Muito foi dito e escrito sobre o
fenómeno Bernie Sanders. Que era um fenómeno extraordinário, que estava a mudar
o panorama da política mainstream norte-americana,
trazendo a “verdadeira” esquerda para o centro do debate, que era mais um
sintoma das consequências da hiperglobalização.
Mas, na verdade, e olhando
objectivamente para os factos, Sanders de especial não teve nada. Desafios à
liderança do Partido Democrata pela esquerda são a norma, e não a excepção. São
sempre mal-sucedidos porque são movimentos de homens brancos liberais. A causa
da sua derrota é sempre a mesma e não é um complot
dos new dems brancos e privilegiados.
É bem mais parcimoniosa e salta aos olhos em qualquer estudo eleitoral
demográfico. A causa da derrota das facções mais esquerda é mesmo a sua
incapacidade de conquistar o voto latino e o voto afro-americano. Isto faz com
que não consigam ganhar nunca a maioria do voto popular democrata. Sanders não
foi excepção. A única excepção foi Barack Obama, em 2008, que, pelas suas
características pessoais, conseguiu juntar, ao voto branco, o voto
afro-americano.
Eu não pertenço à extrema-esquerda,
mas se pertencesse estaria agora, no rescaldo de mais um fracasso, a fazer uma
pergunta óbvia, mas fundamental. Porque é que a extrema-esquerda
norte-americana não consegue conquistar o voto das minorias étnicas? Porque
perde repetidamente o voto daqueles que, segundo a sua própria visão do mundo,
mais beneficiariam com a sua chegada ao poder? A resposta a esta pergunta tem
um significado político importante.
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