1.
As três bruxas de Macbeth descreveram-lhe a sorte, em
coro.
Que o escocês tenha interpretado mal o vaticínio não é surpreendente, viu
no futuro o que lhe convinha. Pareceram-lhe feias as bruxas, velhas, enrugadas,
com dentes podres, cabelos ralos, unhas sujas, vestidas de farrapos fétidos,
enfeitadas de sapos mumificados e caudas de lagarto rijas. Mas naquele minuto
Macbeth precisava de aprovação e desesperadamente. Justificação de meios tão
graves para um fim tão dúbio. Incentivo. Nunca foi determinado. Antes e depois
dos assassínios sangrentos hesitou. Remorsos ou o hábito de procurar fora de si
confirmação, força, fizeram-lhe ver o punhal que não estava lá à sua frente.
Viu muitas quimeras, muitos fantasmas, todos eles ensanguentados. Procurou na
mulher conforto, uma mulher de ferro e gelo, dura, que ainda assim sucumbiu aos
delírios que gostaríamos de ver sofrer todos os ambiciosos. As manchas que não
se conseguem lavar, as manchas danadas. A insânia dos perversos. A justiça e a
ordem do universo, porque é preciso ter sido sempre insano para se ser mau.
Lady Macbeth era bela, as bruxas não, mas viam estas nos seus caldeirões
infectos e nas suas poções medonhas coisas verídicas e inevitáveis, a justiça e
a ordem do universo. Se poucas vezes somos capazes de reconhecer os
mensageiros, como seremos capazes de decifrar as suas mensagens.
Este artigo vai ser citado no meu comentário a um artigo sobre Tortura in:
ResponderEliminarhttp://destrezadasduvidas.blogspot.pt/2017/01/em-nome-de-que.html
Fico não só, como é costume dizer-se e bom costume sentir-se, honrada, mas também satisfeita por ter assim um leitor. Obrigada!
ResponderEliminar(sobre as manchas que não se lavam http://elasticidade.blogspot.co.uk/2013/07/ilusao.html )
ResponderEliminarUm fellow shakespearean :-) ! Se a filosofia é uma nota de rodapé a Platão, Shakespeare é a literatura toda. Parabéns!
EliminarEra só para dizer que acho os sapos bichos lindíssimos, logo até embelezam as bruxas!
ResponderEliminarEncontrei um no meu quintal.Deixei de vê-lo, mas de vez em quando aparecem umas miniaturas do primeiro. Deve ser a prole, ou espero que seja, por razões sentimentais. Até porque partilham uma obsessão: trepar o acesso íngreme ao portão de entrada dos carros, pondo em risco a própria vida. São da matéria dos heróis, que a esta preferem o salto no desconhecido.
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