terça-feira, 24 de maio de 2022

Mudança estrutural, será?

Se há coisa que a pandemia nos ensinou é que a economia portuguesa é um bocado lenta a reagir e que as autoridades portuguesas têm uma tendência para achar que Portugal é excepcional quando os choques externos demoram a se revelar. A invasão da Rússia mudou estruturalmente a Europa e, consequentemente, Portugal. Os efeitos ainda não estão solidificados, mas dão para se vislumbrar. 

Até agora, a política de energia servia para atenuar efeitos ambientais dentro da UE, dando-se preferência a energias renováveis e importando-se combustíveis fósseis de países como a Rússia. Esta política é agora impossível, dado que a Europa tem um déficit energético que terá de ser colmatado nos próximos seis meses, antes do próximo inverno. É quase certo que terá de haver um acordo com a Rússia, ou os europeus passarão frio e fome no próximo inverno, o que recordará alguns das dificuldades da República de Weimar, onde notas de banco foram usadas para acender fogões. 

Mas mesmo com acordo e a que preço, a Europa terá de mobilizar o seu investimento de forma a produzir mais energia e se tornar independente da Rússia. A Europa terá de fazer o que os EUA fizeram nos anos 70 e que foi considerar a independência energética como uma política de segurança nacional.

Por outro lado, também terá de ajudar a reconstruir a Ucrânia pela simples razão de os ucranianos estarem dispostos a se sacrificar para impedir a Rússia de avançar Europa a dentro. Depois, há também a necessidade de aumentar os gastos em despesas militares para que a Europa se possa defender de futuros e potenciais ataques.

Qual o papel de Portugal no meio disto? Até aqui, Portugal tem usado o investimento da UE para alimentar a corrupção e a extração de rendas; o mesmo se pode dizer das relações diplomáticas portuguesas. Por exemplo, no contexto actual, se Portugal tivesse usado melhor os investimentos em energias renováveis, estaria em melhor situação para fazer face aos efeitos da invasão. Outro exemplo, se as relações diplomáticas com Angola servissem os interesses de Portugal e da UE, também poderiam ser benéficas na gestão do défice energético da UE.

Viver do turismo, financiamento a taxas de juro negativas, e transferências da UE são estratégias inconsistentes com a situação mundial actual. Ou Portugal muda, ou os portugueses mudam: o aumento da emigração é quase certo. Ou talvez emigrar seja mesmo o fado de Portugal e, nesse caso, não há mesmo mudança estrutural. 

 




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