sábado, 24 de outubro de 2015

Cogumelos, piroseira, etc.

Por causa do furacão Patrícia, que irá causar chuvas fortes, trovoada, e potenciais tornados (estou neste momento sob um alerta de tornado), fomos aconselhados, em Houston, a não sair de casa este fim-de-semana e a fazermos todas as nossas compras até sexta-feira. Neste momento está apenas a chover e já há estradas submersas. Se houver uma tempestade gira que dê para eu fazer um vídeo, depois mostro-vos.

Bem, fui às compras ontem, depois do trabalho. Eu não precisava de nada importante, mas estava a apetecer-me dióspiros, pois vi, num panfleto publicitário na semana passada, que o Central Market tinha-os à venda. O Central Market é um supermercado gourmet, que existe em Houston e que era muito famoso sobretudo pelo seu talho. Foi comprado, há uns anos, pela cadeia da HEB, uma cadeia de supermercados com sede no TX, da qual já vos falei anteriormente. Há vários Central Markets em cidades importantes do Texas. O Central Market fica na intersecção das ruas Weslayan e Westheimer, que é dentro da zona de River Oaks--a parte mais rica de Houston. A loja da Apple fica do outro lado da rua, na Westheimer.

Mas se isso não vos dá uma noção do elitismo desta loja, talvez vos interesse saber que havia à venda cogumelos por $59.99/lb, o equivalente a $132.26/Kg, ou €120/Kg. Realmente, os cogumelos tinham muito bom aspecto e eu até faço um excelente arroz de bacon e cogumelos. Quando eu os vi, apareceram duas vozes na minha cabeça que conversavam assim:

Voz 1: Olha que cogumelos tão giros, fariam um arroz tão bom. Tenho tantas saudades do arroz de míscaros da minha avó. Isto podia fazer de conta...
Voz 2: Estás maluca? Os cogumelos custam $59.99/lb!
Voz 1: Bem, os cogumelos até são leves, se calhar 1/4 lb já dava para fazer um bom arroz.
Voz 2: Afasta-te dos cogumelos, Rita! Tu até andas a cortar no consumo de carne, logo não há bacon para ninguém!

E, com muito custo e quase um torcicolo no pescoço, afastei-me dos cogumelos.

Apesar de eu gostar muito de lojas que vendem mercearia, não costumo ir a este supermercado muitas vezes porque não fica a caminho de casa. Há até um HEB gourmet na rua Buffalo Speedway, que fica perto de onde eu trabalho, e que tem muitas das coisas que o Central Market vende, mesmo os produtos de marca branca, só que a loja é mais pequena e não há tantos produtos gourmet. Já o HEB de Bellaire, onde eu vivo, não é gourmet, é mesmo pobrezinho.

Durante as minhas compras, faço sempre questão de estar atenta para ver se há produtos portugueses que me interessem comprar. Quando eu fui ao Central Market a primeira vez, há ano e meio, encontrei vinhos e enlatados portugueses, o que é relativamente fácil de encontrar noutras lojas também. Ontem fui agradavelmente surpreendida, pois encontrei também quatro qualidades de queijos portugueses e duas compotas portuguesas (figo e tomate)--nunca tinha encontrado este tipo de produtos aqui.

Fiquei ainda mais feliz por a loja estar a vender esses produtos a preços altos. Já sabem que a minha opinião é que Portugal tem muitos produtos de qualidade suficientemente alta para competir nos mercados internacionais mais exigentes. Infelizmente, não encontrei nenhum azeite português à venda nesta loja.

Acabei por comprar três garrafas de vinho tinto ($7.98, $8.99, e $9.99), dois nacos de queijo ($7.22 e $7.42), e um frasco de compota de tomate ($9.99), ver primeira foto. Nestas coisas gastei $51.59, e só os vinhos é que pagaram imposto (ver segunda foto). Em Houston, a comida não paga imposto de venda, que é cerca de 8.5%.

Gostei muito da etiqueta que acompanhava o doce de tomate (foto 3) e quando cheguei a casa experimentei-o logo. Doce de tomate não é uma coisa favorita minha, mas até gostei deste. Acho que com a idade devo ter adquirido gosto para a coisa. Lembro-me de a minha mãe fazer doce de tomate e vir chamar-me para eu ir provar. Ela estava completamente entusiasmada com aquilo e eu pensava que ela não batia muito bem da bola porque não me sabia assim tão bem. Até cheguei a dizer-lhe que eu não gostava muito para ver se ela parava de me chatear com os testes de degustação, mas ela não desistia por nada. Era mais fácil e rápido eu provar o doce e concordar que sim, estava bom. Já sabem o porquê de eu ser teimosa e maluca: é o doce de tomate! Agora com dose reforçada, ficam desde já avisados...


Foto 1: As minhas compras de ontem. De notar a piroseira da foto, a Raquel Varela que se cuide. Ele há decoração de outono e, ainda por cima, naperons de crochet feitos pela minha mãe. Infelizmente, eu nunca consegui fazer crochet com a perfeição e a paciência da minha mãe.

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Foto 2: A minha conta da mercearia. Os marmelos (quince) custaram $2.49 cada um, e os dióspiros (persimmon) $1.99 cada um. Pelo menos, gastei 47% do dinheiro em produtos portugueses. Viva eu...

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Foto 3: A etiqueta que acompanhava o doce de tomate.

6 comentários:

  1. Quando estive nos EUA (1989-1992) não era fácil encontrar produtos portugueses (eu estava em Iowa). O que havia em relativa quantidade eram conservas de sardinha. Vinhos, só o execrável Mateus Rosé. Vejo que exportamos mais variedade. O Esteva é um bom vinho (diz-se por brincadeira que é o Barca Velha dos pobres) mas relativamente barato . No Continente uma garrafa custa € 2.49 (ou seja $ 2.73 ao câmbio de hoje). Que tudo sirva para lhe tornar mais agradável o fim de semana!

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  2. Quando estive nos EUA (1989-1992) não era fácil encontrar produtos portugueses (eu estava em Iowa). O que havia em relativa quantidade eram conservas de sardinha. Vinhos, só o execrável Mateus Rosé. Vejo que exportamos mais variedade. O Esteva é um bom vinho (diz-se por brincadeira que é o Barca Velha dos pobres) mas relativamente barato . No Continente uma garrafa custa € 2.49 (ou seja $ 2.73 ao câmbio de hoje). Que tudo sirva para lhe tornar mais agradável o fim de semana!

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  3. «mas estava a apetecer-me dióspiros (sic)»

    Com o devido respeito, e sem ponta de pedantismo, retire o acento, se não se importa. A sílaba tónica está em "pi".

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    Respostas
    1. Obrigada, mas o dicionário online da Priberam discorda de si: http://www.priberam.pt/dlpo/di%C3%B3spiro. Suponho que o problema é que, sem o acento, teríamos algo que soaria como "diuspiros". No entanto, eu ainda uso o acordo ortográfico pré-90.

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    2. Isto não tem a ver com o AO.
      É mesmo com a sílaba tónica ser a penúltima ou a antepenúltima. Da forma como eu falo, e como ouço as pessoas falar, escreveria diospiro (palavra grave, portanto), como diz o Alexandre. Mas é verdade que a maioria dos dicionários tem dióspiro. Isto parece-me um pouco esdrúxulo, na verdade, mas é assim que está firmado na maioria dos casos, como disse a Rita.
      Mais aqui: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/diospiro-ou-diospiro/12582

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    3. Olha, eu nunca ouvi dizer a palavra como uma palavra grave; foi sempre esdrúxula. Que giro... Para a próxima, tenho de visitar Portugal no Outono para ir andar a ouvir falar de dióspiros.

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