terça-feira, 3 de julho de 2018

Proteccionismo

Quando vim estudar para os EUA pela primeira vez, em 1995, tive duas cadeiras onde estudávamos case studies da economia americana: Economics of Industries e Managerial Economics. Em ambas as cadeiras um dos case studies era o da indústria automóvel nos anos 80. As empresas americanas pressionaram o governo para implementar medidas proteccionistas que limitassem o efeito da importação de carros japoneses que, para além de serem mais eficientes em combustível, eram menos poluentes e tinham também melhor qualidade porque avariavam com menos frequência. Em 1981, os EUA negociaram a implementação de quotas que limitavam a importação de carros japoneses e que duraram até 1985.

A curto prazo, as empresas domésticas americanas beneficiaram, mas a longo prazo, os japoneses seguiram uma estratégia de maximização do valor dos carros exportados para os EUA, focando-se mais no sector de carros mais caros e de luxo, que são mais lucrativos; ou seja, foram atrás dos clientes mais afluentes enquanto que os clientes pobres só tinham acesso a marcas americanas. Para além disso, os japoneses abriram fábricas de montagem de automóveis nos EUA e assim subverteram a política das quotas.

Como devem calcular, os efeitos foram desastrosos, até porque as empresas americanas aproveitaram esta vantagem das quotas para não investir com tanto afinco em qualidade, nem eficiência de combustível, adiando assim o progresso tecnológico. Este case study foi ensinado como um alerta para os malefícios do proteccionismo e as pessoas da minha geração que estudaram gestão e economia nos EUA estão familiarizadas com o mesmo. Muitas destas pessoas estão hoje em dia a trabalhar em empresas, logo têm alguns conhecimentos para avaliar os efeitos das medidas proteccionistas desta administração.

Notem, também, que nunca a economia americana esteve tão interligada com a economia do resto do mundo como está hoje. Os americanos especializaram-se em actividades de valor acrescentado mais alto e fizeram o outsourcing do resto. Esta evolução não surgiu porque dava prejuízo ou porque era motivada pelas empresas estrangeiras, mas sim exactamente o oposto: era mais lucrativa e foi perseguida pelos próprios americanos. Tentar revertê-la com medidas proteccionistas terá necessariamente de ter um custo para a economia americana.

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