Em 1995, Tony Judt publicou um pequeno ensaio no qual
conclui que a Europa Ocidental que hoje temos é o resultado de um conjunto de
circunstâncias únicas e irrepetíveis e que nunca mais ninguém terá igual sorte.
Não passa de um mito a versão oficial de que a União
Europeia é o resultado de um destino histórico ou que a “Europa” foi
reconstruída por idealistas, cuja principal motivação era a de que não houvesse
mais guerras. Não houve qualquer consciência europeia no nascimento da “Europa”,
houve, isso sim, uma “europeização” de problemas internos.
Para começar, no final da II Guerra Mundial, ainda ecoavam
os planos nazis de uma "Nova Ordem Europeia" e, por isso, a ideia de uma Europa
Unida surgia então com conotações sinistras. Em meados dos anos 50, era raro
descobrir na Europa políticos ou intelectuais essencialmente preocupados com
uma Europa unida. A maioria estava concentrada nos problemas e nas políticas do
seu próprio país. Os egoísmos nacionais não nasceram ontem, como parecem
acreditar alguns. Estiveram presentes desde o primeiro minuto. Na verdade, a
“Europa” surgiu de um conjunto de circunstâncias fortuitas.
A história é conhecida, mas volta e meia vale a pena
repeti-la. A França, uma das grandes derrotadas da II Guerra Mundial, precisava
desesperadamente de carvão para a sua indústria de aço e só a Alemanha lho
podia fornecer. Depois de várias tentativas frustradas, que passaram inclusive
por negociações com os russos (que controlavam uma parte da Alemanha), viram-se
obrigados a fazer um acordo com a Alemanha, os países do Benelux e a Itália
para criar a CECA em 1951. Foi uma iniciativa inspirada e de pura sorte. Os
americanos e, sobretudo, os ingleses estavam ansiosos por se verem livres do
fardo de alimentar milhões de bocas (10 milhões vinham das antigas comunidades
alemãs na Checoslováquia, Polónia, Roménia, etc.) e interessava-lhes em
consequência que a Alemanha se desenvolvesse. Por seu lado, o chanceler Konrad
Adenauer viu logo no Plano Schuman uma ” oportunidade” da Alemanha recuperar a
sua soberania e regressar ao seio da comunidade internacional.
Tratou-se, por conseguinte, de um casamento de conveniências
que funcionou enquanto houve dinheiro.
A famigerada “solidariedade europeia” não passa de mais uma
invenção com fins propagandísticos. Os alemães elegeram democraticamente um
governo para os representar e defender os seus interesses concretos, e não uma
abstracção chamada “Europa” - a “Europa” só lhes interessa enquanto acharem que
lhes traz vantagens. O mesmo se passa com os portugueses, os gregos, os ingleses,
os finlandeses, os holandeses, os polacos, os romenos e por aí fora. Não há, nem
nunca houve, “cidadãos europeus”.
Às vezes, convém descer à terra e não andar a alimentar
lirismos. Foram os lirismos, misturados com megalomania e demagogia, que conduziram a
“Europa” a um beco sem saída.
Sim, mas porque é que no século XXI não pode finalmente haver algo mais do que a perseguição de interesses próprios? Eu não estou a dizer que sejamos uns anjinhos inocentes, que acreditam na bondade de estranhos, mas deveríamos exigir que todos se esforçassem para melhorar a situação actual. O que se vê é toda a gente a tentar manter o status quo pré-crise financeira. O Regresso ao Passado era um bom programa do Júlio Isidro, mas não me parece ser um bom programa de gestão da UE.
ResponderEliminarEu acho o "projecto europeu" uma coisa notável e detestava voltar aos tempos das fronteiras e passaportes, das economias fechadas. ´Mas devemos ter os pés assentes na terra e acho que não nos leva a lado nenhum a propaganda europeia, que ignora a história e inventa uma ficção que nada tem a ver com a realidade. Ignorar a realidade costuma sair caro porque, sem darmos conta, ela entra-nos pela porta dentro e deita tudo abaixo. Foi o que fizeram os líderes europeus do passado (Delors e companhia) ao avançarem, por exemplo, para o euro. Ninguém sabe como é que se resolve agora o problema, eu só acho que, se houver solução, terá de partir da realidade como ela é e não de mitos.
ResponderEliminarEu concordo contigo que não devemos ser ingénuos, mas não acho que ambos os objectivos sejam mutuamente exclusivos. E preocupa-me que, sendo o sistema tão imperfeito, toda a gente esteja tão determinada em não utilizar esta crise para melhorar o sistema. Em Portugal, preocupa-me a deferência cega que temos para com as políticas da UE. Parecemos umas pessoas que não sabem pensar criticamente. Prosseguir políticas que nos enfraquecem não são boas para nós nem para a UE.
EliminarNada se faz na Europa que a Alemanha não queira. E uma coisa que a Alemanha não quer é pagar as dívidas portuguesa e grega. Se os alemães ainda nos põem a mão por baixo (e aos gregos) é por um motivo simples: é porque parte da dívida é a bancos alemães ou a bancos que os alemães controlam. É triste, mas é a realidade. Nós temos de viver com o dinheiro que temos.
ResponderEliminarEu acho que nós temos de lutar para criar mais dinheiro que vem de fora da UE, em vez de apenas planearmos gastar o que temos agora. Nós deveríamos exportar mais para fora e esquecer o mercado da UE porque nós só temos fronteira com a Espanha e dependemos demasiado deles. A UE está estagnada, não é um mercado que permita grande crescimento. Hoje temos o mesmo desafio que tínhamos antes dos descobrimentos. Mas repara que ninguém no governo sabe definir uma estratégia de crescimento; ninguém sabe identificar oportunidades para Portugal porque há um profundo desconhecimento da economia mundial e das tendências futuras.
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