quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A mudança de direção do PS e a revisão da Agenda para a Década

A principal diferença entre os programas eleitorais da PàF e do PS era a velocidade a que as medidas de austeridade (incluindo os cortes salariais impostos pelo Governo socialista de José Sócrates) seriam eliminadas. A direção proposta pelas duas forças políticas era no essencial a mesma. A PàF era mais cautelosa na eliminação das medidas de austeridade. O PS propunha uma eliminação mais rápida dos cortes salariais e de outras medidas de austeridade.

Aquela diferença foi o centro da discussão política no período eleitoral e estou convencido que foi uma das razões da vitória da coligação: os portugueses, apesar de saturados de cortes, perceberam que Portugal não pode pôr em risco a recuperação económica com medidas que não sejam sustentáveis do ponto de vista orçamental. Como acontece em muitas doenças, uma recidiva exigirá tratamentos mais agressivos.
      
O PS, sabendo da importância que os portugueses dão à estabilidade, bem como a atenção com que os mercados internacionais olham hoje para a nossa economia, para credibilizar as suas medidas orçamentais mais generosas do que as da coligação, decidiu chamar doze economistas para quantificar o impacto da sua proposta. Esse documento, A Agenda para a Década, andou sempre na mão de António Costa para lembrar que o PS fez as contas – era importante tornar claro que os desvarios orçamentais do anterior governo socialista, que culminaram no pedido de resgate e nas medidas de austeridade, não se repetiriam.

Ora, de acordo com as notícias, o PS iniciou discussões técnicas com o PCP e com o BE com vista a encontrar uma solução governativa estável. Ou seja, a viragem à esquerda sugere que o aspecto distintivo do seu programa não será apenas a velocidade com que eliminará as medidas de austeridade, mas também a direção.

Se no programa com que se apresentou às eleições a quantificação das medidas (da forma que foi feita) era discutível, neste caso, e dada a radicalidade das medidas que se antecipam com um acordo PS/PCP/BE, torna-se essencial. Ou seja, o PS deverá apresentar uma nova agenda para a década.

Como académico, tenho muita curiosidade em saber se Mário Centeno estará disponível para pôr o seu nome nesse documento.

4 comentários:

  1. Sabemos que, pelo menos, está a pôr o nome nesse acordo

    ResponderEliminar
  2. Não a propósito deste texto, mas a propósito do momento, e já que se fala tanto de constituição, parlamentarismo e afins, quem deveria decidir este imbróglio não deveria ser o grupo parlamentar do PS? É que essa maravilhosa constituição em lado algum fala de disciplina de voto, ou seja, os deputados (supostamente) são livres nas suas decisões.

    Partindo do pressuposto que há unidade de posições à esquerda e à direita do PS, e sendo apenas dentro deste que haverá dúvidas quanto ao rumo a seguir, não deveriam os deputados eleitos pelo PS pronunciarem-se sobre as duas propostas em cima da mesa e daí o PS, como partido, tomar uma posição tendo em conta essa análise?

    E qual análise? Simples... Se, perante as duas propostas de entendimento apresentadas pela direcção socialista, existir um número suficiente de deputados que opte pelo entendimento à direita e cujo número, somado aos deputados da PaF, atinja a maioria absoluta (ou seja, estamos a falar de 8/9 deputados eleitos pelo PS), neste caso, a direcção do PS, seguindo os preceitos constitucionais e lendo os resultados eleitorais adequadamente, deve perceber que, afinal, não existe qualquer legitimidade democrática de um governo de esquerda. Caso contrário, aí sim, venha de lá essa nova experiência socialista a ver no que isto dá...

    ResponderEliminar
  3. O PR não tem como evitar o convite a Passos Coelho para formar Governo e obter a aprovação na AR. Se António Costa insistir neste acordo à esquerda pode muito bem acontecer que seja desautorizado em directo na AR bastando para isso que 8 deputados do PS sustentem o Governo. Nada impossivel.

    ResponderEliminar
  4. Realmente não entendo o que faz o Centeno naquelas reuniões essencialmente políticas. Será que ele não percebe que está a dar cobertura "técnica" a posições políticas nunca vividas em verdadeira democracia?

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.