quinta-feira, 22 de outubro de 2015

E PàF, estatelaram-se...

No Facebook, convidaram-me para gostar de uma página que se chama "Eu não tenho culpa, não votei PS". Esta página, à hora a que eu escrevo isto, é apoiada por 10.260 pessoas. Foi também organizada uma manifestação para 26 de Outubro, cujo título é "Manifestação--Eu não votei numa coligação de esquerda". Quase 4.000 pessoas dizem que vão.

Não percebo a lógica disto. Em 2011, as pessoas também não votaram numa coligação de direita, que viria a governar o país. Dizer que a coligação de esquerda não tem legitimidade porque ninguém votou nela implica que a coligação de 2011 também não tinha legitimidade. Será que estes moços e moças adeptos da PàF não percebem a palermice que dizem?

O problema da coligação de esquerda não é ser coligação, nem ser de esquerda, nem não ter sido anunciada antes das eleições; é os partidos que a formariam terem tantas divergências que nem queriam publicitar a natureza das condições que sustentavam a sua coligação, nem sequer se comprometiam a honrar os acordos que Portugal tem com a UE ou, pelo menos, a esforçarem-se no sentido de os cumprir durante a vigência do seu mandato. Havia claramente uma sede pelo poder; mas não havia a acompanhá-la um desejo claro de defender os interesses de Portugal e dos portugueses.

E, finalmente, a parte mais importante é que não era claro que a coligação sequer existisse. O BE e o PCP diziam que nada a impedia de existir, logo existia; mas, o PS dizia que ainda estava a ser trabalhada e havia condições para vir a existir. Nem para decidir se existia, ou não, havia acordo e o acordo das partes é uma condição necessária para a sua existência. A implicação lógica disto é que ainda não existia. Como é que queriam, então, formar governo sem um acordo formal e um compromisso claro?

Portugal não tem margem de manobra nem para falhar, nem para andar a fazer experiências políticas de alto risco. Quando Portugal for um país rico, com crescimento, e sem grande dívida pública, façam-se os pseudo-acordos, que talvez existam, mais absurdos que se entender; agora, não.

A PàF também parece que não percebe o que está em causa. Sinceramente, ter a PàF no governo do país também não me agrada com este tipo de "talento" e este nível de compreensão.

1 comentário:

  1. Muito bem Rita (hoje eu sou só elogios).

    Daí a mensagem do PR ter sido um desastre: para rejeitar a solução de esquerda bastava afirmar que os partidos constituintes não tinham dado, até ao momento, garantias firmes de estabilidade pelo que nomeava a PaF. Em vez disso entrou em considerandos e deitou tudo a perder.

    Qualquer solução governativa que origine no parlamento após as eleições é legítima. Tomar outra posição é desvalorizar um sistema parlamentar.

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