Finalmente há notícias susceptíveis de
comentário sobre educação. O Conselho Nacional de Educação (CNE) difundiu dois
documentos (Parecer sobre avaliação dasaprendizagens e realização de provas finais no ensino básico e Relatório técnico sobre avaliação dasaprendizagens dos alunos no ensino básico) e o Ministério da Educação (ME)
deu a conhecer um “Comunicado” intitulado Modelointegrado de avaliação externa das aprendizagens no ensino básico.
O CNE realizou o seu trabalho (o Relatório é um bom documento), mas não
parece que o ME tenha podido reflectir muito sobre ele, na medida em que o comunicado
surge praticamente na mesma altura em que os textos do CNE são apresentados.
Pode legitimamente duvidar-se que o pouco mais de mês e meio (o tempo que o
governo leva de vida) tenha sido tempo suficiente para maturar ideias e, sobretudo,
assegurar desejáveis consensos. É verdade que, segundo o comunicado, terão sido
ouvidos o “Conselho de Escolas, o Presidente do Conselho Nacional de Educação,
as Associações de Professores de Português e de Matemática, a Confederação
Nacional das Associações de Pais, a Associação de Estabelecimentos de Ensino
Particular e Cooperativo, professores de diferentes ciclos do Ensino Básico,
psicólogos, diretores de escolas e agrupamentos de escolas e vários especialistas
em Ciências da Educação, Didática e Avaliação e Desenvolvimento Curricular”. Leio
na imprensa de hoje que o Conselho de Escolas lamenta não lhe ter sido pedido um
parecer, e compreendo; mas o ME tinha pressa…
Ora vozes críticas condenam essa pressa, que
se “mude tudo” o que existia mal o governo tem outra cor. Pessoalmente penso
que não deveria ser assim, porque defendo a estabilidade, mas neste caso era
urgente que se travasse o mais cedo possível a orientação que Nuno Crato tinha
imprimido à educação e que em boa verdade contrariava a própria lei de bases do
sistema educativo. Talvez por o país estar muito preocupado com a situação económica
e financeira desses anos negros poucos estiveram atentos às medidas cratianas,
que reverteriam a nossa escola aos piores tempos da ditadura, porque mesmo essa
acabou por ter alguma abertura para uma educação nova, sobretudo dos anos 60 em
diante.
Eu gostaria que estas decisões fossem mais
discutidas e fundamentadas, mas concordo na generalidade com elas: tal como
escrevi anteriormente, penso que faz sentido manter um exame no 9º ano e suprimir
o do 6º. Manter as provas de aferição é sensato, mas não me parece que seja boa
prática regulamentá-las demasiado, transformando-as num quase exame. A
verdadeira aferição deve decorrer numa situação escolar normal, pois só assim
se poderá perceber como está a decorrer
o processo de aprendizagem dos alunos face ao evoluir das matérias ensinadas.
Quando digo que gostaria de ver mais
fundamentadas estas decisões é porque seria lamentável que este ME praticasse o
“achismo” de que Nuno Crato foi expoente. Decidir a extinção dos exames do 6º
ano não deve resultar de alguém achar que
é melhor para as crianças, mas sim por existirem razões aceitáveis, credíveis, que
a justifiquem. Fico aguardando por desenvolvimentos relacionados com estas
alterações.
Cândido, para efeitos práticos, qual é a grande diferença entre ter exames nacionais ou ter exames de aferição nacionais? O qué que se faz com uns que não se faz com outros? Tenho tido imensa dificuldade em perceber o que se anda a fazer nesta matéria.
ResponderEliminarLuís, a prova de aferição tem uma finalidade clara: é um elemento de avaliação formativa, quer para professores, quer para alunos. Tal prova deve ser integrada com toda a normalidade num dado momento da escolaridade do aluno; não deve ser preparada. Isso retira-lhe a carga emocional (ainda que eu não seja dos que mais valorizam os seus efeitos negativos nos exames). Ela serve para perceber se os alunos estão a aprender, e, caso contrario, ensaiar técnicas de remediação. Mas ela serve também para o professor poder perceber se está de facto a ensinar bem (ou, como eu prediro dizer, mas há quem me chame lírico...) se o professor está a ensinar os alunos a aprender bem. A logística de uma prova de aferição é mais ligeira que a de um exame. Em meu entender toda a avaliação deve procurar ajudar o avaliado, e só em casos extremos deve servir para juízos definitivos, em especial se estamos a lidar com crianças ou jovens. Bom domingo!
EliminarEu percebo isso que dizes, mas não vejo porque o mesmo não pode ser aplicado aos exames nacionais. A carga negativa que lhe é posta em cima, penso, tem muito mais a ver com o debate político do que com qualquer outra coisa.
EliminarPor exemplo, se as escolas estão preocupadas com rankings, por que motivo não prepararão os alunos exactamente da mesma maneira para as provas de aferição?
Eu estou contente com este teste no 2º ano, assim a minha filha já vai poder fazer um este ano. Mas, se as escolas vão aproveitar esta informação para corrigirem o que tem de ser corrigido, então não era importante um exame (pode ser de aferição) no 4º ano para ver de as políticas correctivos deram resultado ou não? Ou vamos ficar pelo enunciado de intenções?
Sen dúvida que a educação depende da política, e nesse sentido tens razão, o exame aparece como um elemento essencial da escola selectiva, que pode cercear o prosseguimento de estudos a uma criança, em contraponto com o ideal de uma escola sem reprovações. Há quem pense que se o Estado define a educação como obrigatória até uma certa idade, não tem sentido afastar um aluno da escola; e a não ser em casos identificados (que têm solução no âmbito da educação especial) um aluno poderá e deverá sempre aprender.
EliminarEu estou bastante de acordo com esta ideia e por isso defendo que a unidade do ensino básico (até ao 9º ano) exige que seja levada a efeito uma avaliação formativa, diferenciada, e que só no final do 9º ano se defina, através de exame, se o aluno pode ou não continuar para o ensino secundário.
Como disse no texto do post, tenho algumm receio que as provas de aferição se possam transformar em exames encapotados, porque não é isso que devem ser. Em princípio, um professor conhece os seus alunos, sabe o que eles sabem, e as as aferições funcionam como contraprova, colocando todos na mesma situação. As divergências que então se encontrem são indicadores para que o professor reformule as suas estratégias face a alunos com dificuldades.
Quanto à tua pergunta final, bom, o que vai acontecer é que no 4º ano, como em todos os outros até ao 9º, a responsabilidade de avaliação dos alunos cabe fundmentalmene ao professor. Como deve ser, uma vez que foi ele, ou ela, que trabalhou para que os seus alunos aprendessem.