sexta-feira, 15 de julho de 2016

Devia ser estranho

Hoje à tarde, no trabalho, passei pela cozinha para ir buscar café. Na TV, a Fox News tinha imagens do ataque de Nice e a nota de roda-pé dizia "Dúzias de pessoas mortas". Quando voltei para o gabinete consultei a Bloomberg e o NYT: a primeira dava uma estimativa à volta de 30 pessoas mortas, não me recordo ao certo; o NYT não avançava um número. A descrição do ataque levou-me a crer que fosse intencional, mas depois pensei que podia ser paranóia minha; decerto tinha sido um acidente. A França acaba de receber o Euro 2016, logo o nível de segurança estava e ainda devia estar alto, pensei.

Saí do gabinete depois das 19 horas. Olhei para as notificações do telefone e vi que a Bloomberg anunciava o número de mortos como sendo pelo menos 60. Alguns minutos depois, o NYT contabilizava mais de 70 mortos.


Enquanto passeei os cães estive a pensar num post para escrever, acerca da carta aberta que os empresários do sector de tecnologia publicaram no Huffington Post hoje. Agora, já depois das 21 horas, liguei o computador ainda a pensar nesse post, mas depois pensei que não fazia sentido escrever sobre isso, dado o ataque de Nice. Fica para mais tarde.

Fui à Bloomberg outra vez e o número de mortos estava estimado em 77. Uma mensagem surgiu no écran; olhei para o canto inferior direito do meu computador: uma notificação do Público anunciava 80 mortos. Se calhar, durante a noite, o número continuará a aumentar. Já se sabe que o camião que atropelou a multidão tinha armas e granadas e o condutor saiu do camião aos tiros; foi mesmo intencional. Tudo isto devia ser estranho, mas acho que o que eu achava ser paranóia se tornou numa realidade normal...

10 comentários:

  1. Se proibissem a venda de camiões esta tragédia não tinha acontecido.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E se proibissem comentários incrivelmente estúpidos, este comentário não poderia ter sido publicado.

      Eliminar
    2. Não, Luís, o comentário não é incrivelmente estúpido. É um comentário irónico, sarcástico ou mordaz até, mas não é estúpido. Pese embora, sobretudo na Europa, as pessoas associarem armas como a AR-15 em versão civil a atentados, isso não corresponde, de todo em todo, à verdade. Aliás, há um erro de base: a versão civil não é automática, sequer. Dispara tiro a tiro que foi, aliás, como o patife de Orlando a disparou, ou seja, nada diferente do que poderia fazer com qualquer pistola. Mais, a AR-15 é, na sua versão normal, em calibre 5,56, um projectil com comportamento balístico inferior ao de várias armas de caça e mesmo algumas pistolas. Há ainda a ideia - também errada - que só se compram armas deste cariz para cometer atentados e fazer patifarias. É uma ideia profundamente errada. Há nos EUA seguramente mais de 7,5 milhões de AR-15s e similares. A quantidade destas usada para patifarias conta-se por unidades ou, se ampliarmos a time-frame, em poucas dezenas. Ou seja, estatísticamente irrelevante. A percentagem do seu uso em criminalidade violenta é muito baixa. Há inúmeros usos civis para elas e, por exemplo, pessoas como a Rita, se quiserem caçar, ficam muito melhor servidas com estas armas do que com espingardas de caça normais e plenamente aceites por toda a gente em todo o mundo.

      Vou agora a outro ângulo, o da proibição levar a que elas desapareçam das ruas. Não é verdade e isso tem-se visto nos atentados Europeus como acaba de ver-se agora em Nice. Não é por as armas serem proibidas em França que o condutor deste camião não tinha umas quantas consigo nem que vários atentados pela Europa fora têm sido perpetrados com elas. Mesmo nas Américas, logo abaixo dos EUA, no México, há das leis mais draconianas do mundo com respeito à posse de armas. Não parece que isso impeça que muita gente as tenha como a realidade demonstra. E isto num país que é - pelo menos tanto quanto conheço - o único país do mundo onde as leis restritivas nas armas chegam até ao ponto de requerer autorizações especiais, caso a caso e dificeis de obter, para a passagem de navios civis pelas suas águas territoriais com armas a bordo... algo que muitos reputam de legalidade duvidosa por restringir o direito de passagem inocente previsto na UNCLOS fora dos casos aí previstos.

      Poderia continuar aqui o resto do dia a perorar sobre as armas e os mitos que rodeiam esse tema, caro Luís, mas não vale a pena. As luzezinhas breves e básicas que deixo acima permitem ver facilmente que há muito de mitos nesta história toda do que de realidade. E permitem ver também porque não reputo o comentário de luís barreiro de estúpido e, muito menos, "incrivelmente estúpido". É, sim, um comentário irónico, sarcástico, mordaz, mas muito no ponto.

      Eliminar
    3. Relativamente à linha escrita por “luis barreiro” eu voto que a sua sopa de letras é “falsidade ideológica”.

      Eliminar
  2. Rita, comento este teu post apenas por causa do finzinho dele. Escreveste "Tudo isto devia ser estranho,". Estranho? Como "estranho"? Na Europa não há o chipset mental para resolver este tipo de problemas. Vai contra o ADN Europeu resolve-los e, como tal, é perfeitamente normal que estas coisas aconteçam. É muito fácil a qualquer idiota com ressentimentos contra as sociedades Europeias fazer estas coisas e é algo cuja sanção lhe torna barato leva-la a cabo. Ora, num momento em que há por aí uns quantos patifes com ódio à Europa o estranho seria estas coisas não sucederem. Venho dizendo exactamente isto há vários anos e, mesmo aqui na DdD já o disse pelo menos uma vez. Dados os sacro-santos (até um dia...) princípios e valores Europeus, o normal é estas coisas acontecerem. Infelizmente chegará o dia em que as pessoas, as próprias sociedades, irão revoltar-se e isso será o fim do mundo a pontapé, mau para todos. Mas, lamentavelmente, na Europa é impossivel agir para prevenir essa explosão antes que a pressão suba de tal forma que se torna a única forma de a libertar.

    Em suma, estes atentados existem, já existiram vários e continuarão a existir. É o esperado dado o contexto da Europa Ocidental.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não é um problema da Europa, nem se reduz a ódio à Europa. Também há ataques no Médio-Oriente, nos EUA, em África. E haverá em mais lados porque o problema está a espalhar-se. Que a Europa tenha sido atingida não faz dela o alvo último; acho que é mais um alvo no percurso da violência global.

      Eliminar
    2. Não, claro que não é um problema da Europa. Há ataques em vários outros sítios. Excluamos Médio Oriente e África dado serem contextos sociais (com maior apoio) totalmente diferentes e com ferramentas (até mesmo materiais) muito diferentes daquelas existentes nos países Ocidentais. Compara a resposta dada pelos países Europeus com a resposta dada pelos EUA e, sobretudo, com a resposta dada por Israel. Achas que as respostas implementadas pelos EUA e, sobretudo, por Israel seriam possiveis na Europa? Gostaria de saber a tua opinião mas eu respondo com um rotundo e sonoro "Não!".

      Eliminar
    3. Acho que já escrevi aqui que discordo profundamente da forma como a Europa encara a sua defesa. Dependem, principalmente dos EUA, e os EUA já não estão para gastar dinheiro a defender a Europa, ao mesmo tempo que são acusados por líderes europeus de gastar demasiado em despesas militares. Se o Hollande fosse Presidente dos EUA, estava frito. Na mesma semana que se descobre que os contribuintes franceses lhe pagam os cortes de cabelo à taxa de €9,895/mês, há outra falha de segurança desta envergadura. É um idiota completo.

      Eliminar
  3. Um camião de 25 toneladas sem arca frigorifica e disse ao policia que ia vender gelados e ele deixo-o passar?

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.