Alguém no Independent anda a ler o que eu tenho escrito sobre a Alemanha e os refugiados. Hehehehe.
(Quer dizer, não será exactamente assim, mas não podia deixar escapar a oportunidade de anunciar que não estou sozinha nesta caminhada contra um medo que cria espaço para a cegueira e o ódio. Mais ainda tratando-se de pessoas que escrevem em estrangeiro que, como é sabido, é sempre mais interessante que o produto nacional. Mais ainda tratando-se de um homem, o que impede aquele paternalismo que às vezes se abate sobre as mulheres que se atrevem a sair ao espaço público para dizer o que pensam.)
Falando muito a sério, é isto: a atitude de Angela Merkel a favor dos refugiados pode ter salvo a Alemanha de ataques terroristas realmente grandes. Leiam, leiam, é uma análise muito interessante.
E diria mesmo mais: até pode ser que um dia (até pode ser que neste preciso momento) haja um desses ataques terroristas com dezenas de mortos na Alemanha. Não há segurança absoluta perante a loucura, o ódio, as estratégias de poder. Mas se é para morrer, prefiro morrer de pé e fiel aos valores em que acredito, a morrer em fuga como um rato que salta do navio.
Tanto mais que as propostas de fuga que tenho ouvido por aí são disparatadas e suicidas. O ódio não se combate com o ódio. Tentá-lo, é perder três vezes: perdemos, porque em termos de ódio, "eles" estão mais desesperados que nós (por exemplo, dispostos a dar a vida para destruir inimigos); perdemos porque desistimos dos valores com os quais queríamos construir um futuro para os nossos filhos; e perdemos porque confirmamos os motivos do ódio contra nós.
»Mas se é para morrer, prefiro morrer de pé e fiel aos valores em que acredito, a morrer em fuga como um rato que salta do navio.»
ResponderEliminarTivessem os milhares de refugiados, muitos dos quais eram judeus, que acorreram a Bordéus em 1940, assim pensado, e o Cônsul de Portugal naquela cidade teria tido uma pacífica carreira.
Por outro lado, essa lógica pode também aplicar-se aos refugiados que demandam a Europa. Seria justo fazê-lo?
Quanto à opinião que tanto a confortou, decerto poderá encontrar semelhante em língua indígena - no "Público", por exemplo - ou também em estrangeiro, em locais como Guardian, Le Monde, El País e New York Times.
Expliquei mal. Se é para morrer, prefiro morrer em pé e fiel aos valores em que acredito, em vez de desatar a tentar fechar fronteiras para me proteger de pessoas que precisam desesperadamente de ajuda, só por medo de que haja terroristas entre elas.
EliminarA Angela Merkel interrompeu as férias para dar uma conferência de imprensa e parece também estar cheia de energia nesse sentido:
ResponderEliminarhttp://www.dw.com/en/merkel-thinks-we-can-still-do-this/a-19432710
Não percebi. Defende que devemos contemporizar com a chantagem: tratem bem dos refugiados que a gente não faz atentados? Ou que tratamos bem os refugiados porque esses são os nossos valores, e estamos dispostos a tudo para combater o terrorismo? Espero que faça parte dos seus valores não me censurar como fez noutro post. O meu comentário não é anónimo.
ResponderEliminarConcordo inteiramente com o comentário do caro João Alves!
EliminarTalvez por isso devamos começar a converter-nos ao Islão. Será menos doloroso.
Estou mesmo a ver que não percebeu. O artigo explica isso muito bem. Não se trata de chantagem.
ResponderEliminarQuanto ao comentário: não faço a menor ideia do que está a falar.
Disse que o ódio não se combate com o ódio, quer dizer que devemos deixar o ódio à extrema direita, e passar a contemporizar os fascistas também de direita?
EliminarQuer dizer que o ódio contra um "nós" difuso não se combate com um ódio contra "eles" difuso. É óbvio que nos temos de defender de quem nos quer matar, mas apenas de quem nos quer matar. Não temos de nos defender de todas as pessoas que são muçulmanas (e é esse o discurso que infelizmente vejo muitas vezes nos comentários deste blogue).
EliminarSobre contemporizar com os fascistas de direita: uma coisa é identificá-los, impedi-los de causar dano, e condená-los em tribunal. Outra coisa é - por exemplo - reconstruir o muro de Berlim para impedir os neonazis, que há em grande quantidade na região da antiga RDA, de incomodarem as pessoas que moram do outro lado. É o que têm andado a propor ai: fechar as fronteiras, para não deixar passar ninguém, como se todos eles fossem gente perigosíssima.
Helena, tens que começar a perceber que há coisas por este lado que não são para ser percebidas, são para ser ignoradas. A bem da tua sanidade mental ;)
ResponderEliminarEsse texto parece basear-se na ideia que os terroristas cometem os seus atos, não por causa daquilo que dizem abertamente nos seus textos e proclamações (normalmente algo relacionado com a politica dos países ocidentais no Médio Oriente), mas com base numa reação quase afetiva face ao país em questão. Talvez seja verdade, mas duvido muito.
ResponderEliminarCara Helena, o artigo que menciona, do Independent, é mesmo muito mau!! Uma chusma de banalidades que se contradizem entre si.
ResponderEliminarRelamos a base do argumentário, pressupondo que o escriba já atingiu a maioridade! A França e a Bélgica, os Estados Europeus com o maior número, absoluto e relativo, de pessoas de origem imigrante de cultura islâmica (magrebina, árabe e persa), são, segundo o escriba, feudos de incubação de terroristas. Porque, adianta, são comunidades alimentadas num ciclo de ressentimento e agravo contra o Estado por, entre outras razões, lhes negar um papel na condução da coisa pública. O Estado, continua o escriba, responde às tensões com opressão. Por gerações ocupar-nos-emos de pacificar estas tensões e conflitos, diz o escriba à laia de tpc.
Contudo, conclui o escriba, a Alemanha salvar-se-á desta tormenta e demais tragédias porque se ofereceu para acolher, de braços abertos, comunidades inteiras que partilham com aqueloutras, a que o escriba se refere em França e na Bélgica, origem geográfica e cultural. (somos induzidos a concluir que em França e na Bélgica tais comunidades não foram acolhidas de braços abertos) Os braços abertos são, à laia de metáfora, para o esbriba, o fenómeno e o evento da mudança histórica. Uma questão de afectos que tudo redime. Aduz ainda, o escriba, que, de facto, os refugiados que se ofereceram e ofereceram o suplício sacrificial, já haviam entrado na Alemanha antes da apoteose da abertura de braços da chanceler!!
É verdadeiramente estupendo!! E este artigo não é mais extraordinário que outros mil artigos análogos que se podem ler pela mais influente media na Europa, incluindo aqui a caríssima Helena!!
Um bem haja a todos,
Nos anos '30, em Inglaterra, havia um discurso - e uma prática - em relação ao renascente perigo alemão, semelhante ao discurso da Helena Araújo perante o terrorismo islâmico. Ficou conhecido na História por "Appeasement" e goza, ainda hoje, de má reputação.
ResponderEliminarTambém a Europa goza de má reputação em Inglaterra...
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