No século XVIII, a intelligentsia via nos monarcas
esclarecidos um escape a práticas conservadoras e a atrasos provincianos.
Muitos advogados, comerciantes e escritores apelavam directamente a governantes
iluminados, passando por cima dos parlamentos e das dietas reacionárias. A
“racionalidade” da “Europa” exerce o mesmo fascínio sobre a intelligentsia
das profissões liberais, tanto no ocidente como no leste. A “Europa” é um pólo
magnético para os seus cidadãos de maior êxito. Para os vencedores. E quem fala
pelos perdedores? Dos que vivem longe dos centros abastados. Dos desfavorecidos
em termos linguísticos. Dos desvalidos e desprezados. Para estes, Bruxelas é
hoje uma abstracção administrativa e alvo de um crescente desdém. Sem
surpresa, um pouco por toda a Europa, os partidos da extrema-esquerda e
direita começaram a dar voz a estas franjas marginalizadas. Em desespero, os
partidos tradicionais acusam-nos de populismo e demagogia. Concedo. De facto,
estes partidos, em geral, não se recomendam. Algumas das soluções que propõem
assustam – fechar fronteiras, acabar com o euro, expulsar emigrantes, etc.. Mas
convém não esquecer que o seu crescente êxito eleitoral é o resultado de
décadas de arrogância e soberba dos partidos tradicionais, da intelligentsia, dos "vencedores" e da “Europa”.
Há de facto muitos riscos de as coisas não correrem bem nos próximos tempos. Há muitos problemas para os quais não se vislumbram soluções. As pessoas habituaram-se a elas viessem dos políticos. Serão os políticos hoje muito piores do que eram no passado? Ou serão os problemas muito são mais complexos do que eram no passado? Penso que é a uma combinação dos dois que explica o sentimento dos perdedores de que fala o José Carlos.
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