Em 2013, trabalhei numa empresa que fornecia seguro de saúde. Anualmente, recebíamos um pacote de informação com os benefícios que eram pagos em nosso nome pela empresa. A maior parte das pessoas não presta grande atenção ao que a empresa paga e apenas sabem, mais ou menos, a porção que pagam do próprio bolso. Quando eu trabalhava nesta empresa, pagava um pouco mais de $60/mês pelo meu seguro de saúde (quase $800/ano); mas a empresa pagava mais $5.350/ano. Só por mim, o seguro recebia um total de $6.150/ano (ver imagem abaixo). No entanto, havia alguma escolha de seguros mais baratos e outros mais caros: nos mais baratos, o empregado paga mais quando precisa de usar o médico e a seguradora paga menos; nos mais caros, o empregado paga menos quando usamos o médico, mas a seguradora paga mais (ver a lista de preço abaixo -- ainda tenho a papelada toda!). Note-se que quando o seguro é oferecido pelo empregador, o dinheiro gasto no seguro não paga impostos, ou seja, a porção que o empregado paga reduz o rendimento colectável e a porção que o empregador paga não é taxada.
Quando mudei de emprego, no final de 2013, o seguro que a minha empresa fornecia era catastrófico e só pagavam metade do custo mensal. Não me recordo ao certo, mas o custo para mim seria cerca de $300/mês, mas quando eu ficava doente, como o seguro era catastrófico, só pagavam 100% das despesas acima de $6.000 (este valor chama-se o deductible), ou seja, os primeiros $6.000 que eu gastasse em saúde num ano eram da minha responsabilidade. Achei mais vantajoso procurar um plano através do Obamacare, mesmo tendo de pagar o seguro com rendimento após pagar impostos. O meu primeiro plano, em 2014, tinha um custo de $330/mês e, caso ficasse doente, o meu deductible era de $1500. No final de 2014, o meu seguro foi renovado, mas o custo iria aumentar para $390/mês (note-se que, mesmo assim, isto é mais barato do que os $6.150/ano que custava o seguro no meu emprego anterior). Achei melhor ir à página do Obamacare ver se havia algo mais barato. Encontrei um seguro através de uma HMO (Health Maintenace Organization), que custava $257/mês e tinha um deductible de $1.500/ano. No final de 2015, esse seguro foi renovado, mas aumentou $7% o custo, o que achei razoável, pois eu também sou um ano mais velha, logo apresento mais risco de ficar doente. A minha HMO é uma organização não-lucrativa e os meus custos são os seguintes (sim, pago $400 se precisar de usar a urgência de um hospital):
Uma HMO é, em teoria, mais restritiva do que uma seguradora normal, pois só pagam se nós formos a um médico que tenha um contrato com a HMO e, se precisamos de ver um especialista, temos de coordenar o cuidado através do médico que escolhemos (tem de pertencer à rede). Isto não é muito diferente do que o que eu tinha quando tinha seguro de saúde através do meu emprego. No entanto, a minha HMO é um bocadinho relaxada porque eu nunca escolhi um médico e, quando telefonei a perguntar se precisava de uma carta para ver um especialista, disseram-me que não; podia escolher um especialista da rede de médicos participantes. Uma curiosidade: este ano, a minha empresa tentou procurar um seguro para mim comparável com o que eu tenho no Obamacare e não encontrou nada. Nenhuma seguradora oferece às empresas um seguro para os empregados com os benefícios que eu tenho ao preço que eu tenho. O que eu pago nem é muito. Quando eu andava à procura de emprego na academia, há mais de cinco anos, muitas universidade onde entrevistei ofereciam seguros onde o meu custo mensal era superior ao que eu pago agora.
É lógico que as seguradoras não gostam da existência dos tais mercados de seguro do Obamacare porque os preços são mais transparente e as mais caras acabam por ter menos clientes, pois algumas das opções no mercado são mais baratas. Mas, no início, houve um incentivo para as seguradoras entrarem nestes mercados: havia a possibilidade de poderem aumentar os preços, para que convergissem para os que praticam fora do Obamacare, e as pessoas as escolhessem na mesma porque contavam com que o governo acabasse por oferecer subsídios a quem escolhesse os seus planos, o que poria as seguradoras mais caras no mesmo plano do que as mais baratas. No meu caso, quando o custo aumentou 18%, eu escolhi outra coisa mais barata. É esse o papel do mercado: eliminar as empresas menos competitivas, as que têm um custo de produção de serviços menos eficiente.
Rita, os seguros que tens tido são seguros relativamente completos. Não é essa a situação de grande parte das famílias Americanas, mormente das remediadas, chamemos-lhes. E são essas precisamente que estão em pior condição do que anteriormente.
ResponderEliminarAntes do ACA conseguiam ter algum tipo de seguro de saúde, não cobrindo tudo o que cobrem os actuais mas que sempre iam dando para algumas coisas mais corriqueiras. Estas famílias conseguiam pagar estes seguros. Só que com o Obamacare estes seguros deixaram de poder existir dado uma das obrigatoriedades criadas foi a de todos os seguros terem que cobrir, como mínimo, certos eventos que muitos seguros antes não cobriam. Isto levou a que os prémios tenham aumentado brutalmente para essas famílias que ficaram numa situação caricata: os seguros acessiveis que tinham anteriormente deixaram de existir mas como os seus rendimentos não lhes permitem seguro subsidiado são forçadas a comprar os seguros actuais a preços muito mais elevados do que o seguro que tinham antes. Os apoiantes de Obama e do Obamacare dizem que, pois, enfim, os prémios subiram mas as coberturas também não são nada do que eram antes. De que serve isso para as famílias que antes podiam pagar seguros que cobriam o básico mas já era alguma coisa e agora não podem pagar os seguros com as coberturas determinadas pelo ACA? Isto tem sido largamente noticiado na imprensa Americana, tanto económica como fora dela embora o media mainstream evite falar muito no assunto. Não é surpreendente, claro, que para o global das famílias Americanas, diz-nos o Labor Dept, as despesas em saúde tenham sido as que mais aumentaram desde 2007. Uns estonteantes 25% quando todas as restantes despesas consideradas básicas diminuiram.
Há ainda outro aspecto que levou tanto a que os prémios tenham aumentado para todos como a que os carriers estejam a sair de vários locais como até a que vários co-op formados precisamente com o Obamacare estejam a ir "belly-up". As despesas de saúde em muitos sítios são simplesmente astronómicas e nem as seguradoras tradicionais como as co-op conseguem aguentar sem prejuízos imensos. Daí irem saíndo de vários mercados e, algumas, vão mesmo ao chão.
O pior, porém, ainda está para vir dado alguns dos subsídios no âmbito do Obamacare serem transitórios e acabarem em 2017. A situação já é complicada. Actualmente é um county que já é certo que ficará sem nenhuma oferta em 2017. Para 2018 esta situação irá multiplicar-se várias vezes em toda a união e a possibilidade de haver estados inteiros sem oferta de seguros de saúde é real. Já nem falo dos counties e mesmo estados inteiros que só têm um carrier e em 2017 serão muitos mais. Em 2017, a nível nacional, o aumento dos prémios de seguro será de cerca de 21% (onde é que os 8% YoY já vão...) sendo que em certos estados os aumentos são brutais. É o caso do Arizona onde os aumentos serão de quase 70%. No teu estado serão de cerca de 35%. As informações sobre os aumentos dos prémios irão chegar às pessoas algures em Outubro. Verás o que acontece nessa altura. Eu só espero que realmente cheguem às pessoas antes do dia 8 de Novembro! :-)
Isto tudo tem ainda ramificações muito interessantes. A Fed Res Bank of New York descobriu que sensivelmente 20% das empresas estão a contratar menos funcionários devido aos custos com os novos seguros de saúde, muito mais elevados do que anteriormente. Não é surpreendente, de todo.
A Kaiser Family Foundation tem-se debruçado muito sobre o assunto e é uma das fontes interessantes de estatísticas sobre a saúde nos EUA.
Antes do Obamacare, as companhias de seguros podiam negar serviço. Logo, esses seguros que tu dizes eram baratos e pagavam qualquer coisa, não pagavam muito porque a companhia tinha o direito de não renovar o contrato ou até de quebrá-lo de um momento para o outro. As companhias também não eram obrigadas a aceitar pessoas com condições pré-existentes, logo havia pessoas que não podiam comprar seguros. Por exemplo, uma mulher que tivesse tido tratamento de infertilidade ou outra pré-condição não podia comprar seguro antes de Obamacare; a única forma de obter seguro era ter seguro através do emprego (dela ou do marido ou dos pais, se fosse jovem), pois nesse caso a lei obriga as companhias a não discriminarem.
EliminarNão é verdade que houvesse muitas pessoas com seguro que pagasse qualquer coisa, pois a maior parte das pessoas que hoje está no Obamacare não tinha seguro. Por enquanto não é obrigatório ter seguro; as pessoas podem não ter seguro e apenas pagar uma multa, que é mais barato do que ter seguro.
O caso do Arizona não é assim tão emblemático. As pessoas podem comprar seguros fora do Obamacare, só que são caros e as empresas podem discriminar, ou seja, não é tão diferente do que existia antes do Obamacare. Para além disso, ainda há companhias que oferecem seguros dentro do Obamacare, mas as mais caras saíram.
Acho normal que haja empresas que se especializem em seguros caros e outras em seguros baratos. A Apple também não vende produtos baratos e penso que tu não achas que isso seja uma indicação de que o mercado de telemóveis e telefones esteja prestes a ruir.
Sim, podiam negar serviço por pré-existencias, podiam correr com os assegurados quando estes davam muita despesa, enfim, podiam fazer uma série de coisas. Que, algumas, eram exageros, sim. Mas para as rectificar não era preciso ir tão longe como o Obamacare foi, como, aliás, a experiência doutros países demonstra. O meu seguro de saúde, sem precisar ir mais longe, não pode correr comigo tenha eu o que tiver. E não é um seguro Americano ao abrigo do Obamacare. É de jurisdição Britânica.
EliminarHavia muita gente que não tinha seguro, sim. Mas também muita gente que tinha seguros cheios de restrições, é certo. Mas que iam servindo para o comezinho corriqueiro. Esses agora simplesmente deixaram de ter seguro ou, fazendo das tripas coração, vão pagando prémios muito mais altos do que os anteriores.
Bem, o Arizona não é emblemático, ok. TN, +60%; MT e OK, +50%; IL, +45%. Continuo? Essa do não ser obrigatório ter seguro mas quem não tem paga uma multa, oh Rita!! Se paga uma multa é porque é obrigatório, não é? Já agora convém falar de qual o valor da multa; O mais alto de ou 2,5% do rendimento anual do agregado familiar com o máximo igual ao valor dum plano bronze ou US$695 por adulto mais US$347,50 por criança com o máximo de US$2085. Repito, a multa é no valor da mais alta das opções.
Não é verdade que as pessoas possam comprar seguros iguais aos anteriores. O problema do Obamacare é precisamente ter obrigado a que as seguradoras cubram uma série de condições e levem a cabo uma série de não-discriminações que levaram efectivamente ao fim dos seguros baratinhos anteriores.
A comparação não pode ser feita com os telemoveis. Há telemoveis baratos e há telemoveis caros. No caso dos seguros de saúde nos EUA os telemoveis simplezinhos, baratinhos, limitadinhos teriam sido proibidos e ficariam apenas as opções com muitas funções. Tal como no caso dos seguros de saúde, se isto fosse feito com os telemoveis haveria muitos agentes da indústria dos telemoveis que teriam ido à falência.
Não conheço ninguém que tenha comprado esses seguros baratos de que falas, mas conheço muita gente que não teve seguro durante alguns períodos da vida. Repara que o Obamacare não acabou com esses seguros que falas, pois podem continuar a ser vendidos fora do Obamacare. Por exemplo, ontem marquei uma mamografia e a senhora perguntou se eu tinha um segundo seguro de saúde para além do meu primário. As pessoas têm é que pagar multa se não tiverem um seguro com condições mínima.
EliminarNão acho que os seguros sejam assim tão caros. Quando eu tinha 23 anos, o meu seguro nos EUA era de $60/mês, mas a universidade onde eu estudava tinha um contrato especial com uma seguradora; no entanto, o custo total do seguro era só o dinheiro que eu pagava. Os planos mais baratos que eu encontrei pelo Obamacare para mim, que já tenho 44 anos, custam pouco mais de $100/mês, o que não é nada caro, mas o deductible é mais alto do que eu escolhi. Ou seja, acho que a apreciação que fazes do programa é um bocado exagerada. É lógico que as companhias de seguros preferem vender o seguro a $400/mês, com o governo a pagar um subsídio de $300, do que a vender a $100/mês.
Quanto a comparar seguros na Europa com seguros nos EUA, estás a comparar alhos com bugalhos. Os custos de saúde nos EUA são caros porque tens médicos milionários. Na Europa, dificilmente encontras um médico que ganhe o que ganham muitos médicos americanos.
Rita, eu também não conheço ninguém que os tivesse. Mas eu conhecer ou não é totalmente irrelevante. Cinjo-me aos números e estatísticas sobre o assunto. Tem havido vasta notícia sobre o fenómeno a que aludi e, em todo o caso, um aumento de 25% nas despesas das famílias com saúde desde a entrada do Obamacare e cerca de 20% das empresas numa survey da NYC Fed manifestando expressamente que não contratam devido aos custos acrescidos dos seguros de saúde parece-me elucidativo qb. Não é uma questão de seguros caros ou baratos. É uma questão de que os actuais são muito mais caros do que os anteriores, mesmo contando que os anteriores eram muito mais limitados.
EliminarOs seguros limitados anteriores deixaram de poder ser vendidos. O ACA criou os insurance standards que todos os seguros de saúde vendidos nos EUA têm que ter. Estes standards incluem coberturas mínimas (Essential Health Benefits), a questão das pré-existencias e mais um monte de mambo-jambo.
Não comparei um seguro Europeu com um seguro Americano. Aliás, o meu seguro, embora sujeito a jurisdição Britânica é válido em todo o mundo excepto US sem quaisquer acrescentos. Para activar a cobertura nos US há que pagar um prémio adicional que, convenhamos, é uma fortuna. Não foi a nada disto que aludi, porém. O que disse foi, em resposta a teres dito que os seguros anteriores nos EUA corriam com as pessoas quando começavam a ficar muito caras, respondi que o meu seguro não está sujeito às condições draconianas do Obamacare e, ainda assim, não podem correr comigo mesmo que eu tenha um mega-cancro ou coisa parecida. Seguros vendidos em Espanha e na Suíça sei que têm provisões identicas: ao fim dum certo tempo de seguro (no meu caso são 3 anos), se a pessoa tiver sempre mantido os pagamentos em dia e continuar a manter, a seguradora não pode cancelar os contratos. Não é uma questão de preço mas sim de condições.
Esse é o ponto. A falta de oferta de um serviço público universal leva a que os médicos cobrem o que lhes apetece e muitos são, de facto, milionários. E nem por isso mais eficazes
Eliminarhttps://www.washingtonpost.com/news/to-your-health/wp/2016/05/03/researchers-medical-errors-now-third-leading-cause-of-death-in-united-states/
NG, nunca consegui perceber exactamente os motivos por trás da saúde nos EUA ser tão mais cara que no resto do mundo. Atirar apenas para os honorários dos médicos é uma explicação demasiado simplista até porque não são apenas os actos que envolvem médicos que são caros. É tudo. E, vistas as coisas, em grande parte da União há imensa concorrência mas tudo continua caríssimo. Há aqui qualquer distorção que não consigo identificar.
EliminarEm relação a um sistema público universal, a sociedade Americana é muito diferente da Europeia. Para os Europeus a saúde é um God Given Right. Para os Americanos não é exactamente assim nem nunca foi. Aquando do Obamacare a sociedade Americana ficou dividida sensivelmente ao meio e era o que era. Não tenho dúvidas de que um sistema público universal seria recusado por uma muito grande maioria social. Há uns tempos vi uma sondagem sobre isso - da Gallup, parece-me - que era algo esquizofrénica. Já não me recordo dos valores exactos mas era algo do género, uma maioria defendia a existencia dum sistema público de saúde mas ao mesmo tempo, cingindo apenas a questão ao Obamacare e excluindo a criação dum sistema público de saúde uma maioria também defendia o fim do ACA e retorno à situação anterior. Fiquei sem saber o que concluir daqueles números. Dado tudo o que aconteceu aquando do Obamacare com a sociedade muito dividida não tenho dúvidas que uma coisa dessas iria uma vez mais dividir a sociedade Americana e provavelmente não seria ao meio. Quando a coisa começasse a cair na praça pública e a ser discutida em maior profundidade em vez de apenas uma pergunta abstracta numa sondagem as coisas iriam alterar-se. Há ainda as questões de dinheiros dado não estar a ver muito bem como é que o Estado Federal iria conseguir pagar uma coisa dessas hoje em dia e nos próximos, vários, anos. As alternativas públicas que existem já sofrem de sub-financiamento crónico há muitos anos, tanto as federais como as estaduais como as locais.
P.S.: Já depois de escrever lembrei-me de ir ao site da Gallup ver se encontrava a sondagem de que me recordo mas não encontrei. Foi há uns meses já. Encontrei outras, porém, recentes, bastante interessantes:
1) 51% contra o Obamacare, 44% contra;
2) 51% dizem que o Obamacare foi neutro para si; 29% dizem que os prejudicou (em uptrend em relação a anteriores); 18% dizem que os beneficiou (em downtrend);
3) Expectativas quanto ao futuro para a sua familia decorrente do ACA, 37% acham que não vai fazer diferença, 36% acham que vai piorar a sua situação no futuro, 24% acham que vai melhorar.
Em relação a estas penso que em Outubro os números serão ainda mais expressivos do que os actuais dado nessa altura as pessoas irem saber quanto irão ser os aumentos dos seus seguros.
Outra coisa também interessante, a forma como os Americanos vêm o seu estado de saúde, o Obamacare não melhorou a forma como as pessoas vêm a sua própria saúde, tendo mantido a tendência de descida daqueles que a vêm como excelente. Isto, porém, pode ter (e penso que terá) a ver com mais factores, nomeadamente com o envelhecimento da população. Não desdenho o dado, porém.
A percentagem de uninsureds não diminuiu significativamente. Era de 17,3% em 2013 e é agora de 10,8%. Not impressive, sobretudo atendendo aos custos da coisa e às clivagens que gerou. Os niveis de uninsureds neste momento são sensivelmente os mesmos que antes da recessão.
A isto juntando os dados anteriores sobre o assunto que tinha de memória e fui escrevendo nos comentários anteriores, oh well.
O que prometia ser uma enorme revolução na saúde Americana é, afinal, um flop. Quando os subsídios transitórios acabarem e cada vez houver mais uninsureds e mais gente com dificuldades para pagar os prémios de seguro, quando as despesas com saúde consumirem mais e mais do orçamento das famílias, parece-me que se verá em toda a sua plenitude o desastre imenso que é o Obamacare.
O sistema de saúde americano está a anos luz do europeu e, especialmente, do português. Granel total. Não por acaso, uma das principais propostas do candidato Kasitsh, republicano, era tentar saber quanto custa. Um exemplo. No outro dia, o meu vizinho teve necessidade de uma intervenção cirurgica do foro cardiovascular e, dirigindo-se a um hospital local, foi enviado para um hospital universitário conveniado, a 100 km de distância, tendo de suportar despesas de ambulancia e hotel. Nâo tiveram a amabilidade de o informar que, a 2 km de sua casa, outro hospital, conveniado com outra universidade, tinha capacidade de realizar a mesma intervenção.
ResponderEliminarO sistema de saúde norte-americano é a prova provada da falência e da falácia do chamado "mercado livre". Em 2002 fiz um golpe no dedo indicador da mão esquerda (ao tentar partir um pão congelado, o que de si já é estúpido o suficiente, but never mind...). Como a faca estava afiada e o golpe era fundo, fui à urgência. Demorei 10-15m e saí de lá com dois (2) pontos no dedo, uma fatura de $540, e um conjunto completo de instrumentos cirúrgicos, que me deram como nas garagens nos dão as peças velhas depois da revisão. Em conclusão: submeti a fatura ao meu seguro (na altura trabalhava na Morgan Stanley, pelo que devia ser do que se melhor havia no mercado) e este pagou ao hospital um valor não revelado.Eu fiquei com um conjunto de instrumentos cirúrgicos de aço inoxidável, que foram usados uma vez (para me dar os dois pontos; incluia umas pinças, uma tesoura e mais não sei o quê); e o hospital e a seguradora devem ter colocado em faturação um valor suficiente para conseguir trabalhar com margens brutas de 30% a 50%, apresentar crescimentos de dois dígitos, e pagar aos seus executivos salários nas seis figuras e bónus nas sete. Os USA sâo o país da OCDE que mais gasta em saúde, mas tem dos piores resultados. Todos os esforços são no sentido de acrescentar terapia, e muito pouco na prevenção e profilaxia. O investimento em infraestrutura é absurdo (na períferia da média cidade do Midwest onde vivi abriram no espaço de 4-5 anos três novo hospitais; por volta de 2006, Atlanta tinha tantas máquinas de MRI - ao custo de vários milhões cada uma- como todo o Canadá, com a medicina socialista. As seguradoras pagam em serviços médicos cerca de 70% do valor dos prémios recebidos; as despesas "administrativas" custam o resto, e a coisa ainda dá lucro (cito os números de memória, mas se quiserem podem pesquisar, não acreditem em mim). Antes do Obamacare, havia 45 milhões de pessoas sem seguro de saúde. Isto não quer dizer que não tivessem acesso; quer apenas dozer que adiavam a ida ao médico para evitar pagar a consulta quando têm uma constipaçâo, e vão à urgência quando eata se transforma numa pneumonia; e como não podem pagar, abrem faléncia, e os hospitais dissolvem os custos dessas imparidades pelo resto dos utentes, subindo preços. E nem digo nada das exclusões por condições pré-wxistentes, já referidas Obamacare é uma opção política para colocar alguma "racionalidade" num sistema que nunca se iria auto-regular, como defendem os arautos dos "mercados livres". Quem nâo percebe que Obamacare é a mais consequente alteraçâo económica e social desde as reformas da Great Society de Johnson ou é ideólogo ou ignorante.
ResponderEliminarÉ muito bom o seu comentário o qual, aliás, está ao nível de alguns (poucos) artigos que a Rita tem publicado por aqui, "en passant".
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