sábado, 30 de abril de 2016

"O Povo Vulgar"


"Vão-se refugiar noutro lado!
Aqui não há nada para morar!
Refugees not welcome"



Em Freital, uma pequena cidade com 40.000 habitantes, à distância de dez minutos de comboio de Dresden, há movimentos anti-refugiados muito fortes. Um deles, inspirado no Pegida, chama-se "Frigida". Apesar de ser uma situação extremamente séria, sempre que deparo com este nome não consigo evitar uma gargalhada.

Os movimentos anti-refugiados têm-se revelado um importante ponto de encontro e de fortalecimento de redes da direita radical: de Frigida (lê-se: frriguída) para piquetes de protecção civil e para um grupo terrorista que foi alvo de uma razia na semana passada levando à prisão de cinco dos seus membros - quatro homens e uma mulher.

O jornalista Sebastian Leber foi a Freital, e publicou um longo relato no diário berlinense Tagesspiegel, de que traduzo algumas partes e sintetizo outras.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Avista-se igualdade...

"Colin Lokey, also known as "Tyler Durden," is breaking the first rule of Fight Club: You do not talk about Fight Club. He’s also breaking the second rule of Fight Club. (See the first rule.)

After more than a year writing for the financial website Zero Hedge under the nom de doom of the cult classic’s anarchic hero, Lokey’s going public. In doing so, he’s answering a question that has bedeviled Wall Street since the site sprang up seven years ago: Just who is Tyler Durden, anyway?

The answer, it turns out, is three people. Following an acrimonious departure this month, in which two-thirds of the trio traded allegations of hypocrisy and mental instability, Lokey, 32, decided to unmask himself and his fellow Durdens."

Fonte: Bloomberg

Homens a ter cat fights na Bloomberg: yes, please! Agora só falta despirem-se e terem uma luta de selfies nus no Instagram para a minha felicidade ficar completa...

Coincidências lusas

Ontem foi um dia dedicado a Portugal: tirei o dia de folga e passei muitas horas rodeada de portugueses. Tive oportunidade de ir a um almoço onde conheci o Embaixador de Portugal nos EUA, Domingos Fezas Vital, e de assistir a um seminário onde o Sr. Embaixador e Rui Boavista Marques da AICEP apresentaram Portugal a Houston como um bom sítio onde investir. Falar-vos-ei dessa experiência mais tarde. 

À noite, o Sr. Embaixador teve um cocktail com a comunidade portuguesa em Houston, no qual também participei. Enquanto estacionava para ir a esse evento, recebi um SMS de uma amiga minha em Washington, DC. Tinha recebido uma caixa cheia de produtos portugueses, que foi distribuída pela Try The World, pois este mês a caixa é de Portugal. E era isso que eu vos queria mostrar. Achei a coincidência maravilhosa...


Estudantes sírios

Ontem os meus filhos aproveitaram a minha ida à Filarmonia, e encheram a casa de refugiados sírios.

Quando voltei, encontrei uma dúzia de rapazes e raparigas muito sossegados a fazer um jogo e a contar histórias, com música cubana a arredondar a cena.

Comi os restos da comida deles, e deixei-os em paz. Bem sei que tenho por aí muitos leitores cuscos mortinhos por saber como foi, e como são os "refugiados sírios", e tal, mas preferi deixá-los ser o que são: amigos dos meus filhos que vieram jantar com eles.


quinta-feira, 28 de abril de 2016

História gótica

47. A noite estava mais escura e ventosa do que era costume, e Viorica não conseguia dormir.

Critérios de avaliação do governo PS

Citado no Expresso, o PM António Costa referiu que mais importante do que o Orçamento, é o Plano Nacional de Reformas pois são necessárias uma "contenção responsável da despesa" e "uma gestão prudente da receita", que promoverão um "processo tranquilo" de consolidação orçamental. O que António Costa disse não faz absolutamente nenhum sentido, pois se há uma consolidação orçamental tranquila esta será evidente no Orçamento; se não é, então não há processo de ajustamento nenhum da economia, há o que os anglo-saxónicos chamam de "wishful thinking".

Sabemos de antemão que o foco deste governo era desacelerar a amortização da dívida, de forma a que a economia não sofresse tanto e isto iria permitir um crescimento da economia superior ao que era planeado pela PàF. A implicação lógica é que o crescimento adicional seria financiado por dívida: ficaríamos mais endividados durante mais tempo, mas cresceríamos mais. Uma medida de sucesso do governo PS é, então, uma taxa de crescimento do PIB superior à que a PàF obteve em 2015, ou seja, 1,5%, e uma dívida pública, medida em percentagem do PIB, que terá de ser igual ou inferior à que se obteve em 2015, 129%, pois isto significaria que o governo teria uma alocação de recursos que resultaria num retorno superior a apenas amortizar a dívida, como preferia a PàF.

O PS tem apenas de melhorar a actuação do PSD/CDS de 2015, não é necessário que tenha os resultados que a PàF previu, pois essas previsões estão erradas. Todas as previsões dos governos portugueses são erradas e o erro é sempre da mesma natureza: demasiado optimismo. Seria injusto exigir que o PS tivesse de ter uma actuação que sabemos a priori que a PàF não teria. Mas, para além das medidas mencionadas acima, há outros critérios de sucesso que podemos, e devemos, usar para avaliar o PS e estes têm a ver com o tamanho do erro das previsões e informam também da competência e das boas intenções do governo.

Antes de prosseguir, é necessário um enquadramento histórico e alguma informação de suporte para quem não está familiarizado com modelos económicos e análise de dados. Uma das premissas quando se produz previsões quantitativas é de que os dados do passado contêm informação que é relevante para o futuro. Os dados contêm dois tipos de informação: uma componente aleatória que é impossível de prever -- esta componente é o erro -- e uma componente com poder explicativo (não é aleatória). Quando um modelo é mal construído, parte da componente com poder explicativo fica nos erros e estes não são completamente aleatórios (não vou distinguir entre erro e resíduo para não confundir as pessoas, quero apenas que compreendam a intuição do que nós fazemos quando analisamos dados). O objectivo de alguém que produz previsões é extrair o máximo de informação com poder explicativo dos dados e reduzir o erro. Há várias técnicas para o fazer e associadas a elas estão boas práticas que garantem que o analista não contamina a análise com os seus preconceitos.

Em 2011, a economia portuguesa entrou em colapso, que resultou no acordo com a Troika. Os credores exigiram que o governo levasse a cabo uma mudança de estratégia, mais focada no mercado externo e menos dependente do consumo e gastos públicos financiados a dívida. A crise da dívida pública também afectou a confiança dos agentes económicos, especialmente dos consumidores. Apesar do impacto negativo, houve uma redução das importações o que contribuiu para um melhor saldo da balança comercial, que afecta positivamente o PIB. O maior foco em exportações também produziu resultados, mas mais lentamente porque demora mais tempo a conseguir penetrar no mercado externo. Os efeitos positivos da estratégia do governo PSD/CDS não ocorreram imediatamente.

Quando acontece um choque grave na economia, como o que aconteceu em Portugal em 2011, surgem vários problemas pois é muito raro ter bons dados -- eventos deste tipo ocorrem na cauda da distribuição probabilística, o que quer dizer que são eventos com um impacto grande, mas com uma probabilidade baixa de acontecerem: são raros. Já não havia uma intervenção do FMI desde a década de 80 e, nessa altura, havia moeda própria, controlava-se a própria política monetária, e não se estava sujeito a uma união monetária, etc., logo 2011 foi completamente inovador em termos de choque.

É normal que os agentes económicos mudem o seu comportamento quando reagem a choques, o que pode invalidar as previsões de modelos baseados em dados passados. Se o choque é temporário e não tem um efeito persistente na economia, eventualmente os agentes revertem a comportamentos do passado, e o efeito desse choque nas previsões é um erro maior; se o choque produz efeitos permanentes, diz-se que há uma mudança estrutural no comportamento dos agentes e os modelos anteriores ficam obsoletos e têm de ser ajustados -- quer dizer que, nesse caso, o erro para além de ser maior, passa a conter alguma informação com poder explicativo que tem de ser extraída. Aqui vale a pena referir a crítica de Robert Lucas, que defende que os modelos econométricos ficam obsoletos sempre que há uma mudança de política económica na economia.

As previsões feitas pelo governo PSD/CDS foram extremamente optimistas, mas como a economia portuguesa nunca tinha tido um choque daqueles, nem seguido uma estratégia como a imposta pela Troika desde a entrada no euro, havia pouca informação para ancorar as previsões -- os erros do PSD/CDS ocorreram porque não havia informação nos dados e porque, como todos os governos, são demasiado optimistas. A capacidade de produzir boas previsões estava completamente comprometida e seria de esperar que os erros desse governo fossem bastante grandes, até porque no início descobriu-se que a própria integridade dos dados era duvidosa pois havia muita informação relevante que tinha sido escondida através de contabilidade nacional criativa. Entretanto, os dados foram corrigidos.

Mas pensemos no que acontece aos dados à medida que a economia recuperou deste choque anormal: os dados começaram a reflectir o comportamento da economia na cauda da distribuição, ou seja, há mais informação com poder explicativo nos dados e é mais fácil fazer previsões porque temos uma amostra mais rica. O comportamento das pessoas também normalizou e já não estão em estado de choque. E há outra razão pela qual é mais fácil fazer previsões: quando o PS formou governo e delineou a sua política económica, deu prioridade a anular as mudanças feitas pelo governo PSD/CDS e a regressar à economia que existia antes da Troika. Essa economia está representada nos dados, ou seja, o governo PS não está a trabalhar com choques inovadores, logo tem obrigação de fazer previsões que tenham erros comparativamente mais pequenos do que os erros das previsões do governo PSD/CDS.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

História gótica


46. Disse ao meu cavalo, avança, mais um passo e encontramos água.

Como ser pobre

O Banif foi vendido por €150 milhões ao Santander no final do ano passado. Para o vender, o governo recapitalizou o banco. Na mesma altura, o Santander emprestou ao governo €1766 milhões.

No primeiro mês que esteve sob o Santander, o Banif contribuiu para os resultados do banco €283 milhões; no primeiro trimestre de 2016, a compra do Banif permitiu que o Santander mais do que duplicasse os seus lucros face ao mesmo período de 2015. Sem dúvida que parte deste resultado se deve ao tal empréstimo do Santander ao governo: €1766 milhões, a 10 anos, a uma taxa de 3,3%.

Os contribuintes, entretanto, acumulam perdas. Só em juros, aquele empréstimo do Santander ao estado custa-nos pelo menos €4,8 milhões/mês desde Dezembro, ou seja, até Março de 2016, já pagámos ao Santander cerca de €19 milhões. Se o lucro do Santander foi de €121 milhões no primeiro trimestre de 2016, então mais de 10% desse lucro (cerca de €14,4 milhões) corresponde aos juros pagos pelos contribuintes portugueses só por esse empréstimo.

Pequenos milagres

Leio muito devagar e sou muito promíscua, ando sempre a ler muitos livros ao mesmo tempo. Às vezes, preciso de ler poesia e a minha leitura resume-se a abrir livros ao calhas e ler poemas. Constroem-se momentos milagrosos assim e gosto da sorte, da fortuna, e não há grande diferença entre sorte e milagre, logo crio os meus próprios milagres. Gosto muito de prosa poética, daqueles livros em que um parágrafo ou uma frase nos apanha e temos de a repetir em voz alta vezes sem conta até a absorvermos e podermos prosseguir.

Continuo a ler "O Amor Louco" de André Breton: a tradução em inglês, mas comprei a versão original e talvez tente ler outra vez. É um ciclo vicioso: o meu francês é limitado e frustra-me imenso, mas ao não ler em francês desisto da oportunidade de melhorar. Ontem, enquanto lia na cama, apareceu uma frase e fiquei encalhada nela, não consegui continuar, li-a e reli-a vezes sem conta até apagar a luz e decidir adormecer. Era esta:

"To love, to find once more the lost grace of the first moment when one is in love..."

Mas esta não é a única. Já antes fiquei encalhada noutra:

"Love is when you meet someone who tells you something new about yourself."

E esta aqui?

"People despair of love stupidly – I have despaired of it myself — they live in servitude to this idea that love is always behind them, never before them: bygone years, lies about forgetting after twenty years. They can bear to admit – and force themselves to – that love is not for them, with its procession of clarities, with this look it casts upon the world from all the eyes of diviners. They are limping with fallacious memories, for which they even invent the origin of an immemorial fall, so as not to find themselves too guilty. And yet for each, the promise of each coming hour contains life’s whole life secret, perhaps about to be revealed one day, possibly in another being."

A promessa que cada hora pode conter em si o próprio milagre... Num dos primeiros passeios que fiz com os meus cães em Houston, estava um bocadinho ausente. Houston não é uma cidade fácil porque há uma grande variância de vidas e para mim foi difícil habituar-me que, no mesmo dia, podia falar com uma pessoa que vive numa das zonas mais ricas da cidade -- e do país -- e com outra pessoa que me fala da viagem que fez para imigrar ilegalmente para os EUA e dos seus encontros com a morte.

Sofri uma pequena depressão no início, mas houve essa caminhada, nesse dia, em que o Alfred me puxou e saí do passeio e quase que bati com a cara numa árvore. Era uma nespereira e eu já não via nespereiras há mais de 15 anos, nem sequer se encontram nêsperas nos supermercados aqui. E essa nespereira fez-me tão feliz que a partir daí comecei a prestar atenção às ervas daninhas. A vegetação daqui tem algumas coisas parecidas com a de Portugal e eu tenho saudades. E Houston tornou-se suportável e até agradável a partir daí...

O golfinho e o escorpião



       Não se pode pedir a um delicodoce golfinho ou a um perigoso escorpião que contrariem a sua natureza. A milenar sabedoria oriental, em especial a chinesa, têm teorizado muito sobre o assunto. Numa palavra, quanto mais velhos ficamos, mais quimérica é a ideia de mudança de personalidade.
Vem isto a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus primeiros cerca de mês e meio de consulado. Se se pretender um balanço global, a nota do Professor é elevada, talvez a rondar os 16, 17 valores. Tem provado que quer ser um Presidente da República (PR) abrangente, facilitador de diálogos, adepto da “descrispação” (palavra de que usa e abusa, até a propósito de um gin alentejano), um beijoqueiro de primeira, presente em tudo o que é evento, um hiperactivo como sempre foi.
Em termos políticos, Marcelo tem jogado pelo seguro: não dispensou a sua “lua-de-mel” com os Portugueses e muito menos com o Governo. Tem sido uma espécie de porta-voz oficioso de Costa, dando-lhe pancadinhas nas costas em todos – ou quase – os assuntos em que o melindre das situações poderia causar engulhos. Assim sucedeu no episódio do Colégio Militar, onde interpretou na perfeição as suas funções de Chefe Supremo das Forças Armadas, do mesmo modo que se bateu pela desblindagem dos estatutos das instituições de crédito, no que é, na prática, uma verdadeira “lei-medida”. Soube preservar a esfera de competência exclusiva do Executivo no caso das bofetadas de João Soares, e foi vê-lo dar um sentido abraço de desagravo ao candidato a pugilista.
Linha de actuação política? Aparentemente, a da proximidade e dos afectos. Nada tenho contra uma e outra, mas é evidente que, mesmo mantendo ambas, é curto para uma função presidencial. Em especial num sistema em que o órgão de soberania PR, tendo as suas competências – como deve – balizadas na Constituição, é aquele que de modo mais plástico se vai adaptando à realidade de cada momento e ao concreto titular. Daí que Cavaco tenha sido, p. ex., o oposto de Marcelo, tanto quanto Sampaio será recordado como o gentleman de lágrima fácil e Soares como o Presidente com a concepção mais monárquica da III República.
Há, pois, na facilidade e no gosto do trato com o Povo, um grande paralelo com Soares. Simplesmente, é de alto risco o plano de Marcelo. Não se lhe pode pedir que dispa o fato de comentador político-social-desportivo, pois voltaríamos à história da natureza do golfinho e do escorpião. Mas o tempo chegará em que Marcelo não poderá apoiar Costa, seja por erro nas políticas, seja por tacticismo. E ninguém duvida que o actual Presidente é um exímio jogador de xadrez político. Na teoria, pelo menos, é o melhor. Na prática, terá agora a oportunidade da vida para o demonstrar.
Excelente discurso nas comemorações do 25 de Abril, com os deputados mais à esquerda a não conseguirem impedir as mãos de aplaudirem um ex-Presidente do PSD. Os gestos involuntários têm destas coisas, bem como a necessidade de cavalgar a onda de um PR que vem sendo um dos Sísifos da “geringonça”.
E quando acabar a “lua-de-mel” com o Governo, o que fará Marcelo? Como tudo no actual PR, nem os astros sabem. Todavia, a História ensina-nos que o “namoro” de Cavaco e Sócrates, p. ex., terminou com uma ruptura em que a “roupa suja” foi lavada nos enfadonhos prefácios aos “Roteiros” cavaquistas.
Marcelo não precisa de conselhos. Não obstante, com a humildade de um mero cidadão, era bom que não comentasse tudo e mais alguma coisa, que se resguardasse mais. Já todos entendemos a “política dos afectos” que, não enchendo barrigas, sempre ajuda a aquecer o coração. Gostamos, mas não é só isso que se espera de um PR. Quando os “puxões de orelhas” forem necessários – sobretudo em privado –, não há espaço de manobra quando a imagem da Presidência se vai desenvolvendo na sombra da do Governo. E Costa, inteligente como é, tem-no sabido aproveitar.
Estará Marcelo a cair na teia “candidamente” urdida pelo Primeiro-Ministro, ou à primeira oportunidade é o Presidente que demonstrará o seu lado “escorpiónico”? Entre “marcelices” e “costices”, havemos de saber. E um agradecimento a estes dois protagonistas que têm dado muito mais cor a uma política que estava morta com o eixo Cavaco-Passos-Portas e agora é motivo para uma espreitadela ao “Estoril Open” ou para uma visita à última ferrovia alentejana.

História gótica


45. Eu sei contar a história de Nergüi.

É turco...

Queria postar algo de Mário de Sá-Carneiro no meu Tumblr. Fiz uma busca e o segundo resultado que apareceu era Mário de Sá-Carneiro traduzido em turco. Nada mal para um tipo que morreu há 100 anos com 25 anos...


100 anos

Ontem, 26 de Abril de 2016, fez 100 anos que Mário de Sá-Carneiro se suicidou, com 25 anos, em Paris. Também ele era emigrante, uma grande chatice para os puristas de Portugal...

Li "Loucura" há uns meses: é um livro pequenino, que não custa nada trazer na carteira. Levei-o para o Starbucks, pedi um café, e comecei a ler. Nunca, mas nunca, um livro me "raptou" em tão pouco tempo. Senti ansiedade ao virar as páginas, por vezes tinha um sorriso tonto na cara, outras vezes quase que parava de respirar e pensava "E agora, e agora?" Ao fim de duas horas, que foi quanto levei a lê-lo, senti-me completamente tomada por ele e tive uma imensa pena de que o seu autor tivesse morrido tão cedo. Talvez uma morte antes do tempo seja o preço que os génios criativos tenham de pagar pela sua genialidade, o que é uma imensa perda para nós.

É uma pena que o Público ache que a "Limonada" da Beyoncé é mais importante do que Mário de Sá-Carneiro. Daqui a 100 anos, a "Limonada" não irá ser falada; já Sá-Carneiro estará com certeza na Comunicação Social ainda. Seria bom que os portugueses que estão em Portugal o lessem.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Tudo a postos

Hoje, ao pôr-do-sol, há a possibilidade de se formarem tempestades bastante perigosas em Tornado Alley, a alameda dos tornados, situada na planície americana. A população já foi informada das probabilidades de tornados (50% em Dallas, TX; 60% em Oklahoma City, OK; 70% em Topeka e Wichita, KS; etc.) e aconselhada a estar preparada para qualquer eventualidade. 

Uma amiga minha no Facebook informa que se prevê que, em Oklahoma City, o granizo possa ser do tamanho de bolas de baseball (semelhante ao das de ténis). Irá ser bom para os bate-chapas porque os carros vão ficar todos cheios de amolgadelas. Em Houston, está nublado, mas estamos sob um aviso de inundações. 

Este ano, o número de tornados do mês de Abril está 70% abaixo do normal. Isso quer dizer que hoje à noite e até ao fim-de-semana pode ser a correcção desta anormalidade...








Shylock e a origem da má reputação dos credores

Na primeira epístola de S. Paulo a Timóteo (versículo 1 6: 10) pode ler-se que “o amor pelo dinheiro é a raiz de todo o mal”. Bernard Shaw e Mark Twain tinham uma visão diferente: a falta de dinheiro, essa sim, é a raiz de todo o mal. De facto, basta tentar imaginar o que seria um mundo sem graveto, carcanhol, massa, guito, cheta, pilim, vil metal, chamem-lhe o que quiserem. Mal por mal, é melhor o mundo tal como o conhecemos do que voltar ao tempo das cavernas. E como é que seria um mundo sem crédito (vem do latim e significa “credo”, “eu acredito”)? Provavelmente, voltaríamos à Idade Média. 
Se o crédito é fundamental para haver investimento, crescimento, emprego, etc., por que raio os credores gozaram sempre de tão má reputação ao longo dos séculos? Aliás, sinónimos como prestamistas, usurários, agiotas continuam a ter muitas vezes um sentido pejorativo.

26 de Abril

A sublime entrada de ontem do Luís Gaspar toca no assunto óbvio da data em que foi escrita. O tema da Liberdade é-me especialmente caro e é-o com tal precocidade que julgo tratar-se de uma determinação genética. Descobrindo a metafísica de duas séries televisas que não acompanho, o texto do Luís leva-nos à questão "qual é o valor da Liberdade?". E, se bem o percebi, coloca-a onde eu acho que ela deve estar: como um fim em si mesma. A resposta é consensual a 25 de Abril. A 25 de Abril somos todos pela Liberdade e declaramo-nos dispostos a lutar por ela; honramos quem a defendeu e se sacrificou por ela. A 26 de Abril nem tanto. Murchos os cravos da véspera, somos mais adeptos da pirâmide de Maslow e defendemos o mesmo preceito das tropas colaboracionistas da série Colony. A Liberdade é um valor bonito para constar na Constituição, mas sucumbe facilmente a um prato de comida. O Luís Gaspar cita um ditado (creio que é uma frase de Rosa Luxemburgo, embora por outras palavras), segundo o qual só aqueles que não se mexem é que não sentem as grilhetas. Que - a lógica é tramada - não equivale a dizer que só sente as grilhetas quem se mexe. Muitos entre nós estão imóveis. Entre eles, alguns sofrem a ausência de movimento.

25 de Abril: a cor dos óculos

Hesitei em escrever, primeiro, e publicar, depois, este post.

Não gosto de ser pensado como o velhinho que tem sempre de recordar, perante os mais novos, os tempos que eles não viveram. Muito menos quero parecer censor – todos têm o direito à sua verdade. Por isso mesmo é bom que se tenha sempre presente a célebre quadra de Campoamor que aqui reproduzo:

“Y es que en el mundo traidor
Nada es verdad ni mentira:
Todo es según el color
Del cristal con que se mira”

Na minha verdade, mesmo os que hoje denigrem o 25 de Abril devem-lhe muito: deviam ser mais comedidos.

  

História gótica

44. Nergüi atravessa os vastos espaços abertos da Mongólia, desta vez sozinho.

Mais uma causa fracturante: casas de banho unissexo

Quando parecia que já não havia mais causas fracturantes para nos fazer perder o nosso rico tempo, vem a Margarete Stokowski (no Spiegel online) falar das casas de banho públicas. Ora vejam:
(em versão sintetizada e traduzida à pressa, como de costume, com links para artigos em alemão e, na parte relativa ao risco de suicídio, em inglês)

Segundo uma nova lei, no North Carolina as pessoas são obrigadas a usar a casa de banho pública correspondente ao sexo que consta na sua certidão de nascimento. Para os transexuais, isso significa que, mesmo vivendo há anos ou décadas como mulher, se deve usar a casa de banho dos homens - e vice-versa. E aceitar sujeitar-se ao sentimento de desconforto, aos insultos, às agressões físicas ou à expulsão desse local, que é o que costuma acontecer nesses casos. A alternativa é ir aguentando até encontrar uma casa de banho privada.

As casas de banho públicas são o exemplo preferido para mostrar como tudo fica incrivelmente complicado quando se trata de acomodar os interesses de todas as minorias trans-, inter- ou qualquer coisa com gender queer: essa gente é tão complicada, não é? Até nas casas de banho nos complicam a vida.

No entanto, há muito que frequentamos casas de banho públicas unissexo nos aviões e nos comboios, e nem reparamos.

25 de Abril: a serventia da liberdade

Censura é ternura, quem é que nunca escondeu dos outros uma má notícia?

Lola

Em Las Vegas, no Crazy Horse, um amigo meu interessou-se pela Lola, uma waitress que lhe agradou tanto, que ele deu-lhe $300 para ela ir ter com ele essa noite, mas ela ficou com o dinheiro e não apareceu. Adorei a Lola! Os homens não pensam muito bem quando a temperatura aquece e o cérebro vai de férias para sul; ainda bem que há Lolas que aproveitam o verão masculino.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Pronta

Plantei cravos no meu jardim. Eram a flor preferida da minha avó e passei bastantes horas com ela de volta deles, a apreciar, a cuidar, e até a propagar. Os meu cravos começaram a florir em Março e receei que não chegassem a Abril, à data que interessava.

Durante estas semanas todas tenho andado de volta dos cravos, a regar, a retirar as flores envelhecidas, a cortar os caules que já não iam produzir botões, tudo para maximizar a longevidade da produção de flores. Funcionou: tenho um cravo para hoje, que era o meu objectivo. Estou pronta para a Revolução.

Liberdade

Neste momento, acompanho duas séries que partilham um mesmo tema: a ocupação. 

Uma delas é norueguesa e chama-se, justamente, Occupied. Passa-se num futuro não muito distante, no qual as reservas de petróleo do mundo estão quase esgotadas. Uma das raras exceções é a Noruega, que produz petróleo abundantemente. No entanto, a certa altura os Verdes ganham as eleições com a promessa de parar a exploração e a venda de petróleo e substitui-lo por uma tecnologia limpa, que disponilizarão prontamente ao resto do mundo. Passada uma semana de euforia, o primeiro ministro é confrontado pelos russos, com o apoio da UE, com duas hipóteses: ou volta atrás nas suas posições pacificamente, ou a Rússia toma conta do país até ser restabelecida a produção e distribuição de petróleo. Para evitar um banho de sangue, alega, o primeiro ministro renega a sua principal promessa eleitoral, e assegura ao seu povo que ficará no cargo no período transtitório, até se atingirem os níveis de produção anteriores às eleições. A única diferença palpável na vida dos noruegueses é, verdadeiramente, a presença visível de soldados russos a guardar os poços de petróleo. Nem parece ser assim uma coisa tão insuportável. Afinal de contas, em todos os outros assuntos internos da Noruega, os russos não se metem – bem vistas as circunstâncias, o estado de coisas é basicamente idêntico ao que existia antes das eleições ganhas pelos Verdes. Que problema tão grande é este se os Noruegueses não tiverem a possibilidade de fazer uma escolha específica, sobre a produção de petróleo, podendo fazer todas as outras que quiserem? Só que nem todos pensam assim. E é à medida que alguns se rebelam contra esta única imposição externa, que se torna claro como não é possível restringir um pouco da liberdade. Quando um soldado norueguês recusa a subserviência a uma potência estrangeira e tenta assassinar a embaixadora russa, o Kremlin exige tomar o controlo da investigação e do próprio julgamento do culpado. Quando um jornalista começa a escrever crónicas negativas sobre os russos, é a própria estrutura do governo da Noruega que, pró-ativamente, lhe faz ver que essa atitude pode, num equilíbrio tão frágil, deitar tudo a perder e atrasar a partida dos russos. 

A segunda série é americana e chama-se Colony. Mete extra-terrestres e, sim, isso é bastante cheeky e insuportavelmente visto. Mas há um resquício de interesse na coisa. É que os extra-terrestres não aparecem no ecrã – ou, pelo menos, ainda não apareceram ao terceiro episódio. É tal e qual como no waiting for the barbarians. Quem aparece são as tropas humanas colaboracionistas, lideradas por outro humano, claro está, que defende que, se todos se portarem bem, ninguém os incomodará. Os motivos para a colaboração são - como sempre o são – sensatos: em oito horas, os extra-terrestres tomaram conta do mundo. Que real hipóteses tem a resistência humana? A atitude mais racional - e a única que, aparentemente, permite a sobrevivência - é obedecer. E a coisa não é assim tão má. O dia-a-dia é, aliás, o mesmo de sempre. 

Como diz o sábio ditado, só aqueles que não se mexem é que não sentem as grilhetas. A liberdade é um bloco único e sólido, e não se corta aos pedaços. É uma manhã inteira e límpida. Um bom 25 de abril para todos.

Um dia estranho...

Depois de falar quase duas horas ao telefone com uma amiga senti-me com energia suficiente para implementar o meu plano original de fim-de-semana: fazer gumbo, aquela sopa da Louisiana. Aprendi a fazê-la quando tive uma aula de culinária em Nova Orleães, por ocasião do fim-de-ano de 1999. Na última entrega da cesta da Farmhouse Delivery cá em casa, havia talos de aipo e a única coisa que eu sei fazer com talos de aipo é gumbo. (OK, também é bom servido como aperitivo com queijo creme e um pedaço de noz.) Na sexta-feira fui de propósito ao super-mercado comprar o resto dos ingredientes, mas esqueci-me de comprar chouriço andouille. Não me apercebi que me tinha esquecido, só quando comecei a cozinhar é que dei conta.

domingo, 24 de abril de 2016

Anotherfriendholenyohead

Não é que o Bloco de Esquerda pense que agora está na oposição; apenas anda preocupado com as "amizades" de António Costa. Por seu lado, Jerónimo de Sousa, do PCP, também acha que o governo de António Costa tem uma certa contradição que vai ter de resolver. Os amigos de Bruxelas não são muito apreciados...

"Fechamento" dos EUA

Os presságios negros continuam a fazer fila à nossa porta, são de várias espécies e geografias, muitos estão nas fronteiras europeias ou mesmo dentro das cidades europeias, mas continuo a pensar que o pior presságio está no fechamento da mente americana. Sem uma América vital não há Ocidente, sem Ocidente não há ordem internacional.

A crescente erosão da sociedade americana torna qualquer outro problema num pormenor, porque Washington é de facto a nossa Roma. E, se não se importam, não quero assistir à queda do império ocidental, não quero viver a desordem apocalíptica que acompanha o fim de uma Era.

Fonte: Henrique Raposo no Expresso

sábado, 23 de abril de 2016

Publicidade educativa

A Sara Sampaio acha que eu devo celebrar o meu aniversário ASAP, chama-me angel -- até acho que já estou a caminho do céu --, e até me ensina a lamber o creme do cupcake da celebração. Ou talvez me esteja a dar conselhos de saúde: só posso lamber um bocadinho do creme, senão fico diabética e ganho peso. Publicidade educativa é sempre uma mais-valia para a economia e a sociedade.
E a cereja no topo do bolo é que me enviou $10 para eu ir comprar cuecas e soutiens. Ah bom, como resistir a tanta generosidade? Impossível! Adoro gajas boas que me dão dinheiro para lingerie...


A Educação de Rita
(O correio estragou a maquilhagem...)


Fui ao céu e segui os conselhos da Sara
(Infelizmente, não havia cuecas coloridas.
Terei de voltar. Que chatice!)

Quem tramou Mário Centeno? Não foi a Google.

Depois do - chamemos-lhe caricato - episódio de ontem relativo à troca de cara ao Ministro das Finanças, decidi fazer uma pequena investigação. Primeiro suspeito: a Google. Mas não, não foi ela. Ora, confirmem os resultados para imagens de uma busca por "Portuguese finance minister":

Abril

"You say you want a leader,
but you can't seem to make up your mind.
I think you'd better close it,
And let me guide you to the purple rain..."

Now you know...

"Cool means being able to hang with yourself. All you have to ask yourself is, ‘Is there anyone I’m afraid of? Is there anyone who if I walked into a room & saw, I’d get nervous?' If not, then you’re cool.”

~ Prince

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Beginners...

“Nobody tells this to people who are beginners. I wish someone had told me. All of us who do creative work, we get into it because we have good taste. But there is this gap. For the first couple years you make stuff, it’s just not that good. It’s trying to be good, it has potential, but it’s not. But your taste, the thing that got you into the game, is still killer. And your taste is why your work disappoints you. A lot of people never get past this phase; they quit. Most people I know who do interesting, creative, work went through years of this. We know our work doesn’t have this special thing that we want it to have. We all go through this. And if you are just starting out or you are still in this phase, you gotta know that it’s normal and the important thing you can do is do a lot of work. Put yourself on a deadline so that every week you finish one piece. It’s only by going through a volume of work that you will close that gap, and your work will be as good as your ambitions. And I took longer to figure out how to do this than anyone I’ve ever met. It’s gonna take a while. It’s normal to take awhile. You just gotta fight your way through.”

~ Ira Glass

Biscoitos

Meteram-me nuns grupos do Facebook para pessoas que querem ser felizes, que querem amar depois dos 40, etc. Eu sou feliz, mas nunca quis ser feliz, nem quando era pequenina. Sempre achei que dava tanto trabalho querer ser feliz que ia andar toda a minha vida à caça de gambozinos. E depois esta necessidade de amar para se completar como pessoa é-me completamente estranha.

Acho que o melhor professor para se ser feliz é um cão: basta fazer-lhe uma festa, dizer uma tontice tipo "Queres um biscoito?" seguido de "Não rouba o biscoito ao mano!", como eu tenho de constantemente dizer ao Chopper, e o cão fica feliz. A felicidade é estar no momento presente e pensar que, se calhar, no momento a seguir comeremos um biscoito e basta isso para que tudo pareça melhor.

História gótica

41. Anghelescu atirava para dentro da lareira as rolhas das garrafas que acabara de esvaziar.

O PSD

O PSD está a tornar-se numa caricatura de um partido. Diz que discorda de que o Programa de Estabilidade (PE) seja votado no Parlamento; mas, se for, votará contra. Eu vou resumir as coisas muito simplesmente, que é para ver se vocês, "sociais-democratas", entendem: se não conseguem ganhar pontos politicamente a discutir no Parlamento um documento que está tão, mas tão, mal feito, que é mais fácil encontrar buracos no PE do que num passador de leite, então vocês não servem para muito. Já sabíamos que não estávamos a lidar com reencarnações do Einstein, mas também não é preciso descer tão baixo.

A de Afronta

"Em primeiro lugar, o PE explicita, pela primeira vez, que existe aquilo a que, no Governo, é chamado de "plano de contingência", mas que só será aplicado em caso de necessidade "extrema".

Ontem, Mário Centeno tornou a dizer que não há qualquer plano B e que não leva quaisquer medidas para mostrar em Bruxelas.

De facto, não leva medidas concretas, afirma que o único plano é o do "compromisso" com as metas e o Pacto, e com "uma execução orçamental rigorosa", repetiu Centeno. Mas leva um manifesto de vontade com um valor à cabeça.

Segundo apurou o JN/Dinheiro Vivo, o tal plano de contingência tem por enquanto uma "dimensão política". Serve para debater com os ministros das Finanças do Eurogrupo, com a Comissão, com os credores, para mostrar e convencer a DBRS (agência de rating), mas em termos práticos ele assenta já e muito no uso das cativações. São as verbas que fazem parte da despesa, mas que só serão libertadas para os serviços se o ministro o entender.

Fonte: Jornal de Notícias

Continuamos o nosso exercício de exploração de termos linguísticos para idiotas. Desta vez, o Dr. Mário Centeno, o nosso ilustre Ministro das Finanças, diz-nos que há um plano de contingência, mas não há plano B. E o tal plano é meramente "político", serve essencialmente para convencer, mas não há intenção de que seja implementado. Haverá uma execução do Orçamento (plano A) rigorosa que fará o tal plano de contingência, que não é plano B, desnecessário. Não é este o governo que disse que não se vergaria a Bruxelas no Orçamento? Depois vergou-se.

Vamos ao que interessa: probabilidade da execução orçamental ser rigorosa = 0%. Será que o plano A dos nossos governantes é o plano da afronta?

História gótica


40. De cidade em cidade, o Príncipe Egon Gustav von Tepes frequentava as melhores casas e escolhia os melhores candidatos.

Ensino público e contratos de associação

A pretexto desta notícia (e reconhecendo que este tipo de apoios não pode terminar abruptamente), reproduzo o comentário de Paulo Santos, meu amigo no Facebook.

Princeland

A vida de um gajo muito excêntrico, mas absolutamente genial. Ainda temos anos e anos de material de Prince...

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Morreu um sonho

Um dos meus sonhos, desde os meus 15 anos, era ver o Prince actuar ao vivo. Nunca consegui. O meu sonho morreu hoje.

Until the end of time
I'll be there for you
You own my heart and mind
I truly adore you

Prince, "Adore" do álbum "Sign o' the Times"

História Gótica

39. À entrada do palacete iluminado por onde passavam homens de fraque negro e laços de seda branca, e mulheres de vestidos tão adornados de rendas quanto os pescoços estavam adornados de diamantes, o Príncipe Egon Gustav von Tepes entregou ao mordomo obsequioso as luvas, e aceitou a taça de champanhe que lhe foi oferecida.

Vou dar-vos o arroz...

Ontem fui à Rice University ouvir falar Dave LaGassa, o Chief Data Officer for Financial Services da Capital One, uma das maiores empresas de serviços financeiros ao consumidor, nos EUA. O foco do grupo de Financial Services é crédito ao consumo, através de cartões de crédito, crédito à habitação, etc. Foi uma sessão organizada via Linked In, para a qual eles convidaram pessoas cujo CV lhes interessa, o objectivo é aliciar os convidados a candidatar-se a um emprego com eles. Estas sessões são uma oportunidade para eles diferenciarem os potenciais candidatos, pois têm à partida contacto directo com eles. Aconselharam a, caso se candidatem, os contactarem também directamente via e-mail por Linked In para eles saberem da candidatura, para que esta não se perca entre as milhares que eles recebem. Foi basicamente uma sessão de caça ao talento.

Perceberam?

"The Dunning-Kruger effect, named after David Dunning and Justin Kruger of Cornell University, occurs where people fail to adequately assess their level of competence — or specifically, their incompetence — at a task and thus consider themselves much more competent than everyone else. This lack of awareness is attributed to their lower level of competence robbing them of the ability to critically analyse their performance, leading to a significant overestimate of themselves.

In simple words it's "people who are too stupid to know how stupid they are".

The inverse also applies: competent people tend to underestimate their ability compared to others; this is known as impostor syndrome.

Fonte: Wikipedia

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Homens incompetentes

"Para o BE, o aumento do IVA nos bens não essenciais não beliscaria a cláusula de salvaguarda que negociou com o Governo aquando da viabilização do programa de Governo. O BE deixou claro que são intocáveis os salários, pensões, impostos sobre o trabalho e IVA nos bens essenciais. “Outras medidas serão debatidas entre as duas partes”, afirma ao Expresso fonte do BE."

Fonte: Expresso, 19-4-2016

"IVA a 25% segura salários e pensões. António Costa enfrenta Bruxelas e adia austeridade."

Fonte: Correio da Manhã, 20-4-2016

Caros portugueses e PORTUGUESAS (talvez assim as queridas do BE compreendam), quando o governo subir o IVA e vocês não tiverem salário suficiente para comprar tanto como antes, lembrem-se: não é austeridade. Quando a economia não crescer e o desemprego não baixar, lembrem-se: não é austeridade. Quando o dinheiro das vossas pensões for gasto para subsidiar o sector da construção civil, lembrem-se: não é austeridade. É apenas o plano de distribuição de riqueza pelos amigos do PS.

E já agora, o sector da construção civil, que não ata nem desata, mas que se imiscui com a banca e o estado, é a prova de que a responsabilidade da má gestão do país é de HOMENS. É a incompetência masculina que destrói os recursos da República.

P.S. Recomendo a leitura da crónica do LA-C no Observador...

História gótica


38. Ada voltou para o quarto que tinha alugado na taberna.

Houstonians help each other

Na Segunda-feira, uma enorme tempestade atingiu o Texas, inclusive Houston, onde vivo, causando cheias e pelo menos seis mortos. Algumas partes da cidade estão inundadas e o espírito de entre-ajuda é forte entre a polícia, os bombeiros, e todas as entidades que todos os dias arriscam a vida para nos manter seguros, e também a comunidade civil. Começou a chover outra vez depois de eu vos começar a escrever, e espera-se que haja mais problemas em zonas já atingidas.

A ABC 13, um canal local, tem divulgado não só informação acerca de como nos mantermos seguros, mas também acerca das vítimas e da generosidade de estranhos e família. O cabeçalho da página de Facebook da ABC 13 foi mudado para uma colagem de fotos com a mensagem "Houstoninans help each other". E é isso, acima de tudo, temos de nos ajudar uns aos outros.

Ontem foi divulgado um vídeo de um reporter que estava numa estrada parcialmente submersa onde um carro estava a boiar na berma. O reporter está a falar para o carro a dizer para a pessoa sair. Um senhor sai do carro e segura-se a ele, a tentar perceber o que lhe estavam a dizer, não parece ter a noção de que precisa de sair dali o mais depressa possível. Nós associamos um sentimento de segurança ao nosso carro, raramente pensamos que podemos morrer nele. E essa reacção inicial, esse instinto nosso, pode ser fatal. À medida que o homem se afasta do carro e este fica totalmente submerso, nota-se na sua cara que ele finalmente se apercebe do risco que correu.

Políticas de pena

O "trabalho voluntário é uma treta" insere-se no que eu denoto de "políticas de pena". As políticas de pena, muito usadas em Portugal, servem para dar a impressão que o político que profere o comentário é bem intencionado e tem os interesses dos mais fracos salvaguardados. Só que a realidade não suporta a asserção.

Portugal tem a máquina fiscal mais tecnologicamente avançada do mundo, onde o cruzamento de dados e a publicação de informação dos contribuintes na Internet servem para extrair o máximo em impostos. A Autoridade Tributária começou a fazer visitas surpresa a empresas, dizendo que estas devem mais impostos do que declaram, obrigam os empresários a pagar, e estes têm de contratar advogados e contabilistas mais sofisticados para se poder defender e reaver o seu dinheiro contra a máquina do estado. Entretanto, o estado recebe financiamento temporário. Eu, que estou do outro lado do Atlântico, tomo conhecimento de casos destes em primeira mão, pois conheço pessoas nesta situação. Seria muito improvável que isto acontecesse se estes casos fossem únicos, logo suspeito que são casos comuns.

Não consigo ver uma ponta de boa-intenção nas declarações de Catarina Martins porque o Bloco de Esquerda apoia este governo, teve oportunidade de participar nele, e recusou-se a fazê-lo. Agora fala como se o Bloco tivesse a solução, mas não fosse parte dela. E depois há o "voto de ignorância" que os políticos parecem fazer. Querem nos dizer que a mesma tecnologia que serve para espiar os portugueses e extrair deles impostos não pode ser usada para apanhar empresas e "associações de voluntários" sem escrúpulos que os exploram? A tecnologia não tem partidos, nem causas, dá para tudo.

Conheço pessoas que, quando lhes ofereceram emprego, lhes perguntaram se queriam com ou sem contrato: sem contrato ficariam com o dinheiro dos impostos, mas sem as protecções do estado; com o contrato ficariam as protecções do estado, mas sem o dinheiro de impostos. E muita gente prefere o dinheiro à proteção do estado e depois fica sem nada porque os empresários mentem e pagam menos sem contrato. Será que não dá para usar análise de dados para apanhar empresas prevaricadoras? Dá, mas o governo não quer, porque para os políticos poderem andar por aí a caçar votos a dizer que têm pena dos portugueses explorados é preciso que estes existam.

História Gótica

37. A Condessa de Ecsed, seguida pelo corcunda que transportava a cabeça escolhida numa bandeja de prata e pelo Confessor, abandonou a galeria.

Há dez anos...

… neste mesmo dia, atingi o limite de idade para exercer funções públicas, e por isso, de acordo com a tradição universitária, “dei” a minha ultima lição perante algumas dezenas de amigos e ex-alunos. Tive ocasião de recordar, então, as palavras de Vitorino Nemésio no dia da sua jubilação: “Dou a minha última lição de professor na efectividade e em exercício, segundo a lei. Claro que a lei só tira o exercício ao funcionário: o homem exerce enquanto vive”, fazendo-as minhas.  E assim tenho procurado viver estes anos, sempre interessado pelas coisas da educação, embora sentindo a cada momento que me distancio do que é actual. À minha última lição dei o título A Educação de Ontem e de Hoje: foi ao mesmo tempo um exercício autobiográfico e de análise à evolução da educação em Portugal na segunda metade do século XX.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Yield

"Yield" é o nome da escultura que está à entrada do Museu Crystal Bridges de Arte Americana, situado em Bentonville, no Arkansas. O espaço foi criado por Alice Walton, filha de Sam Walton, o fundador do Walmart. A peça, em aço inoxidável, tem a forma de uma árvore e foi criada por Roxy Paine. É verdadeiramente impressionante ao vivo, mas não é a única, pois vi uma outra árvore destas em Washington, DC, no ano passado. Lembrei-me desta escultura quando vi uma das fotos de despojos que o Tim me enviou, a que coloco em baixo.

O quê?

O governo quer que as mulheres assumam 40% de todos os cargos administrativos das empresas cotadas em bolsa até 2020. Esperem lá, qual é o rácio de mulheres do governo? E qual a significância de 40%? Será que o rácio de competência é 3 homens competentes por cada 2 mulheres competentes?

Floricultura 17


17. Não é todos os dias que nos entra porta dentro um indivíduo atarracado e musculoso, vestindo um fato-macaco e com as mãos sujas de óleo.

Civismo

Os EUA são um dos países mais ricos do mundo e, no entanto, também há pobreza, desastres naturais, violência, etc. As notícias acerca do que está mal nos EUA abundam, mas muito poucas pessoas observam uma coisa que está bem: os americanos, apesar de projectar uma imagem de capitalistas e individualistas, são extremamente generosos com o seu tempo, dinheiro, e capacidades. O espírito de entre-ajuda é muito forte. Há variações de zona para zona, como em tudo, mas mesmo as companhias americanas dedicam parte do seu tempo a actividades para a comunidade. Por exemplo, aquando do furacão Katrina, o Walmart e a Igreja Mormon foram as primeiras entidades a chegar às vítimas com ajuda, antes mesmo do governo federal.

Quando andava na Universidade em Coimbra, vi uma vez um estudante internacional numa cabine telefónica com a mala ao pé a tentar arranjar um quarto. Quando eu vim para os EUA estava tudo tratado para os estudantes internacionais; parte das coisas foram feitas pelos gabinetes onde as pessoas são pagas, como reservar quarto numa residência, mas outras coisas era coordenadas entre o gabinete e voluntários: motoristas (pagos ou não) com voluntários iam buscar os estudantes ao aeroporto; no aeroporto, a senhora que estava na recepção era uma velhinha voluntária muito simpática que tinha os contactos da universidade, caso algum aluno se perdesse; nas residências, os estudantes organizavam actividades para receber os alunos novos e havia voluntários que nos levavam pelo campus e mostravam onde eram as nossas salas de aula, a biblioteca, a livraria, as cantinas, etc. Alguns fins-de-semana depois, pessoas da comunidade adoptavam um estudante internacional durante um Sábado e mostravam-lhe como era viver um dia tipicamente americano.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Stalking

Um dos mais poderosos, centrais e ignorados pensamentos de Marx é o de que nem os opressores, nem os oprimidos, são livres. Os opressores, naturalmente, estão em muito melhor situação do que os oprimidos em quase tudo - mandam, são ricos, vivem bem. Mas, à semelhança dos oprimidos, não são livres. Não podem, na realidade, deixar de se comportar do modo que a relação de poder que estabelecem com os oprimidos exige. A sua liberdade - de pensamento, de consciência, de ação - está limitada aos pensamentos e às ações que verdadeiramente não comprometem o seu poder. 

Lembrei-me deste detalhe, quantas vezes ignorado, ao ver esta notícia do Expresso sobre o stalking. Diz a notícia que o stalking é um crime de género, e que mais de 90% das queixas são feitas por mulheres. Não acredito nisso por um único momento. Acredito é que os homens não façam queixa, precisamente porque a desigualdade de género não afeta só as mulheres. Afeta também os homens, nomeadamente ao impor-lhes um modelo no qual eles também não são livres. Um homem, numa sociedade de poder machista, é privilegiado em relação à mulher em praticamente todos os respeitos mas, tal como ela, não é verdadeiramente livre. Homem que é homem manda, controla, é forte. Dá um berro e a mulher põe-se em sentido. Não se deixa cá dominar e controlar por uma fêmea. Numa sociedade machista, os homens que não queiram comportar-se desta forma são marginalizados - e o comportamento desviante deles devidamente racionalizado. 

Um homem vítima de stalking é, para a sociedade machista, um parte corações e não, como devia ser, uma vítima. Não nos esqueçamos disto nunca. Opressores e oprimidos, ambos, são privados de genuína liberdade.  

A/C Bombeiros Voluntários

Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda, perdão, Bloco DA Esquerda, gostaria de informar os senhores Bombeiros Voluntários de que trabalho voluntário é uma "treta". Como tal, queiram os senhores Bombeiros Voluntários, por favor, deixar arder a casa de Catarina Martins em caso de incêndio, assim como o seu carro em caso de acidente. Talvez esta medida deva ser igualmente aplicada aos restantes militantes do Bloco DA Esquerda e, como tal, não deva ser má ideia pedir a estes para assinalarem bem as suas casas e carros para assim sabermos de antemão quem não precisa de ajuda.

P.S. Mistérios de Portugal: como é que Catarina Martins foi admitida a um programa de doutoramento e é porta-voz de um partido?

A Cidadania Medíocre

A felicidade é acordar com uma tempestade lá fora. Há trovoada a dar com um pau, avisos de tornado, avisos de cheias, etc. As escolas estão fechadas, a chefinha diz para eu não ir trabalhar. Digo-lhe que tentarei ir mais tarde, ela diz para eu não sair de casa sem ela me dar autorização. Ao menos, a Internet funciona e o resultado deste fim-de-semana do processo de impeachment no Brasil foi como eu previ e como informei a chefinha -- ao menos sirvo para alguma coisa.
Venho ao blogue, e vejo que dizem que tenho discurso fascista e que devia era ficar pela América e votar no Trump. A sério, pessoas? Gostaria que me explicassem que merda vai na vossa cabeça. Que necessidade há de estar sempre a insultar emigrantes só porque a) são emigrantes, e b) têm um discurso diferente do vosso? Isto ao mesmo tempo que, no Portugal à beira-mar plantado, exultam Fernando Pessoa e Camões -- é meus caros, eles também foram emigrantes. Até Eça de Queirós foi emigrante. Quem vive fora de Portugal por uns tempos é emigrante. Aprendam a viver com isso porque é normal. Bem-vindos ao século XXI, mas nós já somos uma nação de emigrantes há mais de 500 anos. Aprendam história e pensem nas implicações do que aprendem. Pensem, pensem, pensem! Deixem de ser umas esponjas de informação já preparada e de má qualidade porque, se têm cabeça, é para pensar.
Vivi quase toda a minha vida de adulta nos EUA e nunca, mas nunca, ouvi um americano dizer a outro para não voltar aos EUA ou para sair do país porque não gostava do discurso dele. Quando os americanos sabem que outro americano viveu fora, a reacção normal é uma de admiração e curiosidade, perguntam se a pessoa gostou, se é muito diferente dos EUA, etc. Em Portugal, há sempre alguém que acha que por nós sairmos de Portugal não merecemos regressar. E vocês, que ficam e gostam de malhar nos emigrantes, merecem usar as poupanças dos emigrantes? Merecem que nós nos esforcemos para dar uma boa impressão do país ao mundo, enquanto o país é governado por pessoas que se orgulham de dar a pior impressão possível?
O Bloco de Esquerda terá o meu apoio se propuser ao Parlamento a criação de um Cartão de Cidadania Medíocre especialmente para vós, os iluminados da Santa Terrinha.

domingo, 17 de abril de 2016

Clueless

Quando olho para a foto do nosso ilustre PM a bordo de um Falcon, há várias coisas que me vêm à cabeça:
  • António Costa é completamente "clueless"! Não tem noção da dimensão dos problemas do país.
  • É irresponsável, só assim se justifica gastar dinheiro mal gasto, que o país não tem.
  • A minha impressão inicial confirma-se: quis ser PM porque queria o poder e o "prestígio" do cargo no seu CV. Ele não quer saber de Portugal, quer saber dos privilégios que pode obter enquanto Primeiro Ministro.

Não sei bem o que pensar. Como é que depois de quase chegarmos à bancarrota e de termos posto tanto esforço e sacrifício para sair daquela situação, nos encontramos outra vez no mesmo percurso e as pessoas não saem à rua a manifestar o seu desagrado. Não consigo perceber; se calhar, também sou "clueless"...

Os islandeses forçaram um Primeiro-Ministro a demitir-se só porque tinha contas off-shore, isto depois de terem julgado o PM que estava no poder quando chegaram à bancarrota. Em Portugal, ainda estamos à espera de José Sócrates ser julgado, mas não será julgado por ter arruinado o país. E agora assistimos passivamente a António Costa conduzir o país à ruína outra vez. Será que fizemos algum voto de estupidez?

Crepúsculo

A última vez que vos escrevi, fartei-me de chorar e, como escrevi antes de me deitar, devo ter chorado enquanto dormia, porque acordei um bocado murcha e chorei outra vez. Isto de se perder o segundo cão da nossa vida é uma grande merda. Notem: a Stellinha é cão e dog, não é cadela, nem bitch, obviamente, senão eu parto para a violência convosco: "bofetadas, anyone?" É como aquelas "actresses" que querem ser levadas a sério e dizem que são "actors".

Então, para além da choradeira, fiz a cobertura do Brasil para a chefinha ainda antes de sair da cama, fui comprar vasos e plantas, andei na jardinagem, e ajudei o meu aluno de mestrado em Portugal com a sua dissertação. (Pois é, tenho um aluno de mestrado -- eu vou a todas. Um amigo meu disse-me uma vez que eu até canso porque jogo em todas as posições do campo. You only live once, darlings...)

sábado, 16 de abril de 2016

Sábado. Maravilha.



São onze e meia da manhã, acabámos de tomar o pequeno-almoço devagarinho, estamos por aqui em pijama, há bocadinho vi de relance um cão em saltos alegres nos confins da rua, e era o nosso cão. O rapaz está agora a estudar uma valsa de Chopin ao piano.

Sábado. Maravilha.


C U

À conta da revolta do BE com o CC, fiquei a saber que o Cartão de Cidadão esteve para se chamar Cartão Único, não o tendo sido para evitar a que propagasse a sigla CU. É muito provável que estivessem preocupados com uma nova linha de piropos que se poderia criar a partir desta sigla.

Sobre o assunto tenho a dizer que fui estudante na Cornell University e nos EUA as universidades fazem imenso dinheiro a vendar roupas com a sua marca. Assim, roupas com a sigla CU eram bastante comuns. Tive um casaco assim e tudo.

Havia até calções e calças de fato de treino com as letras da sigla estampadas nas nádegas. E, reconheço, vários piropos me vinham à cabeça. Mas, claro, as americanas não os percebiam.

Cerâmicaporn

Quando a Stellinha era viva, comecei a deixar um candeeiro sempre ligado para ela porque tinha perdido cerca de 80% da sua visão; quer dizer, isso era quando ainda tinha os dois olhos. Depois de ter perdido um, ficou pior. Agora que já não está connosco, continuo a deixar o candeeiro ligado porque faz-me triste vê-lo apagado. Faz-me triste já não a ter. Ainda esta semana me lembrei que, numa noite no ano passado, pouco antes de ela morrer, sentei-me na cama com ela ao colo e adormeci. Quando acordei quatro horas depois, estávamos exactamente na mesma posição: eu sentada com os meus braços em redor dela; ela a dormir muito relaxada. Nessa noite, fiquei muito chateada comigo própria pois, estando a dormir, podia tê-la deixado cair. Felizmente, segurei-a sempre. 

O candeeiro da Stellinha deixou de funcionar hoje, sexta-feira, o mesmo dia de semana em que ela morreu -- uma coincidência parva. Nada de visível lhe aconteceu e, de repente, apagou-se. Ainda lhe dei uns toques e dava luz durante alguns segundos e depois apagava.  Fiquei tão chateada, que pensei logo "Ai, és assim? Deixa estar que eu já te digo... Vais ser reformado!" Fui à Target comprar um candeeiro novo. Ele havia tanta opção gira, mas acabei por escolher um com uma base em "driftwood" -- é aquela madeira que se encontra na praia ou nos rios --, feito nas Filipinas. Aprecio muito coisas feitas com essa madeira. 

Quando cheguei à secção de decoração, havia uma mesa cheia de peças de cerâmica para receber visitas. E havia muita cerâmica portuguesa. E cerâmica portuguesa para mim é tipo sexo: excita-me muito. Parecia eu que estava numa loja XXX a escolher vídeos do Club Jenna -- ah, seus tontos, estou a brincar, já não é preciso ir a sítios desses. Adoro cerâmica; é um dos meus pontos fracos. Se um dia me quiserem calar, é fácil: levam-me para uma loja de cerâmica portuguesa e eu estou lá entretida durante horas a fio. Não falo, nem nada, só faço festinhas a tigelas e pratos. 

As peças na Target eram muito bonitas e as minhas preferidas eram feitas em Portugal, em barro vermelho, com parte da peça pintada. Tinham um certo ar rústico, como aquelas peças de barro vermelho que se podem encontrar nas feiras, mas com acabamentos de melhor qualidade e design mais sofisticado. Para mim, isto é pornografia: cerâmicaporn...



Obrigada ao Observador

Como sabem, está a decorrer no Brasil um processo de "impeachment" da Presidente Dilma Rousseff. A instabilidade política afecta a cotação do real e também o mercado de soja, pois o Brasil é um país importante na sua produção. Não vos posso dizer mais nada para além disto porque faz parte do meu emprego e seria uma violação de ética fazer análise e comentário de eventos que decorrem, pois compete com os interesses da companhia onde trabalho.

No entanto, gostaria de dizer que tenho estado a acompanhar a situação de perto e leio a imprensa de vários países para tentar minimizar o enviesamento das notícias. Hoje, o Explicador do Observador deu-me uma ajuda tremenda, pois tem uma cobertura detalhada do processo legal que decorre no Brasil e das intenções reveladas pelos diversos protagonistas políticos. Por isso, envio um grande obrigada a toda a equipa do Observador.

Quanto a mim, perceberam qual é a minha vantagem comparativa na área onde trabalho? Para além de saber massacrar os números, falo português e espanhol. O espanhol não é excelente -- leio melhor do que escrevo e falo; mas, no outro dia, quando fui ao supermercado latino, o moço que estava no talho pensava que eu era mexicana e eu fiquei toda contente.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Uma heresia moderna

John Rockefeller era o homem mais rico do mundo. A sua imagem pública andava pelas ruas da amargura. Máximas como “Nunca ajudes a quem te ajudou” dizem muito sobre o calibre deste génio dos negócios. No início do século XX, contratou Ivy Lee para melhorar a sua imagem junto dos seus compatriotas.
Ivy Lee é geralmente considerado o pai das relações públicas. De forma planeada, deliberada e sistemática levou a que a imagem de Rockefeller passasse a ser a de um contribuinte generoso, que criava milhares de empregos e a de um mecenas com uma função social relevante na sociedade.
Ivy Lee criou um código de conduta no relacionamento com a imprensa, segundo o qual a informação transmitida devia ser correcta e de grande rigor. Com o tempo, ganhou a confiança e a simpatia dos jornalistas. Rockefeller passou a aparecer em fotografias rodeado de uma família aparentemente descontraída e feliz. O escroque, o pulha, deu lugar a um rosto humano e simpático para consumo público. Os balanços das empresas do magnata passaram a ser publicados nos meios de comunicação social, dando, assim, uma imagem de transparência e ressaltando sempre a quantidade de impostos pagos ao Estado, os empregos criados, os salários altos, etc.
Ivy Lee e Rockefeller fizeram escola. Todos os heróis empresariais modernos se rodeiam de relações públicas a fim de criar o tal rosto humano para público ver. Steve Jobs foi uma espécie de profeta, com milhões de seguidores em todo o mundo. Cada lançamento de um novo gadget era um acontecimento, uma epifania, uma revelação, que os fiéis seguiam com emoção. Não espanta por isso que os admiradores de Jobs tenham recebido com indignação os dois filmes biográficos sobre o seu ídolo. É um Jobs insensível, frio, cruel, mesquinho, vingativo, desumano, implacável, escroque que aí aparece. Um Jobs que não tem nada a ver com a imagem que os seus assessores ofereceram ao mundo.
É atribuída a Chesterton a frase de que quando os homens deixam de acreditar em Deus passam a acreditar em tudo. Quem acredita nas ilusões e nas imagens cor-de-rosa pintadas pelos “marqueteiros” dos homens dos “lugares de topo” só pode ver como uma heresia filmes como “Jobs”.