Cheguei a Londres na Quarta-feira de manhã. Ultimamente não me tem apetecido viajar, mas incomoda-me quando fico demasiado confortável, como se entrasse num estado de letargia emocional. Já há algum tempo que sentia que era preciso vir aqui buscar um pedaço de mim e gravar aquilo que sinto.
Depois de me orientar -- tornar-me confortável... -- a primeira coisa que fiz foi ir à Tate Modern para visitar os murais de Seagram de Mark Rothko, mas antes passei pela galeria onde estavam os John Cage de Gerhard Richter e é qualquer coisa do outro mundo estar ali. É como se nos chamasse à distância e nos enchesse de luminosidade quando entramos.
A galeria onde estão os murais de Seagram surpreendeu-me por estar tão escura, especialmente em contraste com a capela de Rothko, onde, apesar de os quadros serem variações de negro, o espaço consegue ter grande luminosidade. Mas faz sentido, pois os murais foram criados para despertarem um sentimento de opressão e, ao colocá-los num ambiente escuro, tornam-se num mecanismo de compaixão.
Não sei se foi a sugestão do banco, mas na galeria onde estavam os murais, as pessoas não se aproximavam dos quadros, ficando sentadas no meio, como se estivessem numa ilha. Tive pena que não fosse um barco, onde pudessem partir e me deixassem só, mas isso talvez seja uma desculpa que racionalizei para regressar um dia.
Londres surpreende-me pela sua familiaridade e estranheza. Numa esquina, senti-me transportada para perto de DuPont Circle, em Washington, D.C.; aliás, encontro bastantes coisas comuns entre as duas cidades -- por exemplo, a primeira galeria permanente com quadros de Rothko pertence à Phillips Collection.
Depois há as lojas: as lojas onde faço compras normalmente também estão em Londres e este lado da globalização inspira-me uma mistura de tristeza e felicidade. É bom estarmos em casa em qualquer sítio, mas perdemos algo da experiência se todos os sítios têm as mesmas coisas.
Na montra do Starbucks ao pé da Catederal de St. Paul, um póster informa-nos que ao entrarmos devemos esperar uma boa experiência, mas preferi que fossemos a outro sítio diferente. Depois de comprarmos o café no Eat, mandaram-nos sair porque tinha acabado de fechar às 17 horas. O café era mau, o serviço também, e chovia. Saímos e procurámos o primeiro caixote do lixo.
Acabámos por ir tomar café ao Nero, em Oxo Tower, onde o interior tinha ar-condicionado, o que para mim é bastante confortável, pois estou tão habituada. Por onde vou, noto outras coisas que são diferentes dos EUA: nos restaurantes, os empregados não nos dão um copo de água imediatamente, nas lojas cumprimentam-nos de forma fria, na rua é raro ouvir alguém rir.
Não consigo deixar de pensar na fama que os americanos têm de serem insensíveis e de tratarem mal as pessoas. Em algumas coisas é verdade, mas noutras não é -- como em tudo. E estranho em mim o quanto sinto que a minha casa, o sítio onde pertenço, é do outro lado do Atlântico.
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