sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Envelhecimento da população

No outro dia, quando escrevi o post sobre os reformados americanos, fui à base de dados internacional do Census.gov, que tem estimativas anuais para todos os países. A vantagem desta base de dados é que dá números anuais, enquanto que em Portugal não se divulgam números anuais; é mais comum encontrar apenas os números oficiais do censo da população que é efectuado de 10 em 10 anos. Os americanos gostam de preencher os espaços vazios.

A página da Census.gov é a página oficial do governo americano no que diz respeito a estatísticas da população. O governo americano é sem dúvida o utilizador de estatísticas mais sofisticado do mundo. Antes de existir a febre do Big Data no sector privado, já o governo americano andava a recolher estatísticas sobre as coisas mais malucas. Uma outra coisa que fazem é que também medem e fazem estimativas acerca de outros países. Fiz uma nota mental que deveria voltar e ver o que é que eles diziam acerca de Portugal. É importante saber isto porque muitos analistas em todo o mundo usam a informação disponibilizada pelos Estados Unidos, logo convém saber essa versão do que é dito acerca de nós.

Hoje, ao ler este artigo no Expresso acerca do aumento da pobreza entre os mais idosos, decidi ir ao Census.gov. E depois também fui à Pordata para calibrar os números da versão americana. Recolhi o número de individuos com idade igual ou superior a 65 anos. As estimativas americanas foram feitas com informação disponível em 2002-2003; os dados da Pordata são os actuais. Fiz esta tabela para comparar os dois:

Como podem ver, a população portuguesa tem um número de pessoas com 65 anos ou mais que é neste momento cerca de 3,6% superior à estimativas americanas, ou seja, os portugueses estão a sobreviver muito mais tempo do que o previsto. Isto da sobrevivência é importante porque, de vez em quando, aparece no jornal que o número de idosos a morrer em hospitais está a aumentar. Pudera, se estas pessoas não morreram mais cedo, como acontecia antes, é lógico que terão de morrer mais velhas, mas também mais doentes. Isso indica que os nossos cuidados médicos estão a melhorar, mas também indica uma outra coisa: nós ainda não pensámos muito bem na qualidade de vida dos nossos idosos, nem se discute se é preferível eles morrerem em hospitais, em salas de espera de urgências, ou noutros sítios.

Este é um tópico que me interessa bastante porque muitos dos meus amigos têm idade avançada e eu preocupo-me com a sua qualidade de vida e acho que nós, como sociedade, estamos a falhar brutalmente nesta área--isto não é só verdade em Portugal; também é verdade nos EUA. Também é por uma razão egoísta, pois eu preocupo-me com a qualidade da minha vida e morte, se eu chegar a uma idade avançada. A minha esperança de vida é de pouco menos de 76 anos, mas é natural que eu viva um bocadinho mais. Depois eu digo-vos; aliás, acho que é bastante óbvio que, se eu não estiver satisfeita, não irei ficar calada...

De acordo com os dados do Census.gov, o maior crescimento no número de idosos esperava-se que fosse nas pessoas com mais de 80 anos. Estas pessoas, com saúde mais debilitada e poupanças reduzidas têm obviamente maior risco de estar em situações de pobreza. Infelizmente, não consegui obter dados sobre este grupo etário na Pordata. Fica aqui o boneco dos dados americanos.

Nota: As Nações Unidas também têm modelos de simulação da população anual por país, que vão até 2100.

3 comentários:

  1. "Recolhi o número de individuos com idade igual ou superior a 65 anos."
    "Como podem ver, a população portuguesa tem um número de pessoas com 65 anos ou mais que é neste momento cerca de 3,6% superior à estimativas americanas, ou seja, os portugueses estão a sobreviver muito mais tempo do que o previsto."

    Portugal tem uma percentagem maior de idosos -- logo --> a longevidade é maior em Portugal?

    Talvez seja verdade, mas o raciocínio é completamente errado. Os Americanos têm mais imigração e mais nascimentos também.

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    1. Acho que não percebeu o que eu disse. O número actual de idosos portugueses dos dados da Pordata é superior às previsões que foram feitas por analistas americanos em 2002-2003, ou seja, os idosos portugueses vivem mais tempo do que o que se previa. Repare-se que estas pessoas já estavam vivas em Portugal em 2002-2003, logo basta apenas pensar na taxa de mortalidade para chegar ao número de pessoas com 65 anos ou mais que ainda estão vivas. Se sobreviveram mais do que as expectativas, é porque se presumiu uma taxa de mortalidade superior à que aconteceu.

      Os americanos com mais emigração e nascimentos não tem nada a ver com a mortalidade portuguesa. Eu não comparei a população portuguesa com a americana. Eu comparei os dados actuais da população portuguesa com as previsões que os analistas americanos fizeram para a população portuguesa. Pensei que tivesse sido clara, fica aqui a clarificação.

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    2. Li rápido demais. Relendo faz sentido. Obrigado!

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