domingo, 15 de maio de 2016

A sério?

Parece que foram Angola, Brasil e China que deram cabo das previsões “conservadoras e prudentes” do governo relativamente ao crescimento do PIB. O colapso das exportações deveu-se aos comportamentos imprevisíveis destes mercados externos. Pelo menos é essa a ideia que tentam passar os nossos governantes e alguns articulistas, como o imparcial Nicolau Santos. Eu pasmo. Só agora é que perceberam que havia problemas nestes países? No draft do orçamento que o governo apresentou em Janeiro à comissão, a previsão inicial era de um crescimento de 2,1%. Depois, contrariados, com mais essa, segundo alguns comentadores, ingerência abusiva, lá baixaram a estimativa para 1,8%. Nessa altura, ainda não desconfiavam de nada, ainda não lhes passava pela cabeça que as coisas podiam descarrilar lá fora? Não ouviram as carradas de avisos sobre o excesso de optimismo do governo? A sério? Uma pessoa ouve as explicações oficiais e não sabe se há-de ficar indignado por nos quererem fazer passar por parvos, se há-de ficar assustado com tamanha cegueira, no caso de estarem a falar a sério. 

8 comentários:

  1. Tem toda a razão, JCA.

    E isto demonstra bem outra coisa: a afamada "mudança de paradigma" e o "foco no sector exportador" era, em parte, treta.

    Não porque o Governo anterior não tivesse razão - tinha-a toda e não entrou no disparate de achar que o consumo interno é que ia ser o motor da recuperação, como este fez -, mas porque a) os Governos têm relativamente pouca influência nisso (salvo aumentar o consumo interno, que conseguem sempre); b) a (pouca) política de apoio ao investimento do sector exportador continuou a ser a errada (foca em "linhas de crédito" e "parcerias xpto" em vez de se preocupar com coisas mais corriqueiras, como diminuição dos custos de contexto).

    Como escreveu o Pedro Pita Barros no blogue dele, existe uma divergência entre o que a economia real é (e quais os sectores exportadores que têm vingado) e o que os Governos acham que devem ser. O que nos "safa" na exportação não são os sectores glamorosos, "high-tech" e do "empreendorismo estilo Silicon Valley". São antes pelo contrário coisas menos apelativas, como a metalomecânica ou o têxtil e calçado - sectores que têm sido tratados há décadas com pouco mais que desprezo e condescendência.

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    1. É revelador que os empresários portugueses dêem preferência a apostar nas exportações para países corruptos: ou não têm qualificações para os países não-corruptos, ou são corruptos e interessa-lhes o lucro fácil.

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    2. Rita, não generalizes. Há empresas portuguesas a exportar para muitos outros mercados. Os empresários portugueses, há-os melhores e piores, tal como em todas as outras profissões. Com a diferença que, empresário, qualquer pode ser, é só ter iniciativa. You're welcome to try :)

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  2. Excelente post. Concordo totalmente.

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  3. Caro J. C. Alexandre:
    Já agora acrescente que este governo não deu ouvidos (ou leu) os avisos sonoros (e escritos) que o anterior governo deixou bem claros.
    Pois a desaceleração da economia portuguesa e das exportações já se faziam sentir ao longo de todo o ano de 2015, como nos diz o jornalista de economia João Silvestre, num excelente artigo, muito sereno e muito explicativo, sobre a evolução da economia portuguesa (Ver jornal Expresso, Caderno de Economia, p. 6 - o mesmo jornal, e caderno, que traz a opinião de Nicolau Santos que criticou).
    O Nicolau Santos é outro ódiozito de estimação para muita gente.
    Mas o J. C. Alexandre não desmentiu que as exportações baixaram nestes destinos (como importações desses países):
    Angola, menos 45%
    China, menos 32,9%
    EUA, menos 9,6%
    Alemanha, menos 4,5%
    Nem desmentiu que, pontualmente, neste período houve uma paragem na refinaria da Galp em Sines.
    Nem que a Autoeuropa eliminou um turno de produção devido ao abrandamento do mercado chinês que absorve a maior parte da sua produção.
    E deve conhecer o papel destas duas empresas e produtos nas exportações da frágil economia portuguesa.
    Mas para desancar neste governo tudo serve, embora uma escolha mais criteriosa fosse aconselhável; e motivos para escolha não faltam, infelizmente.
    Mas quando se quer bater por bater tudo serve.
    É o país que temos: antes uns sectários ideológicos contra o anterior governo, que se recusavam a ver o estado em que o país estava em 2011; agora outros contra este, que se recusam a ver que o «sim, queremos ir além da Troika, de Passos Coelho foi um erro, pois a austeridade em excesso tem efeitos contraproducentes na economia.
    O mercado interno tem um papel muito importante, desde que com peso, conta e medida.




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    1. Mas, caro Manuel, o JCA apenas referiu que os sinais e elementos eram evidentes, ou seja, inexiste qualquer elemento surpreendente de superveniencia que seja medianamente atendível.
      Mas concordo consigo numa coisa, o tempo das trincheiras ainda não acabou!! Sectários contra sectários!! E a maioria silenciosa, cordata, virtuosa e edificante, onde anda!? Quem a pode representar!?

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  4. Ao menos acertei nas previsões. Isto de ser uma Cassandra tem muito que se lhe diga...

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