A coisa que mais estranhei este fim-de-semana foram as notícias. Em Nova Orleães, na Louisiana, um rapaz de 25 anos, um tal de Neilson Rizzuto, embriagou-se e espatifou uma carrinha contra uma multidão durante um desfile de Mardi Gras. Cerca de 32 pessoas foram atropeladas, 23 das quais necessitaram de cuidados médicos, sendo a mais nova uma criança com três anos. Pouco ou nada se tem falado sobre o moço e sobre a sua etnia. As notícias do caso estão enterradas por outras nos jornais porque toda a gente acha que os Óscares são mais importantes.
Se fosse um tipo escurinho, cairia o Carmo e a Trindade, como de costume. Ah, este fulaninho branco não é terrorista, apenas bêbado, mas notem que não é alcoólico. Daqui a nada, até é bom rapaz, já disse a avó... Para quem foi atropelado, deve fazer uma diferença enorme, estilo "Ah, que bom! Se tivesse sido atropelado por um muçulmano, que provavelmente estaria sóbrio, doer-me-ia mais o corpo!!! Ainda bem que o gajo era branco -- bêbado, mas branco."
No Kansas, outro fulaninho branco decidiu armar-se em defensor da América e desatou aos tiros num bar porque estavam lá dois indianos que ele achou serem pessoas do Médio Oriente, em particular do Irão. Matou um dos indianos, feriu o outro rapaz cuja esposa está grávida. Por sorte, um rapaz branco de 24 anos estava no bar e intercedeu, neutralizando o atirador e evitando mais mortes, mas pelo caminho apanhou um tiro que lhe passou pela mão e atingiu o peito.
A esposa do senhor que morreu, um engenheiro -- imigrante legal -- que trabalha para a Garmin, uma empresa que faz aparelhos de GPS, está à espera de o governo americano criticar este crime de ódio. Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, acha que não tem nada a ver, diz que é lamentável que tenha morrido uma pessoa, mas é absurdo sugerir que o discurso de ódio do Presidente Trump tenha contribuído para este acto.
A ironia é que os indianos, que andavam tão entusiasmados com a eleição de Donald Trump por causa das oportunidades de negócio, agora reconsideram. Já repararam que, se forem ao Kansas em viagem de negócios, é natural que por lá fiquem. Hollywood enganou-se n'O Feiticeiro de Oz: "Toto, I've a feeling we're not in Kansas anymore."
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