Em muitos aspectos, o futebol português é um bom exemplo que
podia ser emulado por outros sectores, que estão muito longe dos níveis de
excelência atingidos pelas equipas e pela seleção nacional a nível internacional. Há
com certeza várias explicações para esta situação. Uma delas é que as equipas
portuguesas estão habituadas a competir internacionalmente há muitas décadas e
muitos jogadores portugueses começam a fazê-lo desde pequeninos. Outra razão é
que no futebol só interessam os resultados. Na hora da verdade, ninguém quer
saber se o Rui Vitória trabalhou muito ou pouco, o que interessa é se os objectivos foram ou não alcançados. Em suma, ao contrário de muitos sectores, o
futebol português rege-se pelos princípios e critérios da gestão moderna.
Mas há outro aspecto que me parece curioso. As equipas
portuguesas não podem competir com muitas estrangeiras em termos salariais. Por
exemplo, o José Mourinho treinou o FCP, mas quando apareceu o Chelsea a
oferecer 10 ou 20 vezes mais de salário, o FCP teve de o deixar ir. Isto levou
a que o FCP tivesse de procurar novos talentos, como o Vilas
Boas e o Vitor Pereira. Estes novos talentos nunca teriam tido a oportunidade
de mostrar o que valem se os clubes seguissem a mesma lógica de muitas
empresas portuguesas: pagar aos seus gestores de topo salários iguais ou
superiores aos praticados nos países mais ricos.
Isto tudo a propósito do excelente artigo da Helena Garrido hoje no "Observador". A baixa produtividade dos países mais pobres deve-se aos
gestores e não aos trabalhadores. E, no entanto, por cá, os primeiros são pagos de acordo com os padrões internacionais, com os resultados desastrosos que se conhecem, por exemplo, na banca. Alguma coisa está claramente errada neste cenário. O
salário oferecido, pelo governo, aos administradores da CGD só faria sentido se houvesse um concurso
internacional que pretendesse atrair talentos raros. Não foi o caso. Por isso,
a prática correcta é seguir os exemplos do Benfica, Sporting e FCP, etc.. Quando não
se pode pagar a Mourinhos e Guardiolas, paga-se a Espíritos Santos, Vitórias,
etc., os quais até podem ser tão bons ou melhores do que os primeiros. E o Estado deve ser o primeiro a dar o exemplo.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.