O Primeiro Ministro António Costa está de férias em Espanha. Como já estavam marcadas, teve de ir.
Há coisa de um mês, a Helena Matos escreveu um artigo presciente no Observador sobre as férias deste ano de António Costa. Nessa altura ainda não tinha havido o incêndio de Pedrógão Grande, mas ela contrastava a atitude de alguns portugueses perante as férias de António Costa e as férias de Pedro Passos Coelho: em 2012, as férias de PPC com a família serviam de marketing político; em 2017, as férias de António Costa não seriam marketing político. (Segundo leio no Facebook hoje, muita gente até acha que o PM faz bem em ir de férias, pois merece.)
O Daniel Oliveira, por sua vez, escreveu no Expresso, a 30 de Junho, que Pedro Passos Coelho era honesto no sentido estrito da palavra -- não roubava, por exemplo --, mas desonesto nas coisas da política pois usou a tragédia de Pedrógão Grande para arremesso político. Escrevia ele: "Uma semana depois do início do incêndio de Pedrógão elogiei Passos por ter resistido à tentação do oportunismo. Precipitei-me. Poucos dias depois responsabilizava o Governo pelo suicídio de gente desesperada." (O próprio título da peça é uma referência a uma outra gaffe de PPC: a da vinda do Diabo.)
As "gaffes" políticas de Pedro Passos Coelho são mais do que muitas; quem não se lembra de pérolas como a sugestão de emigração, ir além da Troika, o oportunismo de ser visto em público com a esposa doente de cancro (era oportunismo político do mais desprezível na ideia de alguns), etc. Agora esta sua última tentativa de "suicídio político" apenas demonstra -- mais uma vez -- a insensibilidade de Passos Coelho perante o problema das perturbações mentais.
Essa insensibilidade já tinha sido estabelecida em 2013 quando a Esquerda fez o nexo de causalidade entre o governo de Pedro Passos Coelho e depressões e suicídios em Portugal -- nessa altura, a Esquerda não achava que falar do tópico contribuísse para o problema.
(Um à-parte, que me vejo forçada a fazer porque tenho pena deste underdog de Portugal (mas note-se que eu tenho pena de esquilos, sapos, gambás...): Espero que Pedro Passos Coelho nunca fale de Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Kurt Cobain, Ernest Hemingway, etc. porque será extremamente insensível da sua parte e contribuirá para mais suicídios; já nós quando falamos de artistas suicidas somos pessoas de gosto refinado.
Eu sugeria a Pedro Passos Coelho limpar a casa e livrar-se de todos os vestígios de pessoas suicidas e outros afins. Se ele tem a sorte de morrer, alguém irá encontrar no seu espólio pessoal provas contundentes de que é má pessoa. O melhor é Passos adoptar o minimalismo e, se possível, evitar o uso de papel higiénico, caso seja feito com papel que vem da pasta de eucalipto. Troque a sanita portuguesa por uma japonesa com um repuxozinho para limpar o rabito. Adiante...)
A meu ver -- se bem que talvez os óculos que tenho na cara infirmem esta minha ideia --, António Costa não fica em nada atrás de Pedro Passos Coelho, até porque ainda só é Primeiro Ministro há ano e meio, logo muitas mais gaffes terá pela frente. A primeira coisa de António Costa que me irritou profundamente foi quando ainda era Presidente da Câmara de Lisboa e disse que não havia solução para as inundações da cidade; agora com o benefício da história recente, se calhar é o mesmo que pensa acerca da prevenção de incêndios. Será que não há algum jornalista simpático que lhe possa perguntar?
Depois da gaffe de PPC com os incêndios, António Costa disse "Prefiro aguardar para ter a certeza do que digo", mas esse conselho de pouco ou nada lhe serviu quando, em 2015, afirmou que a Turquia era um velho e estratégico aliado de Portugal e ambos foram fundadores da NATO em 1959. Depois houve aquela vez em que, no Parlamento, chamou Primeiro Ministro a Pedro Passos Coelho duas vezes.
Em Abril deste ano, disse que durante o governo de PPC os ministros portugueses se ajoelhavam perante os colegas da UE, referindo-se indirectamente a um episódio com o Ministro de Finanças alemão que é paraplégico. Há aquela história do Plano B não existir, mas havia um plano alternativo. Mais recentemente, estranho ver António Costa a fazer perguntas em público acerca do que se passou com o incêndio, quando deveria estar a dar respostas. Na semana passada, soubemos do roubo de Tancos, mas a lista de material roubado veio de Espanha -- diz o povo, "de Espanha nem bom vento, nem bom casamento" e nem boas notícias, especialmente depois de Sebastião Pereira.
Agora o nosso ilustre PM Costa está de férias, depois de ter encomendado o "focus group" para ver o efeito do incêndio na popularidade do governo, mas não é insensibilidade. Só que ainda não vi ninguém dizer se o serviço de emergência está operacional ou se o país continua entregue à sorte. O que acham: a próxima vez que a GNR vos disser para fazerem algo irão pensar que, se calhar, irão morrer na sequência desse conselho? Já viram alguma poll ou focus group com esta pergunta?
Tenho a impressão de que há gaffes para todos os gostos no comportamento destes dois homens, mas sinto que para muita gente Pedro Passos Coelho é uma pessoa em que o seu estado natural é um de "presunção de culpabilidade", ou seja, com ele tudo cola; já com António Costa, o presumível inocente, pode acontecer qualquer coisa que ele será sempre o Primeiro Ministro Nada-Cola.
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