quarta-feira, 28 de maio de 2025

PEEC

 O processo entrópico em curso (PEEC) continua e recomenda-se e até tem alguns episódio cómicos. Há semanas, o Walmart informou Trump que não podia adiar aumentar os preços para sempre por causa da guerra das tarifas e Trump "aconselhou-os" a engolir o aumento de custos. A luta contra Harvard também continua, com a suspensão, na semana passada, de admissão de alunos internacionais. Em poucas horas, apareceram várias notícias a especular que talvez o filho de Trump se tenha candidatado a Harvard e tenha sido desconsiderado e o presidente se estivesse a vingar. Hoje, a administração Trump cancelou o agendamento de entrevistas para vistos escolásticos, o que afecta todas as universidades que tenham alunos ou docentes internacionais a quem precisem de dar visto.

As propinas e taxas para o semestre de outono normalmente são pagas até ao final de Agosto, logo nessa altura vai-se abrir um enorme buraco fiscal nas universidades se os estudantes internacionais não aparecerem. Apesar de os estudantes internacionais nos EUA representarem apenas 5.9% do corpo estudantil universitário, esta malta paga muito mais em propinas do que os alunos americanos: em algumas universidades chega a ser à volta do duplo ou triplo em valor nominal, mas em valor real ainda é mais do que isso porque muitos americanos têm descontos ou bolsas que lhes reduzem o custo das propinas. Para as universidades estatais, a conta vai acabar por ir para o estado onde fica a universidade, que não terá dinheiro para a pagar.

Por falar em contas dos estados, estamos na época dos tornados e prestes a iniciar a temporada de furacões. A administração recusou ajudar o Arkansas (a governadora é republicana, a Sarah Huckabee Sanders, que trabalhou na primeira administração de Trump como porta-voz da administração) pelos tornados de Março e só através de um apelo pessoal a Trump é que a Sarah conseguiu ajuda para os residentes; no entanto, ficou de mãos vazias para reconstruir a infraestrutura, que vai ter de ser financiada com dinheiro estatal e local. Por acaso, o Arkansas tem impostos de rendimento, propriedade imobiliária, e de propriedade pessoal (basicamente carros e barcos) para além das taxas normais sobre carros e barcos. Neste caso, os danos foram pequenos porque a comunidade era pequena, mas imaginem se houver um furacão que atinja Houston, Tampa, ou Miami, por exemplo. Vai ser muito problemático lidar com uma tragédia a nível local sem o apoio do governo federal.

Entretanto, os eleitores de Trump continuam contentes com a sua prestação. Uma das minhas amigas até tem a foto dele como fundo do telefone e gosta muito da porta-voz da Casa Branca porque é uma moça muito bonita segundo ela; como sou sapiosexual não vejo o charme da moça. Dizia-me essa amiga que o mundo estava muito perigoso, antigamente havia mais segurança e até dava para deixar as portas abertas (os americanos têm uma certa fixação por deixarem as coisas abertas, por exemplo, estacionam o carro para meter gasolina e deixam tudo aberto enquanto vão à loja comprar uma bebida). Eu disse-lhe que não concordava porque antes havia mais violência contra crianças e mulheres (não desfazendo que hoje ainda há). Alguns dias depois é que me lembrei do que lhe podia ter respondido: essa minha amiga gaba-se de já não ter sexo com o marido há uns oito anos porque não gosta dele, mas continua casada porque está à espera que ele morra e ela receba o seguro de vida, e eu podia ter-lhe dito que, antigamente, por lei, ela não tinha o direito de recusar sexo ao marido e ele até tinha o direito de a forçar a ter sexo com ele, mas não me lembrei na altura. Uma enorme oportunidade perdida ou talvez não valha a pena comprometer o meu Karma com pessoas assim...

De vez em quando, desbaratino um pouco porque vejo as coisas a ir tão mal. Confessava as minhas paranóias que, dados os acontecimentos, estão a provar ser mais reais do que imaginárias, a um amigo meu--americano, homem, branco. O conselho que me deu foi que não vale a pena estar a pensar numa coisa que não posso controlar. Depois acrescentou que ele também não gostava de Trump, mas como tinha exercido o seu voto, achava que o seu dever estava cumprido e a consciência descansada. Amei muito o meu amigo naquele momento, mas se calhar não sou assim, e disse-lhe que achava que os direitos das mulheres estavam em retrocesso. Ele perguntou-me se era por causa do aborto. Não é bem isso e respondi que não concordava com leis que regulassem apenas um sexo, ele concordou que era mau, que a questão do aborto era do foro privado, etc.

No próximo Domingo vou começar as minhas aulas de literatura sobre a Ilíada de Homero (antes, fiz a Eneida, e também as Geórgicas e os Eclogues de Virgílio), com um jovem que se formou em Oxford e que dá aulas por Zoom. Já comecei a ler a versão traduzida pela Emily Wilson, mas fiz mais progresso no livro audio, cuja versão foi traduzida por E.V. Rieu, e no qual já vou a meio do livro V. Incomoda-me a forma como as mulheres são tratadas, basicamente mercadorias e troféus de guerra, depois penso na brevidade de tempo em que tal não é o caso e é o suficiente para ficar bastante triste. Penso que a tradução da Emily Wilson não é tão violenta, o que se calhar já não é uma virtude nos dias de hoje.

O dia-a-dia contrasta com as minhas aflições e há uma normalidade que desconcerta. No Domingo, foi a tour de jardins da minha zona da cidade e o meu jardim participou. O tempo tem estado medonho e tivemos alguma chuva e trovoada, mesmo assim vieram cerca de 35 a 40 pessoas cá a casa. Várias me disseram que parecia um paraíso e que, ao passarem na rua, não vislumbravam que houvesse um espaço verde assim a meros passos de distância. Enquanto as pessoas estudavam o jardim, os pássaros iam e vinham: houve colibris, pardais, tentilhões, um gaio-azul, etc. Muitos dos visitantes estavam de boca aberta ao ver os passaritos a uns dois ou três metros de distância e fiquei orgulhosa do jardim e de poder proporcionar tal experiência. Por uns momentos, esqueci-me do mundo que me formou como pessoa adulta e que teima em desfazer-se.

 


Parte do jardim interior e o pátio no dia da Experience Memphis Gardens tour:

Entrada no jardim vindo-se da rua alguns dias antes das tempestades

1 comentário:

  1. Como está a ser vista dos EUA a recente troca de piropos entre Musk e Trump?

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