Já começou o período de eleições para as Midterms americanas, mas desde há sensivelmente uma semana, as notícias têm sido dominadas pela morte de Jamal Khashoggi, um cidadão da Arábia Sáudia e cronista do Washington Post, que morreu depois de entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia. No início, o Presidente Trump descontou a notícia e disse que era muito mais importante salvaguardar o negócio de vendas de armas que os EUA têm com a Arábia Saudita, só que o governo turco não largou o osso e continuou a forçar o assunto.
A Arábia Saudita é o aliado mais importante dos EUA no Médio Oriente, mas também é aliada da Turquia e, por isso, Khashoggi não pensava que algo fosse tentado contra ele dentro da Turquia e, mesmo que fosse, o pior talvez fosse um rapto. Ele teve esta conversa, algumas semanas atrás, com um amigo turco, conselheiro do Presidente Erdogan, entrevistado pela BBC (minuto 45) -- o mesmo amigo a quem ele mandou a noiva telefonar caso não saísse do consulado da Arábia Saudita onde tinha ido buscar documentos para o casamento. Depois desse telefonema, esse amigo contactou as autoridades turcas que investigaram o desaparecimento.
Os turcos afirmam ter gravações audio e vídeo da morte do jornalista e relatam ter sido algo completamente macabro, em que este tenha sido torturado, tendo tido os dedos cortados enquanto vivo e o corpo tenha sido desmembrado para ser retirado do consulado. Inicialmente, os Sáuditas negaram estar envolvidos, mas agora já assumem que o jornalista tenha morrido durante uma "luta de murros". A existência de gravações indicaria que os turcos tinham o consulado sob vigilância, o que não parece ser algo que os turcos queiram assumir, mas tudo nos leva a crer que as gravações existem.
Encontramo-nos na situação estranha de acreditar mais nas autoridades turcas do que nas dos outros países, quando os turcos têm eles próprios problemas de credibilidade, dado o nível de censura que se vive na Turquia. A economia turca está num caos, com inflação acima de 24%, as taxas de juro para pedir crédito à volta de 40%, e a lira turca fortemente depreciada. Há uns meses, no Twitter, Donald Trump passou algum tempo a insultar o governo turco por causa do pastor americano Andrew Brunson que estava preso por suspeição de ser um espião.
Entretanto, a dívida americana está a aumentar rapidamente sob a Presidência Trump e, enquanto a China está a reduzir a sua detenção de dívida americana, a Arábia Saudita está a aumentar. Note-se, no entanto, que têm pesos diferentes, pois a China detem mais de um bilião curto de dólares, enquanto que os Sauditas detêm 170 mil milhões.
Alguns congressistas americanos já activaram a lei de Magnitsky, passada em 2016, o que implica que o Presidente Trump tem duas semanas para tomar medidas contra individuos envolvidos em violações de direitos humanos. Nesta altura, suspeita-se que o assassinato tenha sido ordenado pelo principe Mohammed bin Salman, que poderá ser um dos alvos de sanções. Veremos como Donald Trump descalçará a bota, mas corre o risco de, nas vésperas das eleições, a Turquia divulgar o conteúdo das gravações com o intuito de o deixar mal-visto.
Os sunitas wahabitas que controlam a Arábia Saudita têm sido o principal financiador dos terroristas e grupos armados que fizeram o 9/11 e que têm desestabilizado todo o Médio Oriente e Norte de África, do Egipto ao Iraque, passando pela Síria, pelo Yémen, até ao Norte da Nigéria. Têm aberto frentes de combate e extermínio de todas as religiões da região, xiítas, cristãos (coptas, católicos,ortodoxos, maronitas,...), alauítas, Yazidis,..., excepto os judeus, com centenas de milhar de mortos e refugiados. Foi preciso morrer um jornalista correspondente de um jornal americano para o Ocidente abrir a pestana.
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