Há anos, o Nuno Amaral Jerónimo explicou-me,
na sua qualidade de sociólogo, que os palavrões só são usados pelas classes
altas e baixas. Ao contrário, as classes médias ficam horrorizadas com os ditos
cujos. Uma das minhas leituras de verão foi o último romance de Humberto Eco,
“Número zero”. Um grupo de jornalistas reúne-se para discutir o formato e
conteúdo do número zero de um jornal a ser lançado, o “Amanhã”. Alguém sugere
que se inove utilizando palavrões, à semelhança do que fazem as elites italianas,
que, pelos vistos, os usam com abundância: «Agora todos usam palavrões … e
dizem caralho, inclusive as senhoras.» Porém, o director opôe-se a essa “ideia
brilhante”, argumentando que o «que faz a alta sociedade não nos interessa. Nós
devemos pensar nos leitores que têm medo dos palavrões. Usar circunlocuções.»
Esta cena passa-se em 1992. Em 2015,
os palavrões permanecem interditos nos jornais, que continuam a preferir circunlocuções,
circunlóquios, perífrases, rodeio de palavras. Caralho.
Foda-se, Zé Carlos.
ResponderEliminarFoda-se, isto está muito bom, caralho!
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