57. No dia de Santo Estanislau de Szczepanów morto por um rei que lhe desferiu um violento golpe na cabeça e que em seguida lhe trespassou o coração e lhe cortou o nariz e lhe desfigurou o rosto e que em seguida mandou que fosse cortado o corpo em quatro partes e que fossem estas espalhadas pela cidade e cujo corpo miraculosamente foi reunido e refeito por quatro águias o dia também de Santa Pelágia de Tarso sentenciada por um imperador a ser queimada num touro de bronze em brasa onde entrou exalando uma fragrância de mirra e cujos ossos permaneceram intactos e foram guardados por quatro leões, Elizabeth Bathory, de quinze anos, casou numa catedral e tornou-se senhora do castelo de Csejthe.
Elizabeth Bathory, Condessa de Ecsed. Manteve o nome da família onde nasceu, o marido adoptou o nome ilustre da mulher, com quinze anos e um marido inferior susteve a indignação e conservou a altivez. Casou sem um sorriso e sem um olhar para o noivo. Arrastou uma cauda de seda e diamantes com três metros como se fosse a pena de uma águia ou a unha de um leão. Bebeu o vinho e comeu o pão. Aceitou ser abençoada pelo oficiante. Tolerou ter a sua mão agarrada pelo homem com quem se deitaria. Sentou-se a uma mesa comprida e suportou os brindes e as peças de carne cozinhada que punham à sua frente. Só recusou levantar-se e ser exibida aos convidados como se fosse ela própria uma peça de carne cozinhada. No leito, imóvel e de olhos fechados, pensou no seu cavalo favorito. Desviou os olhos da nódoa vermelha que poluiu os lençóis e este seria o único sangue de que alguma vez desviaria os olhos. E jurou, a si própria e não aos mártires que presidiram às núpcias, ser doravante terrível. Jurou em frente ao espelho que sempre tivera nos seus aposentos e que sempre a fascinara. Jurou em frente ao espelho onde por vezes lhe parecia ver criaturas impossíveis. Onde por vezes a chamava uma mão, ou um coro de vozes lhe falava numa língua que ela não conhecia. Onde por vezes esgares disformes a seduziam. Nunca teve medo. Por isso seria cumprido o juramento. Começou a frequentar a alcova de uma tia de quem se contavam histórias inquietantes e que a iniciou nos prazeres da flagelação. Fazia um pequeno movimento com os lábios sempre que o látego marcava com sangue as costas do camponês e o fazia gritar e já não eram as palavras que clamavam inocência e que berravam surpresa porque nunca ele cometera o crime que lhe valera o castigo, eram uivos. Foram anos felizes. Mas o fim natural e sereno da sua mestra chegou e, regressada das cerimónias fúnebres, Elizabeth fixou os olhos no espelho. O espelho que escureceu. E dele saiu uma vaga de sangue que Elizabeth bebeu e com o sangue lavou o rosto e com o sangue banhou os braços e com o sangue lavou os cabelos e com o sangue esfregou as mãos sem querer apagar qualquer mancha. Elizabeth, submersa, compreendeu. O seu reino não era deste mundo.
Neste dia de enlace “snifamos” sangue em toda a história. O dia estava amaldiçoado. A vingança da Condessa de Ecsed, pelo que temos lido, só poderá ser cruel e mirabolante. Será que ainda nos vai conseguir surpreender?
ResponderEliminar