Bom, mas não foi esta epifania que me levou a escrever este texto. Depois de descobrir que a Joana é uma recém-licenciada, veio a pergunta natural sobre os seus planos para o futuro profissional. Eu posso estar, afinal, velha, mas ainda conheço termos como Millennials e sei que ela faz parte deles. Sendo designer, vi-lhe boas oportunidades no estrangeiro, onde a criatividade portuguesa tem algum potencial para ser reconhecida. Mas a Joana respondeu com o CEAGP. "Cê-A-Quê?!". "GP, de Gestão Pública. Curso de Estudos Avançados em Gestão Pública." E assim veio a minha segunda descoberta da noite, tão ou mais admirável que a primeira. Parece, então, que existe em Portugal um curso que dá acesso directo a um emprego na função pública. É este: chama-se CEAGP e custa 5000 euros. Ou seja, quem tem 5000 euros pode garantir um emprego público. É ir ao site do INA e descobrir os pormenores. Mas não é muito mais que isto. É preciso ter uma licenciatura (em Design, por exemplo, ainda que possa parecer estranho que o Estado precise de designers); conseguir entrar no curso e completá-lo com média não inferior a 12 valores; e, claro, ter capacidade para pagar 5000 euros. Sou só eu a achar que isto é comprar um emprego na administração pública?! E que é um óbvio exercício de exclusão social?!
Entretanto, o meu nível de indignação reduziu-se bastante e estou muito mais tranquila. Tudo graças à mensagem de Natal do nosso Primeiro-Ministro. Eu sei que ele estava num jardim-escola, mas certamente "a democratização do conhecimento é essencial para reduzir as desigualdades e garantir a todos iguais oportunidades de realização pessoal" é algo que se aplica perfeitamente a este contexto, pelo que 2017 deverá acabar com esta discriminação.
Sob a dúvida que tem eu dirigir-me-ia, por email, ao Tribunal de Contas, perguntando se este dispõe uma avaliação da política pública a que se referiu, e que está a ser aplicada desde o ano 2000.
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