segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Helena Araújo, ainda na Alemanha


De certo modo foi uma sorte os atacantes serem árabes ou do norte de África: ao estilizar-se na cabeça de todos a imagem de mãos pretas em corpos femininos brancos, o crime em si desenhou-se com clareza, sem se deixar turvar pelo reflexo de tolerar os nossos hábitos culturais e de proteger os nossos homens. Neste caso, a xenofobia jogou a favor da causa das mulheres, porque ao ser cometido pelo "outro", pelo bárbaro indesejado, deu ao crime concreto uma visibilidade imune a qualquer máscara ou desculpa.

Também os gritos que da rua se ergueram para expulsar esses criminosos jogam a favor das mulheres. Para serem expulsos, têm de ser acusados de um crime grave. Pelo que o assédio de rua passará a ser considerado crime grave, seja cometido por "um desses energúmenos" ou por um dos "nossos". Se temos motivo para ficar muito incomodados por um refugiado árabe/muçulmano ter consigo um papel onde escreveu a tradução para a nossa língua de frases como "mamas grandes" e "quero-te foder", temos de ficar igualmente incomodados quando essas frases brotam da boquinha de um compatriota nosso. Não há como penalizar duramente no caso de uns, e tolerar no caso dos outros.

A polícia aprendeu depressa. Na semana passada, prenderam dois paquistaneses que andavam a abraçar mulheres junto à Porta de Brandeburgo, em Berlim.

4 comentários:

  1. Intrigante, caro LAC. Não sei se bom ou se mau. Há várias ilustrações com legenda que se podem retirar do texto!! Virtuosas à primeira leitura. Contudo, à segunda, revelam um relativo incómodo com a mesma virtude. A virtude há-de ser total, ou nenhuma!! Ou é, aquela, total ou que se calem, então, os clamores indignados!!

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  2. Eu vi, com muito interesse, vários trechos divulgados, ou escritos, pela citada Helena, por serem testemunhos próximos, e importantes para captar melhor o essencial. Bem haja.
    Ela usou muito o conceito de "Rape Culture" e, possivelmente, teria ido mais longe se tivesse usado também o de "estupro étnico" e de "estupro de guerra", a par de alguns mitos como os que foram referidos em notícias de alguns julgamentos realizados em Portugal, na Suécia e na Austrália, sem chegar à Índia, ao Paquistão, ao Egipto e a Marrocos. E, não menos, se... [Ressalvo que é impossível ir a tudo ao mesmo tempo]

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