Não será o único nos
anos mais recentes, mas este 9 de Maio, “Dia da Europa”, tem um travo muito
amargo. Estamos longe do sonho idealista de Victor Hugo ou, em versão também
romântica, mas menos idealista, de Schuman ou Monnet.
Com o aggiornamento que o tempo sempre impõe,
seria difícil imaginar, em especial depois do Tratado de Maastricht de 1992 e
mesmo do último Tratado, o de Lisboa, que a União Europeia (UE) se encontrasse
em tão má forma. Sabe-se que o continente é velho, em História, e agora também
em demografia. Nunca se escondeu que aqui eclodiram os grandes conflitos
armados da Humanidade, do mesmo jeito que aqui parecem ter florido das maiores
realizações do nosso génio.
Todavia, uma Europa
ameaçada a Leste pela “invasão migrante”, a Oeste pelo descalabro económico e
ao Centro pela estagnação e pela incapacidade de liderança política confirmam
cada vez mais a verificação de que a UE pode ser um gigante económico (hoje
mais virtual que real), mas parece perpetuamente condenada a ser um “anão
político”. Nem a famosa “PESC – Política Externa e de Segurança Comum”, então
2.º pilar da construção jurídica saída de Maastricht, tem posto a UE a falar a
uma só voz. Nunca – excepto em caso de uma nova calamidade gigantesca – tal
sucederá, atenta a oposição de interesses que norteiam a política externa de
cada um dos actuais 28 Estados-Membros.
Também é hoje óbvio que
a União permitiu demasiadas adesões em pouco tempo e que sofre as dores
respectivas, em muito impulsionadas pelos EUA que, por interesses
geoestratégicos e económico-financeiros, não permitiriam que a Federação Russa
mantivesse a mesma influência a Oriente da sua predecessora URSS. Os
norte-americanos, nestas coisas, não falham e têm demonstrado à Europa que a
sua juventude, aqui, é uma vantagem comparativa.
Confesso que já
acalentei a esperança, baseada em factos, de uma Europa federal, a qual
preferia ao que hoje temos: uma “organização-OVNI”, impositiva, fiel ao
directório alemão, onde a democracia e a transparência nas decisões são uma
miragem. Basta atentar na lonjura que os Povos europeus sentem das suas
instituições, em regra servidas, nos últimos tempos, por burocratas de
horizontes turvos e tacanhos.
Se o fim da UE não é
desejável, apesar de mais próximo do que jamais esteve desde os Tratados de
Paris e de Roma, uma “Europa das Nações”, uma simples organização internacional
intergovernamental, tornariam o continente ainda mais insignificante. O pós-II
Guerra deslocou o centro gravitacional do poder para o “Tio Sam”, agora sem
contraponto a Oriente. Mas mesmo os EUA não sobrevivem sem uma Europa forte. E
esse é o nosso drama, em primeira linha, e que vai já chegando aos
norte-americanos. Por certo não a Trump, esse produto acabado do lixo
pós-moderno, mas a alguém que, como Hillary, conhece o xadrez internacional.
Há poucas décadas, a
moda da “terceira via” pegou com Blair e foi replicada – em tom quase religioso
– com Guterres, na senda de Giddens. Não só a Sociologia e a Ciência Política
se fizeram eco de uma espécie de via di
mezzo, mas um pouco por todas as ciências se tentou uma qualquer síntese
hegeliana.
Ninguém sabe bem quem
manda nas instituições europeias ou dizem-nos que todos mandam por igual. O
poder diluído é poder dissolvido e imprestável ao desiderato de servir o
bem-estar dos povos europeus.
Falhado o federalismo,
não se pretendendo um recrudescimento dos egoísmos nacionais que campeiam da
Polónia à Hungria, de modo mais exacerbado, mas que estão subjacentes a uma
certa discursividade do eixo franco-alemão, talvez um mix entre o pretoriano Delors e o cinzento Durão fosse o que nos
conviria neste momento. Não falo em meias-tintas ou meias-palavras, mas todos
sabemos que a UE se construiu sempre com pequenos passos. O que temos agora são
monumentais arrecuas.
Donde, uma “terceira
via”, por certo limitada no tempo, pudesse ser uma hipótese de trabalho para
que, no próximo ano ou em breve, não estejamos a entoar um requiem pela Europa. O poema de Schiller e o 4.º andamento da 9.ª
sinfonia de Beethoven não o merecem e nós menos ainda. Já nos basta uma
Primavera que tarda.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não são permitidos comentários anónimos.