quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Os cães ladram...

E a caravana passa. Comentava a Ana no último post que não fazia sentido emigrar para os EUA porque os americanos chicoteavam os emigrantes do Haiti na fronteira e tinham outras cenas. Ninguém foi chicoteado, mas houve um guarda que lançou uma corda pelo ar num gesto que não é admissível. Os Texanos são efectivamente marados e há que manter a reputação de serem cowboys, mas o certo é que entre ir para o Haiti e para os EUA, as pessoas preferem os EUA--obviamente! E entre Portugal e os EUA, também é EUA: basta ver o número de refugiados que vem para os EUA comparado com o que vai para Portugal, mesmo fazendo o ajuste pelo tamanho da população.

Como dizia a minha empregada que é das Honduras, a qualidade de vida aqui é muito melhor do que nos países de onde estas pessoas vêm, apesar de se suspeitar que muitos destes emigrantes estivessem em outros países da América Latina e aproveitaram a mudança de regime de imigração para os cidadãos do Haiti por causa do terramoto para tentar entrar.

Há um ponto curioso que as pessoas parecem não compreender: quem define os valores da sociedade ocidental hoje em dia são os americanos. O que as pessoas valorizam é o que alguns americanos valorizam. As grandes questões actuais têm todas o marketing americano: o aquecimento global, o movimento MeToo, os direitos da comunidade LGBTQ, o multiculturalismo, o racismo, a violência, etc. Tudo isso é discutido na praça pública porque os media americanos fazem cobertura dessas questões. O facto de ser discutido em praça pública quer dizer que não é consensual, mas é preciso avançar estas causas e os EUA são um bom laboratório de questões sociais para o resto do mundo.

Finalmente, parem de dizer que o aborto é ilegal nos EUA: o aborto é permitido desde 1973, mas com restrições e as restições variam de estado para estado. O que está em causa é as restrições serem demasiado apertadas em alguns sítios, mas isso não significa que a sociedade americana é atrasada. Até 2007, Portugal tinha restrições ao aborto muito mais apertadas do que os americanos, logo os portugueses não estão mais avançados do que os americanos.

2 comentários:

  1. Valeria dizer que uma pessoa portuguesa sem um curso superior, e mesmo assim só alguns, tem uma probabilidade próxima de zero de conseguir emigrar para os Estados Unidos.

    O ajuste da capacidade para receber refugiados não deve ser só a população, como é óbvio, mas também a riqueza do país.

    Concordo que os Estados Unidos tem melhor qualidade de vida do que a América Latina. Talvez só o Chile e a Argentina escapassem na comparação.

    Falar do aquecimento global como um tema imposto pelos EUA é risível. São os maiores negacionistas, não fazem nada para evitar o desastre.

    O racismo é um problema gravíssimo nos EUA, muito mais do que noutros países, sobreposto às desigualdades económicas brutais.

    LGBT, de acordo. Metoo, sim, só porque há uma grande desigualdade entre homens e mulheres na sociedade americana, que é muito machista, e haver armas à solta não deve ajudar nada a violência doméstica, que é um assunto de que os americanos não falam.

    Aborto ilegal a partir das seis semanas é praticamente dizer que é ilegal. Em Portugal o aborto foi discriminalizado até às doze semanas.

    Por fim, se estava a tentar chamar-me cadela, a carapuça não me assenta, e fica-lhe mal a si.

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    1. "Aborto ilegal a partir das seis semanas é praticamente dizer que é ilegal. Em Portugal o aborto foi discriminalizado até às doze semanas."

      ainda vamos ver se essa lei é inconstitucional ou não. de qq forma, é só no Texas. Parece-me que falas como se fosse uma regra nacional.

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