje, acho que estava errado. Um governo de gestão é inviável. E cada vez mais me parece que um governo do PS é uma inevitabilidade. E, sendo assim, o melhor é não adiar. É entregar as chaves a António Costa o mais depressa possível. 

Vai ser um desastre? Muito provavelmente, sim. Mas qualquer outra solução será bloqueada pelo parlamento até isso acontecer. Assim, mais vale fazê-lo já. Quanto mais depressa lhe entregarem as chaves, menos desculpas terá para a merda que vai fazer.

PS Neste assunto, é muito possível que eu mude de opinião diversas vezes.

Costa apoia Cavaco Silva?

Mencionei atrás o que António Costa disse depois de Ferro Rodrigues ter sido eleito Presidente da Assembleia da República hoje:
"Em democracia o mérito não se apura pelo resultado dos votos", mas sim pela "qualidade, a convicção e dignidade com que cada um trata o combate político".

Fonte: Jornal de Negócios, 23/10/2015

Há pessoas que dizem que o Presidente da República ao indigitar a PàF como governo foi contra a vontade de 62% dos portugueses. No entanto, Ferro Rodrigues foi eleito Presidente da AR com 120 votos em 230, ou seja, 52% do parlamento. Desapareceram 10% de votos que apoiavam o PS e a sua "coligação" de repente... Esta coisa de inferência fora da amostra é uma coisa muito chata.

O mais curioso, no entanto, são mesmo as observações de António Costa. É que a implicação lógica do que ele disse é que não é necessário ter mais de 50% dos votos para ter "mérito". Sendo assim, como é que ele pode justificar o seu próprio "mérito" para ser Primeiro-Ministro com uma suposta "coligação" que teria mais de 50% dos votos se existisse? Ele disse que não era necessário ter os votos, bastava "qualidade e dignidade".

Ele tem razão numa coisa: isto da "dignidade" é uma coisa muito pertinente. Portugal é uma democracia constitucional em que o Presidente da República tem o dever de defender a Constituição da República Portuguesa (CRP) que diz, no seu artigo primeiro:

Artigo 1.º
República Portuguesa
Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Parece que, ao contrário do que diz António Costa, a vontade popular tem de ser respeitada, mas perdoemos-lhe essa falta pois não lhe cabe a ele defender a CRP. No entanto, notem que lá está também a palavra "dignidade" outra vez: a tal coisa de "dignidade da pessoa humana".

Note-se que não é necessário ter apenas o voto popular, é necessário também respeitar a "dignidade da pessoa humana" e a "construção de uma sociedade livre". O PS tem intenções de formar uma coligação com o PCP e o Bloco de Esquerda. Sabemos que as ideias do PCP violam o primeiro artigo da CRP. Diz o PCP a propósito do caso de Luaty Beirão em Angola:

Portugal não deve ser instrumento e servir de plataforma para a promoção da ingerência contra um Estado soberano”.

Quando eu ouvi falar das circunstâncias de Luaty Beirão e dos seu companheiros, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a história dos dois indíviduos que foram presos durante a ditadura portuguesa por fazerem um brinde à Liberdade, em Lisboa. Foi esse caso que inspirou a criação da Amnistia Internacional. Se um grupo de pessoas em Portugal fizesse o que os cidadãos angolanos fizeram em Angola, o PCP consideraria isso "ingerência contra um Estado soberano".

Expliquem-me lá como é que o que foi feito em Angola a essas pessoas está de acordo com o princípio da "dignidade da pessoa humana" e "sociedade livre" que rege a Constituição e Democracia portuguesas e como é que pode um partido que quer governar Portugal não condenar tal acção, dado o texto da actual CRP? Se aparecer uma coligação em que um membro viola esse princípio e que pretende governar Portugal, não caberá ao Presidente da República Portuguesa o dever de a rejeitar?

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mário Soares dixit

Soares disse ainda que via no PS "tipos que queriam por força ir para o governo", como, aponta, Almeida Santos, o derrotado das legislativas de 1985: "Queriam tirar o despique daquela desgraça."
[...]
"Fui colocado diante de uma hipotética coligação que sempre considerei contranatura, puramente artificial, e, por isso mesmo, repetidamente avisei que jamais favoreceria um acordo político desse tipo, que, na minha opinião, seria nefasto para o País." Constâncio chegou a avisá-lo: "Ó Mário Soares, você vai ter de mudar de opinião, porque o partido todo está a fazer contas." Soares contou que lhe respondeu: "Já não é a primeira vez [que estou contra o partido]."
Fonte: Sábado, 16/10/2015

No Porto Canal, ontem

Uma experiência nova, fazer comentário em cima do acontecimento sem ter tempo para pensar um pouco.

Futuro ditador

"Em democracia o mérito não se apura pelo resultado dos votos", mas sim pela "qualidade, a convicção e dignidade com que cada um trata o combate político".

~ António Costa na Assembleia da República, citado no Jornal de Negócios a propósito da eleição de Ferro Rodrigues como Presidente da AR

Bem me parecia que Costa queria ser ditador. Agora tenho a certeza.

Fim-de-semana de morte

Patrícia, o furacão mais forte jamais visto na parte leste do Pacífico está prestes a atingir a costa oeste do México. A tempestade será tão grande que se esperam chuvas fortes e tempestades aqui, na parte leste do Texas, onde eu estou. Em termos de força, este furacão é semelhante ao tufão Haiyan que atingiu as Filipinas em 2013 e matou mais de 6000 pessoas. Este fim-de-semana será um de morte.

Afinal não é tão má quanto isso...

É frequente dizerem-me que a Constituição da República Portuguesa (CRP) é péssima. Eu não conheço nenhuma constituição que seja considerada perfeita e também não percebo muito de Direito Constitucional, mas nunca achei que a nossa fosse a pior. No entanto, há duas coisas que me parecem verdades razoáveis: (1) todas as constituições estão sujeitas a interpretação; e (2) o valor de uma constituição só pode ser verdadeiramente avaliado durante crises. A CRP está a ser testada durante esta crise e até agora parece-me que se está a portar bem porque permitiu ao Presidente da República deferir a gestão desta crise para o órgão mais democrático que existe em Portugal: a Assembleia da República.

Os partidos deviam clarificar as suas intenções antes de eleições, mas tal nem sempre acontece. Esta crise tem a particularidade de ter uma grande surpresa associada com os acontecimentos pós-eleição. É costume dizer-se que a arma do povo é o voto e, depois de votar, o povo fica desarmado. Graças à CRP e ao Presidente da República a quem cabe defendê-la, o povo português ainda não está completamente desarmado. Temos agora tempo para todas as partes clarificarem as suas intenções. Se o PS, BE, e PCP acham que o melhor para Portugal é uma coligação de esquerda e que esta é a vontade da maioria do povo, resta-lhes apenas uma alternativa: depois de derrubarem este governo na Assembleia da República, viabilizem uma coligação, e submetam-na à vontade do povo quando, eventualmente, tivermos oportunidade de ter novas eleições.

Quando a direita é amputada...

Há dias, os serviços de comunicação da UMinho enviaram uma mensagem referente à desactivação do serviço de proxy WEB. Depois de umas mensagens de protesto iniciais, tivemos direito a um debate de elevado nível, por email, sobre a obra de Ludwig Wittgenstein. Algures, houve também uma breve referência ao seu irmão Paul, pianista. De regresso a casa, ouço na Antena 2 um concerto de Hindemith, composto especialmente para ele. Paul perdeu o seu braço direito como consequência dos ferimentos sofridos enquanto soldado na Primeira Guerra Mundial. Vários outros compositores contemporâneos de Paul compuseram peças para piano com a mão esquerda, a ele dedicadas, sendo uma das obras mais conhecidas o Concerto para Mão Esquerda, de Ravel.
Em suma, é caso para dizer que quando a direita é amputada, não falta quem componha para a esquerda poder tocar.

O programa de governo da PàF

A Comissão Política do PS decidiu “dar ao grupo parlamentar indicação para apresentar uma moção de rejeição de qualquer programa de governo que se proponha manter no essencial as políticas da anterior legislatura”.

Como ontem explicou Cavaco Silva, e eu concordo, os programas da PàF e do PS são praticamente sobreponíveis. Na minha opinião, a principal diferença era que onde o PSD dizia que ia mais devagar a não ser que fosse possível ir mais depressa, o PS dizia que ia mais depressa a não ser que fosse impossível ir tão depressa.

O que a PàF tem a fazer é muito simples. Como aqui sugeriu João Cerejeira, a PàF deve adoptar o programa do PS como o seu programa de governo.

Linhas vermelhas

O que não perdoo a António Costa é ter-me feito defender Pedro Passos Coelho.

Legitimidades

No outono de 1982, o pequeno partido liberal alemão pôs fim a uma coligação com os social-democratas e juntou-se à CDU de Helmut Kohl, que se tornou chanceler, uma vez que passou a dispor do apoio de uma maioria parlamentar. Do ponto de vista constitucional, não havia nada que impedisse essa mudança de governo a meio da legislatura – as últimas eleições haviam sido em 1980. Todavia, rapidamente se percebeu que o novo governo tinha um problema de legitimidade política. Decidiu-se, por isso, antecipar as eleições para 6 de março de 1983 e a CDU ganhou. Moral da história? Legitimidade constitucional não é sinónimo de legitimidade política.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

E PàF, estatelaram-se...

No Facebook, convidaram-me para gostar de uma página que se chama "Eu não tenho culpa, não votei PS". Esta página, à hora a que eu escrevo isto, é apoiada por 10.260 pessoas. Foi também organizada uma manifestação para 26 de Outubro, cujo título é "Manifestação--Eu não votei numa coligação de esquerda". Quase 4.000 pessoas dizem que vão.

Não percebo a lógica disto. Em 2011, as pessoas também não votaram numa coligação de direita, que viria a governar o país. Dizer que a coligação de esquerda não tem legitimidade porque ninguém votou nela implica que a coligação de 2011 também não tinha legitimidade. Será que estes moços e moças adeptos da PàF não percebem a palermice que dizem?

O problema da coligação de esquerda não é ser coligação, nem ser de esquerda, nem não ter sido anunciada antes das eleições; é os partidos que a formariam terem tantas divergências que nem queriam publicitar a natureza das condições que sustentavam a sua coligação, nem sequer se comprometiam a honrar os acordos que Portugal tem com a UE ou, pelo menos, a esforçarem-se no sentido de os cumprir durante a vigência do seu mandato. Havia claramente uma sede pelo poder; mas não havia a acompanhá-la um desejo claro de defender os interesses de Portugal e dos portugueses.

E, finalmente, a parte mais importante é que não era claro que a coligação sequer existisse. O BE e o PCP diziam que nada a impedia de existir, logo existia; mas, o PS dizia que ainda estava a ser trabalhada e havia condições para vir a existir. Nem para decidir se existia, ou não, havia acordo e o acordo das partes é uma condição necessária para a sua existência. A implicação lógica disto é que ainda não existia. Como é que queriam, então, formar governo sem um acordo formal e um compromisso claro?

Portugal não tem margem de manobra nem para falhar, nem para andar a fazer experiências políticas de alto risco. Quando Portugal for um país rico, com crescimento, e sem grande dívida pública, façam-se os pseudo-acordos, que talvez existam, mais absurdos que se entender; agora, não.

A PàF também parece que não percebe o que está em causa. Sinceramente, ter a PàF no governo do país também não me agrada com este tipo de "talento" e este nível de compreensão.

Statuary...

"it is hard to believe when I’m with you that there can be anything as still
as solemn as unpleasantly definitive as statuary when right in front of it"

~ Frank O'Hara, in "Having a Coke with You"

Poema aqui.

Pela nossa saúde!

Em Novembro, nos EUA, abre a época de rever e de renovarmos o antigo ou escolhermos um novo seguro de saúde no Marketplace, o mercado de seguros de saúde virtual que foi criado pelo Affordable Care Act (AAC). Ao conversar sobre seguros de saúde com uma amiga que tentou engravidar, mas não conseguiu, descobri ontem mais uma coisa que me deu a volta ao estômago.

Antes da introdução do Obamacare, como é conhecido o AAC, era permitido às seguradoras recusar a alguém ou terminar um seguro de saúde. Uma das razões usadas para que fosse recusado a uma mulher um seguro de saúde era os tratamentos de fertilidade. Uma mulher que os tivesse feito era considerada "uninsurable". A única forma que ela tinha de ter seguro de saúde nessas condições era através do emprego dela ou do marido, pois a lei não permitia a uma empresa que oferecesse seguro de saúde aos seus empregados recusar-lhes seguro de saúde.

Mas as seguradoras cobriam tratamento de impotência masculina. Já sei que impotência não é equivalente a infertilidade, mas porque é que as mulheres tinham de ser descriminadas, mesmo sendo saudáveis, só porque tentaram ficar grávidas? É uma questão económica: gravidezes devido a tratamento de fertilidade têm a probabilidade de ser mais caras do que gravidezes naturais. Uma das razões é que, como o tratamento é muito caro e quase sempre é pago pelo paciente e não pela seguradora; muitas vezes, as mulheres escolhem estratégias mais arriscadas e baratas para engravidar e acabam por ter vários embriões implantados ao mesmo tempo. E mesmo que a mulher engravide naturalmente, se ela teve problemas em engravidar, é sinal que algo pode estar a funcionar menos bem e que venha a ser descoberto mais tarde.

Estamos a ver em alguns países o efeito de não ter bebés suficientes para manter a população. Ter bebés suficientes é um bem público. O Japão, que tem a sociedade mais envelhecida do mundo, não consegue crescer e a sua dívida pública continua a aumentar. Uma das últimas medidas que o país tomou para lidar com o problema foi informar as universidades de que deveriam fechar os departamentos de humanísticas e ciências sociais pois esses cursos parece que não oferecem nada de produtivo ao país. (Reparem que o Steve Jobs fez exactamente o oposto: uma companhia que consiga casar a parte humanística com a parte científica consegue um produto muito mais vendável.) Portugal tem a terceira sociedade mais envelhecida do mundo. Os EUA só têm um país mais jovem porque os imigrantes ilegais têm muitos bebés e há um influxo constante de imigrantes.

Muitas vezes, as seguradoras agem como cartéis: era normal uma seguradora perguntar ao paciente se ele já tinha sido recusado por outra e isso era usado para decidir se iam ou não vender um seguro de saúde à pessoa. Por outro lado, mesmo hoje, o paciente tem obrigação de dizer a verdade, pois omitir informação ou mentir pode ser usado para a seguradora recusar pagamento. A seguradora não tem de dizer a verdade.

Por exemplo, quando se escolhe um médico, é da responsabilidade do paciente certificar-se de que ele faz parte da rede da seguradora. Mesmo que a seguradora nos dê o nome do médico, a desculpa da seguradora para não pagar é que a lista pode estar desactualizada e a seguradora diz que é o médico quem tem acesso à informação mais actualizada. E não é só médico. Uma vez, quando eu estava a fazer análises para o meu check up anual, a técnica que me tirou o sangue perguntou-me para que laboratório eu queria enviar as análises, ou seja, qual era o laboratório que trabalhava com o meu seguro. Eu não sabia a resposta e a única maneira de saber a resposta era contactar laboratórios e perguntar se eles tinham um contrato em vigor com o meu seguro. Mas imaginem que eu estava inconsciente por causa de um acidente, a quem é que eles perguntam informação desse tipo? Estão a ver a salgalhada?

Concluindo, a saúde não é um bem privado. Os mercados privados são ineficientes a oferecer cuidados de saúde por várias razões: (i)há assimetria de informação, em que uma das partes na transacção tem muito mais informação do que a outra; (ii) ser doente tem um cariz de mau público, pois um individuo doente pode causar externalidades negativas à sociedade, e ser saudável é um bem público; e (iii) as seguradoras têm poder de mercado.

Compete ao estado gerir a saúde. É muito mais caro e os pacientes ficam pior servidos com um sistema de saúde privado.

Ainda o keynesianismo disfarçado?

Desde o 25 de abril de 1974, Portugal esteve três vezes próximo da bancarrota e, para a evitar, teve de recorrer três vezes à assistência financeira externa: 1977, 1983/84 e 2011. Nas duas primeiras situações de aflição a economia portuguesa tinha elevadas taxas de crescimento. No pedido de resgate de 2011 a economia portuguesa estava estagnada há já uma década.

O que torna o pedido de resgate de 2011 um caso intrigante é ele ter acontecido após uma década de estagnação económica. É importante não esquecer que no caso dos outros países afectados pela crise financeira (como a Espanha, a Grécia, a Islândia, os países Bálticos, a Irlanda, etc.) o crescimento do endividamento na primeira década do século XXI foi acompanhado de elevado crescimento económico. No caso português coloca-se a questão sobre o que terá motivado os nosso credores internacionais a continuarem a alimentar o endividamento de uma economia sem perspectivas de crescimento. A resposta a esta questão está na elevada liquidez, e no excesso de confiança e na desvalorização do risco que caracterizou os mercados financeiros no período anterior à crise financeira internacional.

Mais difícil é explicar o que levou as famílias, as empresas e o Estado a procurarem mais crédito quando os níveis de endividamento interno e externo eram tão elevados. Do lado do Estado, a crença keynesiana, ou outros interesses disfarçados de keynesianismo, explicou essa fuga para a frente. Os resultados desse keynesianismo disfarçado foi o pedido de resgate e um processo de ajustamento duríssimo.

Em 2015, com a economia a recuperar, ainda lentamente, os dois problemas mais graves da economia portuguesa mantêm-se: baixas taxas de crescimento potencial e elevado endividamento interno e externo.

O problema do baixo crescimento potencial só será resolvido com o aumento da produtividade. O problema do elevado endividamento exige da parte das famílias, das empresas e do Estado avaliação rigorosa das despesas (e também do crédito no caso dos bancos) e aumento da poupança.

Insistir em resolver o problema do crescimento desvalorizando o problema do endividamento, esperando que este se resolva pelo caminho, é como se continuássemos a viver no passado. E num passado que não nos trouxe nenhum futuro.  

Comunicado de imprensa

Fernanda Câncio desmente notícias que envolvem relativamente ao caso Operação Marquês.

Perversão...

Depois de escrever o último post, ainda continuei a ruminar esta coisa de um acordo não-publicitado. Quais as vantagens de o PS entrar num acordo não-publicitado com a Extrema Esquerda, pensava eu. A resposta é óbvia: não vale a pena publicitar um acordo que o PS não tenciona cumprir. Para além disso, esse acordo teria de ter contornos tão mirabolantes para agradar à Extrema Esquerda que toda a gente lhe cai em cima, especialmente a União Europeia.

Depois da nova coligação de esquerda formar governo, o PS não tem de aturar a Extrema Esquerda. Se passar medidas que agradem à UE e mantenham o país financeiramente a boiar, a PàF vai ter de votar a favor delas na AR. Se não o fizer e derrubar a nova coligação, o PS vai acusá-la de ser a má da fita, e a PàF não conseguirá bons resultados nas próximas eleições. Essa é a única oportunidade que o PS tem de enfraquecer a PàF e melhorar os seus resultados eleitorais.

Por outro lado, PCP e BE com aproximadamente 20% da AR não têm poder para derrubar nada que PS e PàF aprovem. O PS governa assim sozinho, sem que tenha obtido maioria nas eleições. O novo Presidente da Republica poderá dissolver o parlamento, mas esta estratégia do PS maximizará o desempenho do PS nas próximas eleições.

Numa das histórias de Sherlock Holmes, Holmes reconhece que tem uma mente brilhante e que daria um óptimo criminoso; mas ser brilhante não implica que tenha necessariamente de se dedicar ao crime, pois pode obter o mesmo "prazer" usando a sua inteligência para o combater. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a esta crise: como é que estas pessoas, que militam no PS, têm tanta imaginação para a subversão, perversão, e abuso do sistema, mas para fazer o país avançar num caminho sustentável ninguém dá uma para a caixa?

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nojo redobrado

É com profunda incredulidade que eu assisto às inovações políticas que o PS inventa. Quando penso que não podem descer mais baixo, as coisas pioram e de que maneira. Diz o Observador que, de acordo com Carlos César, presidente do partido, o PS só mostrará o acordo da nova coligação depois de António Costa ser indigitado Primeiro Ministro. Pedem-nos para acreditar. A única coisa na qual eu acredito é que vocês pensam que nós somos idiotas.

Olhem lá, caros membros do PS, não foram vocês que fizeram uma campanha eleitoral que defendia que se devia votar no PS porque era o único partido que oferecia um plano detalhado do que queria para Portugal. A clareza e visibilidade desse plano foi a cenoura que ofereceram aos eleitores para votar em vós--era por isso que nos pediam para confiar. Agora, que não tiveram votos suficientes, querem fazer governo sem mostrar exactamente o plano que têm para governar Portugal. Ou seja, já não é confiança que pretendem; é fé. Eu não sou uma pessoa de fé. Show me the money!

O que vocês fazem com isto é admitir que o vosso partido mentiu aos eleitores: afinal, não era verdade que o PS fosse um partido que comunicasse aos eleitores as suas intenções. Até agora, a única intenção que é visível, e é pela conduta, nem é porque vocês a verbalizam, é que há umas almas no PS que querem chegar ao governo custe o que custar. Depois de endividarem o país e de o atirarem para a bancarrota, vocês querem um cheque em branco num país que está prestes a atravessar uma das maiores crises demográficas da humanidade?

Nós estamos em águas nunca antes navegadas e não acho que, do outro lado deste abismo, haja ouro, diamantes, e especiarias, como aconteceu com os Descobrimentos. O que há é o risco de o país ser reduzido a uma grande pobreza. O Francisco Assis, eurodeputado socialista, acha que os riscos para Portugal vêm de fora; não é verdade: o maior risco que Portugal encara é doméstico.

A vossa recusa em apresentar o acordo antes da indigitação de um governo demonstra que vocês têm medo da reacção das pessoas a esse acordo. E se têm medo, é porque o acordo é mau para Portugal. Mas não é apenas mau, porque os portugueses já escolheram muitas vezes coisas que eram más para eles porque vinham embrulhadas em papéis coloridos e atraentes. O vosso acordo é tão mau que nem sequer pode ser embrulhado para o disfarçar e sabem de antemão que não vão conseguir apoio popular que permita a sobrevivência da vossa coligação.

Reparem, eu não sou contra o PS chegar ao governo. Eu sou contra o PS chegar ao governo usando um processo de mentiras e engodo depois do mal que já fizeram. Eu disse antes das eleições que vocês me inspiravam nojo; o meu nojo pela vossa conduta foi redobrado!

O preço da mudez

No seu O Antigo Regime e a Revolução, Tocqueville conta-nos um episódio sobre a difusão da “irreligiosidade” no final do século XVIII em França, após a Revolução. No final do antigo regime, a "irreligiosidade estava difundida entre os príncipes e os intelectuais; ainda não penetrara muito no seio das classes médias e baixa; continuava sendo o capricho de determinados espíritos e não uma opinião comum”.
Não sendo a “irreligiosidade” uma opinião comum antes da Revolução, Tocqueville questiona por que motivo nenhum dos grandes escritores escolheu a tese oposta, ou seja, a religiosidade. Mais importante: por que encontraram eles, “mais do que os seus predecessores”, o ouvido da multidão aberto para escutá-los e o seu espírito disposto a acreditá-los?
A difusão do desprezo pela religião em França, durante o final do século XVIII, não surpreendeu Tocqueville: “aconteceu o que vimos tantas vezes, desde então, entre nós, não somente quanto à religião, mas também quanto a qualquer outra matéria”.
Para Tocqueville, a “incredulidade” espalhou-se porque a igreja, sentindo-se abandonada, “ficou muda”. Os homens que conservavam a antiga fé temeram ser os únicos que continuavam fiéis a ela, e temendo “mais o isolamento que o erro, juntaram-se à multidão sem pensar como ela”. O que era só o sentimento de uma parte da nação pareceu a opinião de todos, “tornando-se irresistível aos próprios olhos daqueles que lhe davam esta falsa aparência”.

O Pensador

O LAC apresentou esta manhã um seminário da Margarida Corrêa de Aguiar, na Universidade do Minho, cujo tópico é de extrema importância para Portugal: "Pensões - Restabelecer os equilíbrios financeiros e sociais e apoiar a Economia". É pena António Costa e o resto da malta da nova coligação não tenham ido ouvir.

Como podem ver pela foto, cortesia do Instagram do Miguel Portela, o LAC estava muito à la Rodin, mas com duas diferenças: tinha cadeira e estava vestido. Reparem que o LAC é um tipo que acha bem que a Playboy tenha nus femininos e a Joana Amaral Dias apareça nua na Cristina. Ah, antes de prosseguir, tenho de dizer algo a este respeito. Fiquei deveras decepcionada com a Joana Amaral Dias: liberta-se ela da roupa para assumir a sua condição de mulher livre, enquanto mantém o seu namorado preso dentro de umas calças de ganga. Onde está a igualdade de género? Namorado nu, já, na capa de A Bola!

Bem, mas quanto ao nosso LAC, acho que devia seguir a sua própria filosofia e tirar a roupa. É tempo de ver um homem livre em acção. Maratonas todo vestido, já era...

É hoje!

Hoje é o futuro do "Back to the Future". The Washington Post fez uma lista de coisas que aconteceram neste futuro e as que irão acontecer noutro futuro.
We have finally made it to the future -- or at least the day in the "future" that Marty McFly goes forward in time to in "Back to the Future II": Oct. 21, 2015. Soon, the entire "Back to the Future" series will have actually taken place in the past.

Fonte: The Washington Post

Sobre a célebre PACC

A propósito da recente decisão do Tribunal Constitucional sobre a PACC (Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades) quis refrescar as minhas lembranças sobre a legislação vigente, o que hoje é muito fácil, porque está tudo na Internet (basta saber procurar). Ora à primeira tentativa, aparece-me como referência o Decreto-lei nº 146/2013, de 22 de Outubro (faz amanhã dois anos!), que é descrito como segue: ”Procede à 12.ª alteração do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 139-A/90, de 28 de abril, e à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 132/2012, de 27 de junho”.

Décima segunda alteração em 25 anos! Por aqui se vê como tem sido difícil estabelecer as linhas de uma carreira tão importante como a dos professores de uma maneira linear. Decisões importantes têm sido tomadas e revogadas (quem não se lembra, na profissão, dos professores titulares?) e outras mantêm-se com tal contestação (a PACC é uma delas) que não é saudável insistir nelas sem uma clarificação.

Há uma verdade que tem sido esquecida: qualquer medida que seja tomada em educação, para ser correctamente implementada, tem de ter o apoio dos professores. E não se pense que por isso a administração tem de sistematicamente capitular e não introduzir medidas que sejam justas. A avaliação é uma delas. Nenhum professor pode (deve) contestar ser avaliado. E, de algum modo, isso tem sido assumido tanto pelas estruturas representativas como, individualmente, por muitos docentes. O que é necessário é saber (e querer) negociar.

Simplesmente, a PACC, tal como foi introduzida, tem pouco ou nenhum sentido. Eu compreendo que o Ministério da Educação, entidade empregadora, tem toda a legitimidade para decidir quem quer empregar, mas nesse caso tem de ser repensado o modelo que, presentemente, confere às instituições de ensino superior a formação teórica e prática para todos os graus de ensino. Se o pretender, pode introduzir regras nas candidaturas aos cursos de formação (disposição decorrente da Lei 46/86, de 14 de Outubro, a lei de bases da educação) ou uma espécie de exame final, como nos antigos exames de Estado. Agora sujeitar quem tem um diploma que validou um curso a provas que, francamente, não asseguram que os seus resultados reflictam a qualidade do docente enquanto tal, é um absurdo.

Portanto, neste caso da PACC, não está em causa a possibilidade de o Ministério querer encontrar uma forma de selecionar os professores que pretende para as suas escolas, mas sim o modo como o quer fazer.

Negociações

O PS, que obteve 32,31% dos votos, cede ao BE, que obteve 10,19% dos votos, recusando-se a cooperar com a PàF, que obteve 36,86% dos votos. Isto tem tanta lógica que só posso imaginar que as negociações da "nova coligação" devem correr mais ou menos estilo "Let's hug it out, bitch!"

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Evolução das taxas de juro

Este artigo do Noah Smith é uma leitura muito importante. Há quem pense que a culpa da crise financeira de 2008 foi a Reserva Federal não aumentar as taxas de juro suficientemente depressa, mas eu acho que a velocidade de aumento das taxas de juro teria sido irrelevante.

Uma das razões pelas quais os empréstimos subprime foram realizados é que toda a gente em todo o mundo queria investir neles: fundos de pensões de reforma, bancos (lembram-se das contas Icesave?), fundos soberanos, etc. Havia mais procura do que oferta de produtos financeiros e, como tal, começaram a criar-se produtos financeiros exóticos, cujo risco era difícil de determinar e fácil de obscurecer.

O ponto crucial é mesmo que há muitas poupanças, mas não há assim tantos sítios a nível mundial, que ofereçam bom controle de risco e onde investi-las. E note-se que, mesmo nos EUA, o controle de risco também foi porta-fora a certa altura.

Neste momento, estamos com o mesmo problema: os EUA oferecem as melhores oportunidades de investimento. Podem dizer que os EUA não são tão bons como parecem, mas essa crítica comete a mesma falha de análise de Adam Smith. Para efeitos de investimento, o que interessa não é a vantagem absoluta defendida por Adam Smith, mas sim a vantagem relativa de David Ricardo. Ou, como dizia um antigo colega meu: "The US is the best looking horse in the glue factory."

Every hour wounds, the last one kills.

Orphee, a poem by Neil Gaiman

Orpheus was a musician. He made songs. He knew mysteries. One day the panther girls high on wine and lust came past and tore him flesh from flesh. His head still sang and prophesied as it floated down to the sea.

(Do not look back. Do not look back.)

There was a girl, and he said she was his girl. He followed her to Hell when she died. You could do that when your girlfriend dies: there are entrances to Hell in every major city: so many doors, who has time to look behind each one?

When Orpheus was young he got the girl back from Hell safely. That’s where the years came from. Euridice comes home from Hell and the flowers bloom and the world puddles and quickens, and it’s Spring.

But that was never good enough.

And before that Spring story, it was a life and death tale. We got a million of them. If he hadn’t looked back, if he just hadn’t looked back, then all the people would come back from the dead all the time, each of us, no more ghosts, no more darkness.

I would go to Hell to see you once more. There’s a door on the third floor of the New York Public Library, on the way to the men’s toilets, by the little Charles Addams gallery. It’s never locked. You just have to open it. I would go to Hell for you. I would tell them stories that are not false and that are not true. I would tell them stories until they wept salt tears and gave you back to me and to the world.

It doesn’t have to be a year. I’d take a day. I’d take an hour. I’d walk in front of you to the light.

But I’d look back, wouldn’t I? We all would. The ones who can’t look back, who can only stare into the sunrise ahead of them, stare into the glorious future, those people don’t get to visit Hell.

So Orpheus came back and carried on, because he had to, and he made magic and sang songs. He taught that there was only truth in dreams. That was one of the mysteries: in dreams the veil was lifted and you could see so far forward you might as well have been looking back.

Some die in Washington DC or in London or in Mexico. They do not look forward to their deaths. They glance aside, or down, or they look back. Every hour wounds. That was what she told me. Every hour wounds, the last one kills.

And looking back now, she’s standing naked in the moonlight. Her breast is already blackening, her body a feast of tiny wounds. Izanagi followed his wife to the shadow lands, but he looked back: he saw her face, her dead face, and he fled.

I dreamed today of bone-white horses, stamping and nuzzling in the bright sunshine, and of orange poppies which swayed and danced in the spring wind.

(Do not look back.)

She had the softest lips, he said. He said, she had the softest lips of all. And her head still sang and prophesied as it floated down to the sea.

~ Neil Gaiman reads an extract from this poem in Orpheus Underground. Listen online now.

Orçamentos de ontem, orçamentos de hoje

Numa análise de ontem no Observador, Jorge Lação, falando sobre a legislatura do primeiro governo minoritário de António Guterres, disse que “não foi assim tão difícil tratar dos orçamentos do Estado” com a oposição à direita. Naquela legislatura, o CDS garantiu a aprovação do orçamento de 1996 e o PSD a aprovação dos orçamentos de 1997, 98 e 99.

Nessa altura, segunda metade da década de 90, para além do grande objectivo da entrada no euro, partilhado pelo PSD e pelo PS, havia um outro factor facilitador do entendimento entre os partidos do arco da governação: a despesa pública continuava a aumentar, ou seja, o que estava em causa nos orçamentos era a distribuição de um bolo cada vez maior. Os conflitos eram sobre os sectores que mais beneficiariam com o Orçamento do Estado. Apesar da importância daquelas questões para o papel do Estado e para o desempenho da economia (com as consequências que hoje conhecemos), aquele enquadramento colocava as discussões orçamentais entre PS e PSD/CDS noutro plano.

Hoje, com a economia estagnada há 15 anos, altamente endividada e com um problema de controlo da despesa pública, a política e as discussões do Orçamento do Estado são muito diferentes do que eram nos anos 90. Desde 2002 (exceptuando os anos loucos de 2009 e 2010), de forma a garantir que o Estado continuava a cumprir as suas funções essenciais, em particular o pagamento das prestações sociais, as discussões orçamentais centraram-se nas áreas a aplicar os cortes e em quais delas os cortes seriam maiores. Infelizmente, enquanto a economia não voltar a crescer, não haverá outra forma de fazer orçamentos em Portugal. O pouco que se vier a dar, como a reposição dos salários dos funcionários públicos, vai ter de ser compensado com cortes noutras áreas.


Esta realidade, que é reconhecida pelo PS na sua Agenda para a Década, muda tudo na forma de fazer política. Ou devia mudar. Assumir esta realidade, isto é, a necessidade das políticas de austeridade, exige coragem e sentido de Estado. Com erros certamente (eu próprio apontei alguns), a coligação PSD/CDS deu isso ao país. Apesar das diferenças no seu programa, confesso que também espero essa coragem e sentido de Estado do PS. Mas sabemos – porque eles nunca o esconderam e continuam a não esconder - que do BE e do PCP só vêm promessas populistas, próprias dos regimes que se aproximam do seu fim – e pelo qual eles anseiam, o que também não escondem. Que o PS, com independentes como Mário Centeno e Manuel Caldeira Cabral, aceite tomar esse caminho é algo em que eu ainda não consigo acreditar. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Ratos-heróis? Parecem ratazanas...

Há uns ratos, chamados ratos-heróis, que são treinados para encontrar minas para que estas possam ser desactivadas. Estes ratos são grandes e se vos aparecessem em casa, vocês chamar-lhes-iam de ratazanas. Moçambique, desde 17 de Setembro de 2015, considera-se livre de todas as minas conhecidas e isso deve-se, em parte, ao esforço destes ratos, que já andam a trabalhar nisto há mais de cinco anos.

Deve ter sido mais ou menos nessa altura que eu e o meu marido demos como prenda de anos ao meu sogro uma adopção de um rato, neste programa de ratos-heróis. É bom agora ver que pelo menos um país já colheu frutos do programa. E digam lá se as nossas prendas não são originais?!?

Ah, e se não gostam de minas, também há ratos a ser treinados para identificar casos de tuberculose. Era tão bom desenvolver um programa para treinar ratos para identificar pessoas corruptas.

KIC 8462852

Uma das teorias possíveis acerca dos dados da luz que a estrela KIC 8462852 emite é que são consistentes com uma ideia de Freeman Dyson, um físico de Princeton que, nos anos 60, sugeriu a construção de uma esfera em redor de uma estrela como forma de recolher energia. Essa esfera tem o nome de Esfera de Dyson e já apareceu em livros de ficção científica e no Star Trek. Ou então, não é uma esfera, mas é um enxame de satélites.

Se calhar, não há apenas "vida para além do orçamento"; há também vida para além da nossa estrela. Provavelmente, nunca o saberemos.

Of course, the star in question is about 1,481 light-years away from Earth — meaning that even if aliens did create a giant solar panel complex out there, they did so in the 6th century, while we were emptying chamber pots out of second story windows and fighting off the first bubonic plague pandemic.

Quite a bit has changed on Earth since then. Who knows what could have happened around KIC 8462852?

Fonte: The Washington Post

O prado mais verde...

Ontem, ao telefone com um amigo meu americano, perguntei se ele achava que o partido era mais importante do que o país. Ele disse que o país é sempre mais importante do que o partido. "O país vem sempre antes do partido", reforçava ele a resposta. Até mencionou que George Washington, o primeiro presidente americano, achava que os partidos eram muito maus:
“However [political parties] may now and then answer popular ends, they are likely in the course of time and things, to become potent engines, by which cunning, ambitious, and unprincipled men will be enabled to subvert the power of the people and to usurp for themselves the reins of government, destroying afterwards the very engines which have lifted them to unjust dominion.”

~ George Washington

A certa altura, diz-me que o grande erro dos EUA foi ter adoptado um sistema bi-partidário. Ele, que é republicano, lamentava-se:

"Temos nos republicanos pessoas tão diferentes como os que apoiam o NRA, os religiosos, os libertários, etc. Essas pessoas nunca deveriam estar juntas. Deveria haver para aí oito partidos nos EUA."
Eu tive de me rir e contar o que se passava em Portugal. É mesmo uma questão de: "O prado é sempre mais verde do outro lado."

O arco da governação vai ter mesmo de consolidar

Nem a adesão ao euro, com a disciplina orçamental imposta pelas regras europeias, foi suficiente para conter os défices públicos e uma dívida pública crescente desde 2001, como se pode ver nos gráficos.

A partir de 2001, quando Portugal se torna o primeiro país a violar o PEC – e que continuaria a violar ininterruptamente até hoje -, todos os governos tomaram medidas para consolidar as contas públicas, isto é, para reduzir o défice orçamental. Do lado da despesa, destacam-se o congelamento e o corte de salários, o congelamento das carreiras, restrições no acesso às prestações sociais, e, claro, a redução do investimento público (ou o adiamento da sua factura com os contratos de PPP). Do lado da receita, com a excepção da redução do IRC nos últimos anos, desde 2002, todos os impostos têm sido aumentados por todos os governos. Apesar destes esforços, a dívida pública não parou de aumentar. PSD/CDS e PS reconhecem a urgência de inverter esta tendência e, por isso, de reduzir os défices orçamentais.

Se é verdade que foram os partidos do arco da governação que criaram este problema orçamental, também é verdade que só eles o poderão resolver – o BE e o PCP ignoram nas suas propostas a existência de restrições orçamentais. O acordo entre PSD/CDS e PS é assim uma condição necessária para que Portugal não interrompa o processo de consolidação orçamental. 
Depois da crise financeira e depois da troika o mundo mudou mesmo. Hoje os mercados observam-nos atentamente. Os sistemas financeiros, sobretudo na Europa, ainda estão combalidos. E qualquer sinal de desvio do processo de consolidação orçamental em curso terá consequências muito negativas.

Um acordo de governo entre PSD/CDS e PS tem riscos. Se os partidos do arco da governação falharem, fica aberta a porta para a radicalização do nosso sistema político. No entanto, depois de um tão longo período de crise económica e redução dos rendimentos das famílias, se o próximo governo falhar será toda a estratégia de desenvolvimento, iniciada em 1977 com o pedido de adesão à CEE pelo então governo do PS, que estará em causa. E o que verdadeiramente distingue os partidos do arco da governação dos partidos da extrema esquerda, BE e PCP, é o desejo de sucesso do projecto de integração europeia. O arco da governação vai ter mesmo de consolidar.