quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nojo redobrado

É com profunda incredulidade que eu assisto às inovações políticas que o PS inventa. Quando penso que não podem descer mais baixo, as coisas pioram e de que maneira. Diz o Observador que, de acordo com Carlos César, presidente do partido, o PS só mostrará o acordo da nova coligação depois de António Costa ser indigitado Primeiro Ministro. Pedem-nos para acreditar. A única coisa na qual eu acredito é que vocês pensam que nós somos idiotas.

Olhem lá, caros membros do PS, não foram vocês que fizeram uma campanha eleitoral que defendia que se devia votar no PS porque era o único partido que oferecia um plano detalhado do que queria para Portugal. A clareza e visibilidade desse plano foi a cenoura que ofereceram aos eleitores para votar em vós--era por isso que nos pediam para confiar. Agora, que não tiveram votos suficientes, querem fazer governo sem mostrar exactamente o plano que têm para governar Portugal. Ou seja, já não é confiança que pretendem; é fé. Eu não sou uma pessoa de fé. Show me the money!

O que vocês fazem com isto é admitir que o vosso partido mentiu aos eleitores: afinal, não era verdade que o PS fosse um partido que comunicasse aos eleitores as suas intenções. Até agora, a única intenção que é visível, e é pela conduta, nem é porque vocês a verbalizam, é que há umas almas no PS que querem chegar ao governo custe o que custar. Depois de endividarem o país e de o atirarem para a bancarrota, vocês querem um cheque em branco num país que está prestes a atravessar uma das maiores crises demográficas da humanidade?

Nós estamos em águas nunca antes navegadas e não acho que, do outro lado deste abismo, haja ouro, diamantes, e especiarias, como aconteceu com os Descobrimentos. O que há é o risco de o país ser reduzido a uma grande pobreza. O Francisco Assis, eurodeputado socialista, acha que os riscos para Portugal vêm de fora; não é verdade: o maior risco que Portugal encara é doméstico.

A vossa recusa em apresentar o acordo antes da indigitação de um governo demonstra que vocês têm medo da reacção das pessoas a esse acordo. E se têm medo, é porque o acordo é mau para Portugal. Mas não é apenas mau, porque os portugueses já escolheram muitas vezes coisas que eram más para eles porque vinham embrulhadas em papéis coloridos e atraentes. O vosso acordo é tão mau que nem sequer pode ser embrulhado para o disfarçar e sabem de antemão que não vão conseguir apoio popular que permita a sobrevivência da vossa coligação.

Reparem, eu não sou contra o PS chegar ao governo. Eu sou contra o PS chegar ao governo usando um processo de mentiras e engodo depois do mal que já fizeram. Eu disse antes das eleições que vocês me inspiravam nojo; o meu nojo pela vossa conduta foi redobrado!

8 comentários:

  1. Boa noite.
    Classificar como nojenta uma mera opção de táctica política, não ajuda nada a um debate sadio.
    Como eu julgo compreender essa opção e aprovo-a, sinto-me pessoalmente insultado.
    Passe bem.

    Eduardo

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    1. Mas não deve sentir-se pessoalmente irritado.

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    2. Eduardo, ainda bem que podemos ter vidas em que cada um pode dar a opinião que tem. Não sei até quando isso durará. Repugna-me que haja pessoas que façam qualquer coisa para chegar ao poder sem ter em conta as consequências para o país. Se isso não o repugna, tem melhor estômago do que eu. Parabéns!

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    3. Caro LA-C,
      Acredite que o meu grau de irritação é = 0.
      Não foi esse o meu statement, e pode estar descansado que em nenhum momento virei aqui escrever qualquer comentário onde eu considere nojenta uma atitude política apoiada por qualquer dos autores deste blogue.

      Eduardo

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  2. Confesso que não percebo muito bem do que é que se está a falar quando se fala neste assunto de "mostrar o acordo"

    Se se está a falar de mostrar que existe um acordo (talvez através de uma conferência de imprensa conjunta entre os signatários) concordo que não faria grande sentido o PR indigitar o Costa como primeiro-ministro sem antes saber, de forma mais ou menos formal, que ele tem uma maioria de apoio.

    Se estamos a falar de publicitar os termos do acordo antes do governo ser constituido, nem sequer sei se isso é usual em Portugal (em 1978, 1983, 2002 e 2011 fez-se isso? Atenção que isto não é uma pergunta de retórica - eu não sei mesmo se se fez ou não).

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    1. Não sei se fez no passado, mas o acordo de governo assinado a 7/10/2015 entre PSD e CDS chegou a diversos órgãos de comunicação social, foi publicitado nos sites do partido e das bancadas parlamentares, etc.

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  3. Cara Rita,

    O processo de mentiras que refere por parte do PS em nada se assemelha em gravidade ou dimensāo do processo de mentiras da campanha deste governo. Aí sim, foi feita campanha e depois de eleições ganhas, executaram-se políticas diametralmente opostas. Pode refrescar a memória aqui: https://www.youtube.com/watch?v=eYWdAtijpHA

    A minha perspectiva pessoal acerca das coligações, é que nāo deviam ser permitidas sem uma declaraçāo de intenção prévia às eleições. O que impossibilitaria a actual coligaçāo que ainda nos (des)governa assim como a de que se discute agora. Nāo sendo assim, independente de eu achar que vāo governar bem ou mal, nāo vejo nada de polémico neste processo pelos partidos de esquerda dado que os deputados do PS, PCP e do BE sāo deputados de pleno direito assim como sāo cidadãos de pleno direito os que votaram nesses partidos.

    Cumps

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