quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Ainda o keynesianismo disfarçado?

Desde o 25 de abril de 1974, Portugal esteve três vezes próximo da bancarrota e, para a evitar, teve de recorrer três vezes à assistência financeira externa: 1977, 1983/84 e 2011. Nas duas primeiras situações de aflição a economia portuguesa tinha elevadas taxas de crescimento. No pedido de resgate de 2011 a economia portuguesa estava estagnada há já uma década.

O que torna o pedido de resgate de 2011 um caso intrigante é ele ter acontecido após uma década de estagnação económica. É importante não esquecer que no caso dos outros países afectados pela crise financeira (como a Espanha, a Grécia, a Islândia, os países Bálticos, a Irlanda, etc.) o crescimento do endividamento na primeira década do século XXI foi acompanhado de elevado crescimento económico. No caso português coloca-se a questão sobre o que terá motivado os nosso credores internacionais a continuarem a alimentar o endividamento de uma economia sem perspectivas de crescimento. A resposta a esta questão está na elevada liquidez, e no excesso de confiança e na desvalorização do risco que caracterizou os mercados financeiros no período anterior à crise financeira internacional.

Mais difícil é explicar o que levou as famílias, as empresas e o Estado a procurarem mais crédito quando os níveis de endividamento interno e externo eram tão elevados. Do lado do Estado, a crença keynesiana, ou outros interesses disfarçados de keynesianismo, explicou essa fuga para a frente. Os resultados desse keynesianismo disfarçado foi o pedido de resgate e um processo de ajustamento duríssimo.

Em 2015, com a economia a recuperar, ainda lentamente, os dois problemas mais graves da economia portuguesa mantêm-se: baixas taxas de crescimento potencial e elevado endividamento interno e externo.

O problema do baixo crescimento potencial só será resolvido com o aumento da produtividade. O problema do elevado endividamento exige da parte das famílias, das empresas e do Estado avaliação rigorosa das despesas (e também do crédito no caso dos bancos) e aumento da poupança.

Insistir em resolver o problema do crescimento desvalorizando o problema do endividamento, esperando que este se resolva pelo caminho, é como se continuássemos a viver no passado. E num passado que não nos trouxe nenhum futuro.  

1 comentário:

  1. "Mais difícil é explicar o que levou as famílias, as empresas e o Estado a procurarem mais crédito quando os níveis de endividamento interno e externo eram tão elevados."

    Juros reais baixos?

    Aliás, não sei se uma taxa de juro nominal exógena (como acontece com um pais integrado numa moeda única) não será passível de fazer economias entrarem e ciclos de feedback positivo expansionista (economia aquecida - aumento da inflação - queda da taxa de juro real - maior procura interna)

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