A história e vários estudos mostram que as acções de protecção,
dos indivíduos e dos Estados, são sempre pensadas para o pior desastre até
então experimentado. Contudo, com o tempo as recordações do desastre
desvanecem-se e os indivíduos e as sociedades tendem a baixar a guarda. Mais:
se as águas do rio sobem e provocam inundações, é a linha de água da última
inundação que os indivíduos têm em mente. Regra geral, não lhes passa pela
cabeça que o próximo desastre possa ser ainda pior. E, no entanto, com uma regularidade
surpreendente, as inundações conseguem subir mais do que a marca existente. O
impensável acontece.
Um exemplo americano desse processo: o raciocínio para repelir o Glass-Steagall Act foi que estava desactualizado, pois o sistema bancário era mais sofisticado, e já não aconteciam depressões como antigamente por o sistema ser sofisticado. Depois aconteceu a Grande Recessão, que não foi tão má quanto a Grande Depressão -- em grande parte porque a Reserva Federal Americana agiu de forma contrária ao que tinha agido nos anos 30 --, e passou-se o Dodd-Frank, mais fraco do que o Glass-Steagall, porque se viu que repelir o Glass-Steagall tinha sido errado -- afinal, não era a sofisticação que reduzia o risco da depressão; era mesmo a regulação do sistema bancário. Agora quer-se repelir o Dodd-Frank porque os bancos não emprestam dinheiro como antigamente, antes de terem criado a Grande Recessão.
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