The world breaks everyone and afterward many are strong in the broken places. But those that will not break it kills. It kills the very good and the very gentle and the very brave impartially. If you are none of these you can be sure it will kill you too but there will be no special hurry.Ernest Hemingway, A Farewell to Arms
Dia 10/10/2015, às 22h32m, celebra-se o nono aniversário do "Estado Civil", o blogue do Pedro Mexia, que deu origem a um livro do mesmo nome. Tem o subtítulo "Diário de Uma Crise" e foi editado em 2009 pela Tinta da China, com uma tiragem de 1000 exemplares. Espero que bem mais de 1000 pessoas o leiam.
Há várias coisas "engraçadas" acerca desta data, mas vou dar-vos alguma informação contextual. A primeira coisa que vos quero dizer é que eu nunca tinha ouvido falar no Pedro Mexia até começar a conversar com o NAJ. E mesmo ouvindo falar no nome do homem e de me dizerem que escrevia bem, nunca teria tido vontade de comprar um livro dele.
Acerca do que eu leio hoje, há três especificidades:
- Uma é que, não sei porquê mas, depois do meu cérebro passar mais de um quarto de século a rejeitar o português, finalmente consigo funcionar minimamente em português -- melhor em escrito do que falado --, e até prefiro ler e escrever coisas em português em vez de em inglês. Desde que eu tinha para aí 15 anos, que me lembro de funcionar apenas em inglês. Não pensem que estou a ser snob ou pretensiosa. Estou apenas a dizer-vos que desde essa idade, o inglês consumia-me completamente: era uma doença mental. Foi apenas o medo de ficar desempregada que me levou a não escolher humanísticas como objecto de estudo.
- A segunda é que eu refugio-me em coisas que foram escritas há muitos anos, pois tenho medo de coisas escritas mais recentemente. Como eu tenho acesso reduzido a livros portugueses, prefiro a segurança de escritores que já foram testados por muita gente muito mais informada do que eu. Acima de tudo, não quero ser desapontada na minha língua-mãe.
- A terceira é que tenho uma grande preferência por poesia e não-ficção (auto-biografia, biografia, e ensaios). A poesia é mais recente, mas o desencanto com a ficção já tem alguns anos. Há, no entanto, autores que desafiam esta minha limitação.
Foi através das recomendações do NAJ que eu comecei a ler Pedro Mexia. [Digo-vos que o pessoal que escreve neste blogue é intelectualmente muito estimulante. Eu tenho uma sorte fenomenal de estas pessoas me terem caído no regaço e de conversarem comigo acerca de livros e escritores.] A primeira coisa que li dele foi uma crónica recente e reparei que a maneira como estava escrita era muito americana. Depois comecei a ler o "Estado Civil", mas interrompi para ler o "Nada de Dois", que li numa tarde.
Há uma coisa que me incomoda muito no "Estado Civil": a ausência de datas. Faz-me imensa confusão ler um diário que não tem datas. Achei que foi uma grande perda que os textos, no livro, não tivessem identificativos temporais. Muitas vezes, vou ao blogue só para ver em que dia ou a que hora algo foi escrito. Mas o livro vale a pena, apesar disso...
Houve um dia em que estava a ler o livro e tive de ir ver a data da primeira entrada. Li 10/10/2006 e lembrei-me perfeitamente desse dia. Foi uma terça-feira; foi um dos piores dias da minha vida. Nós mudamos todos os dias e a maior parte das vezes não nos apercebemos da mudança, mas eu sei em como eu mudei nesse dia. E lembro-me de uma coisa que eu disse nesse dia: "My mother can die at any moment." Ela morreu na sexta-feira, dia 13.
Nessa terça-feira começou o pior ano da minha vida: os dominós caíram todos menos um--eu. Mas nem esse era seguro. Durante uma conversa com um amigo meu ao telefone, ele disse-me "Rita, don't do anything foolish." Eu nem tinha pensado nisso, mas as circunstâncias tinham-se tornado tão extremas que a loucura tinha-se tornado a coisa mais normal.
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