terça-feira, 2 de agosto de 2016

Prioridades

Vi agora esta notícia: o governo gostaria que os emigrantes comprassem dívida portuguesa. Repare-se, nós saímos e continuamos fora por alguma razão. Eu também gostaria que os membros da AR e os governantes de Portugal não fossem medíocres e tratassem melhor o povo, em vez de fazer de nós idiotas e de nos ver como uma vaca leiteira que serve para sustentar uma classe política incompetente e a continuação de políticas que já arruinaram e ameaçam arruinar outra vez o país.

Então façamos assim: primeiro, deixem de ser ineficientes e corruptos, arranjem um enquadramento legal que vos meta na prisão quando fazem merda -- é o que há em outros países, meus caros; depois podemos falar de se enviar mais dinheiro para financiar a República.

24 comentários:

  1. Se fosse gente a quem reconhecesse alguma importância ou mérito sentir-me-ia ofendido. Como, de todo em todo, não é o caso, é apenas mais uma anedota. E nem sequer preciso apelar à minha veia de humor negro para me rir. O valor facial da coisa basta.

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  2. Rita achei interessante esta parte do seu post. "arranjem um enquadramento legal que vos meta na prisão quando fazem merda -- é o que há em outros países"
    De facto acho que medidas deste tipo, se bem aplicadas poderiam fazer maravilhas pelo nosso país. Contudo o único sítio que conheço onde altos responsáveis estão a cumprir penas de prisão é na islândia. Conhece outros casos? Que tipo de legislação existe que seu diferente da nossa?

    Cumprimentos

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  3. É uma ideia boa. A diáspora portuguesa tem muitos recursos. Defendi-a, em comentários de blogs, no pico da crise, em 2011. Foi um dos melhores investimentos financeiros disponíveis no mundo. Tinhamos ganho dinheiro e o país não teria sido obrigado a vender as suas jóias ao desbarato.

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    1. Bem, na diáspora haverá quem tem recursos e quem os não tem como em tudo. Agora, o que o leva a crer, caro NG, que haverá assim tanta gente e tanto dinheiro dos emigrantes disponivel para investir em títulos Portugueses?

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  4. 5 milhões de emigrantes, expatriados e lusodescendentes × 15 mil euros = empréstimo da Troika. Não me parece absurdo, sobretudo quando a dívida estava barata. Agora, com esta muito mais cara, é um investinento menos interessante.

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    1. Há uma parte do seu comentário que nem sequer entendi. Já lá vamos.

      Parece-lhe que a totalidade daqueles com alguma ligação a Portugal estariam disponiveis, em 2011, para aplicar 15000€ em dívida da República? Perdoe-me mas está claramente a sonhar. Por um lado assume que todos estes têm 15000€ para uma coisa dessas o que não é líquido. Por outro assume que achariam o investimento em dívida da república uma proposta interessante no contexto desse momento.

      Como estavam as coisas nessa altura? A República estava abocada à bancarrota, a dívida pública cotava a cerca de 7% em leilão e nem assim havia tomadores salvo aqueles com perfil de risco agressivo. Pelo contrário, os investidores estavam a desfazer-se dela no mercado secundário tão depressa como podiam. O problema é que não encontravam assim tantos tomadores tendo o desconto no secundário ido além de 16%. É neste contexto que acha que iria haver uma avalanche de luso-descendentes a comprar dívida pública Portuguesa? Claramente, caro NG, está a sonhar. Muito!

      Por outro lado isto nem sequer seria positivo para o Estado Português. Muito pelo contrário. É que, com o resgate, o Estado Português recebeu os 78 mil milhões de € a uma taxa média de 3,qqrcoisa% sendo que parte dela (a do FMI) tem sido paga antecipadamente e substituída por dívida a juro inferior fazendo diminuir a taxa média do total. Se tivesse sido colocada a outros investidores pois teria sido ao valor de mercado, o dobro do juro pago pelos fundos do resgate. E não teria sido reembolsada com a mesma facilidade que foi a do FMI.

      Em suma: Parte do princípio que todos aqueles com ligações a Portugal têm dinheiro por aí a nadar, o velho mito de que todos os emigrantes são ricos. Assume que iriam todos a correr comprar dívida pública Portuguesa quando o que toda a gente estava a fazer era a desfazer-se dela. Isto tudo no contexto de 2011 em que havia sérias probabilidades duma bancarrota o que, só por si, afasta os investidores de retalho a correr muito, sejam Portugueses sejam outros quaisquer. Perdoe-me, caro NG, mas percebe tanto de dinheiro e investimentos como eu de cultura de espargos em Júpiter.

      Deixe-me falar-lhe do meu caso pessoal. Hoje em dia não tenho qualquer actividade profissional limitando-me a gerir o meu dinheiro, em larga medida com investimentos financeiros. É certo que dívida pública não é a minha praia mas tenho alguma no meu portfolio. Fica sempre bem e, nos casos adequados, é um investimentozito que vale a pena. Não tenho dívida pública Portuguesa nem qualquer interesse, directo ou indirecto, em Portugal há mais duma dúzia de anos. Isto porque o que aconteceu em 2011 era previsivel desde muito antes. Por aí em 1999-2000 já se via vir e foi nessa altura que comecei a falar e a escrever sobre o assunto. Na altura pensei por volta de 2012. Errei por um ano. Penso não ser necessário dizer que, em 2011 não iria comprar um tostão de dívida pública Portuguesa. É óbvio e evidente. Não fiz nenhuma sondagem entre amigos e conhecidos mas duvido que algum daqueles com quem mais ou menos vou lidando comprasse dívida Portuguesa nessa altura. Não quero ver-me, nunca, na situação de ter que vender os meus títulos ao Sr. Paul Elliot Singer por, como muito, «ten cents on the dollar».

      Algo mais sobre este tema. Aqueles que conhecem os mercados de investimento e estão metidos nele têm, normalmente, um perfil de risco superior ao do pequeno aforrador. Há um certo intervalo dentro do qual está a maioria dos investidores profissionais. Os pequenos aforradores têm um perfil de risco menor. O capital de risco tem um perfil de risco maior. E porque escrevo isto? Muito simples. Não percebo o que quer dizer com isso de dívida estava barata ou está agora cara. Apreçar um investimento não é função apenas da sua rentabilidade. É função também do risco e se essa rentabilidade cobre o risco em que incorre o investidor. Daí não fazer qualquer sentido falar de dívidas baratas ou caras sem incluir o risco no raciocínio. Isto se entendi correctamente o sentido de "barata" e "cara".



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  5. O risco que o mercado reconhece é uma coisa muito vaga. Revelou-se muito menos arriscado o investimento em obrigações do tesouro portuguesas do que em obrigações de bancos ou empresas outrora sólidos como o BES ou a PT, com remunerações muito menos atractivas.
    Nem era preciso juntar muito dinheiro. Bastaria sinalizar o poder de fogo de todos os que desejam a continuidade de Portugal como nação independente, residentes em Portugal ou em qualquer parte do mundo, e estão dispostos a alguma exposição por essa causa. Bastou o grito de Draghi para pôr o mercado em sentido.
    A dívida pública será paga pelos contribuintes portugueses. Detê-la tornará mais exigente a sua gestão. Na crise, até os funcionários públicos poderiam ser pagos com títulos de dívida, não transaccionável de imediato. Qualquer solução teria sido mais vantajosa do que entregar os rendimentos garantidos da nação a chineses e outros especuladores. A iniciativa que o post refere parece-me extemporânea.

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    1. Pessoalmente, recuso-me a pagar voluntariamente, mas o NG é tão generoso, que suponho não se importará de pagar a minha parte. Acho que ter políticos que arriscam porque estão a contar com o pagamento de quem ama a pátria cria uma situação de risco moral. Como dizia o Einstein: We can't solve problems by using the same kind of thinking we used when we created them. A meu ver, estes políticos fazem parte do problema; não fazem parte da solução.

      Estou curiosa por saber se o NG tem filhos e se lhes permite fazer tudo o que lhes der na telha só porque o ama. Acho esse método de educação péssimo.

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    2. A posteriori toda a gente acerta no totoloto. É irrelevante como as coisas se desenrolaram mas sim o risco percebido no momento de tomar a decisão. Que era elevadíssimo e isso refletiu-se no comportamento da dívida pública Portuguesa, tanto nos leilões como no mercado secundário.

      O mercado não é uma entidade monolítica. É, sim, a soma de milhões de decisões individuais.

      O poder de fogo a que alude é, na realidade, muito reduzido e a percentagem desse poder de fogo disposta a expôr-se a riscos tão elevados torna o valor liquido irrisório. De resto isso vê-se facilmente. Muito poucos são os que têm tomado titulos de dívida da República nas suas mais diversas formas. O que mostra claramente que o interesse duma coisa dessas é muito reduzido. Mas, claro que o NG é livre para ir agora, já, aplicar toda a sua fazenda em certificados de aforro ou em certificados do tesouro.

      Juntando tudo o que disse, porém, por outras palavras o que o NG pretende são esmolas embora sem o dizer. Ora, a caridade também tem o seu lugar e aí há gente não apenas muito mais necessitada como que aplica muito melhor o dinheiro que lhe é posto à disposição, seja sob a forma de simples doações seja sob a forma de financiamentos ao arrepio das condições normais de investimento.

      Contribuam os que vivem no rectângulo e rochedos adjacentes e deixem os que sairam para governar a sua vida longe de idiotas em paz e sossego!

      Rita: na mouche! Dá-se é o caso de que isso do "ama a pátria" está muito longe da carteira. Acho que nem os políticos Portugueses contam com isso para salvar o estaminé.

      Rita e Luís: tinha pensado, algures numa das réplicas, perguntar-vos se aceitariam os conselhos do NG. Anteciparam-se e vejo claramente a negativa na vossa resposta. Que era expectavel, naturalmente. :-)

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    3. Não se trata só de amor à pátria. Trata-se de fazer do amor à pátria um bom negócio, pessoal e colectivo. Uma acção individual desgarrada não tem quaisquer efeitos. Uma acção de conjunto, bem comunicada e sincronizada,sim, tem. E a dívida pública portuguesa teria sido um investimento directo bem menos arriscado e bem mais compensador do que, por exemplo, um depósito a prazo (sobretudo em valores acima de 100 mil euros) ou nos canais que desaguam em fundos e contra-fundos onde as comissões à gestão são garantidas e a remuneração é jogo de sorte e azar.

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    4. NG, tenha paciência, mas os meus investimentos governo-os eu. Eu é que sei o risco a que quero expôr-me, os valores que pretendo investir, em quê especificamente e os motivos de serem estes os meus parâmetros e não outros quaisquer. Eu é que decido o que são bons negócios para o meu portfolio, o que não são, como entro neles e qual a minha estratégia de saída. Em suma; nos meus teres e haveres mando eu, eu, eu, eu, eu e ninguém, absolutamente ninguém mais. E, não tenha quaisquer dúvidas, é exactamente esta a posição da generalidade dos investidores, sejam eles a título individual ou gestores de carteiras diversas.

      Pelo que tem dito, tanto agora nos comentários a este post da Rita como noutras ocasiões tem demonstrado não perceber patavina de dinheiro e, muito menos, de investimentos. Aliás, falar em depósitos a prazo neste contexto ou "canais que desaguam em fundos e contra-fundos" pondo tudo no mesmo saco mostra à saciedade que não faz a mínima ideia do que está a dizer. Portanto não tente ensinar o que quer que seja sobre este assunto seja a quem for. Muito menos a quem tem anos de experiência em mercados financeiros com um track record muito simpático. E, ainda por cima, usando conhecimento da evolução para justificar a bondade de decisões tomadas num momento anterior ao desenrolar dos acontecimentos.

      Olhando ao que diz, a generalidade dos investidores mundiais, privados, empresariais e soberanos, são um bando de estúpidos que não sabem o que fazem. Veja-se lá, aquelas bestas a desfazer-se de dívida pública Portuguesa que até era um bom negócio. Claro que os motivos pelos quais foi um bom negócio nem sequer entram na sua equação. Quando tiver um track record de investimento com pelo menos cinco anos francamente positivos talvez possa dizer alguma coisa. Até lá, tenha paciência, mas tudo o que diz são ideias de armchair trader sem qualquer fundamento no mundo real. Há muitos, de resto.

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    5. Zuricher, não tenho pretensões de ser conselheiro de investimentos financeiros de ninguém. Fico feliz com os resultados das suas apostas e com a satisfação que o modo de vida que resolveu partilhar connosco lhe proporciona Também não me queixo dos meus. Acho que Portugal alterou dramaticamente o curso da sua história em Março de 2011. Acho que existiam alternativas político-financeiras ao abismo de irrelevancia e dependencia submissa para que o país foi empurrado. Muito poucos investimentos apresentaram rentabilidades maiores do que a dívida portuguesa nos últimos 5 anos. Parabéns a quem nela decidiu investir. Acho que a volatilidade do custo da dívida de um país é nefasta, e ameaça à sua economia. Acho que quanto mais dívida de um país for detida directamente pelos seus cidadãos e menos em intermediários especuladores comissionistas, mais sólida será e mais exigência política sobre a sua gestão ocorrerá. Acho lúcida a promoção desse produto entre todos os seus cidadãos, residentes e da diáspora. Melhor ainda quando era um produto caro.

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    6. O problema é muito mais simples que o desenrolar desta conversa leva a crer. O Zurich tornou-o claro logo no primeiro comentário.

      Comprar dívida no mercado secundário foi rentável porque o estado não faliu, mas emigrantes que não pagam IRS comprarem essa dívida no mercado secundário a 7% pouco ajudava a república.

      Pôr emigrantes que não pagam IRS a comprar dívida no mercado primário com essas rendibilidades era runioso para a república, muito mais do que o empréstimo da Troika com juros pela metade, facilidades de pagamento, renegociação, etc.

      Para não termos que vender os anéis aos chineses precisávamos de bastante mais do que os €80B que recebemos. Ou de outro sindicato de emigrantes para comprar também a EDP, REN, etc.

      E o estado, efectivamente, colocou dívida a preços bastante interessantes aos aforradores. Depois, quando a Troika chegou, tornou os produtos bastante menos interessantes. Esses produtos tiveram a procura que tiveram. Não precisamos de escrever versões alternativas da história para imaginar como seria.

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    7. NG, existiam alternativas unicamente na sua imaginação. O comportamento dos mercados de dívida Portuguesa nessa altura mostram clarissimamente que o NG está errado. A dívida Portuguesa permitiu ganhos apreciaveis? Sim, sem dúvida. O tipo de ganhos que capital que procura o risco está habituado. É que a dívida pública Portuguesa era de risco elevado nessa altura daí só quem tem uma estratégia de investimento de risco a tomava. Estratégia esta que inclui, entre muitas outras coias, os meios necessários para lidar com defaults de forma muito firme. E por isso a generalidade dos investidores que ainda tinham dívida Portuguesa (que nem sequer eram assim tantos) foram-se desfazendo dela, como é evidente. Não espero, porém, que entenda isto dado toda a sua posição é ideológica e nada tem a ver com racionalidade de investimento portanto vale o que vale. A volatilidade da dívida pública dum país, exactamente como a de qualquer produto financeiro, advém da forma como o produto é gerido. No caso da dívida pública dum país advém da forma como o país é gerido. Se o Estado quer ter dívida barata, pois governe-se de molde a tê-la barata. Doutro modo será sempre colocada a valores elevados e com imensa volatilidade que torna a gestão orçamental de médio e longo prazos (enfim, nem existe tal coisa em PT mas façamos de conta) impossivel. Por fim, o NG não tem a mais pequena ideia de quem são os investidores nos mercados financeiros e, uma vez mais, vai pelo diapasão ideológico. Essa de "intermediários, especuladores, comissionistas" revela uma ignorância atroz e só o desconhecimento da própria ignorância pode levar alguém a escrever tal coisa.

      Até a sua ilusão de que se a dívida for detida por nacionais e não por estrangeiros leva a uma melhor governação é exactamente isso: ilusão. Tanto Itália como o Japão têm porções significativas das suas dívidas públicas detidas por entidades residentes. É claramente indiferente.

      All in all o NG continua a bater na tecla da caridade mas dar dinheiro a um Estado mal governado não é, de todo, caridade. O oposto, mais bem, até. E, de resto, fazer caridade a um país que tem um IDH muito elevado é um insulto àquelas sociedades que precisam efectivamente de caridade. Olhe, a Action Against Hunger tem há vários anos um programa de segurança alimentar que visa dotar certas comunidades locais das ferramentas necessárias para, elas próprias, se tornarem auto-suficientes em termos alimentares. É um programa para o qual vale realmente a pena contribuir pelos seus efeitos que perduram no tempo. Há uma certa universidade dum certo país Africano (prefiro ser algo vago aqui...) que conseguiu, com meios muito rudimentares, montar um departamento de investigação que apresentou, com meios baixissimos, resultados fabulosos. Entretanto foram angariando meios e estão a evoluir. Está a ter um impacto interessante nessa sociedade e é um claro investimento com frutos a 20-25-30 anos e para o qual vale a pena contribuir. Frutos que não são apenas o produto desse departamento de investigação. O maior deles está a ser a sensibilização das crianças e jovens desse país para a aprendizagem das áreas tecnológicas. Outra forma de caridade, há umas quantas ONG cujo objectivo é dar educação (muitas são fantásticas no que conseguem atingir!) a jovens de países desfavorecidos. Vale a pena dar dinheiro para este fim e, devo dizer-lhe, é de ir às lágrimas ver certos resultados. Ora, perante estes cenários, tanto de gente muito mais desfavorecida do que os Portugueses como de resultados espantosos com meios várias vezes inferiores aos dos Portugueses, atreve-se a pedir a alguém caridade para com Portugal? Para com um país cronicamente mal governado e com uma sociedade que pede precisamente más decisões aos governos? Tenha juízo, senhor. Tenha juízo e vergonha na cara!


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    8. Nuno Cruces, o seu comentário é certeiro, naturalmente. O NG, porém, acha que era preferivel ter o Estado a pagar 7% ou mais de juros desde que fosse a Portugueses, residentes ou não, em vez de 3,qqrcoisa% do resgate. Ele não entende que 7 é maior que 3,qqrcoisa e os impactos disso. Há ainda outro aspecto. É que com o resgate a República foi forçada a ir entrando nos eixos e isso, de resto, reflectiu-se no mercado de dívida pública com taxas mais interessantes para o Estado em leilão e no mercado secundário identicamente. Sem o resgate e com alguém a dar dinheiro ao Estado por caridade nunca isso se teria feito. Está agora a ser trilhado o caminho oposto e, mesmo com o programa do BCE, a dívida Portuguesa vem piorando a sua cotação. O comportamento da dívida pública Portuguesa em mercado secundário tem ido ao contrário das de Espanha e Itália.

      No seu último parágrafo refere-se aos certificados de aforro e àquela coisa de certificados do tesouro que foi lançada, certo? A dada altura soube que houve uma debandada dos certificados de aforro e depois um retorno mas não sei valores exactos. Dos CT sinceramente não sei nada mas o valor angariado terá sido sempre baixo relativamente às necessidades. Tem alguma informação sobre isto?

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    9. Caridade? Mas qual caridade? Por exemplo, os placards publicitários a aplicações em fundos que especulam com preços de matérias primas, que se viam em qualquer agência bancária, da cidade à província, para captar as poupanças de pequenos e grandes aforradores, no pico, pouco antes da sua desvalorização, também eram apelos a obras de caridade? Todas as campanhas populares de promoção de produtos financeiros são aceitáveis e virtuosas menos as relacionados com posições longas da dívida pública portuguesa, que deverão ser rebaixadas à categoria de acção caritativa, é isso?

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    10. O site do IGCP tem os valores mensais de stock da dívida, em que os Certificados de Aforro e do Tesouro aparecem discriminados:
      http://www.igcp.pt/gca/?id=86

      Os CA incluem todas as séries (A, B, C e D). Para estancar a sangria de 2011-2012 foi instituido em Ago 2012 um prémio (em vigor até Dez 2016) que colocava a taxa sempre acima dos 3%. A série C deixou de poder ser subscrita em Fev 2015. A série D oferece um spread de 1% sobre a Euribor negativa.

      Os CT incluem CT e CTPM. Os CT foram criados em Jul 2010 e suspensos em Set 2012. Em Mar 2011 foi instituido um tecto nos juros de 7.1% a 10 anos, mas a taxa foi sempre superior a 5.5%. Os CTPM foram criados em Nov 2013, com uma taxa de 4.2% a 5 anos. Desde Fev 2015 a taxa é 2.23% a 5 anos.

      Todos estes produtos fazem retenção à taxa liberatória. Não sei se um emigrante pode reaver a diferença. A conta pode ser aberta nos CTT, e desde que se tenha conta num banco português, é fácil subscrever e resgatar a maioria dos produtos "online". Pode também ser designado um movimentador.

      Pela ausência de comissões, para valores perto dos €15k referidos pelo NG, os CTPM são (ainda hoje) uma melhor opção quando comparados com o produto que deu origem a este post (OTRV).

      Há anos que os emigrantes têm onde e como investir, se quiserem. E estão 22.6B€ aplicados nestes produtos, 9.6% da dívida do estado. Não sei se há espaço para crescer, com ou sem emigrantes.

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    11. Nuno Cruces, muito obrigado! :-)

      Começo pelo fim: em tantos anos de existência dos produtos (os certificados de aforro nem sei desde quando existem, sempre soube que existiam) só alcançam 9,6% do total da dívida pública. Que fartura! E, claro, ha que enfatizar a sangria de 2011-2012. Sangria, evidentemente, óbvia e que só o NG não consegue ver nem perceber os seus motivos.

      Olhando agora às taxas de juro, e este parágrafo é para o NG também para entender a caridade, em Agosto de 2012 com os juros da dívida pública Portuguesa à roda dos 10% no secundário, para estes títulos eram garantidos apenas 3%. Os CT com taxas variaveis entre 5,5% e 7,1% entre Julho de 2010 e Setembro de 2012, momento em que no secundário a dívida a 10 anos chegou a cotar acima dos 16% e não havia tomadores para dívida pública Portuguesa em mercado primário? Oh que rico negócio! Portanto temos taxas de juro variando entre 3% e 7,1% para os diferentes produtos num momento em que não havia tomadores para a dívida pública Portuguesa em leilão e no mercado secundário passou dos 16%. Para mais num contexto de elevadíssimo risco que, e aí realmente cada um tem a sua percepção mas, para mim pelo menos e dado o risco do momento essa taxa de juro não cobria, de todo, o risco. De qualquer forma, dada a fraca adesão, espelhada no baixo peso disso tudo no total da dívida pública, vê-se que houve realmente pouca gente a achar essa coisa atraente, não só nessa altura (aí fugiam era deles como é normal) como nos tempos que se seguiram até hoje.

      Está a ver onde está a caridade, NG? Ter títulos que cotam no mercado secundário acima dos 15% e chegaram a passar dos 16% num certo momento mas que seriam adquiridos algures entre os 3% e os 7,1%. Alguém, podendo ter um juro de 15-16% aceitar ter 3-7,1% só mesmo por caridade. E nem incluo aqui a variavel risco que se fossemos por aí então pior ficava o caso.

      NG, em relação aos fundos de investimento nisto e naquilo a que alude, eu pessoalmente acho sempre que o pequeno investidor de retalho não se deve meter nessas coisas. É demasiada areia para a camionete de quem não está presente nos mercados financeiros. Pese embora quem investiu em fundos de matérias primas ter tido proveitos muito apreciaveis (sobretudo em ouro tem sido óptimo) nos últimos doze meses, é um caso de sorte e não de saber, quando falamos em pequenos investidores que põem as suas poupanças numa coisa qualquer que lhes impingem. Vendo por outro prisma, investir em dívida pública, seja de que país for, está também no mesmo patamar. É algo demasiado complexo para o pequeno aforrador que tem a sua vida e as suas economias mas não se interessa nem está metido nos mercados financeiros. Ou seja, investir em dívida pública Portuguesa naquela altura, se para investidores profissionais, só por caridade ou, claro, para aqueles que têm um perfil de risco elevado. Se para investidores de retalho, coitados que nem sabiam o que estavam a fazer exactamente como os que investiram nalguns fundos de ouro estão agora todos contentes mas nem sabem como nem porquê. O que, aliás, tem sido lamentavelmente comum em vários produtos e muitos dão asneira. Em todo o caso nunca iria conseguir angariar valores significativos e não era isso, de todo, que evitava o resgate e tudo o que se lhe seguiu.

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  6. Eu sou um sentimentalão. Há uns tempos descobri em casa dos meus pais um papel que certificava ter pago 5 contos ao Benfica, no início dos anos 90, num peditório aos adeptos a que se chamou "operação coração".

    Mas depois cresci.

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  7. Rita, algo que me esqueci. Dizes "recuso-me a pagar voluntariamente". Mas concebes, alguma vez em dias da vida, que o Estado Português possa compelir-te a pagar o que quer que seja daquele género? Que o Estado Português possa confiscar-te 15000€ só porque sim?

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    1. Acho que, no enquadramento legal que existe, isso e impossível; mas eu usei "voluntariamente" porque é sempre possível aumentarem a taxa de IRS e forçarem-me a pagar um imposto mais alto sobre os rendimentos que aufiro em Portugal. Mas eu posso sempre deixar de obter rendimentos aí e depois não pago nada.

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  8. "o Japão têm porções significativas das suas dívidas públicas detidas por entidades residentes. É claramente indiferente."

    É. O Japão, com a sua dívida pública a valer quase o dobro da portuguesa, em percentagem do PIB, tem ano sim ano não a brigada do FMI aterrando em Tóquio, para, entre outras operações de terra queimada, obrigar a colocar os seus activos públicos mais valiosos em hasta pública.

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  9. Se acha bom um país que:

    1) está estagnado há mais de vinte anos;
    2) não cria emprego líquido há mais de vinte anos;
    3) está num estado de deflacção/baixa inflacção há quase vinte anos;

    Então continue, que está no bom caminho. E isto com brutais programas de estímulo económico com resultados nulos no médio e longo prazos. É isto o que pretende para a economia Portuguesa? Bem servidos estamos...

    O que foi salvando o Japão durante muito tempo foi ter uma balança comercial francamente positiva mas até isso está a ir-se-lhes das mãos e o Japão, com a sua população muito envelhecida, economia estagnada e deflacção persistente é já mas tornar-se-á notório nos próximos tempos (seguramente antes de 2020) um dos grandes problemas mundiais. Aliás, o recente belicismo Japonês não está a acontecer por acaso.

    Ainda assim o objectivo do meu comentário nem sequer era dizer que o Japão era um país mal governado no presente até porque nem sequer faço essa acepção assim tão levianamente. Era, sim, fazer um contra-ponto entre os dois países num horizonte temporal alargado, desde o pós-guerra. Itália em declínio relativo há 30-40 anos tendo sido um dos países mais industrializados do mundo no pós-guerra sendo que, depois, desde os 1990s até a sua presença no G7 é questionada versus Japão que embora actualmente esteja na situação em que está teve uma enorme pujança económica ao longo meio século. Ambos têm, tradicionalmente, as suas dívidas públicas detidas por entidades residentes. Um tem sido tradicionalmente governado com os pés e decai inexoravelmente. O outro teve um crescimento meteórico sem paralelo em toda a sua história.

    Mas, já agora, diga-me cá: qual é a sua insistencia em ter dívida pública detida por nacionais? É que, sinceramente, nem entendo o raciocínio. Ou é a lógica Vasco Gonçalves? Se for de nacionais, rouba-se, não se paga, faz-se o que se quiser mas sendo de estrangeiros tem que se pagar? Bom, e vai daí se calhar até tem razão em achar isto. Tradicionalmente, em Portugal, o Estado sempre fez gato-sapato das pessoas e, por conseguinte, os Portugueses sempre tiveram uma enorme desconfiança do Estado. Donde não admira que nenhuma das ideias dos governos para angariar as poupanças do povo tenha tido alguma vez capacidade para ter um impacto substancial no endividamento do Estado.

    A terminar: não será muito mais importante criar as políticas necessárias ao enriquecimento dos países - tanto por via do aumento da produção como da diminuição do desperdício - por forma a que estes possam proporcionar bem estar sustentado e sustentavel aos seus cidadãos com os seus recursos em vez de estar com conversas da treta sobre dívidas assim e dívidas assado? Ao fim e ao cabo, dívidas são dívidas. São sempre um atoleiro que mais cedo ou mais tarde dá asneira seja duma maneira ou doutra. O melhor mesmo é manobrar sempre de maneira a tê-las sempre sob controlo sem nunca arriscar que elas tomem o freio nos dentes.

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  10. "Se for de nacionais, rouba-se, não se paga, faz-se o que se quiser mas sendo de estrangeiros tem que se pagar?"

    Se a dívida pertencer às pessoas que votam nos governos que a gerem, o grau de exigência na sua gestão e controlo será maior. Acho que se a dívida fosse detida directamente a 100% pelos cidadãos, os partidos que propõem a sua reestruturação seriam severamente punidos nas urnas e não teriam a popularidade que, por exemplo, o Bloco de Esquerda alcançou.

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